quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Superbactéria Não Resiste à Higiene das Mãos

Toda essa gente se engana
Então finge que não vê que
Eu nasci pra ser o superbacana
Super-homem, superflit, superfink, superist
(Superbacana. Caetano Veloso, 1968)


No caso da KPC (Klebsiella pneumoniae), o adjetivo de superbactéria tem sido usado com insistência na mídia brasileira. Esse tipo de bactéria produz substância - a enzima Carbapenemase - que lhe permite resistir ao ataque de antibióticos, simplesmente inutilizando-os. Como outros mutantes bacterianos, o surgimento da KPC deriva basicamente do uso não responsável de antibióticos e de medidas de higienização precária nos serviços de saúde. Portanto, é problema que pode ser resolvido de imediato e a médio prazo por meio de conscientização do público, dos profissionais e dos administradores de unidades de saúde, a partir da ação sustentada das vigilâncias sanitárias estaduais (Visas), com o apoio imprescindível das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, que devem sair do papel e valer na prática.
Nesse sentido, embora vivamos em tempos de super-ultra-hiper sei lá o quê, não podemos esquecer que uma das maiores revoluções da Medicina no século XIX foi a descoberta do médico húngaro Semmelweiss, que baseado em observações de enfermaria concluiu que a mortalidade por Febre Puerperal seria reduzida se os obstetras e as parteiras da época lavassem as mãos antes e depois de cada parto, antes e depois de examinar suas pacientes.
A medida consagrada é válida para prevenir qualquer infecção em que o agente causal seja transportado pelas mãos de um ser humano para outro, quer sejam bactérias, os vírus das gripes ou das conjuntivites. Água, sabão e álcool na higiene das mãos e a aplicação correta de protocolos para degermação de materiais e equipamentos bastam para quebrar a transmissão da KPC, demonstrando que a adoção de medidas de higiene evitam e destroem a "famigerada" bactéria sem precisar empregar algum super-raio laser terrível.
Contudo é necessário coibir o uso abusivo e indiscriminado de antibióticos, posto que a indicação incorreta e a administração em sub-doses e em horários equivocados são os principais responsáveis pelo desenvolvimento de resistência bacteriana, aliás um fenômeno representativo da Teoria da Evolução de Darwin. O uso incorreto de antibióticos constitui no Brasil assunto da maior importância, especialmente porque sabemos que a auto-medicação além da influência cultural está relacionada às dificuldades no acesso a cuidados de saúde e na acessibilidade a medicamentos.
Por fim a decisão da Anvisa de disciplinar a compra de antibióticos não deve se limitar ao balcão das farmácias. Na medida em que as farmacias cumpram as normas regulatórias, outras possibilidades à margem surgirão, por meio do comércio ambulante e da internete. É necessário portanto uma ação que discipline e ao mesmo tempo desencoraje e combata o comércio ilegal de antibióticos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dito e Feito

A ciência põe-se de pé sobre ombros de gigantes.

Os Genéricos do Serra: A História Sem Virtudes

O jornal Folha de São Paulo publicou hoje um artigo do físico Rogério César de Cerqueira Leite, que ilumina a origem dos genéricos no Brasil. É uma história pouco virtuosa, em que pese o valor imprescindível desse tipo de medicamentos para a saúde do povo brasileiro.

Genéricos e Outros Mistérios

Rogério César de Cerqueira Leite

Considero eminentemente pífia a atuação de Serra no Ministério da Saúde; seus genéricos pouco têm a ver com aqueles que planejamos

Como consequência da Guerra das Malvinas, quando a Argentina, por ter abdicado da produção própria de fármacos, ficou desabastecida de medicamentos, o governo militar brasileiro aprovou um programa, por mim proposto, de desenvolvimento dos princípios ativos (fármacos) dos 350 remédios constituintes da farmácia básica nacional.

Estimava-se que, em dez anos, seria possível desenvolver, por engenharia reversa, pelo menos 90% desses produtos. De fato, em pouco mais de três anos, cerca de 80 processos já haviam sido desenvolvidos e 20 produtos já estavam sendo produzidos e comercializados por empresas brasileiras.

O sucesso inicial desse projeto permitiu que fosse iniciada por mim, nesta Folha, uma campanha de esclarecimento sobre medicamentos genéricos, o que não teria sentido sem a produção própria de fármacos.

Precipitadamente, o governo Itamar Franco tentou lançar a produção de genéricos. O poderoso cartel de multinacionais de medicamentos se insurgiu. Ameaçou-nos de desabastecimento, de verdadeira guerra. Derrotou e humilhou o Ministério da Saúde.

Poucos anos depois, esse cartel não somente cedeu prazerosamente ao ministro José Serra, então na pasta da Saúde, como até fez dele seu "homem do ano".

Seria o costumeiro charme do ministro? Seu sorriso cândido? Senão, qual o mistério?

Como consequência da isenção de impostos de importação para o setor de química fina, da infame lei de patentes e de outras obscenidades perpetradas pela administração FHC, mais de mil unidades de produção no setor de química fina, dentre as quais cerca de 250 relativas a fármacos, foram extintas.

Além do mais, cerca de 400 novos projetos foram interrompidos.

Os dados foram extraídos de boletim da Associação Brasileira de Indústria da Química Fina. Em poucos anos, o deficit da balança de pagamentos para o setor saltou de US$ 400 milhões para US$ 7 bilhões. Quem acha que, com isso, Serra não merece o título de homem do ano das multinacionais de medicamentos?

Também os "empresários" brasileiros do setor de genéricos têm muito a agradecer ao ex-ministro da Saúde, pelas suas margens de lucro leoninas. Basta ver os imensos descontos oferecidos por quase todas as farmácias, que com frequência chegam a 50%. Os genéricos do Serra nada têm a ver com os genéricos que planejamos.

