domingo, 28 de novembro de 2010

Clube das Nações (Brasília - DF)
























Foto realizada a noite de ontem, com a câmera do iPhone 4. Tratamento no Photoshop utilizando os recursos Crop e Unsharp Mask.

domingo, 21 de novembro de 2010

Mulheres Cientistas e o Preconceito Masculino

O público leigo habituou-se à idéia de que o ambiente acadêmico é um espaço protegido contra os bafejos dos preconceitos que vicejam na sociedade, como fosse antídoto abençoado que perenizasse o debate de idéias, ágora dimensionada para o respeito ao contradito e à tolerância às diferenças, ainda que sob o implacável respeito à verdade científica. Infelizmente esse imaginário ético não correponde a realidade, como demonstra artigo publicado hoje no inglês The Observer por Richard Holmes.
Analisando os arquivos da Royal Society of London, o autor observa que o papel feminino em assuntos científicos foi bem maior do que o apresentado na vitrine histórica dos 350 anos de existência da instituição. O artigo de Holmes traz inúmeros exemplos das limitações impostas a cientistas mulheres, a começar pelo acesso oficial a instituição que não lhes foi permitido senão em 1945, ou seja, 285 anos após sua fundação - exceção feita a admissão honorária da Rainha Victória, que não era obviamente pesquisadora; apenas a mais poderosa rainha que o Império onde o Sol jamais se punha conhecera desde Elisabeth I. A bem da verdade, a carapuça machista não serve apenas a Royal Society, e cabe com perfeição e graça nos estatutos de outras congêneres européias, como por exemplo a Académy des Sciences de France que rejeitou o pedido de associação de madame Marie Curie em 1911, mesmo ano em que a notável cientista recebia o seu segundo Prêmio Nobel!
O espaço científico era assim vedado a participação feminina em condições igualdade com os homens. Segundo Holmes havia a certeza de que as mulheres apenas poderiam fazer ciência senão na condição de membros diletantes, com a cautela de sempre afastá-las dos estudos botânicos pela inconveniência das palavras latinas que descreviam a anatomia reprodutiva das plantas: hermaphroditus (bissexualis), sexualis, assexualis e spadix, entre outros exemplos inoportunos à moralidade vitoriana.
De outro modo, o estranhamento entre homens e mulheres na ciência também comparecia até quando tratatava-se de aconselhar. Em 1788, o astrônomo real saudava com sinceridade Caroline Herschel, que aos 38 anos de idade fora a primeira mulher "na história do mundo" a descrever dois novos cometas, advertindo-lhe contudo que tivesse cuidado de não "pegar carona na cauda de um deles", antes mesmo que seus pares reconhecessem o valor de sua descoberta.
Machismos à parte, a ida aos arquivos demonstram que a ciência moderna tem dívidas imensas com a parte feminina que lhe deu impulsos imensuráveis não só nas técnicas e tecnologias, mas também na ética em pesquisa, pois foi uma assistente de Cavendish quem pela primeira vez peticionou pelo direito dos animais - e de todos os seres vivos - como sujeitos de pesquisa. Estávamos então no século XVIII e nem sonhávamos com o pesadelo que seria realizado duzentos anos para frente, na escala industrial dos campos da morte de Auschwitz-Birkenau, quando Anna Barbauld requereu ao seu chefe que atentasse para o sofrimento dos animais de laboratório, lavrando os seguintes versos que entitulou como The Mouse's Petition to Dr Priestley, Found in the Trap where he had been Confined all Night (Petição do Camundongo que Permanece Aprisionado na Armadilha onde Esteve Confinado a Noite Inteira ao Dr. Priestley,):

For here forlorn and sad I sit,
(Abandonado e triste, aguardo)
Within the wiry Grate, (Dentro desta grelha aramada,)
And tremble at the approaching Morn (E estremeço com o amanhecer)
Which brings impending fate… (Que anuncia a sorte iminente)

The cheerful light, the Vital Air, ( A luz alegre, o ar vital,)
Are blessings widely given; (São bençãos amplamente dadas;)
Let Nature's commoners enjoy (Para usufruto dos plebeus da natureza)
The common gifts of Heaven. (Como dádivas comuns do Paraíso.)

