quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Gestão de Tecnologias no SUS - A Inovação Necessária

A Comissão Intergestora Tripartite (CIT) aprovou na última reunião a proposta de política de gestão de tecnologias de saúde idealizada no Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde em 2006. A aprovação é um passo importante, mas a certidão de batismo só virá com a publicação de portaria ministerial. Enquanto isso, para dar bom futuro à política, pegue, portanto, faz-se necessário dar a proposta de política um caráter menos genérico que o atual, face aos desdobramentos orçamentários e financeiros necessários a sua implementação nos estados e municípios.
Uma política de gestão de tecnologias de saúde está para além da elaboração de estudos de avaliação de tecnologias de saúde e da formação de pessoal, ambos produtos da mais clara necessidade para o fortalecimento da capacidade gestora do Estado. Seu detalhamento requer considerar um modelo executivo de hierarquia ágil que estimule competências regionais e considere o atual cenário do parque tecnológico do SUS, sua distribuição se em acordo com as necessidades locais de saúde, além de protocolos para incorporação, manutenção e retirada de tecnologias obsoletas e mapas de rotas tecnológicas com base no horizonte industrial e sanitário do país. Sem estes cuidados será apenas uma meia-sola, ainda que chuleada com boas intenções.

Estatinas e a Prevenção de Eventos Cardiovasculares

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, em colaboração com a Agência de Saúde Suplementar (ANS) e Ministério da Saúde, lança mais um Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias de Saúde (BRATS) para responder questão sobre o custo-efetividade das estatinas na prevenção primária de eventos cardiovasculares. O termo custo-efetividade pertence à economia da saúde e indica se o custo de uma tecnologia é adequada ao benefício real que ela assegura. Trata-se de um dos melhores números do BRATS já produzidos. Obrigatório para gestores da saúde, médicos clínicos e cardiologistas.

domingo, 20 de setembro de 2009

Nem Só de CO2 Vive um Flex

A recente ferramenta** estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que utiliza a chamada Nota Verde*, põe as montadoras brasileiras, as distribuidoras e a rede de comercialização numa sinuca, ao identificar que veículos flex (bi-combustíveis) apresentam emissão preocupante de poluentes como resultado de seu funcionamento. Trata-se de uma iniciativa meritória do IBAMA para a proteção do direito do consumidor e para o estímulo à pesquisa e a inovação necessárias a redução da emissão de poluentes por veículos automotores.
* considera a média de emissão de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio.
** com acesso público.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Segundo MONICA, Ter Coxão É Bom

O projeto de pesquisa MONICA (monitoramento de tendência e determinantes de doença cardiovascular) acompanhou durante dez anos a saúde de 1436 homens e 1380 mulheres dinarmaquesas , para identificar relações entre circunferência da coxa, doença cardiovascular, doença coronariana e a mortalidade geral. Em 1997 e 1998 o grupo foi avaliado quanto a altura, peso, circunferência da coxa, quadris, cintura e composição corporal.
A conclusão do estudo, divulgado esta semana no The British Medical Journal, foi de que existe evidência científica que demonstra haver relação entre circunferência de coxa abaixo de 60 cm e maior incidência de doença cardiovascular em geral ou para morte prematura.
Os resultados foram todos rigorosamente avaliados do ponto de vista estatístico e vem ao encontro de conclusões observadas em outros estudos com respeito ao valor dessa musculatura para a saúde: a existência de relação entre massa muscular dos membros inferiores e diabetes tipo II, ou o fato de que a medida da coxa por exames de imagem podem ser melhor que o índice de massa corporal para o prognóstico da evolução da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A conclusões de MONICA representam também excelente evidência para a importância de adortar-se estilos de vida saudáveis. Para leitura completa do artigo publicado no BMJ, clique aqui.

Prevenção da Violência Baseada em Evidências

Violência é um determinante social de saúde. Por essa razão sua prevenção deve constar de forma séria na agenda governamental das autoridades de um país, sejam elas do legislativo, do judiciário, presidentes, governadores ou prefeitos. No Brasil, afora uma ou outra experiência meritória local, os programas de prevenção à violência são desarticulados e a criminalidade segue fazendo vítimas.
Numa questão com tal complexidade social, prevenir a violência vai mais além do que a necessária repressão policial à criminalidade, que, por sua vez, também treina seus combatentes, arma-se melhor do que a polícia, faz atividade de inteligência, corrompe e, pior, faz investimentos sociais ao modo de um estado paralelo. Sem termos a compreensão da natureza multifatorial da violência, não saberemos como preveni-la, não teremos como escapar da situação de guerra civil que ameaça muicípios de médio e grande porte. Evidências de como superar a violência nas cidades estão aqui.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Twin Peaks e a Bioética

Os fatos ocorridos em uma clínica de reprodução assistida na cidade de São Paulo servem de alerta aos secretários municipais de saúde e aos orgãos reguladores do exercício profissional nos estados.
A sensação que temos sobre o lastimável episódio é estarmos em uma ambiência a Twin Peaks, o filme em que o diretor David Linch demonstra as sombras e as camadas com que uma sociedade desfoca o que em si a nega como expressão da ética protestante (Weber) e sua correspondência na modelagem do mito fundador da história norte-americana .
A competência regulatória em bioética integra os atributos de uma autoridade sanitária, está claro. Daí o porquê, no campo da medicina reprodutiva, tenhamos de ir para mais além que a boa intenção do legislativo paulista. É imprescindível que, sem demasia legislativa, o Brasil disponha de um corpo legal que discipline de forma distinta e correlata ambas as três matérias.