E o tão aclamado programa de Aids do Serra? É compreensível que todos os seres humanos, e talvez também o ministro Serra, tenham se comovido profundamente com a súbita e aterrorizante explosão da Aids. Que oportunidade sem par para políticos demagógicos!

A ONU homenageou o então ministro Serra pelo mais completo e dispendioso programa de apoio aos doentes de Aids de todo o planeta.

Países ricos, com PIB per capita dez vezes maiores que o nosso, ficavam muito aquém do Brasil. Como foi possível? E por que será que, nesse mesmo período, os recursos orçamentários destinados ao saneamento básico não foram usados?

O então dispendioso tratamento de um único doente de Aids correspondia à supressão de recursos para saneamento básico que salvariam centenas de crianças de doenças endêmicas, com base em uma avaliação preliminar. Será que Serra desviou recursos do saneamento básico? Mistério!

Mas persiste o fato de que, durante a administração Serra na Saúde, os recursos destinados ao saneamento, à época atribuídos a esse ministério, não foram aplicados.

Mesmo sem contar mistérios como aqueles dos "sanguessugas" e da supressão do combate à dengue no Rio, entre outros, considero pífia, eminentemente pífia, a atuação de Serra no Ministério da Saúde.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Soberania da Clínica

O The American Journal of Medicine deste mês (vol. 23, n.10, outubro, 2010) traz um interessante estudo de acurácia da ausculta cardíaca. O autor, clínico do Centro Médico de Atendimento a Veteranos da Universidade de Washington, em Seattle, examinou 379 pacientes e concluiu que apesar da ausculta cardíaca ser pouco explorada em suas potencialidades nos dias de hoje, seu valor semiotécnico ainda é apreciável na prática médica. A leitura do artigo permitiu-me que relembrasse meus tempos de estudante de Propedêutica Médica na Universidade Federal do Pará, quando fui aluno da notável Profa. Bettina Ferro de Souza. Muito do que o artigo diz, a saudosa mestra já ressaltava trinta anos atrás. Para ler o estudo completo do doutor Steve McGee clique aqui.

domingo, 24 de outubro de 2010

Os Neoliberais e o Tamanho do Estado Brasileiro

Os jornais que apoiam a candidatura de José Serra (Psdb) à sucessão do presidente Lula falam uma meia verdade, quando afirmam ter havido um aumento do tamanho do estado brasileiro na gestão petista. Na verdade, quando recebeu o governo de FHC (Psdb), Lula viu-se diante de uma máquina pública que era um faz-de-conta: o estado desempenhava suas funções a partir de terceirizados que faziam as vezes de funcionários públicos federais. Para sanear o governo federal de tal ilegalidade, denunciada sucessiva e exaustivamente pelo Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal, foram realizados centenas de concursos públicos com o objetivo de recompor a força de trabalho deliberadamente diminuída nos anos 1995-2002. É o que demonstra o gráfico procedente da dissertação de mestrado de Luciane Galdino Alberto (Análise do Quadro de Trabalhadores do Ministério da Saúde e Entidades Vinculadas no Ano 2000. Fiocruz, março 2010).

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Medicina Forense Recebe Recursos de Pesquisa

Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica
(Ferreira Gullar)

A pesquisa em Medicina Forense ainda é área muito pouco explorada no Brasil. Contudo, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financia estudo conduzido pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pretende estudar insetos de interesse para o esclarecimento de crimes, visto que estudos publicados na literatura internacional trazem evidências robustas quanto a importância deles, para esclarecer informações quanto ao local da ocorrência de um crime, a causa mortis e a presença de substâncias tóxicas na vítima. O primeiro produto da pesquisa foi a realização do censo faunístico desses insetos no estao de São Paulo. Maiores detalhes sobre a pesquisa financiada pela Fapesp poderão ser lidos na página da agência de financiamento.

Seis Medicamentos Expiram Patente em 2011

Nos próximos anos importantes patentes de medicamentos serão expiradas. Em 2011, por exemplo, podemos citar o mais bem sucedido redutor de colesterol - Lipitam ou Xalatan (Roche); o antidepressivo para uso em esquizofrenia e transtorno bipolar - Zyprexa (Elli-Lilly); o medicamento para asma que o inalador tem patente própria - Advair (GlaxoSmithKline); o tambem indicado para tratamento de distúrbios psiquiátricos - Seroquel (Astra Zêneca) e o medicamento para uso em infecções pediátricas Levaquin (Ortho-Mcneill).
A perda das patentes possibilita a fabricação de medicamentos genéricos por outras empresas do setor farmacêutico do complexo industrial da saúde. Contudo, especialmente quando se tratam de blockbusters ou carros-chefes de vendas, para reduzir o prejuízo da perda patentária, as gigantes farmacêuticas iniciam a compra ou parceria com empresas menores a quem passam a fornecer prioritariamente o apoio necessário para fabricação de genéricos de seus medicamentos referência, permitindo assim uma recomposição de lucros e de domínio do mercado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Solidariedade ao Manifesto Médico de Apoio a Dilma