The well-taught philosophic mind (Ora et labora a mente filosófica)
To all Compassion gives; (Para todos a compaixão dá;)
Casts round the world an Equal eye, (Molda a volta do mundo uma visão de igualdade)
And feels for all that lives. (E sente por todos aqueles que vivem).

O belo artigo - The Royal Society's Lost Women Scientists (As Cientistas Mulheres Que a Royal Society Esnobou) de Richard Holmes está disponível para leitura na página eletrônica do jornal The Guardian.


sábado, 20 de novembro de 2010

Ciência, Tecnologia e Inovação no Simbravisa

Está disponível o áudio da mesa redonda Ciência, Tecnologia e Inovação: Regulação e Desenvolvimento. O evento aconteceu em Belém do Pará, entre 13 e 17 de novembro. Além do doutor José Rubens Bonfim, compareceram como palestrantes dois grandes amigos decitianos: o médico Luis Eugenio Portela e a nutricionista Erika Camargo. As apresentações estão disponíveis nos links: a, b, c.

Dia da Consciência Negra Com Juliano Moreira

Hoje comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. É dia para uma reflexão sobre um país que acostumou-se a crer que é uma democracia racial, quando na verdade não o é. Um dos primeiros filtros que a sociedade brasileira estabeleceu foi distinguir o proprietário de quem seria escravo, isto é, pessoa da não pessoa, mas coisa animada com valor de troca no infame mercado que perdurou no país até 1888, não fosse o advento da Lei Áurea.
Entretanto, em que pese o estatuto legal ser produto de um notável embate cívico que mobilizou por completo o país e suas lideranças políticas, a liberação do cativeiro não reconheceu ao negro a devida cidadania completa e o manteve na prática agregado da família em que antes fora propriedade, ou senão como despachado para biscates nos centros urbanos, quando muito percebendo vinténs de pagamento em uma sociedade que só conheceria o salário mínimo e a carteira de trabalho quase cincoenta anos depois do encerramento do modo de produção escravagista no Brasil.
Numa República nascida como parada militar diante a um povo bestificado, em que a cor do africano e do afro-descendente enredou-se com outros elementos, diluindo-se para complexificar a exclusão social brasileira, um dos espaços de que a população negra sempre estiveve alijada no Brasil foi o acesso aos diferentes níveis de educação e, por derivada, a melhores postos de trabalho. Penso aonde ela chegaria, por exemplo, se no final dos anos 20, com 11 anos, não tivesse trocado o sonho de cursar a Escola Normal por um emprego numa loja de costuras, onde alcançou a posição de gerência. Não fosse isso, imagino que minha mãe, com sua férrea determinação libriana e inegável inteligência, teria sido a primeira na família a obter diploma de nível superior e não eu, que o alcançei 56 anos depois de que ela fora obrigada a deixar os bancos escolares para assumir o sustento de minha avó, filha de um ex-escravo de ganho e a única alfabetizada numa prole de seis filhos.
Zumbi dos Palmares, o sobrinho do rei Ganga Zumba, foi a personalidade associada ao Dia da Consciência Negra. Sem dúvida ninguém maior na memória coletiva que aquele que lidera seu povo na guerra contra o opressor. Entretanto, em nossa história, outros negros se notabilizaram com a inscrição de seus nomes na produção de conhecimento científico. Entre aqueles relacionados à Medicina, é destaque aquele que é considerado o patrono da psiquiatria moderna entre nós - o médico Juliano Moreira (1873-1933).
Um posicionamento contra-hegemônico quanto ao papel da raça e da cor no processo saúde e doença é marca indelével na prática médica, na obra acadêmica e na biografia do psiquiatra baiano, quer estivesse ele debatendo sobre o enlouquecimento, quer sobre a origem da Hanseníase no Brasil, na época imputada aos escravos trazidos da África; ou quando lamentou-se a morte de Juliano Moreira, quando era necessário o combate intelectual ao anti-semitismo mundial que Hitler inaugurara, prática que foi considerada de bom tom entre aqueles de escol, aqui e alhures. Ao contrário de Machado de Assis, também mulato, o professor Juliano Moreira nunca permitiu que sua iconografia fosse progressivamente embranquecida nos traços e na tez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma Noite no Ministério Público Federal

