quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Para Refletir Neste Natal


It’s easy to invent a Life –

God does it – every day –

Creation – but the Gambol

Of His Authority –

It’s easy to efface it –

The thrifty Deity

Could scarce afford Eternity

To Spontaneity –

The Perished Patterns murmurs –

But His Perturbless Plan

Proceed – inserting Here – a Sun –

There – leaving out a Man –


Emily Dickinson: Poema 724, escrito cerca de 1863 (The Complete Poems of Emily Dickinson, pg. 355).


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Na versão livre do blogueiro:


É fácil inventar a Vida:

Deus o faz – todos os dias

Recriação. Mas as dádivas

Da Santíssima Autoridade,

Com facilidade as perdemos;

E a providencia divina precavida

Poderá ser menos sensível

Às frias súplicas imerecidas.

Ela imperturbável seguirá o plano

– incluindo aqui um Sol

E lá – desabrigado um Homem.


Indômita, a Natureza Inova


Ninho da Asa-Branca. Foto de Johan Dalga Frisch
Hoje noticiaram um dos mais emblemáticos exemplos de impacto ambiental no comportamento animal. No município paulista de Atibaia, um pombo asa-branca construiu o seu ninho com clipes, fios elétricos e arames que colheu em construções próximas. Segundo o ornitólogo Johan Dalga Frisch é o primeiro caso registrado desse comportamento no Brasil.
O fato está intimamente relacionado às distorções assumidas pelo paisagismo urbano: os que embelezam os jardins das casas e das praças preferem plantas que não sejam caducas, para que não seja necessário recolher folhas e gravetos. O pragmatismo de nossos paisagistas acarreta uma praga à vida dos pássaros, ao serem obrigados a buscar alternativas para garantir a reprodução espécie.
Sabemos, contudo, que a capacidade adaptativa dos seres vivos não é ilimitada, nem tão pouco igual para todas as espécies. Chegamos assim a mais importante pergunta sobre o assunto: Quantos pássaros não fazem a postura por indisponibilidade de material natural para construção de seus ninhos, comprometendo assim de modo irremediável o processo reprodutivo?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os Desafios de João Falcão

Recebo ainda com o calor dos prelos o livro de memórias do Dr. João Falcão, homem de letras jornalísticas e de ação política, que é parte da história da Bahia. Sobre Valeu a Pena (Desafios de Minha Vida), editado pela Fundação Astrojildo Pereira e Ponto e Vírgula Publicações, duplico aqui o que escrevi certa feita sobre a obra do Autor, que por sua vez, no exercício de inestimável generosidade, inscreveu-a na contracapa de suas memórias a exemplo de comentário:

João Falcão merece referência entre nossos melhores escritores, seja porque possui o estilo cativante, com apreço pelo vernáculo, seja porque nos conta sua história de par com a história política e social da Bahia e do Brasil, sujeitando a biografia incomum à memória de seu tempo.
Nesse sentido, em literatura, a impressão que tenho é a de que João Falcão faz boa companhia a Pedro Nava e Stephan Zweig, nomes que li e tenho em boa conta no exercício da memorialística.

Aos que se interessarem pela História do Brasil, e em especial sobre a História do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tem-se aqui um exemplo formidável para estudos, valorizadíssimo por sabemos que as informações sobre o assunto foram e estão encobertas pelo silêncio do cinismo repressor, o que agrava o necessário efêmero a que estavam obrigadas as comunicações no âmbito de um partido político, que funcionou e sobreviveu a maior parte de sua existência na clandestinidade de duas longas ditaduras.

Ordem do Mérito ao Prof. Gastão Wagner

O ministro José Gomes Temporão concede nesta tarde, no Auditório Emílio Ribas (Ministério da Saúde), em Brasília -DF, a comenda Oswaldo Cruz ao chefe do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, o professor Gastão Wagner de Souza Campos.
A medalha de mérito é a mais alta honraria reservada a quem apresente reconhecido nível de contribuição em saúde pública.
Como intelectual e militante da Reforma Sanitária, Gastão Wagner é um dínamo acadêmico com incursões também no campo da gestão, prática quase sempre difícil e arriscada pelas diferenças intrínsecas de olhares sobre o objeto que reclama intervenção, e pelas leituras de tempo necessárias para que a miscigenaçào dessas boas fumaças garanta consequência aos resultados pretendidos.
Na condição de gestor, Gastão Wagner foi secretário executivo do Ministério da Saúde no primeiro governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, ao tempo em que foi ministro da pasta o médico Humberto Costa.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Viajantes da Amazônia Brasileira





