Está disponível no Blogue Médicos com Dilma manifesto para assinatura de apoio à candidata Dilma Roussef do PT. Nesse momento, há menos de dez dias das eleições, estão em disputa titânica dois projetos para o Brasil, o neoliberalismo, conduzido pelo PSDB, e o projeto social-democrata do presidente Lula. O constraste deste com aquele resplandece, especialmente quando se os comparam nos resultados respectivamente alcançados na execução das políticas públicas, pelos respectivos indicadores que derivam de um lado da concepção de um estado mínimo à feitura neoliberal e de outro de um estado que pretende construir-se constitucionalmente como provedor de direitos sociais, includente e soberano.
Como defensor intransigente de uma medicina de qualidade; de um desenvolvimento nacional não subserviente aos interesses espúrios das privatizações; por defender o Sistema Único de Saúde e a contínua necessidade de fortalecer seus princípios de universalidade, integralidade e equidade; por reputar a candidatura do senhor José Serra (PSDB) como insolente, arrogante, geradora de ódio e violência entre brasileiros; por considerar que as alianças políticas celebradas por Serra extrapolam o campo da direita e incorporam forças historicamente alinhadas com a extrema-direita; por considerar que o projeto desse candidato para o Brasil não garantirá a continuidade do projeto social em curso, nem a integridade do controle nacional sobre nosso patrimônio e riquezas, especialmente a do petróleo, solicito aos (as) colegas que apóiem a candidatura de Dilma Roussef (PT), juntando suas assinaturas a minha e às de outros (as) naquele documento.
Assinaturas dos médicos que apoiam Dilma deverão ser realizadas aqui.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Comparar é Fundamental

Recomendo a leitura da excelente postagem sobre resultados de políticas públicas nos governos federais do PSDB/Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e do PT/Lula (2003-2010), publicada no blogue Lobo em Pele de Cordeiro. É a síntese que faltava.

Antibiótico Só Com Receita Médica

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) editará regras para coibir a venda nas farmácias de antibióticos sem receita médica. A medida é necessária porque a auto-medicação contribui para o desenvolvimento de resistência dos microorganismos a essa classe de medicamentos. A agência deve atentar que ao fechar o gargalo nas farmácias, haverá necessidade de reprimir a venda ilegal por ambulantes e pela marginalidade na internete.

Para Desenvolver, Educar É Necessário
























Para ler a matéria clique sobre a imagem e amplie. Tudo com o botão esquerdo do mouse.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ex-Reitor Enfrenta Xerimbabo da Veja 1/3

EDUCAÇÃO SUPERIOR EM LULA vs FHC: A PROVA DOS NÚMEROS

Um jornalista escreveu em seu blog, auto-apresentado como um dos mais acessados do Brasil: “Provei com números que o que ele [o Governo Lula] fez mesmo foi aumentar o cabide de empregos nas universidades federais, aumentar a evasão e o número de vagas ociosas.”

Fiquei muito interessado no tema, por dois motivos: Primeiro, porque fui Reitor de uma universidade federal durante quatro meses no governo FHC e quase todo o tempo do Governo Lula, o que me permite a rara situação de, na condição de gestor público, poder comparar os distintos cenários de política de educação superior. Segundo, porque minha área de pesquisa é a Epidemiologia. Nessa condição, trabalho com modelagem numérica e técnicas quantitativas de análise, num campo onde exercitamos uma quase obsessiva busca de rigor, validade e credibilidade. Isto porque uma eventual contrafação ou fraude estatística pode custar vidas, produzir riscos ou aumentar sofrimentos.

Assim, procurei, no blog do jornalista, a prova dos números. Encontrei, numa postagem de 24/08/2010 – arrogantemente intitulada “A fabulosa farsa de ‘Lula, o maior criador de universidades do mundo’. Ou: desmonto com números essa mentira” três blocos de questões: aumento de vagas e matrículas; evasão na educação superior; empreguismo na rede federal de ensino. Analisarei cada uma delas, demonstrando que essas “provas de números” são refutadas em qualquer exame sério de validade técnica ou metodológica.

No primeiro bloco, referente a aumento de vagas e matrículas, achei as seguintes afirmações: “A taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula. [...] Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008).”

Ex-Reitor Enfrenta Xerimbabo da Veja 2/3

Aqui o jornalista comete erros primários (ou de má-fé) de análise de dados. Qualquer iniciante em análise estatística, demográfica ou educacional sabe que não faz sentido comparar um período de oito anos com outro de seis anos, ou este com outro de quatro anos; mais ainda se usarmos médias aritméticas ou números brutos; e pior ainda se considerarmos (como ele bem sabe) que o principal programa de expansão das universidades federais, o REUNI, começa a receber alunos justamente depois de 2008.

Além disso, usa dados errados. Eis os dados corretos de matrículas nas IFES:

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

502.960

531.634

567.850

574.584

579.587

589.821

653.022

720.317

917.242

1.010.491

(fonte: INEP e ANDIFES)

Não precisamos questionar os indicadores do governo FHC; consideremos a credibilidade destes como de responsabilidade do jornalista. Mas, com os dados da pequena tabela acima, podemos demonstrar que, considerando todo o período do governo Lula, o volume total de matrículas nas federais aumentou 90,1%. Portanto, a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais, entre 2003 e 2010, não foi de 3,2% e sim de 11% ao ano.

Também, no que concerne à segunda afirmação, em seis anos de governo Lula (2003 a 2008), de fato ocorreram 188.683 novas matrículas nas universidades federais, e não, como afirma o jornalista, apenas 76.000 (aliás, números redondos são em geral suspeitos: sugerem ausência de fonte). Uma comparação tecnicamente mais correta será entre os dois segundos mandatos: entre 1998 e 2003, segundo mandato FHC, houve 158.461 novas matrículas; entre 2007 e 2010, segundo mandato Lula, foram exatas 478.857 novas matrículas registradas nas universidades federais. Ou seja, contrastando períodos equivalentes, o operário Lula abriu 200% mais vagas novas em universidades federais que o intelectual FHC.

No segundo bloco de questões levantadas pelo jornalista, o assunto era evasão na educação superior. Ele escreveu: “O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008. [...] A Universidade Federal do ABC perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009.”

