sábado, 30 de janeiro de 2010

Recesso

O Voo de Galinha dará uma pausa até a sexta-feira da próxima semana. Por essa razão as postagens no blogue terão a frequência diminuída.

Copaíba em Teste para Tuberculose

Pesquisas em animais sugerem que o óleo de Copaíba pode matar o Mycobacterium bovis, bacilo aparentado daquele que provoca a tuberculose em humanos. O estudo está sendo conduzido na Fiocruz e prosseguirá para avaliar a distribuição e a toxicidade que a substância pode provocar no organismo das cobaias. O objetivo é certificar a copaíba como fármaco, pois hoje ela é comercializada no Brasil como produto natural. Entretanto, observamos que esta notícia não recomenda ou aconselha o uso do óleo de Copaíba no tratamento da tuberculose. Seu objetivo único é divulgar uma pesquisa científica que, acaso chegue a bom termo, poderá ter um impacto extraordinário no tratamento de uma doença negligenciada pela grande indústria farmacêutica mundial.

São Demais os Perigos da Modernidade

A mídia encerrou a semana e o mês, alardeando o recall dos carros da Toyota, comercializados com pedais que podem não desacelerar. Claro que o defeito de série é uma realidade permanente em um mundo industrializado como o nosso, a que estão sujeitos consumidores e os programas de segurança e qualidade das indústrias globalizadas ou não. Conforme bem demonstra o que alguns consideram até agora como os 10 piores recalls da história.

AIDS e a Boa Economia da Saúde

Assegurar medicamentos eficazes e a custo adequado são ações determinantes para o sucesso de sistemas de saúde universais, ao modo do que é o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, porque contribuem para a garantia do acesso ao melhor tratamento disponível. Mais ainda quando consideramos medicamentos de ponta, que, por estarem fundamentados em sólida comprovação científica de custo e resultado clínico, são imprescindíveis para a vida de quem sofre com uma doença mortal como a AIDS.
Nesta semana, o Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde comunicou que o SUS economizou 12% nos gastos com compras de medicamentos para tratamento da AIDS, neste ano. A economia de quase R$ 120 milhões, decorreu do uso do poder de compra do governo brasileiro junto as grandes multinacionais farmacêuticas, do recurso extremo da quebra de patentes, quando falham as negociações, da capacidade dos produtores públicos de produzir esses medicamentos e também da importação de genéricos.
Não à toa o Brasil disponibiliza hoje para a população o maior programa público de tratamento da AIDS no mundo, quer o olhemos em suas ações preventivas, quer o olhemos por suas ações de tratamento, ou por seus resultados quanto a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes acometidos pela doença. Detalhes sobre a comunicação da diretora estão aqui.

Se Não Podes Ajudar, Não Atrapalhes

Tenho evitado o uso da palavra imperialismo, por considerá-la algo gasto e datado. Mas palavra melhor não me ocorre, quando leio que 100 pacientes haitianos podem morrer sem atendimento adequado, um deles com tétano (sim, senhoras e senhores, o milenar tétano!), apenas porque autoridades norte-americanas intrometidas na Haiti, não conseguem fazer valer princípios humanitárias sobre as rígidas regras de entrada de estrangeiros na maior potência militar do planeta, em seu estado permanente de guerra.
Todo o imbróglio seria evitado pelo Peace Corps de Obama, e com isso vidas seriam salvas, se houvesse o mínimo discernimento prático de que bastaria transferir os pacientes aos dois únicos países com sistemas públicos e universais de atenção à saúde no hemisfério sul das Américas: a Cuba e ao Brasil, que além de deterem competência tecnológica suficiente para salvar essas vidas, não estão submetidos aos limites de segurança a que os EUA continuamente estão submetidos. Mas, falávamos de imperialismo, não é mesmo?

Os Computadores Como Vilões

Aos apreciadores de boa ficção científica recomendo uma olhada na matéria The Movies' Most Evil Computeres Villains (Os Mais Maléficos Computadores Vilões do Cinema), publicados na página da Time. E aproveitando o gancho, cliquem no link ao pé da página, que os levará até aos mais impressionantes robôs já vistos nos filmes.

