sábado, 28 de abril de 2012

Um Legado É um Legado: O Governo LULA e a Mortalidade Infantil

Em dez anos o número de óbitos de crianças menores de um ano, para cada mil nascidas vivas, caiu de 29,7% para 15,6%. Isso representa um decréscimo de 47,6% na taxa brasileira de mortalidade infantil. A maior queda verificada ocorreu no Nordeste - de 44,7 para 18,5 óbitos -, apesar de ainda ser a região com o maiores índices. O Sul manteve os melhores indicadores em 2000 (18,9‰) e 2010 (12,6‰).


A expressiva redução é explicada pelo IBGE pela concorrência de diversos elementos relacionados a políticas públicas adotadas no Brasil, nos últimos 10 anos: em especial ao aumento do salário mínimo e a ampliação dos programas de transferência de renda, direcionados principalmente à parcela mais pobre da população.

Nesse caso a redução da mortalidade infantil expressa que o Brasil no período se tornou um país menos desigual. 
O dados divulgados foram obtidos no Censo 2010, realizado com a participação de aproximadamente 190 mil recenseadores, que visitaram os mais de 5.565 municípios brasileiros entre 1º de agosto a 31 de outubro de 2010.

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Texto construído a partir de informações publicadas pelo portal do Governo Federal, IBGE, UOL e outras páginas da internet.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Economia É Causa para Aumento da Malária

Escreveram que o aumento mundial dos casos de malária estaria relacionado ao aquecimento global. Eu particularmente descri dessa afirmação reducionista para o fato. Hoje vi confirmada minhas suspeitas com a publicação de artigo no Malaria Journal, assinado por uma equipe de pesquisadores norte-americanos. 
O estudo é uma revisão sistemática da literatura científica mundial, de artigos publicados em inglês, francês e espanhol sobre as causas da recrudescência da malária. Os revisores identificaram cerca de 75 episódios em 80 anos de revisão da literatura, em diferentes partes do planeta. 
A conclusão foi de uma clareza absoluta e serve de evidência para o fortalecimento da gestão do combate à malária: 
  • 91% dos episódios de ressurgência registrados na literatura mundial foram relacionados ao enfraquecimento dos programas de prevenção e controle da malária, principalmente por  restrições de financiamento. 
  • 50% desses episódios foram atribuídos ao aumento do potencial para a transmissão da malária.
  • 30% foram relacionados ao mosquito transmissor ou a resistência do Plasmodium a medicamentos.
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O artigo Malaria Resurgence: A systematic review and assessment of its cause (Ressurgência da Malária: Uma Revisão Sistemática e Avaliação de suas Causas) tem acesso livre no Malaria Journal desta semana.

O Desperdício e a Miséria da Fome.

Na década de 80, Dom Helder Câmara (1909 - 1999) gravou no belíssimo disco de Milton Nascimento - A Missa dos Quilombos -, um libelo contra a miséria e a fome, pedindo intercessão de Maria de Nazaré pelos homens. Registrava para a história o Arcebisto Emérito de Olinda, que só não venceu o Nobel da Paz por conta de uma operação internacional montada pela ditadura militar que governava o Brasil:
Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.
Passados mais de trinta anos da gravação do disco, o cenário da fome no mundo mudou para pior. Hoje, contudo se sabe que o abismo que separa os saciados dos famélicos tem origem multicausal.  Reconheçamos algumas delas:
1. DESPERDÍCIO, relacionado a precariedade tecnológica para conservação de alimentos e a falta de educação popular quanto ao aproveitamento dos alimentos: 
  • 42% da perda de alimentos acontece tem origem domiciliar, segundo a FAO. 
  • 180 milhões de toneladas de comida por ano são desperdiçados a cada ano, só nos EUA e União Européia. 
  • Na União Européia o desperdício anual de alimentos chega a 179 kgs/pessoa.
  • Calcula-se que no mundo, até 2020, o desperdício de comida aumentará em 40%, a menos que medidas preventivas e corretivas sejam de imediato implementadas pelos governos.
2. FALTA DE CONSENSO INTERNACIONAL, que reconheça a fome e a insegurança alimentar não como produto da escassez de produção de alimentos em relação ao aumento da população mundial, em especial aquela residente nos países mais pobres e em desenvolvimento:
  • A produção mundial de grãos aumentou de 824 milhões de toneladas em 1960 para cerca de 2,2 bilhões de toneladas em 2010.
  • 27 milhões de toneladas tem sido adicionados à produção mundial de alimentos a cada ano. Se a produção agro-global continuar nesta tendência, o aumento na produção de grãos em 2050, comparada com os números de hoje, será suficiente para alimentar a população do mundo.
  • Apesar das perdas - 14% da produção total pós-colheita; 15% na distribuição e no lixo doméstico -, três quintos da oferta total necessária até 2050 poderiam ser alcançados se acaso os países centrais ou hegemônicos parassem de desperdiçar comida.
  • É mínimo o desperdício de alimentos nos países em desenvolvimento, e qualquer desperdício de alimentos nesses países é devido principalmente a ajustes fiscais e a insuficiência técnica e tecnológica ao longo de toda a cadeia nacional de produção de alimentos. 
  • Hoje a FAO calcula que 963 milhões de pessoas passam fome no mundo, o que corresponderia a 72 % da população da China.
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* Dados procedentes da Resolução do Parlamento Europeu, de 19 de janeiro de 2012, sobre como evitar desperdício de alimentos: Estratégias para aumentar a eficiência da cadeia de produção de alimentos na União Européia ( European Parliament resolution of 19 January 2012 on how to avoid food wastage: strategies for a more efficient food chain in the EU).

