Mostrando postagens com marcador Bibliofilia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bibliofilia. Mostrar todas as postagens

sábado, 22 de setembro de 2012

Mais Uma On Line: A Biblioteca de Charles Darwin


Com a popularização da internet, as tecnologias da informação experimentaram um aprimoramento que sem exagero podemos dizer exponencial. No delta desses avanços, hoje é comum o acesso livre a variadas fontes de informação e em especial aos aceervos digitalizados das bibliotecas on line. O que era inimaginável há 30 anos, hoje é plenamente possível: um leitor acessar à distância tesouros impressos da Biblioteca Nacional ou, na USP, a lendária coleção brasiliana de José Mindlin, que teve por base a coleção de livros de Ruben Borba de Moraes, integrante do Semana Modernista de 22 e considerado um dos maiores investigadores da história dos livros no Brasil.
Nesse cenário em plena expansão sempre surgem novidades na rede mundial de computadores. Ontem à noite, explorando links da revista Science em busca de um trabalho sobre herpes vírus, encontrei a informação de que a biblioteca de Charles Darwin já se encontra praticamente toda digitalizada no sítio da Biodiversity Heritage Library. Nessa página  não só os livros e anotações (marginália) do autor da Teoria da Evolução estão disponíveis, mas também as bibliotecas de Carl Linneau e Ernest Mayr, entre outras relacionadas a Biologia. Na Biblioteca de Darwin estão disponíveis para consulta livre cerca de 22000 mil páginas, integrantes de 439 títulos digitalizados.  
Sabemos que o estudo da natureza brasileira deu importante contribuição a teoria evolucionista. Nesse aspecto a contribuição a destacar é aquela de Alfred Russel Wallace, cuja relevância permitiu-lhe durante algum tempo, uma insubsistida coautoria da Teoria da Evolução. Como viajante naturalista - e do mais brilhantes -, Wallace explorou durante quatro anos a Amazônia brasileira e registrou suas reflexões sobre a natureza da região no antológico Narrativas de Viagens pelo Amazonas e o Rio Negro (1853), trabalho que dedicou a Darwin. 
Está claro que Wallace está bastante presente na versão digital da Biblioteca de Darwin, assim como outros viajantes da Amazônia no século XIX, por exemplo Henry Bates (O Naturalista no Rio Amazonas ) e James Orton (O Andes e o Amazonas). Curiosamente, contudo, o livro das Narrativas está ausente. Além dele senti também a falta da Viagem ao Rio Amazonas, escrito por William H. Edwards (1847). Edwards foi o primeiro pesquisador norte-americano a explorar a natureza amazônica, tendo o seu trabalho impressionado vivamente a Charles Darwin. Talvez sejam ausências circunstanciais, que expressem o estado da arte do processo de digitalização das obras que integram a biblioteca de um dos mais influentes filósofos da dúvida, combatido sem trégua até hoje pelos criacionistas, por gente como George W. Bush, Sarah Palin e Marina Silva.

******

Para acessar a biblioteca clique aqui.

sábado, 17 de março de 2012

Shakespeare and Company: Uma Idéia em Dois Tempos

Shakespeare and Company by Itajai de Albuquerque
Shakespeare and Company, a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.
   
[A Shakespeare and Company ] é uma utopia socialista, disfarçada de livraria.
George Whitman
                  
Uma das paradas obrigatórias, nas minhas buquinagens pela margem esquerda do rio Sena, é a livraria Shakespeare and Company . Trata-se de uma livraria especializada em livros ingleses, situada no kilometro zero de Paris, bem defronte a um dos mais famosos cartões postais da cidade: a Catedral de Notre Dame.

A livraria original foi fundada por Sylvia Beach em 1917, funcionado até 1941 no 12 da Rue de Ódeon. O lugar era frequentado por escritores incluídos hoje no cânone da literatura universal. A coragem de miss Beach foi a responsável pela publicação da primeira edição de Ulysses de James Joyce, em tiragem de 1000 cópias.

Sim, senhoras & senhores, um dos mais importantes livros para a literatura inglesa e universal modernas foi editado pela primeira vez em 1922 na França, pois na Inglaterra e EUA ninguém se atrevera a fazê-lo, por o considerarem obra pornográfica!
Mas a Shakespeare and Company é uma idéia em dois tempos:
A primeira livraria foi fechada em 1940 após um incidente com um oficial nazista, para quem Sylvia Beach teria recusado a venda do último exemplar de Finnegans's Wake, de Joyce. Mesmo após a libertação de Paris com a derrota da Alemanha na II Guerra e o ato simbólico de liberação da livraria por Hemingway, as portas de fato não mais se abriram e a Shakespeare and Company virou mito nacional .