Fraudes Científicas à Chinesa

A China é uma potência integrada ao horizonte do século XXI. Contudo, o seu meritório esforço de industrialização tem sido associado a sérios problemas quanto a qualidade do que os chineses levam à venda no mercado internacional. Antes do mercado, contudo, em ciência também existem problemas.
Editorial da Acta Chrystallographica informa que, desde 2007, pesquisadores da Jinggangshan University publicaram na revista cerca de 70 artigos completamente falsos.
Dizem os editores:
Quando discutimos o problema com as editorias de outras revistas do grupo Acta, todos ficaram surpresos, porque, como nós, eles assumiram que era quase inconcebível que uma estrutura de cristal falsificado fosse submetida para publicação.
Infelizmente, agora temos de fazer um balanço e decidir que medidas são necessárias para evitar novas fraudes científicas. Para esse fim, o software de validação checkCIF é aprimorado continuamente e fornece uma avaliação exaustiva dos dados e da qualidade estrutural com vistas a consistência científica.
É digno de nota de ressaltar que os problemas atuais não poderiam ser facilmente descobertos sem a disponibilidade de ferramentas tecnológicas adequadas, cada vez mais importantes para as revistas científicas que publicam informação sobre estruturas cristalinas.
Desculpas apresentadas, desculpas registradas para serem ponderadas. Assim, concordo com o editor da The Lancet, quanto a ser impressioante que um erro nessa escala não fosse identificado pelos critérios rígidos de revisão por pares, que antecedem a publicação das comunicações científicas.
De qualquer maneira, o fato é grave e lembra-nos o caso do agrônomo Trofim Lyzenco, cientista com status de herói na extinta URSS, que fraudava resultados de pesquisa na medida em que crescia seu poder junto a nomenclatura, e a sua correspondente capacidade de silenciar críticas a seus assombrosos trabalhos, quase todos irreprodutíveis. Em termos científicos a consequência das fraudes de Lysenco foi um brutal freio nos estudos soviéticos sobre genética.
Cabe porém destacar que a situação de fraude identificada e denunciada pelos editores da Acta Chrystallographica repercutiu dolorosamente no governo chinês. O Ministério da Educação, na semana passada, nomeou comissão para a identificação de fraude e plágio em pesquisas desenvovlidas no país.
Claro que a atitude do governo chinês é elogiosa, mas, junto com a decisão de usar pente fino para identificar possíveis falsificações científicas, existe a absoluta necessidade das autoridades chinesas atentarem sobre quais as causas que levam a tais escândalos - dessemelhantes e com raiz comum, como o são a produção de remédios falsificados, de rações letais para animais e o achado de cristais que em verdade não passavam de lantejoulas.

Fontes consultadas:Acta Crystallographica, The Lancet, SciDev.

Saramago e a Solidariedade ao Haiti

O Nobel de Literatura (1998) José Saramago lançou ontem nova edição de um dos seus melhores livros, a "A Jangada de Pedra". A renda auferida com a venda dos volumes servirá de auxílio às vítimas do terremoto do Haiti, por meio da Cruz Vermelha de Portugal. Em nota à imprensa, o escritor português diz que "se chegássemos a 1 milhão de exemplares vendidos - e o sonho é livre -, seriam 15 milhões em auxílio a esta calamidade, ainda que frente à magnitude do sofrimento dos haitianos não fosse mais que uma gota d'água".
Aos que estiverem interessados em associar-se ao gesto generoso de Saramago, o livro já está à venda nas livrarias portuguesas, ou também pela página eletrônica da Bertrand Livreiros.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Viagra Argentino

Cristina Kirchner, atual presidente da Argentina, afirma que ingerir carne de porco tem resultados superiores ao Viagra (Sildenafil). Aviso aos incautos que não há qualquer referência cientifica que comprove o afirmado, embora dele se conclua que o casal Kirchner só pensa naquilo - e isto pode ser evidência que explique a situação sócio-econômica dos argentinos, com seus inescapáveis reflexos sobre, digamos, a alcova.

A Banalidade do Mal

Hoje lembramos o Holocausto, na data em que o Exército Vermelho Soviético liberou Auschwitz, um dos mais bárbaros campos nazistas de extermínio, situado no sul da Polônia. Que o mundo lembre com reflexão profunda, 65 anos depois, o que antes jamais fora executado com amoralidade científica e tecnológica: a destruição em massa de pessoas desarmadas, vítimas da intolerância cultural, sexual, política e religiosa, que na condição de crianças, adolescentes, adultos e idosos tornaram-se escravos, coisa ou mercadoria a ser consumida pela besta-fera do nazi-fascismo, inspiradora do pior conflito já experimentado pela Humanidade.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ouvido de Mercador

Ao falar de terremotos, geóloga chama atenção de que poucos ouvem as más notícias da ciência. Acesse a entrevista aqui.

As Fotomicrografias de Snowflake



Fotomicrografia original de Wilson A Bentley

No século XIX, quando contava com 19 anos, Wilson A Bentley tornou-se pioneiro em fotografar flocos de neve. O fascínio por esse objeto de estudo foi iniciado aos 15, quando ganhou de aniversário um microscópio. Os experimentos fotográficos que daí resultaram, legaram-nos belas imagens antes ocultas ao nossos olhos.
Em 1927, WA Bentley recordou as razões que lhe despertaram para a fotografia:
No microscópio eu descobri nos flocos a beleza de um milagre. Cada floco era uma obra prima de design, nunca repetido. Seria uma pena que aquelas imagens desaparecessem, sem ficar delas qualquer registro para que outros vissem e apreciassem aquela beleza.
Para alcançar os resultados que legou a posteridade, WA Bentley fez uma adaptação na câmera fotográfica ao microscópio e desenvolveu a metodologia para registro das imagens em termos de tentativa e erro. Ontem, numa feira de antiguidades em Nova York, dez das cerca de 5000 fotografias que Bentley realizou, foram a leilão com estimativa que alcançasse valor máximo de US$ 4,800. Detalhes sobre a vida e a obra desse jovem extraordinário - que teve acrescido ao nome o termo snowflake, seu objeto de estudo -, podem ser acessadas aqui.