**  O sermão de Dom Helder:




segunda-feira, 23 de abril de 2012

Doenças Infecciosas Negligenciadas: México e Texas Compartilham o Legado da Pobreza

As regiões sul dos Estados Unidos e norte do México não só compartilham uma fronteira, também compartilham história, cultura e idioma. Mediante o trânsito constante de pessoas e bens, a região de fronteira EUA - México (na qual a parte texana representa uma grande proporção) pode ser considerada uma única unidade epidemiológica, com suas próprias dificuldades e desafios. Embora o México e Texas tenham se beneficiado do desenvolvimento económico e, com isso, obtido melhorias na expectativa de vida e de saúde pública globalas doenças do grupo de infecções conhecidas como  doenças infecciosas negligenciadas (DIN) ainda continuam altamente endêmicas em ambos os lados da fronteira entre os dois países. 
As DIN são as infecções mais comuns entre os mais pobres, e em especial entre aqueles que vivem com menos de U$ 2 por dia, afetando a cerca de 120 milhões de pessoas nas Américas. Nesse grupo estão incluídos flagelos antigos como a ancilostomíase e outras infecções transmissíveis por helmintos, a doença de Chagas, a amebíase, a esquistossomose,  a malária, a leishmaniose e a dengue. Juntas as DIN produzem uma carga de doença que impacta todo o hemisfério ocidental, observando-se que em certas regiões chega a ultrapassar a HIV / AIDS, enquanto, simultaneamente, contribui para que 100 milhões de pessoas sejam mantidas na base da linha de pobreza da América Latina, em consequência dos efeitos deletérios dessas doenças sobre o desenvolvimento físico e intelectual das crianças , sobre a evolução da gravidez e do puerpério e sobre o trabalho e a produtividade.
A alta prevalência e incidência das principais DIN no México e sul do Texas representam uma oportunidade de cooperação conjunta entre os dois países para enfrentar aquelas de condições mais elevadas de prevalência, especialmente doença de Chagas, leishmaniose, a dengue e as infecções transmitidas por helmintos do solo. As estatísticas de cada uma destas DIN apontam para a urgência de adotar programas de vigilância ativa com base em estudos de soroprevalência e de diagnóstico em ambos os lados da fronteira.
Há uma necessidade igualmente urgente para determinar os principais mecanismos de transmissão, que, para a doença de Chagas, também incluem a transmissão de cães e outros caninos, estudos de estimativas da extensão da infecção congênita e a incidência de infecção adquirida através de transfusão de sangue. Entre as recomendações sugeridas recentemente para o controle da doença de Chagas no Texas, está a necessidade de tornar a compulsória a notificação doença  (como nos estados do Arizona e de Massachusetts), de modo que possam ser realizados estudos sorológicos de populações humana e canina, acompanhar o grau da infecção pelo T. cruzi em roedores e outros reservatórios selvagens zoonóticos e realizar testes de doadores de sangue e em outras populações de risco.
Programas semelhantes de vigilância e dinâmica de transmissão também são necessários para leishmaniose, a dengue e infecções por helmintos. Devido aos riscos da doença de Chagas (incluindo a doença de Chagas congênita) no México e nos EUA, há uma necessidade urgente de educar os cardiologistas, obstetras e outros profissionais de saúde quanto ao conhecimento e avaliação da probabilidade dessa e de outras doenças infecciosas negligenciadas nos agravos à saúde da população.  

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O artigo Texas and Mexico: Sharing a Legacy of Poverty and Neglected Tropical Diseases foi publicado em 27 de março de 2012, no PLOS NEGLECTED TROPICAL DISEASES. Acesse o artigo completo, clicando aqui.

sábado, 21 de abril de 2012

Brasília Como será?

Hoje Brasília, capital da República, completa 52 anos de inauguração. É uma bela cidade que aprendi a admirar nesses últimos nove anos de residência. Em homenagem a essa incomparável capital brasileira publico algumas de sua belezas. São fotografias feitas nas proximidades do Memorial de JK e da Torre de TV.