Ex-Reitor Enfrenta Xerimbado da Veja 3/3

O jornalista confunde evasão com ociosidade. Aliás, não sei de onde ele tirou os dados que indicariam um aumento “brutal” de evasão nas universidades federais no governo Lula. Não tenho conhecimento de nenhuma base de dados que recolhe e computa informação sobre “vagas ociosas” que, a propósito, tem definições variadas e divergentes dentro da autonomia das diferentes instituições. Sobre trancamentos, desligamentos e afastamentos, novamente o jornalista comete erros primários (ou de má-fé) na análise de dados. Qualquer iniciante em análise estatística, demográfica ou educacional sabe que um aumento bruto de 44.023 para 57.802 afastamentos nada significa sem comparação das proporções relativas. Ocorreram mais afastamentos simplesmente porque o sistema recebeu mais matrículas, de 567 mil para 720 mil no período considerado. Usemos os percentuais respectivos: entre 2003 e 2008, a taxa de afastamentos passa de 7,7% para 8,0%, uma variação insignificante. Onde está o “salto”?

O estudo mais abrangente sobre o tema evasão na educação superior no Brasil foi realizado pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia. De acordo com essa pesquisa (Silva Filho et al 2007), a evasão anual média do Brasil, entre 2000 e 2005, foi de 22%. Essa taxa foi mais de duas vezes menor nas instituições públicas, em torno dos 12%, que nas instituições privadas, quase 26%. No que se refere às áreas, a maior evasão média anual ocorreu na formação em Serviços, com 29%; seguida por Ciências Naturais, Matemática e Computação, 28%, e Ciências Sociais, Negócios e Direito, 25%. A menor evasão foi em Ciências da Vida, com 17%. Os cursos com maiores taxas anuais de evasão foram: Matemática, 44%, Marketing e Publicidade, 36%, Educação Física, 34%. Os cursos com menores taxas foram Medicina, com 5% e Odontologia, 9%. Notem que essas são taxas médias anuais.

Outra coisa são as estimativas de evasão no tempo do curso, ou seja, complemento matemático da taxa de sucesso. Estudo da USP (2004) avaliou que apenas 32% de seus alunos concluíram o curso no tempo previsto. Os restantes retardaram, mudaram ou desistiram do curso, nesse caso configurando uma taxa bruta de evasão que, no Brasil, entre 2000 e 2006, situou-se em 49%. Esse indicador é mais difícil de calcular e comparar, dada a diversidade na duração mínima dos cursos (no Brasil, de dois a seis anos), e na própria arquitetura curricular, muito distinta entre os diferentes modelos de universidade. Não obstante, para efeito limitado de comparação internacional, alguns dados da Unesco, no período de 2002 a 2006, mostram o Brasil numa situação intermediária: Coréia do Sul 22%, Cuba 25%, Alemanha 30%, México 31%, EUA 34%, França 41%, Brasil 49%, Colômbia 51%, Suécia 52%, Venezuela 52%, Itália 58%.

Com esses dados, analisemos a situação da UFABC, precursora do REUNI e, talvez por isso, posta no pelourinho. O jornalista e, em certo momento, a imprensa paulista, consideraram alarmante uma evasão de 42% em quatro anos. Puro desconhecimento do assunto. Se ajustarmos essa medida num parâmetro temporal preciso, encontraremos uma taxa anual de 11%, abaixo, portanto, da média nacional para instituições públicas e metade da taxa referente ao setor privado de ensino superior.

No terceiro bloco de questões, o jornalista denuncia a rede federal de ensino superior como “cabide de empregos”: “Também cresceu espetacularmente no governo Lula a máquina ‘companheira’. Eram 62 mil os professores das federais em 2008 - 35% a mais do que em 2002. O número de alunos cresceu apenas 21% no período. [...] No governo FHC, a relação aluno por docente passou de 8,2 para 11,9 em 2003. No governo Lula, caiu para 10,4 (2008). É uma relação escandalosa! Nas melhores universidades americanas, a relação é de, no mínimo, 16 alunos por professor. Lula transformou as universidades federais numa máquina de empreguismo.”

O jornalista insiste em parar o tempo em 2008, desconhecendo o efeito do REUNI. Nesse aspecto, o conjunto das universidade federais começou a fazer investimentos a partir de 2008 (e isso incluiu naturalmente contratação de docentes e funcionários) para dar conta do crescimento do alunado no ano seguinte. Já em 2008, foram realizados concursos públicos para mais de 6.000 professores e 4.000 funcionários, para receber os 196.725 alunos novos que entraram nas 56 universidades federais em 2009. Com a matrícula dos dois semestres deste ano de 2010, o sistema federal ultrapassou 13 alunos por docente, mantendo a razão 18 alunos/docente como meta pactuada do REUNI para 2012. De fato, enquanto o corpo docente da rede universitária federal aumentou 35% de 2002 a 2008 e crescerá em 50% até 2012, nesse período, o alunado triplicará.

Apenas como exemplo concreto, posso apresentar o caso da UFBA: neste ano, matriculando 34.516 alunos de graduação, nossa instituição alcançou 16,4 alunos/docente. Passamos de 55 cursos de graduação em 2002, para 113 cursos em 2010, com aumento de vagas de quase 120%. Em 2002, oferecíamos 40 vagas em 01 curso noturno; em 2010, são 2.610 vagas em 22 cursos noturnos. Em relação à pós-graduação, os patamares efetivamente alcançados são ainda mais expressivos, com aumento de 150% em vagas e matrículas, sendo mais de 300% no doutorado. Fizemos tudo isso com apenas 416 novos docentes contratados em três anos.