A Tecnologia Aproxima as Pessoas


Fonte: Time. Acessada em 24/01/2009 em http//www.time.com
Mamãe, papai, este é Bob. Nós acabamos de nos conhecer . Ele opera o escaner de segurança do aeroporto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Trauma do Magneto e a Biologia Molecular do Pós-Stress Traumático



O Magneto é um super-herói trágico que emerge da barbárie. Impossível que ao conhecermos sua estória, não o diagnostiquemos como vítima da Síndrome Pós-Stress Traumático (SPST). A experiência existencial desse personagem dos quadrinhos foi marcada de forma irremediável com o extermínio racial promovido pelo governo nazista alemão e pela concorrência no pós-guerra de outras tragédias pessoais cumulativas, expressas na perda de uma filha, no desaparecimento da mulher amada, na traição do melhor amigo e na instabilidade do Estado de Israel, eventos existenciais compreendidos como derivados da violência que disciplina a transcendência da História entre gerações. O personagem, contudo, nasceu em 1960, bem antes que o conceito de SPST fosse definido vinte anos depois.
Mas, afinal, de que matéria se constituiria essa síndrome? - talvez nos perguntasse o detetive Sam Spade, repetindo a pergunta definitiva do filme O Falcão Maltês.
Na Síndrome Pós-Stress Traumático, também comparece a matéria dos sonhos na forma de pesadelos recurrentes. Em termos descritivos observamos que, de acordo com os termos originais da primeira descrição da SPST incluídos no Manual Diagnóstico Estatístico de Desordens Mentais-III [Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders - III/ DSM-III], diz-se que a síndorme está relacionada a evento catastrófico superior ao alcance habitual da experiência humana, estabelecendo com base na externalidade aterrorizante da etiologia não só a sustentabilidade do conceito, mas a sua imprescindível distinção com os estados psíquicos reativos aos dramas costumeiros da experiência existencial dos homens. Em termos clínicos suscintos, vê-se que o paciente experimenta uma clara incapacidade de relacionar, controlar e superar sentimentos de ansiedade, medo, raiva e violência, relacionados à evocação das lembranças traumáticas. Mas há mais, para além dos sinais e sintomas clínicos, ou melhor, bem antes deles anunciarem presença.
Nas últimas duas décadas o diagnóstico da SPST foi absolutamente clínico, contudo pesquisa recente sinaliza que adiante poderemos ter o auxílio complementar de métodos baseados em biologia molecular. Pesquisadores da Universidade de Minneapolis e Minesotta identificaram por contraste com indivíduos normais a expressão de um sinal bioquímico no cérebro de 74 veteranos das Forças Armadas norte-americanas, clinicamente acometidos de Síndrome Pós-Stress Traumático. Para registro diagnóstico foi utilizado método complementar denominado magnetoencefalografia. O estudo inédito, publicado hoje no Journal of Neural Engineering, reforça que em termos de evidência científica, na saúde e na doença, nós humanos não somos mais que a expressão gênica de reações elétricas e bioquímicas em termos de resposta evolutiva às influências culturais e de meio ambiente.

Preocupa a Situação da Dengue em Sampa

Vinte e nove dos 96 distritos da cidade de São Paulo entraram em alerta pelo elevado índice de infestação do mosquito transmissor da Dengue e da Febre Amarela, o Aedes aegypt. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde paulistana na zona norte da cidade há risco de surto da doença. Entrementes, pesquisa conduzida pela Secretária de Estado da Saúde de São Paulo, sugere que a composição química da água pode estar relacionada a maior ou menor infestação de uma área.
Na compreensão do editor do blogue, as conclusões da pesquisa não se prestam contudo para justificar desidias gestoras no enfrentamento da Dengue, ao modo de tapar o sol com peneira. Apenas recomenda às autoridades sanitárias que em algumas situações especiais o trabalho obrigatório e contínuo da destruição dos focos deverá ser criterioso e redobrado.
Detalhes estão na página da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - Fapesp.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

AIDS e Circuncisão em Ruanda

A África Subsaariana representa uma das piores e a mais longa crise humanitária, denunciada vez por outra pelo espasmo de uma ou outra voz solidária nos veículos da mídia internacional. O cinema por meio de filmes como Hotel Rwanda, O Jardineiro Fiel e Diamantes de Sangue tem cumprido esse papel de apresentar para o grande público o drama do povo africano, infelizmente não superado pelas guerras de independência colonial, ou neocolonial como queiram.
Dentre os mais graves problemas de saúde que acometem a região abaixo do Magrebe, está a AIDS. Estima-se que 22,5 milhões de pessoas infectadas com o vírus HIV (68% do total mundial) sejam habitantes subsaarianos. Em oito dos países que integram a região acontecem 1/3 de todas as mortes causadas pela AIDS no mundo.
Mas apesar dos níveis de prevalência e incidência da doença, a despeito da escassez de recursos nacionais para pesquisa na região, existem atitudes encorajadoras que enfrentam o problema em parceria com agências internacionais como a UNICEF.
Sob a liderança de Agnes Binagwaho (Ministério da Saúde de Ruanda), foi realizado estudo econômico para avaliar o custo-benefício da circuncisão em recém-natos masculinos, procedimento cirúrgico reconhecido como importante entre as medidas preventivas da AIDS. Com base nas estimativas de custo da circuncisão em crianças, adolescentes e adultos e aqueles relacionados ao tratamento da AIDS, o estudo concluiu que existe evidência científica robusta para recomendar às autoridades de saúde do país a incorporação das circuncisões no elenco de procedimentos disponibilizados pelo governo.
Em resumo os resultados de pesquisa foram os seguintes:
  • O custo da circuncisão em crianças , mesmo considerando aquelas de realização tardia, é cerca de 4 vezes menor que a realizada em adultos;
  • O custo total da prevenção da infecção HIV em adolescentes e adultos ruandenses circuncisadas é de aproximadamente 4 e 5 mil dólares norte-americanos;
  • A circuncisão de adultos, quando considerada isolada para a faixa etária, não supera os benefícios de custo e prevenção obtidos com a circuncisão realizada em grupos etários mais jovens.
Escrito em inglês, o estudo está disponível com acesso livre na PlosMedicine.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre a Morte e o Morrer