Untitled

Memorial JK

Tower of Brasilia - DF

Fountain of Monumental Axis

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pesquisa e Inovação no Brasil

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em seu Relatório Mundial de 1998, no início deste novo milênio vivemos um momento único de evolução tecnológica acelerada, nunca visto na história dos cuidados de saúde. Como exemplo dessa tendência, o Conselho Sueco de Avaliação de Tecnologias em Saúde (SBU) enfatiza que, pelo menos, 50% de todos os métodos terapêuticos em uso não estavam disponíveis há dez anos.
No que respeita às ciências biomédicas, tem-se observado tendência dos centros de conhecimento internacionais de ignorar as doenças de maior prevalência na humanidade, fornecendo recursos financeiros para pesquisa e desenvolvimento para produtos que geram maiores ganhos econômicos, claramente descritos pelo chamado 10 / 90 Gap. 
Esse efeito de viés de mercado na alocação de recursos para pesquisa científica nos países centrais termina por levar a uma insuficiência histórica na alocação de recursos para financiamento de estudos relacionadas às doenças negligenciadas, que afetam a maioria dos países pobres e em desenvolvimento, como é o caso daqueles que integram o grupo dos BRICS.
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O artigo Research and Innovation in Brazil, publicado em 2008 pela organização não governamental Global Forum, traz questões importantes sobre a política de pesquisa e inovação tecnológica em saúde no Brasil, correlacionando-a ao desenvolvimento de uma agenda internacional de cooperação no âmbito dos BRICS. Acesse por aqui texto completo.

domingo, 15 de abril de 2012

Leonard Cohen & U2 - Tower of song

Leonard Cohen & U2 : Tower Of Song

Um dos maiores poetas da música pop, Leonard Cohen, faz na postagem anterior uma parceria rara com o U2. Se poeticamente a música é sublimada como fosse uma torre, melhor centuriões não poderiam haver que esses músicos extraordinários. Hallelujah!

SUS e Saúde Suplementar São Sistema de Vasos Comunicantes

Nada direi da polêmica estampada nos jornais e divulgada de forma quase viral nas redes sociais, sobre a rejeição do trabalho da pesquisadora Lígia Bahia (UFRJ) pelo Cnpq (Conselho Nacional de Pesquisa /Ministério da Ciência e Tecnologia). Em assuntos dessa natureza estou de acordo que a melhor forma é buscar a conciliação das partes envolvidas, evitando-se sempre que possível a exploração dos fatos por canais que privilegiam a polêmica sem construtividade.
Entretanto, pelo porte da pesquisadora e a importância do tema investigado para o Sistema Único de Saúde (SUS), li o sumário executivo de Dinâmicas e Tendências do Mercado de Saúde Suplementar no Contexto da Regulação: Reestruturação Empresarial e Profissionalização da Gestão. Nessa leitura observei que o trabalho representa espécie de advocacy do usuário dos seguros ou planos de saúde que integram o componente suplementar do sistema de saúde brasileiro.
Entretanto tive dúvidas quanto a seleção amostral que apresentou 30 empresas "inovadoras", com base na oferta de menor valor mensal de comercialização, ranqueadas conforme o porte de clientela. Ainda que o custo menor possa indicar maior acesso da população de menor poder aquisitivo (classes C e D) a esse tipo de produto comercial, cumpre reconhecer que esse quantitativo de consumidores tem expressão amostral de uma população maior que é atendida por outros planos, não selecionados no estudo, mas com grande peso político-econômico nesse mercado hoje bastante aquecido pela estabilidade econômica, a melhoria do emprego e da renda dos brasileiros.
Ainda que desconheça quais os detalhes do que o edital do Cnpq tenha encomendado à pesquisadora, vejo que o trabalho traz dados importantes e de interesse para melhor estruturação do sistema de saúde brasileiro, especialmente no que concerne a bidirecionalidade de relações entre o SUS e o Sistema de Saúde Suplementar. Nesse tópico é ilustrativo o acanhamento de alguns planos de saúde no que respeita a relação número de usuários por hospital contratado.
A análise do comportamento dessa variável de pesquisa apresenta um cenário preocupante. Se considerarmos em termos gerais que 7 a 9% da população pode ser hospitalizada durante um ano, no caso de um plano de saúde, que foi vendido a 1.041.856 usuários, teremos que cerca de 94.000 dessas pessoas poderão procurar no ano os 45 hospitais contratados; e aqui não estamos considerando a variável especialidade, nem possíveis superposições de credenciamento dos hospitais por outros planos, o que mudaria todo o cenário de vagas disponíveis para a internação, sem a garantia de que veríamos situação melhor.
Certo, portanto, que a pesquisa nos traz fortes indicativos de que em termos hospitalares os planos pesquisados estão sub-dimensionados para atender a demanda de seus contratantes. O roteamento dessa demanda reprimida ao SUS agravará o impacto na rede hospitalar pública, que se comportaria como porta de saída para a ineficiência de cobertura dos seguros suplementares de saúde. Nesse sentido, a pesquisa demonstra que é imperativo que os dois componentes do sistema de saúde brasileiro - o SUS e a Saúde Suplementar - ajustem entre si modelo e procedimentos regulatórios que lhes garantam uma dinâmica operacional eficiente, visto estarem regidos pelos princípio geral de um sistema de vasos comunicantes. Contas públicas e usuários de planos ficariam agradecidos.