Em edição da Metalivros, foi publicado Grandes Expedições à Amazônia Brasileira (Metalivros, 2009. 242 pg.). O autor é um paraense honorário, paulista de nascimento, João Meirelles Filho, que antes já havia publicado O Livro de Ouro da Amazônia (Ediouro, 206. 480 pg.). O Grandes Expedições é um esforço de reunião e síntese do conhecimento sobre viagens de exploração da Amazônia brasileira, escolhidas pelo autor a partir de um recorte temporal que vai de 1500 até 1930, iniciando-se, portanto, com o relato do achamento da foz do Amazonas por Vicente Yáñez Pinzón e finalizando com as expedições do general Rondon à região, no terceiro decênio do século XX.
Está claro que nesse intervalo de tempo muito mais expedições aconteceram, além das 42 selecionadas para resgatar para a literatura nacional e regional a importância do tema dos viajantes da Amazônia. De fato é uma pequena amostra de um universo que supera mais de 1000 relatos publicados ou não, a maioria fora do catálogo das editoras, outras sem tradução para o vernáculo, com acesso restrito às seções de obras raras das bibliotecas públicas e particulares e à venda em alfarrabistas, onde com frequência alcançam preços na casa de centenas ou milhares de reais, conforme seja a raridade e o estado de conservação dos títulos. O próprio autor de Grandes Expedições reconhece a impossibilidade de resenhar todos os relatos dos viajantes na Amazônia, o que obrigaria a rever o planejamento e o formato da obra para uma condição enciclopédica, elevando assim custos não só editoriais, mas aqueles de pesquisa que respondessem às necessidades de ampliação do trabalho.
Porém, nem por isto o Grandes Expedições fica comprometido em seu objetivo de resgate e disseminação da informação histórica, para conhecimento do grande público. Como obra de divulgação, cabe ressaltar que o livro não trata de simples recompilação de notícias passadas, busca de algum modo articular a súmula das viagens com referenciais acadêmicos, sem contudo pretendê-los substituir.
Como limitante para o consumo amplo da obra, eu apontaria apenas o preço de aquisição do volume, a R$ 140, valor que o distancia do poder aquisitivo do leitor médio brasileiro. No que concerne a qualidade do livro, temos o padrão das publicações de luxo produzidas pela Metalivros, descontando um ou outro pequeno deslize de revisão, como por exemplo grafar Ferdinand Keller em vez de Franz Keller, que é o nome correto do autor de Vom Amazonas und Madeira (Stuttgart, 1874), viajante citado, mas infelizmente não resenhado, apesar desta viagem ter grande relevância para a região do Rio Madeira, enquanto exploratória para o desenvolvimento do projeto da E.F. Madeira-Mamoré. O volume, por fim, ainda é mais enriquecido por seus anexos, onde encontramos um precioso rol que nos lista cerca de 567 expedições à Amazonia brasileira, que excedem em muito àquelas detalhadas ao longo do livro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Minotauro e Alice na Reforma de Obama

A recente aprovação de medidas no Congresso dos EUA, sem dúvida, desatou pela primeira ves os nós que impediam a reestruturação de um sistema de saúde dispendioso, ineficaz e excludente, se considerarmos que 45 milhões de cidadãos estadunidenses estão à margem da cobertura de saúde, outro quantitativo não especificado incluídos em cobertura de seguro incompleta e as elevadas taxas de reinternação observadas em diversos estados da mais rico e poderoso país do mundo.
Trata-se de uma realidade até pouco tempo mantida à distância de leigos, habituados a consumir o fetiche de um modelo de saúde fundamentado na excelência tecnológica e na pretensa rapidez no acesso à serviços, como parte da estratégia para garantir os objetivos político-militares hegemônicos e os interesses mercantis do complexo industrial norte-americano de saúde.
A crise da seguridade em saúde nos EUA deriva fortemente do fato de que, do ponto de vista legal, não há um estatuto que estabeleça a saúde como direito constitucional, sob proteção portanto do estado. A luz do laissez faire, laissez passer liberal que fundamenta a federação norte-americana, o cidadão terminou refém do mercado. Num país onde o peso político do setor industrial é tremendo, pode se esperar que a influência das forças de mercado sobre o campo normativo e regulatório seria exorbitante e não estaria preocupada com questões relacionadas à equidade em saúde. Daí se pode entender a razão pela qual a discussão das questões de saúde nos EUA sempre estiveram marcadas pela pressão do custo-benefício ou do custo-utilidade dos serviços, sob as diretrizes de um imperativo tecnológico de mercado, em prejuízo da ampliação do debate ao campo da ética em saúde pública.
Nesses tempos de gravíssimo escândalo político, envolvendo o poder executivo e legislativo do Distrito Federal, Brasília, faz-me ler com admiração um exemplo de transparência pública nos EUA, no artigo publicado no The New England Journal of Medicine em que é analisado o papel dos lobistas, as contribuições de campanha e a reforma no setor saúde. Se considerarmos que já foram investidos cerca de 1,7 bilhão de dólares para influenciar o resultado final da reforma, junto a congressistas e agências federais, mesmo diante ao fato de que os EUA possuem um dos níveis de organização civil mais elevados no mundo, não posso deixar de preocupar-me quanto a legitimidade e o poder de correlação dessas forças em disputa no Congresso, ainda que feita em campo aberto e a vista da sociedade. Em termos de biopolítica, não posso deixar de pensar que mais parece um jogo entre o Minotauro e Alice, no país das maravilhas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Operação Conjunta Anvisa-PF: Material Médico-Cirúrgico Falso

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Polícia Federal apreenderam hoje, em São Paulo, grande quantidade de material círurgico e de terapia intensiva. Os produtos falsificados são material cirúrgico para uso em cirurgia bariátrica e em respiradores, que juntos somam a impressionante cerca de uma tonelada. O local, conforme descrito na grande imprensa, além de não ter qualquer registro oficial, em termos de higiene assemelhava-se a uma verdadeira pocilga.
A quantidade do material apreendido demonstra que existe um mercado ilegal de insumos de saúde fortemente operativo no país. A gravidade do assunto exige uma ação imediata e conjunta do Ministério da Saúde, Anvisa, Agência Nacional de Saúde Suplementar, Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, no sentido de reprimir esse tipo de crime organizado contra a saúde pública e o exercício profissional, que está classificado como hediondo. Detalhes da operação, na página de O Globo.