Depois do falecimento de Sylvia, o livreiro George Whitman refundou a Shakespeare and Company na década de 60, no mesmo local onde a visitei em 2003, no 37 da Rue de la Bûcherie. Whitman liderou a livraria de forma brilhante até o ano passado, quando veio a falecer, vitima de derrame cerebral, com quase cem anos de idade.
Atualmente a gerência do estabelecimento está a cargo de Sylvia Beach Whitman, filha e herdeira do antigo dono. Além do comércio de livros, a atual proprietária mantem a proposta original de fazer do lugar referência cultural para o livre debate e a difusão de idéias, à altura da interseção entre dois tempos definida a quatro mãos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Literatura e Loucura na Confraria dos Bibliófilos

Eu lhes confesso nesse caso minha ignorância: dessa senhora nunca tinha ouvido falar antes. Nem mesmo em conversas com amigos mineiros, ou com o paraense e mineiro-honorário Rômulo Paes, meu amigo desde muitos anos. Daí que ao receber a publicação de fim de ano da Confraria dos Bibliófilos, que coincide com a comemoração dos dez anos da associação, fui surpreendido pela prosa de Maura Lopes Cançado e, depois, na medida em que a lia, pelas consultas que fiz, sensibilizado pela vida sofrida que teve enquanto esteve entre nós, profunda e tragicamente marcada pelo transtorno mental, a exclusão e a violência por regra associadas.
Dona de uma produção literária enxutíssima - publicou Hospício é Deus (1965, José Álvaro Editor) e o Sofredor do Ver (1968, José Álvaro Editor) -, admirada por escritores de nosso cânone literário - de Ferreira Gullar a Clarice Lispector - ao mesmo tempo que se me revelou como obra confessional, conclui que Sofredor de Ver desvela ao leitor do século XXI uma autora encoberta de forma injustificável pelo mainstream cultural do país, que no entanto soube apreciar e difundir a inquietante arte de Antonio Bispo do Rosário, de merecida fama.
A obra de Maura Lopes Cançado, afora a luxuosa edição de 501 exemplares dos sócios da Confraria, está esgotada. Edições anteriores são vistas, contudo, com alguma sorte nos sebos brasileiros, que sabedores da raridade e da importância chegam a cobrar até R$300 reais por volume, quando autografado. Por outro lado, na academia, não menor é a raridade de estudos sobre a prosadora mineira. Nesse campo, destaco a tese de doutorado Narrativas e Sobreposições: Notas sobre Maura Lopes Cançado (Unicamp, 2010), tese de Maria Luísa Scaramella, que elude questões importantes sobre a vida e a obra daquela autora.
Em tempos que o Ministério da Saúde repensa a política pública de atenção psiquiátrica no Brasil, a leitura de Sofredor do Ver nos obriga a de novo refletir sobre questões importantes, apontadas com agudeza nesse livro, mas de antes já registradas no Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos (Lima Barreto. Cosac Naify, 2010), Diário de um Louco (Gogol) e filmes como os documentários Titicuts Follies (Wiseman. EUA, 1967) e Dizem que Sou Louco (Chnaiderman. Brasil, 1994) e o hit da década Bicho de Sete Cabeças (Bodanzki. Brasil, 2001).
Com respeito a exclusão e a violência registradas nos escritos de Maura Lopes Cançado, entre tantas sofridas, destaco esta reflexão que para mim é entre todas a superior e mais vil, pois testemunha o desfecho do poder psiquiátrico no despojamento da identidade do indivíduo como ser e pessoa :
Terminarei pela vida como essas malas de viajantes que visitam vários países e em cada hotelpor onde passam lhes pregam uma etiqueta: Paris, Roma, Berlim, Oklahoma. E eu: PP, paranóia, esquizofrenia, epilepsia, psicose maníaco-depressiva, etc. Minha personalidade será sufocada por etiquetas científicas.Pois assim transcorreram tumultuários os seus dias, com recebimento de rótulos até o fim. Quando vítima de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica faleceu aos 61 anos, interna em sanatório no Rio de Janeiro, já haviam lhe acrescido a aquele etc do parágrafo anterior o grave título de louca homicida. Vivia nesse tempo no mais absoluto anonimato e nem mais escrevia.

********
O livro Sofredor de Ver, publicação da Confraria dos Bibliófilos, foi ilustrado por Manu Maltez. Algumas das ilustrações encartadas no livro podem ser vista no blog do premiado artista gráfico.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A Elegância da Medicina

























Fronstipício de De Humanis Corporis Fabrica (1543).
Colorido posteriormente.


A Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque faz questão de estabelecer a primazia do ensino da clínica à beira do leito do paciente em sua página eletrônica. Entretanto, a escola conjuga tradição osleriana com alta tecnologia didática.
Na NYU os alunos de anatomia tem por suporte ao estudo teórico não o tradicional livro de Garder & Gray ou do Sobotta, por exemplo, mas sim um atlas anatômico digital... que utiliza tecnologia 3-D.
Nessas horas, quando tenho a informação de tais progressos, recordo da emoção que tive em Bethesda ao manusear na National Library of Medicine a primeira edição De Humanis Corporis Fabrica, obra seminal escrita por Vesalius* em 1543.

* Na gravura acima, Vesalius é o homem de barba escura que toca a perna direita do cadáver. Para ampliar clique duas vezes sobre a imagem.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Blade Runner - O Livro de Desenhos


Blade Runner - Livro de Desenhos (Blade Runner Sketchbook), editado em 1982, é uma rarirade. Mesmo em livrarias especializadas em raros e esgotados achá-lo é difícil, devido a constante procura dos fãs desse clássico da ficção científica e pela tiragem pequena da edição. Enquanto não se publica uma segunda edição, delicie-se com essa cópia on line. Para ler, basta clicar sobre a imagem.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Síntese do Instante Num Catálogo de Livraria

Sempre recebo no meu endereço de Belém o Catálogo de Livros Selecionados, da Livraria Académica. A simpática livraria tem página na internete e está localizada na cidade do Porto, em Portugal, na Rua dos Mártires da Liberdade, 10. A sede física, contudo, não conheço em que pese o desejo sempre insatisfeito de visitar a terra de avoengo paterno, lá falecido.
Além da seleção de raridades bibliográficas, Nuno Canavez, proprietário da livraria e reconhecido intelectual portuense, sempre encarta na última folha do catálogo um poema para reflexão do leitor.
Sabemos o quanto Portugal tem sofrido com os revezes da economia européia. Só para avaliarmos a atual gravidade da situação, uma fonte que de lá retornou disse-me que o governo português já trabalha com o cenário de manter ao menos uma pessoa empregada por unidade familiar, e que patrões e empregados já negociam redução de salários.
É inserido nesse contexto que o catálogo 264/2011 da Livraria Acadêmica oferece aos olhos do leitor um inquietante poema sem título, assinado por Maria Ângela de Sousa - de quem, infelizmente, não obtive maiores informações nos sistemas de busca usuais.

Diga-me amigo
o senhor que tanto sabe
do passado, do presente e do futuro da nossa gente
diga-me que genética ou que História
nos transformou nas quimeras que hoje somos
quem nos fez de tão larga imaginação e tão estreito agir
de tanto falar e tão pouco fazer

deste permanente ser e não ser
de tanto querer e tanto temer
de tanto criar e tão pouco ousar

lembradas glórias de impérios conquistados?
restos mouros de resignação e sofrimentos antecipados?
o esperar em vão de reis por vir?

ou simplesmente a paz das sardinheiras
e tudo o que nunca voltou d'Álcácer-Quibir?

sábado, 13 de agosto de 2011

A Arte Tipográfica no Pará
























De Bubuia/ Aspectos e Assuntos Regionais Paraenses/ Folclore.
Livraria Gillet (Belém - Pará, 1933)


A tipografia no Pará chegou pelas mãos industriosas de Madureira Pará e Filippi Patroni, espíritos agitadíssimos que se destacaram nos primeiros movimentos políticos que levariam à Independência do Brasil do reino de Portugal. Daí para frente a arte e a técnica de impressos tem evoluído seguidamente, que, pela envergadura histórica da produção editorial, são a Typographia de Santos e Irmãos, a casa editora de Alfredo e Silva, a luso-paraense Tavares Cardoso e, mais recentes, a Falangola e a CEJUP.
Por sua vez, a ilustração gráfica foi progressivamente incorporada na medida em que artífices e artistas desenhistas e pintores foram formados e incorporados ao mercado. Para edições paraenses, assinaram capas artistas autóctones como Theodoro Braga, Adalberto Lassance, Aloísio Carvão, Dina de Oliveira, Eládio, Miguel Chicaoka, P.P. Condurú e Rosenildo Franco, entre outros. A ilustração desta postagem é de A. Lassance, para o livro do jornalista Aldo Guajará - De Bubuia (1933) -, título sobre folclore hoje escasso de se encontrar.