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O sumário da pesquisa Dinâmicas e Tendências do Mercado de Saúde Suplementar no Contexto da Regulação: Reestruturação Empresarial e Profissionalização da Gestão pode ser lido na página da Associação Brasileira de Saúde Coletiva - Abrasco. A doutora Lígia Bahia é pesquisadora do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ e vice-presidente da Abrasco.

sábado, 14 de abril de 2012

O Mundo Como Objeto e Representação

Fontaine des Quatre-Parties-du-Monde

The Fountain of The Observatory

 Fonte dos Quatros Continentes, por Itajaí de Albuquerque 

Adventures and Empire

Placa Comemorativa das Aventuras de Citroën. Musée des LÁrmée (Invalides), Paris.

Durante o século XIX nosso planeta ainda foi um grande desafio para o conhecimento, em especial com respeito ao interior dos continentes. A França, nessa época, desempenhou um papel de grande importância na exploração de regiões desconhecidas e quase sempre inóspitas. Foi o tempo das grandes explorações,  cabeças de ponte para o domínio global dos mercados na lógica colonialista dos Grandes Impérios, conforme descreveu Hobsbawn.
Destacam-se entre esses exploradores na Amazônia brasileira, o casal Henry (1859-1899) e Octavie Coudreau (1870-1910) - que realizaram viagens exploratórias comissionados pelo governo paraense na transição para o século XX. Henry Coudreau inclusive perdeu a vida na região, quando foi vitimado pela malária e veio a ser enterrado nas margens do Rio Trombetas, em local identificado no relatório que madame Coudreau assinou para o governo paraense.
A obra publicada desse casal de exploradores franceses da belle époque é vasta, apaixonante e cientificamente sólida, a ponto de até hoje constituir-se em referência para o estudo da região.Quem sabe os cineastas brasileiros, depois que retomaram as sagas biográficas com o filme Xingú, se interessem por filmar a epopéia dos Coudreau na Amazônia.
Ao visitar os Jardin de Louxemburg, em Paris, não pude deixar de conhecer mais adiante a homenagem dessa cidade aos aventureiros dedicados a explorar os diferentes cantos do nosso planeta, quando sequer tínhamos computador, satélites e celulares, mas tão só informações verbais conflitantes, documentos cartográficos nem sempre precisos, o amparo magnético das bússolas e muita, muita coragem temperada pelo romantismo e a visão de vida típicos da Belle Époque.
No Jardin dos Grandes Exploradores está localizada a Fonte do Observatório ou dos Quatro Continentes-, que eu considero entre as mais belas da Cidade Luz. Nessa fonte magnífica, o globo terrestre é sustentado por quatro mulheres que representam a Europa, a América, a África e a Ásia. A Oceania foi então excluída por razões unicamente estéticas. Na foto de que essa postagem é mera moldura, vemos apenas a representação da Ásia na composição. O projeto dessa obra de arte  foi concebido e desenvolvido a seis mãos, por Gabriel Davioud (conjunto), Emanuel Fremiet (os cavalos) e Jean Baptiste Carpeaux (as quatro mulheres) em 1879.
Ficamos um tempinho sentados e observando a Fonte dos Quatro Continentes, naquele fim de tarde em que o inverno parisiense anunciava sua despedida. Não pude na ocasião deixar de lembrar dos monumentos que restaram da economia da borracha em Belém, quando a municipalidade da capital paraense optara por um projeto urbano nitidamente de influência européia e à maneira de Haussmann, o projetista da Paris como hoje a conhecemos.

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1. Alguns títulos da obra de Henry Anatole Coudreau podem ser baixados dali, na Biblioteca Virtual que tem por patrono o lendário Curt Nimuendajú. Falar um pouco desse outro intérprete da Amazônia é, contudo,  conversa pr'adiante.
2. O Título da postagem remete à obra O Mundo Como Vontade e Representação, do filósofo Shopenhauer (1788-1860), que no seu início tem a famosa definição: O mundo é a minha representação. Até que ponto essa obra influenciou a geografia política do mundo, no século XIX?