Na seção de cartas do jornal The New YorK Times, de hoje, encontramos manifestação sobre a matéria "Encarando o Final da Vida - Os Médicos Preferem Aguardar", publicada na seção Segunda Opinião, em 12 janeiro último:
Facing End-of-Life Talks, Doctors Choose to Wait (Second Opinion, jan. 12) relata a pobreza da comunicação estabelecida na relação médico-paciente sobre o final da vida e a proximidade do fim. A razão citada para justificar o problema está no receio dos clínicos estarem contribuindo para que os pacientes percam a esperança na cura.
Como clínico, portador de linfoma, eu acredito que este é um falso dilema. Pacientes podem lidar com a possibilidade de um resultado possível, enquanto desejam alcançar o melhor resultado terapêutico para o seu problema de saúde. O que significa reconhecer que os pacientes podem lidar com a idéia de morte, ao mesmo tempo em que nutrem esperanças de que a vida continuará.
Ao longo da sobrevida, clínicos discutem rotineiramente todas as possibilidades de tratamento com pessoas acometidas de doenças crônicas. Eles tem igual obrigação de discutir as expectativas de seus pacientes sobre o problema de saúde incurável. Do diagnóstico até a morte, mobilizando sentimentos de esperança de par com a melhor tecnologia médica disponível, nós podemos ajudar nossos pacientes a viver até o momento em que a vida cessa.
Dr. Wendy S. Harpham
Dallas
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Não é uma carta escrita por um leigo. Quem a assina é um médico portador de uma doença crônica, potencialmente curável, de que não temos informações sobre o estadiamento, a evolução e o prognóstico clínico. E nesses termos, ou contexto, devemos valorizá-la.
Pessoalmente, sempre defendi que médico e paciente devem discutir esse assunto, cabendo ao profissional com a arte da clínica entender o momento exato em que seu paciente lhe autoriza adentrar nesse campo pessoal tão delicado quanto complexo.
Acontece que, ao menos no Brasil, o assunto da morte e do morrer é periférica na formação curricular dos profissionais de saúde, apesar de tramitar no Congresso Nacional projeto que legalizará em breve a ortotanásia. Por esse motivo, ao defrontar-me com o assunto, logo imagino a quantidade de sextanistas e residentes de medicina que ao longo de seus estudos tenham lido o clássico chamado Sobre a Morte e o Morrer (On the Death and Dying), escrito pela saudosa médica norte-americana Elisabeth Klüber-Ross. Também não menos impressionado ficaria de saber quantos clínicos, oncologistas, cirurgiões e intensivistas tenham sido leitores desse livro imprescindível a quem se propõe tratar de pacientes terminais! O dr. Harpham, pela carta que enviou ao NY Times, sabemos que certamente leu Klüber-Ross.
Assim, no que diz respeito a nós brasileiros, temo que aprovaremos uma lei que autorizará aos nossos médicos aplicar um protocolo que encerrará um conjunto de medidas terapêuticas sem dúvida destituído de consequência clínica, mas portador de grande sofrimento físico e emocional aos que estão morrendo em situação terminal. Entretanto, no meu ponto de vista, alguma filosofia deveria já estar na cabeça de quem será o responsável pela tomada dessa grave decisão, que antes de tudo está inapelavelmente subordinada à vontade do paciente, que estabelecerá com seu médico o que fazer quando a indesejada das gentes anunciar-lhes a inapelável chegada. Em outras palavras: não se pode discutir a morte e o morrer sem antes adquirir competência para fazê-lo inclusive em foro íntimo; não se pode agir no morrer como fosse ato estranho à relação médico-paciente.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Geriatria Boomer: As Drogas Terão Peso

Liamba, liamba,
por que, dando o sonho,
não matas também?
(Antonio Tavernard)