A noite chegou com luzes. O doutor Gladaniel Palmeira de Carvalho foi promovido a Procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Fiquei emocionado ao assistir um amigo de 35 anos alcançar mais um patamar de sua brilhante carreira, marcada sempre por promoções meritórias de par com o respeito e a admiração de seus colegas, dos amigos e da família. Enquanto assistia a cerimônia e sucediam-se os discursos de saudações ao novo procurador, que citou Padre Antonio Vieira e José Bonifácio de Andrada e Silva, passava na minha memória o tempo em que fomos garotos-rapazes no Colégio Estadual Paes de Carvalho, em Belém, junto com outros grandes amigos como o defensor público estadual Antonio Carlos de Andrade Monteiro e os médicos Elias Israel e Rômulo Paes. Como tem sido bom tê-los comigo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que os Estadunidenses Querem de Obama





















Trata-se do resultado da pesquisa espontânea Gallup, divulgado esta semana na imprensa dos EUA. Houve outra anterior, realizada pela CBS, em que entrevistados reafirmam que suas expectativas estão relacionadas a políticas governamentais promotoras de economia/emprego (56%). Déficit, imigração e guerra não são opções de primeira ordem para os eleitores.

Uma Americana na Terra dos Vikings
























Petrus Christus. Retrato de uma jovem (circa 1460)


Considera-se que Cristovão Colombo foi quem introduziu na Europa os primeiros ameríndios, para lá conduzidos quando retornou das viagens que lhe garantiram lugar na História. Hoje, parece, a história não transcorreu exatamente desse modo. Estudo de demografia genética realizada em 80 membros de um família islandesa demonstrou a constância de genes que eram únicos no país, capazes de serem rastreados até o início do século XVIII.
O aprofundamento das pesquisas demonstrou um padrão genético caribenho, compatível com a presença de uma mulher ameríndia na Islândia, pelo menos há 1000 anos, quando o país esteve praticamente isolado de ondas migratórias. Como teria então essa mulher chegado a uma ilha tão longínqua quanto gelada?
Provavelmente, ao modo como aconteceria com seus conterrâneos 500 anos depois: fora para lá conduzida por guerreiros vikings, que antes de Colombo já circulavam pelo continente americano, conforme registro das lendas nórdicas. O desafio agora dos pesquisadores é buscar estabelecer com maior precisão o tempo em que esses fatos aconteceram. Os resultados da pesquisa estão publicados no American Journal of Physical Anthropology.

P.S. A publicação do Retrato de uma Jovem de Petrus Christus, pintor medieval flamengo, não possui qualquer relação de inferência com a pesquisa que revelou a presença de genes ameríndios na Islândia. Entretanto, quando eu iniciei a leitura da obra prima de Johan Ruizinga - O Outono da Idade Média -, fiquei inquieto tanto com a riqueza das vestes e adereços da modelo, quanto com o formato do seu rosto e olhos inegavelmente de fenotipo asiático. Eu então me perguntei como essa garota dos Países Baixos, que viveu pelos meados da Idade Média, havia adquirido esses olhos tão exóticos quanto belos? A possibilidade de miscigenação com povos asiáticos, pela contiguidade continental entre Ásia e Europa, foi a resposta que satisfez minhas dúvidas. Pois é: o conhecimento tem seus mistérios, encantos e enganos.