quinta-feira, 12 de abril de 2012

(Des) Semelhanças na Produção Científica dos BRICS

O padrão de publicação científica nas quatro economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China está se tornando cada vez mais próximo ao de países desenvolvidos do G7. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores de cientometria selecionaram artigos publicados em uma ampla gama de disciplinas, nos anos de 1991, 2000 e 2009, e descobriram que a produção científica dos BRICs mudou gradualmente, para mais se assemelham aos países do G7.
Dos quatro países incluídos no grupo BRICS, foi observado que a China, em particular, havia diversificado sua produção científica, de maneira a obter um maior equilíbrio que se ajustasse ao rápido crescimento econômico que o país experimentava naqueles anos. Seus avanços em Matemática, Física e Engenharia permitem fazer associações com a política de desenvolvimento desse país.
O estudo também demonstrou que
após a Segunda Guerra Mundial, a China, Rússia e países do Leste Europeu deram atenção sustentada para a pesquisa básica, inclusive na ciência nuclear. Uma exceção a essa tendência é o Brasil. Enquanto os Estados Unidos e a Grã-Bretanha continuam líderes nas ciências da vida, o Brasil aumentou seus trabalhos publicados nessa área do conhecimento em 50 a 70 por cento.
Segundo Yang, um dos autores do estudo publicado na revista Scientometrics (14/03), "O Brasil tem sido tradicionalmente forte em biotecnologia e o governo do país tem estimulado o seu desenvolvimento". "Além disso, o Brasil é mais aberto para cooperar com o Ocidente e aprender com suas experiências, o que é diferente da ênfase chinesa em 'inovação auto-dependente".
Não há contudo consenso quanto a robustez dessas considerações. Para o pesquisador belga Ronald Rosseau, estudos sobre o comportamento dos BRICS na produção científica deveriam considerar não apenas a produção nacional de artigos científicos publicados, e sim associar a essa variável outras referentes à qualidade ou à eficácia dessas investigações, descrevendo qual seria o correspondente impacto social do que foi publicado.
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Adaptação do texto publicado no SciDev - Net. Em inglês e completo acesse-o aqui

Robôs na Medicina: O Quanto É Próxima a Fronteira?


Enquanto isso na sala de cirurgia:
- Como vocês podem ver, eu operei com instrumentos que atravessaram os tecidos por via da 4a. dimensão! Observem como esta cápsula curativa, em contato com o fórceps, também ajusta sua forma a quarta dimensionalidade...
(Adventure Comics, n. 303/1960)

Uma das fronteiras descritas pela ficção científica, na literatura e no cinema, são os robôs. É um mito que remete tanto a superação da queda no Gênesis, quanto ao esforço humano em superar-se rumo à imortalidade.
Em que pese estejamos distantes do pesadelo científico, narrado em Blade Runner (Caçador de Andróides), o uso dessas tecnologias em Medicina tem alcançado significativos avanços, especialmente em cirurgia.
Cabe porém salientar que o futuro da medicina robótica ( mais um campo de especialidade médica!) tem ainda um longo caminho à frente, que será pavimentado com base na aceitabilidade dos custos, na eficiência do treinamento de pessoal a ser especializado e na comprovação de que os resultados obtidos com o seu uso sejam, em termos de segurança e eficácia, superiores aos métodos convencionais. 
Na linha desse debate, e como introdutório a um tema que de rotina é explorado apenas como curiosidadade nas páginas de divulgação científica, recomendo o artigo de revisão Robotic Surgery (Cirurgia Robótica), publicado no BJOG An International Journal of Obstetric and Ginecology.

domingo, 8 de abril de 2012

Cinemateca Paraense

Nesse fim de noite, por recomendação de minha esposa, fui à Cinemateca Paraense e fiquei de queixo caído. O que alí vi foi cinema e antropologia amazônica na sua expressão melhor. Também nessa oportunidade atualizei meu conhecimento na obra do meu amigo Luiz Arnaldo Campos, carioca, mas paraensíssimo com honra e glória sagradas nas águas da Baía do Guajará.
Acessem por aqui, que lhes garanto que vale.