Se você fosse norte-americano e houvesse nascido após a II Guerra Mundial, entre 1946 e 1960, estaria incluído num subgrupo populacional conhecido como baby boomers, gente que constitui uma geração que experimentaria o ambiente de um mundo fortemente industrializado e relacionado a uma ordenação derivada da pax aliada e de seus efeitos globais.
Como sujeitos históricos de uma era de resgate e descoberta de direitos, a geração dos boomers também ajudaram a moldar o mundo em termos políticos e comportamentais, nos acontecimentos relacionados à conquista dos direitos civis pelos negros norte-americanos, na contestação ao neocolonialismo, no advento de uma nova moral sexual e na experimentação aberta de paraísos artificais com o uso de substâncias ilícitas, naturais ou quimicas.
Por tudo isso o grande irmão não lhes esqueceu a fama e continua de olho nas traquinagens desses rolling stones seniores, situados hoje entre a meia idade e o início da terceira, integrando a transição demográfica dos países industrializados para sociedades com menor proporção de jovens. Daí que as autoridades de saúde dos EUA decidiram mover a formidável máquina de pesquisa em saúde que possuem, focalizando o comportamento de vinte mil baby boomers quanto ao uso de drogas ilícitas. O que os pesquisadores identificaram entre 2006-08, situa-se na dimensão de um problema relacionado ao campo dos determinantes sociais de saúde, que excede ao observado em gerações anteriores:
  • Cerca de 4,3 milhões de adultos norte-americanos, com idade acima de 50 anos, fumam maconha, fazem uso abusivo de medicamentos prescritos por médicos ou estão relacionados a outros hábitos de drogadição.
  • Tanto para homens quanto para mulheres, há maior preferência pela maconha que por outros entorpecentes.
  • Drogas consideradas pesadas foram menos consumidas pelo grupo pesquisado: cocaína (o,5%), heroína (0,1%) e halucinógenos (0,1%).
  • O uso de maconha é mais frequente entre o segmento mais jovem do grupo de pesquisa (50-59 anos) e o uso abusivo de medicamentos entre os mais velhos (60-69 anos).
Os resultados de pesquisa apontam que em 2020, nos EUA, a demanda de idosos por cuidados de saúde relacionados a drogadição será o dobro do que hoje é observado, com o agravante de que essas pessoas chegarão aos consultórios médicos com outras doenças associadas (problemas cardiovasculares, diabetes, enfisema) e os modelos de tratamento da drogadição no momento disponíveis não consideram as peculiaridades dos pacientes idosos. Portanto, meu caro boomer - do lado latino-americano sem dinheiro no banco -, quando você for ouvir Jimmi Hendrix no clássico Are You Experienced, pense duas vezes antes de acender aquela idéia.

sábado, 16 de janeiro de 2010

H1N1: A Atual Situação do Brasil

De acordo com o Ministério da Saúde, a gripe está em baixa atividade no país. Na semana entre os dias 22 e 28 de novembro, foram registrados apenas sete casos do vírus H1N1. Na semana de pico, entre 2 e 8 de agosto, foram 4.176 casos. De 25 de abril a 28 de novembro, os estados notificaram ao Ministério 27.850 casos graves e 1.628 mortes causadas pelo vírus. O órgão informou que, juntamente com os estados e municípios, está reforçando a estrutura da rede pública de saúde para o enfrentamento de uma possível nova onda da epidemia. De acordo com a última atualização da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 29 de novembro deste ano, um total de 207 países e territórios notificaram casos confirmados de influenza H1N1, incluindo pelo menos 8.768 óbitos.

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Saúde em Pauta.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Zilda Arns (1934-2010)

Morreu no Haiti uma heroína da saúde pública da Organização Pan-Americana de Saúde. Assim é noticiada a trágica morte da médica brasileira Zilda Arns no terremoto ocorrido no Haiti, ontem. Embora reconheça o sentimento da nobre homenagem da Organização Pan-Americana de Saúde, concordo que a sanitarista seria melhor descrita como heroína da saúde pública, em razão do alcance de seu pensamento ter se ampliado para além das Américas e do Caribe.

Terremoto, Fronteira da Ciência

A propósito da tragédia ocorrida ontem no Haiti, a Times publicou hoje em sua página eletrônica, artigo assinado por Jeffrey Kluger. Por considerar o texto bem esclarecedor, fiz essa versão resumida para a língua portuguesa.