A prova dos números com dados completos, tanto no sentido temporal (quando inclui matrículas até 2010) quanto no sentido político (apesar de o jornalista insistir em esconder o sucesso do REUNI), destrói seus argumentos enganosos. Resta-lhe o exercício da retórica raivosa. Máquina de empreguismo? Cabide de empregos? Essas grosserias insultam a todos nós, dirigentes, professores, servidores e alunos de universidades federais que, com grande esforço, estamos tornando a educação superior pública brasileira flagrantemente mais eficiente, competente, socialmente responsável.

Tendencioso, mal-informado, sem competência técnica em análise elementar de dados, o jornalista não passa na prova de números que ele mesmo propõe. Ainda bem que ele foi reprovado pois, nos planos macroeconômico e político, uma contrafação ou fraude estatística pode reduzir investimentos, desviar prioridades, suspender programas de governo, fazer retroceder estratégias, destruir políticas e atrasar o desenvolvimento social e humano do país.

Naomar de Almeida Filho

Pesquisador I-A do CNPq

Reitor da Universidade Federal da Bahia no período 2002-2010

Professor Titular de Epidemiologia, Instituto de Saúde Coletiva e do Instituto Milton Santos de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Fascismo à Brasileira

Do blogue do jornalista Luis Nassif, hoje:

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

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O post O Ovo da Serpente: Carta de um Professor, publicado logo mais abaixo, vai ao encontro da análise de Nassif.

Máquinas Comunitárias Para Diagnóstico de Febre - Uma Febre Tecnológica à Vista?

Quando estive em Cingapura em 2009 estava no auge a Gripe Aviária (H1N1). Para acesso ao congresso em que eu participei (Health Technology Assessment International -2009) havia uma dessas máquinas que analisam a temperatura de quem passa por ela. O objetivo era exatamente identificar quem estava febril e conduzí-lo aos cuidados de uma equipe de saúde, que cuidaria das medidas necessárias à investigação e ao tratamento da origem da febre.
Depois fiquei pensando que a função de polícia sanitária daquela máquina poderia muito bem ser ludibriada em eventos, metrôs, rodoviárias, portos, aeroportos e fronteiras - qualquer lugar de aglomeração - bastando que o sujeito fizesse uso de antitérmico ou outro medicamento que lhe reduzisse a temperatura, evitando assim que fosse detido pelas autoridades sanitárias. Então não seria melhor aprimorar a conscientização das pessoas, para que procurassem cuidados médicos tão logo observassem algo de errado com suas temperaturas? Eu ainda penso que sim.
Entretanto, a tecnologia por infra-vermelho para monitoramento comunitário da febre progride no mercado e em direção a sua incorporação nos sistemas nacionais de saúde. Hoje, na Reuters, li que as tais máquinas foram testadas em salas de emergência nos EUA, demonstrando eficácia na identificação de 90% dos pacientes febris contra os 75% diagnosticados com base na clássica metodologia da história clínica dos pacientes.
O artigo jornalístico não informa, porém, se da acurácia mensurada a favor da máquina foram excluídos os falsos positivos e os falsos negativos, sempre presentes em matéria médica. Tão pouco nos informa sobre o custo de aquisição e manutenção do equipamento, e, principalmente, se para cada dólar gasto no diagnóstico de febre na situação real de uma epidemia, utilizando-o, obtem-se melhores desfechos, como por exemplo diagnóstico precoce, menor tempo e dos custos de hospitalização, redução da mortalidade, da tramissão, etc. Dados esses que deverão ser comparados com aqueles relacionados, nas mesmas condições epidêmicas, com o uso do método clínico tradicional.

Pesquisa de Sobre Twitter Pede Outra

Consultoria canadense fez pesquisa e concluiu que 71% das mensagens no Twitter não recebem respostas (retuítes). Na chamada blogosfera, tal qual no mundo real, a efetividade da comunicação não pode ser medida exclusivamente por réplica ou tréplica entre emissor (es) e receptor (es). O arco da comunicação pode continuar sem retuítes para outros níveis ou topos comunicacionais (blogues, outras redes sociais, listas de discussão, etc), sem interrupção, em teias que se interpolam. Logo, a evidência apresentada pela pesquisa tem alcance limitado para a compreensão do impacto das redes sociais no cotidiano.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Ilustre Bob e a Capacidade de Síntese




O Bob é um militante nessas eleiçoes presidenciais. Designer gráfico fez a melhor síntese comparativa entre as políticas públicas conduzidas no país nos últimos 16 anos. Na bem humorada comparação que produziu, Bob estabelece com clareza as diferenças de visão que o PSDB e o PT teem para o desenvolvimento e o progresso do Brasil. Mais trabalhos podem ser apreciados na página Ilustre Bob.