Transparência de Resultados: Remédio Para Escândalo Científico

Como devemos tornar os resultados dos ensaios clínicos disponíveis? A razão dessa pergunta publicada no blogue Scholarly Kitchen é o desafio de tornar disponível a integralidade dos dados referentes a ensaios clínicos em artigos de divulgação científica, de modo a permitir uma avaliação profunda no que respeita a eticidade, a qualidade e a segurança do experimento.
Segundo o autor da postagem, Kent Anderson, apesar do movimento internacional para o estabelecimento de bases públicas para registros de ensaios clínicos, e da decisão das mais importantes revistas científicas internacionais de não publicar artigos com ensaios não registrados nessas bases de informação, a questão da transparência dos ensaios clínicos ainda está longe de ser resolvida, à vista da indústria farmacêutica ter desenvolvido estratégias de realizar ensaios clínicos em países onde há fragilidade regulatória sobre o assunto.

O Banco Mundial É um Bom Papo

Otaviano Canuto e Marcelo Giugale, respectivamente vice-presidente e diretor para gestão econômica e redução da pobreza, na América Latina e Caribe, publicaram na Foreign Affairs interessante artigo, que demonstra a atual visão de alguns membros do board do Banco Mundial sobre programas sociais implementados nos países em desenvolvimento. Os autores, na última linha do artigo, advertem para a transitoriedade dos programas como motores do desenvolvimento e da salvação da lavoura nos países ricos.
Como eles não tenho dúvidas quanto a transitoriedade dos programas de inclusão social e transferência de renda, exatamente porque eles trazem na essência a designação de programa, não de uma política de estado, que supere a temporalidade de governos. São frutos, portanto, de um momento histórico que se ancora lá atrás, quando o Banco Mundial para atenuar o choque brutal de seu ajuste fiscal levou a toada dos programas de transferência de renda aos países pobres e endividados com o Fundo Monetário Internacional. Financiar o roadmapping de políticas de estado para tornar no longo prazo esses países desenvolvidos em termos material e moral é outra coisa, que
um Banco Mundial acostumado a reagir de crise em crise, aparentemente não tem receita a dar.

O artigo pode ser lido na integra na página eletrônica da
revista, mas traduzo aqui alguns dos parágrafos que ilustram o seu conteúdo analítico.


Políticas de redução da pobreza exigem mais mudanças nos próximos anos. Há um consenso amplamente corroborado pela crise - o que reduz a pobreza: crescimento rápido e sustentado (mais empregos), os preços ao consumidor estável (sem inflação), e a redistribuição focalizada (subsídios apenas para os pobres). Mas, não basta qualquer emprego: O que importa na redução da pobreza não é apenas o número de empregos, mas sua produtividade. Isso, claro, aponta para uma agenda mais ampla de reformas para tornar as economias dos países em desenvolvimento mais competitivas.

Os países em desenvolvimento também estão experimentando ajustes em seus programas sociais. Nos últimos 10 anos, 30 países em desenvolvimento teem criado mecanismos para transferência de dinheiro diretamente para os pobres através de seus telefones celulares. Agora os seus pobres tem um nome, são uma pessoa. Este tipo de relação estado-cidadão provou ser uma benção para amortecer o impacto da crise global - prevenir conflitos sociais no México, por exemplo. Ele também tornará os gastos com políticas sociais mais eficientes, com design inteligente e menos duplicação de beneficiários.

Em suma, se continuarem a desenvolver estas políticas, muitos países em desenvolvimento devem superar o seu atual estado de desenvolvimento inteiramente. Tais expectativas devem ser vistas com moderação, no entanto. Após a Primeira Guerra Mundial e antes da Grande Depressão, o mundo desenvolvido -, bem como os economistas - estavam confiantes de que tinham estabelecido uma base permanente de prosperidade sem fim. Cem anos depois, diante a ciclotimia de nova crise, os países hegemônicos economica e militarmente terão de depender do mundo em desenvolvimento para tirá-los da crise.