Reflexões sobre Ciência: As Breves Notas de Gonçalo M. Tavares

Eiffel Tower
Detalhe da Torre Eiffel

Vive a literatura de Angola uma espécie de ressurgimento entre nós, por muito que tem se falado dela na crítica especializada, nas editoras e em algumas universidades brasileiras que a tem como linha de pesquisa. Todavia conheci-a ainda adolescente, nos anos 70, por meio dos poemas de Agostinho Neto, ao tempo em que nessa ex-colônia portuguesa se travavam as guerras sangrentas de independência. Hoje, autores como Ondjaki, Pepetela e  Agualusa são encontrados com facilidade, nas estantes das livrarias brasileiras.
Gonçalo M. Tavares nasceu nos anos 70 em Luanda (Angola) e publicou seu primeiro livro em 2001, a que deu o título de Livro da Dança. Detentor dos mais importantes prêmios literários em língua portuguesa, tendo sido distinguido com o Portugal Telecom 2007, o Prêmio José Saramago 2005 e o Prêmio Ler/Millenium BCP 2004, é autor de mais de 30 obras de variada forma - romance, teatro, poesia, etc -, cujas qualidades levaram a influenciar projetos em campos alheios à literatura, em arquitetura e vídeo por exemplo.
Os poemas aqui transcritos são do livro Breves Notas, publicação da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina e Editora Casa. A obra foi editada em três volumes (Breves Notas sobre Ciência, Breves Notas sobre o Medo e Breves Notas sobre as Ligações), a partir da reunião dos textos com base na individualização da temática abordada.  
As notas representam reflexões filosóficas do autor sobre a ciência e o medo, embora as Breves Notas sobre as Ligações se refiram a duas escritoras portuguesas e a outra de nacionalidade espanhola, cujas leituras exigem de nós uma resposta, um movimento paralelo, uma deslocação, conforme se lê na primeva advertência que antecede ao texto propriamente dito.
A seguir transcrevo algumas daquelas anotações que fazem referência à ciência, escritas sob a inspiração das palavras de Nietzsche; no preâmbulo a nos dizer: "Com vista à construção dos conceitos, trabalha-se originariamente, como vimos, a linguagem, e mais tarde a ciência".
 
O perigo

Claro que o perigo é a origem dos métodos científicos mais eficazes.
Se o Homem fosse imortal ainda não teria invetado a roda [poderias dizer].

A abstração

A abstracção é útil na ciência se deixares, como no conto infantil, migalhas de pão para identificar o caminho de volta. Porém, por vezes, és tu mesmo que distraído, ou por apetite, devoras a própria possibilidade de regresso. E além, perdido, ficas: nas idéias esplêndidas.
[Quanto mais caminhas mais apetite tens, e o teu percurso é em círculos. Se com fome vês a tua frente uma migalha de pão, que fazes?
Eis o cientista perdido na floresta.]

Ferramentas e aprendizagem

- Com estas ferramentas que problemas posso resolver?
[Esta é a pergunta tonta.]
-  Com estes problemas que ferramentas preciso?
[Esta pergunta é melhor]
- Com estes problemas que ferramentas tenho de aprender a utilizar?
[Esta pergunta ainda é melhor: pressupõe vontade e um plano de ação.

O esforço e o voo

A ciência parte sempre do princípio de que tem o mapa certo. E, assim, acredita que é só procurar.
Julga que lhe basta o esforço, o suor.
[E, afinal, muitas vezes não deve escavar, mas voar - algo que lhe é fisicamente impossível.]

Uma incompetência

Aprende pois a utilizar metáforas, caro cientista. Não sejas incompetente.

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A trilogia de Breves Notas pode ser adquirida por solicitação na página eletrônica da Editora UFSC

sábado, 7 de abril de 2012

Envelhecer É Preciso, Adoecer Não É Preciso

Hoje, 7 de abril, é o Dia Mundial da Saúde. A data coincide com o estabelecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), dois anos seguidos ao término da II Guerra Mundial. 
Neste ano a mobilização no Dia Mundial da Saúde, com o lema A Boa Saúde Faz Ganhar Anos de Vida, será conduzida para sensibilizar os governos para a construção de políticas públicas que garantam o  envelhecimento saudável de suas populações. 
O Brasil, que já iniciou sua transição demográfica em direção ao envelhecimento da população, e a qual soma-se a queda de fecundidade, tem dado atenção ao assunto. Conforme destacou Helvécio Magalhães Júnior, titular da Secretaria de Atenção à Saúde (Ministério da Saúde), a população brasileira está vivendo mais, porém é preciso viver melhor.

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Acesse os links relacionados com os temas  Dia Mundial da Saúde e Envelhecimento (1, 2) e O Brasil e a Transição Demográfica (3).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Linhas e Horizontes de uma Sexta-Feira Santa

Luminosa manhã
Para que tanta luz?
Dá-me um pouco de céu
Mas não tanto azul
Dá-me um pouco de festa não esta
Que é demais pra os meus anseios 

(Luiz Bonfá: Canção da Manhã Feliz)

Brasília, capital da federação brasileira, é uma cidade projetada por Oscar Niemayer e Lúcio Costa.  os princípios modernistas da sua fundação, há cincoenta anos atrás, são hoje desafiados por um conjunto de problemas: como ter superado em quase 5 vezes a projeção de contar com  população de 600 mil habitantes nos princípios do século XXI.
Mas eu sou um grande admirador dos horizontes de Brasília,  emoldurados por seus belíssimos céus de nascente a poente, pelas linhas geométricas que dão corpo aos seus monumentos, traçados e edifícios oficiais, que fazem com que a cidade tenha sempre uma perspectiva que o olhar do transeunte seduz.
Na manhã dessa Sexta-Feira da Paixão, tive uma experiência dessas. Eu saí para encontrar quem me vendesse uns temperos, mas os super-mercados estavam fechados por conta do feriado nacional. Encontrei então uma quitanda metida à besta, que me vendeu o que eu precisava pelos olhos da cara. E daí não dei à conta salgada chance de me aborrecer, pois seria afinal injusto - quase pecado que estragaria a belíssima manhã que nos iluminava a todos, magnífica.
Vejam a seguir as fotos que dizem melhor do que estas minhas inúteis palavras de antes...
1. Dos excessos no projeto magnífico do Tribunal Superior Eleitoral, declinados na cerquinha kitsch verde-oliva e nos iglús ao modo de cópia patética - pela posição e dimensão acanhadas - das conchas camerais do Congresso Nacional.