sábado, 9 de outubro de 2010

Carta de um Professor da Amazônia

Prezados (as) amigos (as),
Muito boa a mensagem pelo conteúdo, que é irretocável. Mas a mensagem não deve ser repassada às listas de jovens de 20 anos no tom em que está. Essa campanha do segundo turno será muito dura e o PSDB usará de todos os golpes baixos que dispuser. O jovem de 20 anos de hoje é muitíssimo menos questionador que os de 15 ou 40 anos atrás. Ele gosta de conteúdos já mastigados, do tipo que você encontra com facilidade na internete ou na revista Veja. Mas, como temos identificado, a história do Governo FHC e do Brasil todo o dia é reescrita de modo falseado por esses meios de comunicação, o que obriga-nos ao se tato na abordagem e no diálogo com nossos jovens sobre o assunto, pois em contrário será a versão reacionária que passará como fosse verdade nessas eleições e nos próximos anos.
Nós todos fomos contemporâneos de universidade no interregno entre a ditadura e a redemocratização do país. Vocês sabem que eu sou professor universitário federal de dezenas desses jovens e já participei da formação (técnica) de algumas centenas deles. Nesse contexto tenho escutado cada "verdade" sobre a era FHC que é necessário muitas vezes respirar fundo para contar aos alunos um pouco do que eu testemunhei e sofri, nesses anos em que estivemos sob governos neoliberais.
Mas a causa da conduta despreocupada de nossa juventude sobre as tensões políticas da atualidade, eu atribuo boa parte da CULPA a desatenção do GOVERNO LULA. Para situar essa questão, vou lhes citar apenas alguns exemplos que permitem melhor dimensionar essa crítica, elaborada a partir do contraste do que eu vivi quando tinha a mesma idade de meus alunos, e portanto logo após minha graduação na Universidade Federal do Pará:
1) Todos os engenheiros que formamos hoje, mesmo aqueles que foram alunos fracos, conseguem emprego facilmente. Pra que se preocupar com o desemprego, ele existe???
2) Todos os alunos de Mestrado ou Doutorado (em Engenharia) em Dedicação Exclusiva têm bolsas de estudos.
3) Boa parte dos jovens pode fazer faculdade hoje, mesmo em faculdades particulares, com oa instituição do Prouni no governo de Lula.
4) Para os jovens com escolaridade anterior ao nível universitário está sendo ofertada uma infinidade de cursos de nível técnico e auxiliar técnico, pois a verba para a oferta desses cursos cresceu exponencialmente nos últimos sete anos. Além do mais, a chance de absorção pelo mercado desses jovens, mesmos dos minimamennte capacitados, é inegavelmente altíssima.
5) Esses jovens mal se formam, e com emprego e crédito fácil vão comprando o seu carrinho financiado, entupindo as ruas e provocanddo os congestinamenos gigantes do trânsito de hoje.
6) Com emprego e algum dinheiro no bolso, eles aproveitam as facilidades de uma economia estável e começam financiar imóveis e até a planejar o futuro, palavra que para a minha geração de vinte anos atrás significava angústia e incógnita.
Essas farturas a pouco referidas, trouxeram o mal da inconsciência de que há bem pouco tempo atrás a promessa de paraíso hoje vivido, era o inferno marcado pela falta de perspectiva a curto, médio e longo prazos, pela regra de salários aviltantes, pela má distribuição de renda e pelo desemprego crônico. Não a toa alguém cantava que "a gente somos uns inúteis"... Ou que "os meus inimigos estão no poder"... Porque esses eram os sentimentos da época em que me graduei na escola em que hoje sou professor.
Sem consciência, portanto, não tem jeito!!! Pela primeira vez na história do país, eu devo admitir que mais oito anos de continuismo da política de governo que temos hoje, a mentalidade e o senso crítico e questionador dos nossos jovens estarão ANIQUILADOS como cidadãos construtores de um futuro para o Brasil. Num cenário de pesadelo, sou forçado a concluir que apenas pela volta de um governo neoliberal - ao modo como Collor praticou, como Itamar prosseguiu e como FHC consolidou -, pela perda do que temos e pelo sofrimento que derivará, poderemos devolver aos jovens o que foi perdido no Governo Lula: a apropriação consciente de que o atual progresso só faz sentido se compreendermos que ele é fruto de uma luta contra as dificuldades e a total falta de perspectiva de soluções, que eram rotinas na vida dos jovens de 10 ou 20 anos atrás.
É isto o que falta ao nosso jovem para resgatar o seu espírito crítico e um pensamento mais elevado, que permitam negar as propostas do atraso e chegar finalmente à compreensão das conquistas e valores do governo Lula. Agora, eu gostaria que vocês me ajudassem a comprender uma questão paradoxal que a nossa mídia deformadora colocou-me na cabeça:
Quando o Lula era candidato a presidente da República, a mesma mídia de hoje dizia que ele era burro, analfabeto e que não sabia expressar suas idéias. Tudo o que ele dizia não passava de mera repetição de textos e idéias de colaboradores altamente preparados tecnica e politicamente, como a Dilma Roussef. Agora que a técnica e a política Dilma é candidata à sucessão de Lula, nossa mídia vem afirmando que ela não tem expressão nem preparo, alegando que nossa candidata faz belos discursos e está muito bem cotada por conta de ser bem assessorada pelo "demonizado" Lula; sim, o nosso presidente que o abuso da liberdade de expressão vigente no Brasil antes linchara como bêbado e ignorante nos jornais, nas revistas e televisões brasileiras, e, inclusive, por tabela na mídia estrangeira fo NY Times!
A história é contada conforme a conveniência dos poderosos, sabemos. Mas, na falta de contra-ponto que construa a prova dos nove, os mais jovens, cada vez menos questionadores da realidade em que vivem, assimilam facilmente as "verdades" narradas pelo filtro dos interesses inconfessáveis da mídia e das elites brasileiras. Tolerar esse fato, fazer de conta que tal gravidade não é importante, ao meu ver é o verdadeiro ovo da serpente que poderá nos levar à perda, ou fazer retroceder mais uma vez o bonde da história.

Um abraço,

C.

M. Sc. Ph.D

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Reação Não Inteligente ao Selo da Anvisa
















Que esperássemos reação dos falsificadores de medicamentos, de contrabandistas e do crime organizado contra o selo de qualidade criado pela Anvisa seria uma consequência lógica. Mas de quem fabrica remédio legal, da indústria farmacêutica brasileira? Ora, não bastasse ser uma desinteligência, tal posição agrava-se por ser contrária ao bem comum.
Quem nos informa sobre a reação é a Newsletter Brasilia Confidencial. Clique sobre a imagem duas vezes e lei a matéria na íntegra.