Um Encontro de Amigos Levamos Sempre Conosco

Domingo passei boas horas no aniversário de minha amiga Salete, uma anfitriã perfeita. Os pratos estavam primorosos: os paraenses patinhas de caranguejo, maniçoba e camusquim dividiam o cardápio com o brasileiríssimo estrogonofe de filé. As sobremesas foram pavês e doce de cupuaçú. As bebidas compunham-se de cerveja (Cerpinha), caipirinha, sucos de frutas da Amazônia, café e o scottish Jonhy Walker Black Label. A excelência do encontro foi complementada com a presença de amigos em comum de longa data: Joseney e Set Pires dos Santos, Márcio Meira e Lúcia Van Velthem e o Luis Araújo, sem a Celza, que está fazendo estágio de artes plásticas em Florença, Itália. Saí de lá com saudades.

Alegrem-se, Trabalhadores Ingleses: Tatcher is Back!

O National Health Service - NHS, orgão de saúde do governo inglês, publicou hoje uma declaração ministerial escrita que descreve as bases da política pública que orientará a organização dos cuidados sociais destinados a adultos. Ao documento de nome pomposo como a Abadia de Westminster - A Vision for Adult Social Care: Capable Communities and Active Citizens - está vinculada uma consulta pública sobre transparência da qualidade e desfechos em políticas de atenção social.
Contudo a declaração está fundamentada em sete princípios, onde o papel provedor do Estado está prescrito como sintomático: isto é, "quando necessário". Coisa para inglês ver, afinal quem viveu os anos 80/90 passados, exposto às administrações da ex-primeira ministra Tatcher, sabe muito bem onde o sapato apertará e qual o amargor que terá com os modos neoliberais de enfrentar uma crise econômica. Como Galbraith tem dito, os ilustres jenios da sociologia e da economia neoliberal preferem salvar bancos, financeiras, indústrias a acudir na mesma medida à população quebrada na renda e no emprego.

domingo, 14 de novembro de 2010

Relatório Unesco -2010: O Estado da Ciência no Brasil








































A Unesco publicou seu relatório sobre a situação da ciência no mundo. O Brasil, abordado em capítulo próprio, apresentou uma evolução consistente e sustentada quanto a aplicação de recursos e resultados de pesquisa. Contudo, em termos governamentais há necessidade de enfrentar a desigualdade regional na distribuição de recursos e de pesquisadores, assim como ampliar a participação da iniciativa privada no setor. Outro exemplo, em que precisamos avançar, é aproximar as curvas de publicação de papéis científicos com aquela referente ao depósito de patentes. Nada, portanto, do apontado difere dos diagnósticos apontados nas políticas públicas que temos desenvolvido. O resumo executivo do "Relatório Unesco Sobre Ciência 2010 - O Atual Status da Ciência em Torno do Mundo" constitui-se do capítulo primeiro - sobre o papel do conhecimento na economia glogal - e do quinto referente ao Brasil.

Major Tom para Controle de Terra - 1

Major Tom Para Controle de Terra - 2

David Bowie logo após assistir o clássico 2001 - Uma Odisséia no Espaço compôs em 1969 a música Space Oddity, que é um de seus grandes sucessos. A canção narra a comunicação entre um fictício astronauta com um centro espacial na Terra e o insucesso da missão: por razões não reveladas, intui-se que o major Tom flutuará para sempre no espaço do orbital terrestre.
Nessa altura os norte-americanos já haviam tomado a dianteira da corrida espacial, deixando a pioneira União Soviética, arqui-inimiga na Guerra Fria, para trás em solitário segundo lugar. Entretanto, à conquista da Lua, ocorrida em 1969, seguiram-se só mais cinco missões tripuladas e bem sucedidas da NASA, que depois as encerrou devido a brutal crise econômica do petróleo imposta pelos países árabes (aumentos de 300% no preço do barril), e também pelos limites tecnológicos que exigiam tempo e recursos incalculáveis para, com êxito, estabelecer bases ou explorar economicamente os recursos minerais de nosso satélite.
Space Oddity, a não menos bela Rocketman (Elton John e Bernie Taupin) e a tardia Major Tom (Peter Schilling) representam a impressão da corrida espacial na poesia da música popular, em diferentes momentos e com a singularidade do olhar desses compositores. Recomendo assim que usufruam da interpretação de Bowie e da letra aqui encartada. Um bom domingo para todos (as).

