quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Nietzscheanas

O que distingue o nosso século XIX não é a vitória da ciência, mas sim a vitória do método científico sobre a ciência.

O conhecimento terá, em uma espécie superior de seres, também novas formas, que agora ainda não são necessárias.




domingo, 27 de janeiro de 2013

O Dia do Holocausto com Tamara Kamenszain



No dia da Memória às Vítimas do Holocausto (Yom Hashoá), lembrei da poesia de Tamara Kamenszain. É poeta argentina de larga influência, traduzida em várias línguas, que descende de judeus russos e romenos. Já não lembro em que sebo paulista e quando adquiri "O Gueto", edição brasileira em pequeno formato para encarte. 
A autora não viveu os horrores dos pogroms e das guerras, senão pela memória oral que as histórias de família legaram. Entretanto, como guardiã dessas dores e pelo filtro de uma poesia densa, dura e sofisticada, Tamara alcança momentos de rara reflexão sobre um drama que não é apenas étnico na bacia dos preconceitos europeus, mas de alcance universal. 
O Holocausto da II Guerra Mundial não é uma ilusão ou fato corriqueiro na História, como querem alguns fazer crer ultimamente. Foi o momento em que o Homem conjugou as mais poderosas forças de seu intelecto - a ideologia, a técnica e a tecnologia - para destruir em escala industrial culturas e povos.
Sua existência nos desafia para a conclusão de que sua possibilidade só aconteceria no estágio de pleno desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo moderno, no cenário de permanente disputa entre estados nacionais com pretensão hegemônica mundial.  Seu legado moldou gerações e futuro.
Mas vamos ao poema de Tamara Kamenszain, onde fiz pequeno ajuste, por discordar da versão oferecida pelo livro.

GENTIOS

Deus escreve a diferença
no espelho da desordem genética
se me olho desconto meu duplo
se te vejo acrescento tua metade.
Diferença idêntica
faz rir de tanto nos parecermos
àrea à semita judia e ariano
loucos soltos fechados juntos
protegidos sob a intempérie à distância
como animais ante seu próprio enterro
disperso nas amplitudes do campo
Nesse lugar descampado
nesse perímetro que nos concentrava
eu sou aquela que morreu por ti
e por tua gentileza ainda sou
a que te deixou
                        morrer.
Deus nos arquivará distintos
em seu livro dos parentescos
no velho eu você no novo
dois testamentos na fossa comum
e depois
              que nos identifiquem.