Poderia o terremoto do Haiti ter sido previsto?
*

Não há dificuldade em estimar as perdas materiais e humanas do terremoto que atingiu o Haiti ontem, considerado o pior da região nos últimos cem anos. Mas, nessas horas, considerando a antiguidade com que o homem convive com esse tipo de desastre natural, é quase certo que nos perguntemos: não haveria alguma forma, alguma técnica ou tecnologia que previsse com antecedência o evento, reduzindo assim o sofrimento e a devastação?
Infelizmente estamos bem distantes de detectar um terremoto a tempo de remediar as tragédias que provocará. Hoje, a principal pergunta dos cientista é compreender o que leva um tremor de terra desenvolver-se de forma insidiosa, quase em silêncio, e, ao entender melhor o fenômeno, pesquisar e desenvolver tecnologias que permitam a identificação o mais precoce possível do fenômeno.
O terremoto do Haiti, com 7,0 graus na escala Richter, reúne características que poderiam garantir algum grau de previsibilidade. O pequeno pais insular está assentado sob duas placas tectônicas em permanente tensão, na falha geológica Plantain Enriquillo Jardim, delimitada pela confluência das placas norte-americana e caribenha . Para o geofísico Michael Blanpied do Centro Norte-Americano de Pesquisas Geológicas (USGS), essas placas ao se moverem num deslocamento latero-lateral, provocam o esmagamento, a ruptura e a explosão do solo da ilha, configurando o que tecnicamente é denominado terremoto strike-slip.
É claro que temos tecnologia para monitorar o estresse acumulado durante anos ou séculos entre as placas, mas os sismógrafos quase nada contribuem para definir o momento exato em que o tenso equilíbrio geológico é rompido e as forças do terremoto derivam seu poder destrutivo em direção a superfície da Terra. "Podemos produzir informações gerais sobre terremotos", diz Blanpied. "Nós observamos as falhas e os padrões locais de terremoto ao longo dos anos, e somos capazes de concluir onde há maior probabilidade de ocorrência.
Na verdade, os geofísicos, tão recentemente quanto em 2008, previram uma zona de falha no lado sul da outrora chamada Ilha da Hispaniola, no Haiti, onde existiriam evidências suficientes para considerá-la como foco de "um grande risco sísmico". O problema é que a previsão não faz as pessoas afastarem-se da zona de perigo. “Se assim fosse, ninguém iria viver na Califórnia ou na Cidade do México ou no Japão. O que hoje precisamos é da previsão em curto prazo, na ordem de semanas, dias ou horas”.
Na década de 1980, por exemplo, o USGS e o governo da Califórnia acompanharam um trecho particularmente instável da falha de San Andreas, perto da cidade de Parkfield. Abalos sísmicos vinham ocorrendo nesta área a cada 20 ou 25 anos ou mais. O anterior havia ocorrido em 1966, com a previsão de que outro atingiria a região por volta de 1990. Apesar de toda a infraestrutura instalada para identificar com precedência, o terremoto nunca ocorreu na década de 1980, nem nos anos 1990. Em 2004 a terra tremeu de novo, o que previu todo o hardware de alta tecnologia ali instalado? Nada.
"Capturamos apenas informações quando o terremoto já estava em curso", diz Blanpied. "Mas o solo não deu nenhuma indicação de um prenúncio ou um sinal elétrico ou um sinal de água ou qualquer outra coisa, que nos dissesse da iminência do fenômeno. Esse fato demonstra para nós o que já sabemos de antemão: Predição de terremotos em geral é muito difícil."
Isso não quer dizer que a ciência não tenha progressos na área. Instrumentos que detectam as ondas P são um bom exemplo. Abalos sísmicos em geral provocam dois tipos de vibrações a partir do seu epicentro: as ondas de corpo, que se distribuem no interior da Terra, e as ondas de superfície, que se movem para cima. A onda P é mais veloz que a primeira e são por primeiro detectadas nos sismógrafos, sem dar contudo certeza de que haverá uma catástrofe. Entretanto, na Califórnia, as linhas de gás de muitos lares estão agora equipadas com sensores para detecção de ondas P, para desligar a válvula de escoamento e assim prevenir incêndios e explosões diante de um abalo grave.
No atual estado da arte da ciência, o melhor que os governos podem fazer é fortalecer a rede global de sismógrafos e outros instrumentos, para criar o melhor mapa sismológico do planeta, melhor informando quais os locais de maior risco e a severidade dos terremotos. Isso pode ajudar a elaboração de políticas públicas que definam códigos adequados de construção, reforçando a infra-estrutura e o zoneamento de áreas impróprias para ocupação urbana, assim como a elaboração de planos para evacuação da população em risco e o atendimento de feridos.

*texto baseado no original publicado na página eletrônica da Times

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Radiofrequência e Equipamentos Médicos

Estudo financiado pela agência governamental norte-americana Food & Drug Administration (FDA) e indústria demonstra que leitores de tarjetas identificadoras por rádio-frequência (RFID) tem potencial de interferência no funcionamento de marcapassos e defibriladores implantáveis. As RFID são aqueles identificadores eletrônicos de segurança utilizados nas lojas, nas chaves eletrônicas de quarto e em cartões de pedágio ou de estacionamento, entre outros.
A pesquisa, publicada este mês no Heart Rythm Journal, testou em laboratório a vulnerabilidade de 15 marcapassos e 15 desfibriladores-cardioversores implantáveis, quando expostos ao potencial de interferência eletromagnética de leitores de RFID. Foi observado que 67% dos marcapassos e 47% dos desfibriladores apresentavam algum tipo de interferência eletromagnética, diretamente proporcional à distância em que estavam situados do leitor de RFID.
As interferências observadas foram as seguintes e todas consideradas críticas: inibição ou qualidade inapropriada do estímulo, modo de reversão do ruído, choques de alta voltagem e alteração do software de funcionamento dos produtos cardiológicos. Segundo os pesquisadores, os resultados observados se devem ao fato de que, por razões de design, tanto os equipamentos médicos testados quanto os leitores de DFID têm filtros insuficientes para o bloqueio de radiações de baixa frequência.
Embora a avaliação dos equipamentos tenha sido in vitro - no laboratório e sem a participação de pacientes - e por outro lado não exista absolutamente nenhum relato de malfuncionamento dos equipamentos no mundo real, os resultados certamente obrigarão a milionária indústria de equipamentos médicos a ampliar o nível de segurança daqueles tipos de equipamento para uso em cardiologia. E podemos ter certeza que o ganho incremental em segurança, como soer no mundo tecnológico, aumentará o custo de aquisição marcapassos e defibriladores implantáveis. Tudo bem; melhor irem-se os anéis a perdermos os dedos.

Tempos da Arte e da Cura



Livros sobre História de Medicina no Brasil são raros, quando comparados à edição de volumes das especialidades médicas. A obra do médico Eurico de Aguiar, ao analisar a Medicina em perspectiva histórica, ressalta em cada capítulo a importância daquela disciplina injustamente subtraída do currículo médico. A nova edição poderá ser solicitada ao Sindicato Médico do Rio-Grande do Sul - Fundo Editorial SIMERS. Rua Cel. Corte Real, 975 - Petyrópolis - 90630-080. Porto Alegre - RS. Telefone 51-3027-3737. Ou com diretamente com o autor: euricoag@terra.com.br

Cinema e Saúde Pública

Desde 1995 o governo dos EUA tem feito pesquisas sobre situações no enredo dos filmes quanto à prevenção de traumas. A avaliação de uma seleção de 67 filmes, lançados no período de 2003 -2007, será publicada em fevereiro próximo, na revista científica Pediatrics. O estudo trará entre as suas principais conclusões uma advertência sobre a costumeira falta de consequência para a saúde dos personagens expostos a situações perigosas.
Diz a Dra. Bárbara Gaines, do Programa Benedun de Traumatologia Pediátrica, do Hospital Infantil de Pittsburgh (Pensilvania, EUA):
Pessoas caem, veículos colidem, e quase sempre nada sucede a elas em termos de dano e sofrimento, o que pode levar as crianças a avaliarem mal as situações de risco para a saúde.