Bom Senso e Canja de Galinha Não Fazem Mal a Ninguém

O medo epidêmico é um velho companheiro dos homens. Desde a Antiguidade a história registra o comportamento humano frente a ameaça de doenças infecciosas na comunidade. Na Idade Média micro-organismos viajavam com os exércitos das cruzadas e nas caravelas pelos mares, polulavam das insalubridade urbana e populações inteiras erravam pelos caminhos, tangidas por epidemias mortais como a temível Peste Negra. Nesses tempos pouco ou nada se podia fazer em termos de saúde pública que protegesse a população.
Frente ao medo, logo pavor e terror, a sociedade ficava a mercê do mágico e da frágil ciência da época. Cidades fechavam suas portas ao livre trânsito e comércio, desconhecendo que o principal risco para a Peste Negra, o rato, ganhava assim abrigo e proteção nas valas e cortiços com o agravamento das condições sócio-ambientais. Ao lado de súplicas aos réus, sonorizadas pelo badalo de sinos e as prédicas religiosas, coexistia a noção do contágio pelo ar (miasma) e a inspiração bíblica da quarentena aos suspeitos do mal epidêmico.
Mudamos, decorridos mais de dois mil anos de convívio com epidemias de variada gravidade e causalidade?
Sem dúvida. Hoje contamos com um arsenal científico que nos protege e socorre frente as armadilhas da seleção natural, ainda que vez por outra nos deparemos com atos de governo que demonstram a persistência do medo epidêmico em sociedades industrializadas. É quando constatamos que ao serem inspirados por aquele, tais atos governamentais não apenas afrontam o bom senso, mas até os princípios constitucionais. Para saber mais, clique aqui.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Globalização



















Apenas ignorem os sem-tetos... Informa o comandante.

Câncer - Doença Genética e Infecciosa?

O mundo dos vírus ainda é desconhecido para a ciência que, desde o século XIX, tem acrescido seguidos avanços na compreensão do papel das bactérias na patologia humana e dos animais em geral. O desnível de conhecimento acumulado nós podemos compreender como consequência tanto da maior pressão que as doenças bacterianas tinham sobre as populações desde a Antiguidade quanto de limitações tecnológicas, pois ao contrário do óptico, disponível desde o final de 1590, o microscópio eletrônico só aconteceu a partir dos anos 30 do século passado, quando já havíamos acumulado conhecimento em eletro-eletrônica suficiente para sustentar esse tipo de inovação. Não por coincidência data dessa época as primeiras experiências exitosas com transmissões analógicas de imagens por televisão em Nova Iorque.
Uma dos mais importantes avanços na compreensão do papel dos vírus no desenvolvimento das doenças da espécie humana foi a demonstração de nexo causal entre os papilomavírus (HPV) e o desenvolvimento de câncer de colo uterino. O mecanismo da doença inicia com o fato de que para uma reprodução viral eficaz existe a necessidade de infectar células de um hospedeiro geneticamente superior, que tem toda a maquinária celular tomada de assalto a partir da associação do dna viral com o dna do organismo hospedeiro. O processo reprodutivo levará a danos celulares irremediáveis ou, para dizer em linguagem científica, ao efeito cipopático responsável pela indução de alterações morfológicas graves na matriz genética capazes de transtornar os processos energéticos da célula hospedeira, além de sua multiplicação e a diferenciação ordenadas. Por esse modo é correto avaliar o câncer tanto como doença infecciosa, quanto como doença genética e não mais como fato vital incompreensível.
A compreensão das leis do desenvolvimento embrionário é importante não só para compreender como os diferentes tecidos e orgãos do embrião humano são desenvolvidos. Conhecê-lo auxilia na explicação de algumas doenças importantes pela origem dos orgãos em tecidos embrionários comuns. No caso do aparelho urogenital ambos tem origem comum no chamado mesoderma intermediário do embrião. Tais semelhanças podem explicar a suscetibilidade tecidual ao HPV no que respeita ao câncer de pênis e do colo de útero.
O conhecimento científico sobre a relação vírus - câncer tem evoluído de forma substancial tanto na compreensão dos bio-mecanismos implicados nas lesões, quanto no diagnóstico e no tratamento de alguns cânceres. Na fronteira da linha de investigação têm se destacado estudos que buscam definir qual o papel viral na origem do câncer de próstata, um dos mais prevalentes e mortais na população masculina. Embora não seja exatamente uma novidade, a exploração dessa hipótese pode explicar o comportamento de tumores prostáticos de comportamento reconhecidamente mais agressivo. Esta é, por exemplo, uma das contribuições do trabalho de Schlaberg e colaboradores, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (07/09/2009). Mediante um experimento desenhado com acurácia e elegância, os autores demonstram a relação causal entre XMRV (vírus xenotrópico relacionado a leucemia de roedores) e algumas linhagens de câncer de próstata com maior agressividade na progressão da doença.