Popularização da Ciência e da Tecnologia

A leitora Letícia nos avisa sobre evento que discutirá na Unicamp questões relacionadas a gestão do conhecimento no âmbito da ciência e da tecnologia.

A Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia da América Latina e do Caribe (Red-POP) recebe até 15 de novembro, propostas de trabalho para a 12ª Reunião Bienal (http://www.mc.unicamp.br/redpop2011/) que acontece no Brasil, organizada pelo Museu Exploratório de Ciências (MC), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de 29 de maio a 2 de junho de 2011.
Com o tema “A profissionalização do trabalho de divulgação científica”, o encontro aceitará tanto trabalhos de pesquisa, de caráter acadêmico, quanto de profissionais da área, interessados em relatar suas experiências. Cinco eixos temáticos vão nortear a 12ª Reunião: Educação não-formal em ciências; Jornalismo científico; Programas e materiais para museus de ciências: materiais e práticas concretas; Museografia e museologia científica; Público, impacto e avaliação dos programas.

Anvisa Cria Selo Contra Roubo e Falsificação
























O diretor-presidente da Anvisa, Dr. Dirceu Raposo
na cerimônia de lançamento do selo.

Esta semana a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu passo importante para o fortalecimento da ação gestora do estado no mercado de medicamentos. Foi lançado o selo de qualidade e segurança para garantir o caráter original dos medicamentos comercializados no país. O selo, ao lado de ações conduzidas contra o crime organizado em parceria com a Polícia Federal, são alguns exemplos do desempenho da Agência para cumprir seu papel institucional de proteger a saúde da população e fortalecer a indústria nacional de produtos de saúde. Para ler a matéria de Brasília Confidencial, basta clicar duas vezes sobre a imagem.

Quem Tiver Ouvidos Que Ouça

A propósito da postagem que escrevi mais adiante, a newsletter Brasília Confidencial traz informação importante para a comunidade católica nessas eleições tanto quanto atípicas. Para ler a matéria basta clicar duas vezes sobre a imagem, que ela se expandirá. Aliás quero aqui registrar que a publicação eletrônica aqui anexada após as eleições bem mereceria premiação pelo alto nível de jornalismo que vem praticando. Aqueles que se interessarem por recebê-la podem solicitar no endereço bsbconfidencial@gmail.com.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Quem Tiver Olhos Que Veja

Em respeito aos eleitores e ao país, o segundo turno das eleições presidenciais devem ser balizadas por um debate entre duas visões de mundo e de Brasil que nesse momento estão em disputa: o embate ideológico entre os defensores do neoliberalismo, representado pelo candidato Serra e as principais lideranças do PSDB (FHC, Aécio Neves e Geraldo Alckmin), e o pensamento de vertente social-desenvolvimentista com os resultados do governo do presidente Lulam, a serem seguidos pela candidata do PT a Presidência da República, Dilma Roussef.
Chega, portanto da avalanche de baixarias, tristemente produzida, reproduzida e ampliada a náuse pelas grandes redes brasileiras de comunicação, certamente sob a cumplicidade dos próceres do PSDB acima citados. Afinal não se pode pretender uma democracia adulta e respeitável, que se imponha entre iguais na comunidade mundial, oferecendo o triste espetáculo de uma republiqueta de bananas, em que até se ressuscitou uma questão político-religiosa, já antes superada e sepultada por Dom Pedro II no século XIX , quando o Imperador sabiamente estabeleceu que Igreja é Igreja e Estado é Estado; este cuida da sociedade (gênero) e aquela - por ser diversas, e entre si não raro antagônicas - de seu respectivo rebanho (espécie).
A despeito deste fato, nesse cortejo de insanidade e doidivanice que assistimos nos últimos meses, tristemente testemunhamos religiosos desempenhando o papel de cabos eleitorais do candidato José Serra, não furtando-se nesse mister de proferirem com tiques histéricos sermões discutíveis quanto à lisura da intenção, para dizer deles o de menos. Encheu-me assim a paciência ouvir essa pletora de desinformações e grosserias de quem opõe-se ao governo Lula e a candidata Dilma Roussef, com o descarado objetivo de impressionar o senso dos mais simples, sem importarem-se de ofender aqueles que, pela sinceridade de suas almas, buscam nas Igrejas um espaço de prática espiritual e não como fossem ao encontro de palanques-púlpitos rastaqueras.
Contudo, deixando de lado aqueles deslizes inoportunos e reprováveis, reitero que nós, eleitores, exigimos ser tratados pelos comandos de campanha do PSDB, seu candidato e aliados, abatinados ou não, com o respeito que fazemos jus como cidadãos. Em nome desse sentimento deixo aqui, para os leitores e leitoras do blogue, minha contribuição e estímulo para superar a péssima impressão em mim deixada pela baixaria protagonizada no primeiro momento da eleição presidencial: trata-se de um estudo comparativo da evolução da miséria brasileira, em sua dimensão material, no período que envolve os dois governos do FHC (PSDB) e os dois governos do Lula (PT). Acho que a comparação diz muito sobre o que queremos para o Brasil.

I Jornada de Patologia Toxicológica

A Associação Latino-Americana de Patologia Toxicológica realizará, no dia 18 de outubro, a 1ª Jornada de Patologia Toxicológica, em Botucatu (SP

O evento – que reunirá biólogos, veterinários, toxicologistas, médicos, farmacologistas, entre outros – discutirá um tema que, de acordo com os organizadores do evento, tem tido pouca atenção.
A patologia toxicológica é caracterizada como processo de pesquisa e desenvolvimento de produtos químicos industriais, particularmente de fármacos, praguicidas agrícolas, aditivos alimentares e alimentos geneticamente modificados.
A avaliação da toxicidade desses produtos, antes de serem colocados no mercado, é estratégica para a segurança química e nutricional, destacam os organizadores da jornada.
Wanda Haschek-Hock, presidente da Sociedade de Patologia Toxicológica, e Samuel Cohen, do Centro Médico da Universidade do Nebraska, ambos nos Estados Unidos, e Olga Pulido, do Health Canada (Canadá), serão alguns dos palestrantes.
O evento será realizado no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu (SP).