Space Oddity

Ground control to major Tom
Ground control to major Tom
Take your protein pills and put your helmet on
(Ten) Ground control (Nine) to major Tom (Eight)
(Seven, six) Commencing countdown (Five), engines on (Four)
(Three, two) Check ignition (One) and may gods (Blastoff) love be with you

This is ground control to major Tom, you've really made the grade
And the papers want to know whose shirts you wear
Now it's time to leave the capsule if you dare

This is major Tom to ground control, I'm stepping through the door
And I'm floating in a most peculiar way
And the stars look very different today
Here am I floatin' 'round my tin can far above the world
Planet Earth is blue and there's nothing I can do

Though I'm past one hundred thousand miles, I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go
Tell my wife I love her very much, she knows
Ground control to major Tom, your circuits dead, there's something wrong
Can you hear me, major Tom?
Can you hear me, major Tom?
Can you hear me, major Tom?
Can you...
Here am I sitting in my tin can far above the Moon
Planet Earth is blue and there's nothing I can do

sábado, 13 de novembro de 2010

Diário do Hospício e O Cemitério dos Vivos

Ler Lima Barreto representa a chance de mergulharmos nas primeiras décadas republicanas do Brasil, que adentrara no século XX trazendo consigo o legado excludente de uma sociedade escravagista, que, oficialmente, entre 1811 e 1870 fora responsável pela importação de 60% de todos os escravos expedidos para as Américas*.
Neste mês a editora CosacNaify lançou uma edição bem cuidada do Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos**, que apresenta as dores morais desse autor fluminense em suas internações nos hospícios cariocas, devido às alucinações que experimentava por conta do etilismo desregrado.
Esses livros únicos e incompletos demonstram perfeitamente o quanto as diferenças, os preconceitos e os vieses de classe em sociedades excludentes - em que a saúde sequer é direito e a doença não raro vista como defeito ingênito -, adentram suas instituições e consolidam as raízes da desigualdade social. D' O Cemitério dos Vivos, transcrevo aqui alguns de seus mais pungentes parágrafos:

Entrei no hospício no dia de Natal. Passei as famosas festas, as tradicionais festas de ano, entre as quatro paredes de um manicômio. Estive no pavilhão pouco tempo, cerca de vinte e quatro horas. O pavilhão de observação é uma espécie de dependência do hospício a que vão ter os doentes enviados pela polícia, isto é, os tidos e havidos por miseráveis e indigentes, antes de serem definitivamente internados.

Em si, a providência é boa, porque entrega a liberdade de um indivíduo, não ao alvedrio de policiais de todos os matizes e títulos, gente sempre pouco disposta a contrariar os poderosos; mas à consciência de um professor vitalício, pois o diretor do pavilhão deve ser o lente de psiquiatria da faculdade, pessoa que deve ser perfeitamente independente, possuir uma cultura superior e um julgamento no caso acima de qualquer injunção subalterna.

Entretanto, tal não se dá, porque as generalizações policiais e o horror dos homens da Relação às responsabilidades se juntam ao horror às responsabilidades dos homens do pavilhão, para anularem o intuito do legislador.

A polícia, não sei como e porquê, adquiriu a mania das generalizações, e as mais infantis. Suspeita de todo o sujeito estrangeiro com nome arrevesado, assim os russos, polacos, romaicos são para ela forçosamente cáftens; todo o cidadão de cor há de ser por força um malandro; e todos os loucos hão de ser por força furiosos e só transportáveis em carros blindados.

Os super-agudos homens policiais deviam perceber bem que há tantas formas de loucura quanto há de temperamentos entre as pessoas mais ou menos sãs, e os furiosos são exceção; há até dementados que, talvez, fossem mais bem transportados num coche fúnebre e dentro de um caixão, que naquela antipática almanjarra de ferro e grades.