High Court of Electoral Justice


2. Do perfeito encontro de gênios: O Meteoro (Bruno Giorgi) no Palácio do Itamaty ( Oscar Niemyer)

Meteor


3. E do Congresso Nacional: Da essencialidade da geometria ao confronto com as tortuosidades adaptativas da vegetação no serrado brasileiro, chega-se à transição do homo faber colonial para o homo tecnologicus, que, a partir das incertezas vividas na Guerra Fria, pretendeu que fossemos mensageiros portadores de futuro, no altiplano brasileiro.

  The National Congress of Brazil
The National Congress of Brazil

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Curso de Jornalismo Científico em Neurociências

Da Agência Fapesp

Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o processo seletivo do curso de pós-graduação lato sensu em Divulgação científica e Saúde: Neurociências, oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) em parceria com o Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O curso é gratuito e se destina à formação de jornalistas científicos, divulgadores de ciências e assessores de comunicação de universidades e de instituições de pesquisa que estejam envolvidos com a temática da saúde.
O objetivo da especialização é formar profissionais que tenham visão global sobre o sistema de ciência, tecnologia e saúde, para atuar nos meios de comunicação de massa.
O currículo é constituído por 12 disciplinas, de caráter obrigatório. A dinâmica do curso prevê a interação entre jornalistas e cientistas, por meio da formação de duplas de trabalho, orientadas por professores das duas áreas.
O curso tem duração de três semestres, com aulas realizadas às quintas-feiras, das 9h às 17h.
A seleção dos participantes será feita em duas etapas. Em uma primeira fase, os interessados deverão enviar a ficha de inscrição preenchida, seu curriculo vitae e um texto de sua autoria sobre neurociências, sociedade e divulgação científica. Os selecionados nesta etapa serão convocados para realizar uma prova escrita e de proficiência em inglês, além de uma entrevista com os coordenadores do curso.
O resultado da seleção está previsto para ser divulgado em 20 de junho e o curso terá inicío em 9 de agosto.
Mais informações: www.labjor.unicamp.br.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Scielo Lança Portal de Livros no Brasil

A Scientific Eletronic Library On Line (Scielo) disponibilizou a partir do dia 30 de março passado, em seu portal brasileiro, o acesso à livros eletrônicos. Os títulos procedem de editoras da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Editora Fiocruz. 
O acervo inicial é de 200 títulos que o leitor já pode acessar sem restrições. No futuro o projeto também oferecerá a possibilidade de compra de ebooks publicados por editoras estrangeiras. Imagino que serão incluídas editoras acadêmicas cujo acervo não está disponível para compra na Amazon, por exemplo. 
A iniciativa da Scielo, somada a outras congênes já em plena operacionalidade, de que são exemplo as da Biblioteca Nacional e da Universidade de São Paulo (Brasiliana USP), representam importante passo para a democratização da informação num país em que historicamente lê-se pouco, lê-se mal e o leitor não tem por hábito frequentar bibliotecas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Interferência e Intervenção

Interference by Itajai de Albuquerque
Interference, a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.
Thomas Young, cientista inglês do século XIX, descreveu o fenômeno físico da interferência como a superposição de duas ondas sobre o mesmo ponto. Na arte moderna esse conceito está presente, especialmente entre artistas do movimento conceitual.
Quando em visita ao Museu George Pompidou em Paris, fui provocado por essa extraordinária oportunidade de superposições e correlações. Não perdi a oportunidade: saquei da Nikon D-40 e fiz a foto que aí está. Noblesse oblige, não usei o flash, nem a lâmpada piloto.