O estudo também considerou a frequência de equipamentos de proteção individual, recomendados para uso em carros, motocicletas, barcos e bicicletas e os comparou com estudos realizados em anos anteriores. Foi observado que embora tenha aumentado o número de cenas em que adultos e crianças fazem uso desses equipamentos, quanto aos capacetes de ciclismo identificou-se um menor percentual de uso pelos personagens (25%), quando comparado com o cinto de segurança (56%), os salva-vidas (75%) e o uso de faixa para travessia de pedestres (35%).
Os autores elogiaram o esforço de Hollywood, mas observam que muito ainda resta para aperfeiçoar. Para eles os roteiros devem considerar aspectos de educação em saúde e seria uma boa prática se a Motion Picture Association of America (MPAA) criasse um selo de qualidade, que possibilitasse aos pais avaliar os filmes quanto à boas práticas de prevenção ao trauma. Mas, enquanto não se tem esse nível de cooperação, eles recomendam o velho e bom conselho dos pediatras: é papel dos pais esclarecer aos filhos sobre as situações de inseguraça na vida, presentes ou não nos filmes, ensinando-lhes que as consequências daqueles atos praticados na ficção, na vida real podem produzir machucados sérios, irreversíveis e até levar a morte.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Acidentes Não Existem

É quase proverbial o descuido do brasileiro com segurança. Chego até a pensar que, embora digamos por brincadeira, lá no fundo da alma cremos na inexorável cidadania brasileira de Deus, que de um tudo faz para nos proteger. Pois caso contrário, como então explicar que solenemente ignoremos riscos e deles apenas nos lembremos quando provamos do sabor amargo de sua corporificação em tragédia?
Mobilizaram sentimentos de perda, lamentos e discussões as recentes catástrofes naturais que enlutam os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, consumadas por enchentes, deslizamentos de encostas, desabamento de residências e soterramento da adultos e crianças. Entretanto, se atentarmos bem, a maioria dos casos é perfeitamente identificável e enquanto tal prevenível , tanto quanto o foi o naufrágio do Bateu Mouche, ou o são o afundamento de gaiolas e batelões nos rios amazônicos e na produção anual de desabrigados pelas enchentes que engolem cidades como Marabá, no sul do Pará, todo o santo ano.
Assim vemos com todas as letras, e pela repetição das histórias, que a justiticativa de acidente para esses fatos está gasta demais, pois todos os fatores causais que concorrem para o acontecimento desses desastres são a maioria previamente conhecidos e por isso evitáveis, com possibilidade de oferecer um atendimento menos improvisado às vítimas. Quando o remédio existe e infelizmente não chega a quem precisa, é porque algum notável ser humano deixou de fazer alguma coisa para que a desgraça chegasse em galope, infelizmente silencioso demais para ouvidos de moucos escutarem.
Querem prova? Muito bem. O governo federal em 2003 estruturou em âmbito nacional o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - 192 (SAMU), como parte integrante de uma tão inédita quanto indispensável Política Nacional de Atenção às Urgências. Na farta legislação sobre o assunto, disponível aqui em 3a. edição (revista e ampliada!), lemos que os municípios candidatos a receberem recursos de implantação e custeio do citado serviço deverão cumprir com o seguinte:

Se quem por direito houvesse cumprido com o recomendado, os males hoje lamentados teriam sido apenas um mau sonho numa noite de verão com chuvas e trovoadas.

Sexo e Matemática.

Estão com os dias contados um dos piores estereótipos femininos. Pesquisa realizada em vários países concluiu que as garotas não são piores em matemática do que os rapazes, ainda que estes tenham mais confiança em suas habilidades de raciocínio para a matéria. A investigação verificou também que a equidade de gênero influencia muito no rendimento escolar em matemática: Garotas de países onde a equidade de gênero é mais prevalente têm mais chances de melhor desempenho em testes de conhecimento matemático. O estudo está publicado na revista Psycological Bulletin da Sociedade Americana de Psicologia e foi realizado em 69 países, envolvendo cerca de 500 mil jovens.

Segurança do Risco x Riscos da Segurança

Nem bem foi anunciada a instalação de escaneres de corpo inteiro em alguns aeroportos internacionais, no intuito de identificar armas e materiais proibidos ocultos sob a veste dos passageiros, iniciou-se um debate sobre a segurança desses equipamentos.
Os governos afirmam que a radiação recebida é pequena e corresponde a 1% do que um indivíduo recebe durante uma radiografia simples de um dente. Para os epidemiologistas, contudo, o problema não merece uma consideração tão simpória, pois, no caso, é um evento extensivo a milhares de pessoas por dia, que resulta em milhões de expostos durante um ano, agravado pelo fato de que não dispomos de modelos científicos que mensurem e não apenas infiram a inocuidade de baixas doses de radiações em grandes grupos populacionais, a partir de estudos consagrados para doses elevadas de RX. Os detalhes da polêmica estão aqui.