Mais informações e inscrição: www.alaptox.org ou (14) 3811-6238 (ramal 252).

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Uma Revolução Intelectual*

Enquanto se pensava que com as leis de Newton
e as que lhe sucederam podíamos compreender o universo,
o diálogo com as outras civilizações era um diálogo
de professor e aluno, aluno primário.”

Ilya Prigogine, “Nome de Deuses”, Ed. UNESP, 2002, p:64

Por José Luiz Fiori**

Na segunda metade do Século 20, o físico norte-americano, Thomas Kuhn, e o químico russo, Ilya Prigogine, revolucionaram a epistemologia e a história da ciência, colocando uma pá de cal sobre a visão positivista do conhecimento, e um ponto de interrogação definitivo sobre todas as teorias mecanicistas e deterministas, a respeito do mundo físico, do cosmos e das sociedades humanas. Para Thomas Kuhn, o avanço da ciência não é cumulativo, nem se dá de forma linear e contínua. Pelo contrário, ocorre de forma descontínua e através de grandes rupturas, ou “revoluções científicas”.

Elas assinalam um momento de “mudança de paradigmas”, que são definidos por Kuhn como uma maneira particular de olhar o mundo, articulando, de forma coerente, problemas, conceitos, métodos de pesquisa e critérios de verdade que só são válidos dentro de determinadas comunidades específicas, e durante períodos determinados de tempo. Por outro lado, Ilya Prigogine rebelou-se contra o determinismo e o mecanicismo das teorias de Isaac Newton e Albert Einstein e demonstrou que a irreversibilidade do tempo, a desordem e a incerteza são elementos essenciais e construtivos, do mundo físico e biológico. Ou seja: Kuhn defende a historicidade da ciência e dos seus critérios de verdade; e Prigogine defende a importância da “flecha do tempo” e das “escolhas”, para a construção do futuro de um universo físico e de uma sociedade humana, que são rigorosamente imprevisíveis.

Por analogia, também é possível falar da existência de “paradigmas” e de “revoluções intelectuais” no campo do pensamento social, onde se formam e se transformam os valores, conceitos e critérios de verdade que as sociedades humanas utilizam para interpretar o seu passado e o seu presente, e para descodificar e responder às incertezas do seu futuro. São modelos, enfoques e crenças que atravessam o pensamento acadêmico e o pensamento político – de esquerda e de direita — e também fazem parte do senso comum e da formação da opinião publica. Estes “paradigmas sociais” também são válidos apenas para certas comunidades específicas, e durante um certo período, por mais longo que ele possa vir a ser. Com o passar do tempo e das mudanças sociais, entretanto, estes paradigmas “societários” perdem fôlego, se esclerosam, e acabam sendo superados por novas “visões do mundo”, mais capazes de compreender e enfrentar os desafios criados pela chegada do futuro.

Pois bem: tudo indica que a América Latina e o Brasil estão vivendo um destes momentos de “revolução intelectual” e de mudança da sua forma de olhar para si mesmo e para o mundo. De um lado há um “paradigma intelectual” em franco declínio, incluindo algumas idéias e teorias de esquerda e de direita, que já não dão conta das transformações do continente — e do Brasil, em particular. Seus conceitos e seus debates parecem velhos e repetitivos e por isto filtram as novidades trazidas pelo futuro de forma extremamente reativa, defensiva e medrosa. Alguns “intelectuais orgânicos” deste velho paradigma vivem fascinados pela ideia do “fim”, seja da democracia, do capitalismo, das espécies, ou da própria Terra. Outros, estão sempre lamentando as “imperfeições constitutivas” da sociedade latino-americana, tão distantes dos seus modelos ideais de sociedade civil, de classe social, de partido político, ou mesmo, de estado e de capitalismo, E quase todos vivem atormentados com medo do populismo, do corporativismo, do nacional-desenvolvimentismo, do estatismo, entre tantos outros fantasmas do passado. Sem se dar conta que este conceitos e algumas de suas velhas teorias sociológicas e econômicas perderam aderência aos fatos, e já não demonstram nenhuma eficácia como ferramentas analíticas e como instrumentos estratégicos, voltados para a construção do futuro.

Apesar disto, entretanto, ainda não se pode falar do aparecimento e da existência de novas teorias consistentes, e o próprio continente latino-americano ainda não superou alguns de seus grandes desafios sociais e econômicos. Mas com certeza já se pode falar de uma “revolução intelectual” e de um novo “paradigma”, porque já se consolidou uma nova maneira do continente olhar para si mesmo, para o mundo e para os seus desafios, assumidos como oportunidades e como escolhas que devem ser feitas, a partir de sua própria identidade, e de seus próprios interesses.

Alguma vez, Jean Paul Sartre disse que “era mais fácil ser escravo do que senhor”, e talvez de fato, seja mais fácil pensar como escravo do que como senhor. Mas depois desta “revolução intelectual” da America Latina, já não há mais necessidade de ninguém seguir pensando como escravo, ou mesmo, como aluno primário das “civilizações superiores”.

* Publicado em Outras Palavras

** Economista. Doutor em Ciência Política, com pós-doutorado na Universidade de Cambridge. Professor Titular de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.