domingo, 1 de abril de 2012

Câncer, o Permanente Desafio

Anos atrás, para fins didáticos, alguém que esqueci o nome definiu o câncer como comparável aos eventos revolucionários: O câncer é a revolução das células, foi dito. Apesar de superficial, a comparação não apresenta uma relação em si descabida, se considerarmos que em ambas as situações a ordem regular dos eventos e seus processos estão alterados para que uma situação nova e antagônica - desafiadora - se estabeleça no lugar de outra antiga. 
O fato é que o câncer se inicia a partir do momento em que uma célula modifica a fisiologia da divisão celular e principia um crescimento desordenado, levando a um desequilíbrio que alcança o máximo no momento em que os limites de localização tecidual são quebrados e a célula evadida é deslocada para outros lugares do organismo, o que a Biologia Celular denomina de metástase.
Mas, se há anarquia na divisão celular, de onde exatamente surge a ordem para o desregramento que até hoje desafia o controle resolutivo da doença,  e, mais ainda, quando a neoplasia maligna não mais pode ser considerada localizada, porque distribuída em outros orgãos do ser vivo?
A resposta não é simples, embora saibamos que o câncer é uma doença genética devido ter origem no dano à integridade do DNA, lesão que pode ser provocada por inúmeros fatores e cofatores, aos quais em alguns casos - para aumentar o tamanho da encrenca - também se associam a predisposição familiar e individual.
Segundo pesquisa conduzida por pesquisadores do UK London Research Institute o evento ordenador dessa revolução é extremamente complexo, origina pluralidades e se faz presente durante toda a dinâmica da doença, o que nos obrigaria reconhecer a validade do termo cânceres ao invés de câncer, visto que essa última flexão apontaria para uma singularidade que a rigor inexiste.
O artigo Intratumor Heterogeneity and Branch Evolution Revealed by Multiregion Sequency, publicado em 08 de março na revista The New England Journal of Medicine, foi resumido e explicado de forma brilhante por "Henry" no Science Update Blog daquele instituto de pesquisa. O estudo possui relevância para a avaliação do paradigma terapêutico vigente, porque sua conclusão possui potencial portador de futuro em termos de desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o diagnóstico e o tratamento de neoplasisas malignas, de modo que possamos reverter as curvas de mortalidade, em especial nos casos em que o oncologista não confronta a doença localizada.
Segundo os pesquisadores do centro de pesquisa inglês, não existem duas amostras geneticamente idênticas em um mesmo paciente da série analisada, nem mesmo entre as células do tumor original. Por sua vez, as células secundárias (metástases) também foram do ponto de vista genético significativamente diferentes daquelas relacionadas ao local primário da doença. 
Essas evidências permitiram aos pesquisadores concluírem que há marcante heterogeneidade genética no tumor, nas metástases e entre ambos, conclusão semelhante a aquela descrita por Xiaochong Wu e colaboradores, que em artigo publicado na Nature demonstraram que as células secundárias ou metastáticas de um tumor de células imaturas, o meduloblastoma, são geneticamente diferentes de suas congêneres encontradas no tumor primário. 
Ambas as pesquisas, portanto, trazem de forma contundente questões que confrontam nossos paradigmas quanto ao diagnóstico e aos protocolos clínicos para tratamento efetivo dos cânceres. Por outro, devemos considerar que os resultados descritos em ambos os estudos estão perfeitamente correlacionados com a Teoria da Evolução, estabelecida por Charles Darwin no século XIX. 
Se considerarmos esses eventos celulares à luz darwinista, haveremos de reconhecer que estão em acordo com o fundamento de que a evolução é fenômeno indissociável do processo vital,  existe não somente entre espécies distintas, mas dentro de uma mesma espécie e, conforme as evidências acima descritas, num mesmo indivíduo, nas suas células, mesmo que sejam cancerígenas. Ou seja, a evolução além de permanente é tão vertical quanto horizontal, no sentido mais extensivo que possamos admitir.
Por essa razão a extrema heterogeineidade genética descrita pelos pesquisadores ingleses, não pode ser entendida senão como fosse estratégia  celular de sobrevivência à diversidade do meio, conforme exemplificado no Science Update Blog:
Isto é muito desafiador: tumores malignos são capazes de lidar com substâncias químicas que eles nunca "viram" antes. São uma espécie de superpotência biológica que superam as estratégias adaptativas dos agentes causadores de doenças infecciosas. Basta para isso pensarmos o tempo que bactérias "resistentes a múltiplas drogas" levaram para evoluir. No entanto, células cancerígenas podem fazer isso em questão de meses, ou mesmo semanas, quando confrontadas com um meio ambiente tornado hostil pela quimio ou radioterapia. 
Assim, em primeiro plano,  aqui temos um monstruoso desafio só comparável àquele que Édipo decifrou nas portas de Tebas, ao encarar a temível Esfinge: se os cânceres são doenças capazes de levar à morte, no fundo, em nível celular e molecular, são os mecanismos adaptativos de proteção à vida que continuam a operar para garantir cegamente esse desfecho mortal. Como interromper essa lógica cruel que confronta o ser pluricelular e o conhecimento, esse representa nosso maior desafio no campo das ciências.

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Referências citadas: 

Gerlinger, M. et al (2012). Intratumor Heterogeneity and Branched Evolution Revealed by Multiregion Sequencing. New England Journal of Medicine, 366 (10), 883-892.

Science Update Blog