Brasil, Líder em Pesquisa das Negligenciadas


As Doenças Negligenciadas e a Estratégia Brasileira de Pesquisa e Desenvolvimento*

O New York Times deu importante notícia para a sociedade brasileira, disponível com a seguinte tradução: Brasil Chega ao Topo do Ranking de Verba para Pesquisa sobre Doenças Negligenciadas. Trata-se de uma vitória exclusiva da Política Nacional de Ciência e Tecnologia implementada no governo do presidente Lula, tanto no âmbito da produção de conhecimento e de novos produtos de saúde para o tratamento de brasileiros acometidos desses males, quanto na ampliação da participação do país em novos mercados situados no âmbito da cooperação Sul-Sul.
O termo doenças negligenciadas designa um conjunto de doenças infecciosas que historicamente recebem recursos escassos para pesquisa, desenvolvimento e inovação em saúde, especialmente nos países ricos e industrializados, apesar delas responderem pela metade da carga de doença dos países pobres, obrigados a cumprir a transcendência de um círculo devastador de iniquidade em saúde, comprometendo e invializando seus respectivos processos de desenvolvimento social.
*apud Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde

Duas Questões de Respeito

Heraclídes Cesar de Souza-Araujo foi um pesquisador brasileiro, dedicado a pesquisa da Hanseníase no século XX. Em 1958, quatro anos antes de falecer, publicou quinhentos exemplares de uma brochura ilustrada, que pretendia informar a sua produção científica e alguns aspectos biográficos relativos a sua origem familiar e a evolução acadêmica*.
O que espanta na leitura da última página do ensaio biobibliográfico, é sabermos que nossos cientistas durante boa parte do século XX, pagavam do bolso as despesas das viagens internacionais, maioria delas sem apoio oficial que fosse digno de nota, a despeito de todas elas serem de interesse para o estado e a ciência brasileira. Assim registra o autor a situação que hoje felizmente mudou, na medida em que a política de ciência e tecnologia foi adquirindo estatuto de política de estado:
O meu caso não é único: muitos outros cientistas só tem tomado parte em Congressos Internacionais por conta própria. Entretanto os parlamentares, os políticos e os militares viajam com suas famílias por conta do Tesouro Público e ainda levam milhares de dólares de ajudas de custo, ou pelo menos ao câmbio oficial.
Esta desigualdade é flagrante e odiosa!
Em 1922, Heraclíde César de Souza-Araújo foi nomeado no extinto Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), para organizar e chefiar o Serviço de Profilaxia Rural do Pará, onde permaneceu até 1924. A experiência do cientista na Amazônia resultou num clássico da história da saúde pública brasileira: A Prophylaxia Rural no Estado do Pará. Pará-Belém. Typ. da Livraria Gyllet, 1922. 2 vs. Foi associado a inúmeras sociedades profissionais, dentre as quais da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará em 1921. Foi o fundador do pioneiro Lazarópolis do Prata, prática reconhecida pela ciência de sua época, mas que ainda hoje, inaceitável e anacrônica, persiste no município de Marituba, nos arredores de Belém, reunindo famílias de pacientes, curados e em tratamento, que excluídos pelo duplo estigma da pobreza e da doença sempre estarão a mercê de interesses eleitoreiros, quando à época e na oportunidade de jogarem-se as humilhantes tarrafas para recolher os votos da miséria humana.
*Bio-bibliografia/ do Professor/ Heraclídes Cesar de Souza-Araujo. Rio de Janeiro. Grafica Milone Ltda. 1958. 88 p.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Novo Locus Profissional

O blogueiro informa aos amigos que, na virada do ano, mudou de galho na árvore da saúde pública. Atualmente desempenha a função de gerência executiva de projeto na área de pesquisa clínica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com foco inicial em bioequivalência. We ever walk the way ahead.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

SUS: Uma Carreira de Estado

A jornalista Franssinete Florenzano chama atenção sobre o transtorno da escassez de neonatologistas na Santa Casa de Misericórdia do Pará, hospital público de referência estadual para a saúde materna e infantil. A falta de profissionais e a demanda crescente pelos serviços desse hospital quase quadrissecular dimensionam o impacto da bomba-relógio, que está em ritmo de contagem regressiva para implodir um dos mais importantes setores da saúde pública paraense.
Mas aqui há uma variável importante a considerar: em todo o Brasil há uma crise no quantitativo especializado de pediatras, que alguns justificam como derivado da pouca atratividade das especialidades básicas (Clínica Médica, Pediatria, Ginecologia-Obstetrícia e Cirurgia Geral) para o recém-graduado. Portanto não adianta sugerir a busca de profissionais em outros estados da federação, pois estes experimentariam igual ou assemelhada situação de escassez.
De uma certeza porém não escapamos: aquela de que é necessário enfrentarmos um dos mais pertubadores nós críticos do Sistema Único de Saúde, representado pela absoluta ausência de uma carreira relacionada a esse sistema universal, nos moldes em que estrategicamente foram fortalecidas as carreiras reguladoras de Estado, nos últimos 20 anos. Sem enfrentarmos esse dragão, sem reconhecer-lhe o alto poder destrutivo que possui, é desconsiderar uma esfinge que já nos devora. E para isso, estados e municípios podem e têm muito a contribuir no pontapé inicial de um jogo que já é passada a hora de jogar.