É indescritível o que se sofre ali, assentado naquela espécie de solitária, pouco mais larga que a largura de um homem, cercado de ferro por todos os lados, com uma vigia gradeada, por onde se enxergam as caras curiosas dos transeuntes a procurarem descobrir quem é o doido que vai ali. A carriola, pesadona, arfa que nem uma nau antiga, no calçamento; sobe, desce, tomba pra aqui, tomba para ali; o pobre-diabo lá dentro, tudo liso, não tem onde se agarrar e bate com o corpo em todos os sentidos, de encontro às paredes de ferro; e, se o jogo da carruagem dá-lhe um impulso para frente, arrisca-se a ir de fuças de encontro à porta de praça-forte do carro-forte, a cair no vão que há entre o banco e ela, arriscando a partir as costelas... Um suplício destes, a que não sujeita a polícia os mais repugnantes e desalmados criminosos, entretanto, ela aplica a um desgraçado que teve a infelicidade de ensandecer, às vezes, por minutos...

* Almeida, Paulo Roberto. Formação da Diplomacia Econômica no Brasil. Senac. São Paulo, 2001.

** Prefácio de Alfredo Bosi. Organização e notas de Augusto Massi e Murilo Marcondes Moura.

Bebidas Açucaradas e Risco de Doença Metabólica

Pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) realizaram revisão de artigos publicados na literatura internacional, selecionados a partir da relevância científica e de suas respectivas afinidades metodológicas, e combinaram seus resultados individuais para originar um conjunto de resultados com maior significância estatística, que permitisse definir qual o risco de desenvolver Diabetes Mellitus e Síndrome Metabólica entre aqueles que consomem bebidas com alto teor de açúcar em sua composição.
Após selecionarem 11 estudos que atendessem aos critérios de seleção estabelecidos para o estudo, reuniram-se resultados referentes a 310.819 pessoas, antes alocadas em cada estudo selecionado. A análise estatística desse universo ampliado de pessoas, verificou que entre aquelas que consumiam de 1 a 2 porções de bebidas açucaradas, quando comparadas àquelas que consumiam até 1 porção por mês, o risco de desenvolver Diabetes tipo II foi tão elevado quanto 26% no longo prazo, enquanto o risco relativo para Síndrome Metabólica foi de 1,2.
A metanálise conduzida pelos pesquisadores de Harvard permite concluir que a ingestão de bebidas açucaradas - refrigerantes, sucos de fruta e bebidas energéticas e vitaminadas - além de estarem relacionadas à obesidade, também favorecem o desenvolvimento de doenças metabólicas graves, devendo as autoridades de saúde pública esclarecer a população e regular em termos sanitários a comercialização desses produtos.

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Foi o Golfinho, Sinhá

Botos e golfinhos são animais próximos na escala zoológica. Na Amazônia existe a lenda do boto, em que conta-se que esse mamífero assumiria a forma humana e viria a terra em noites de lua cheia, sempre vestido de branco e chapéu (para disfarçar o orifício respiratório sobre a cabeça), no intuito de seduzir jovens consideradas atraentes.
A lenda, como expressão de uma socialização de uma região isolada e periférica, remete às questões relacionadas à gravidez indesejada em comunidades fechadas. Hoje, como anedota, ainda perdura dizer com maldade: Fulano (a) é filho (a) do boto. Aqui, nesse extraordinário filme, vê-se com clareza a atração e o comportamento sexual de um golfinho macho em torno de uma nadadora que , decerto, desconhece a lenda dos botos amazônicos .

domingo, 7 de novembro de 2010

O Olhar Crítico de Chico Cavalcante

























Chico Cavalcante, à esquerda entre os melhores do marketing político na Amazônia, concedeu entrevista este domingo ao jornal Diário do Pará. Em pauta a avaliação da estrondosa derrota da governadora Ana Júlia Carepa (PT/PA), que pleiteava a reeleição, em favor do candidato Simão Jatene (PSDB/PA). Para entendermos melhor a dimensão desse desfecho, cabe recordar que a candidata petista foi eleita em 2006, a partir da derrota do partido neoliberal tucano, que , nessa altura, governava o Pará por 12 anos e pretendia estender seu domínio político pelo menos por mais oito.
Numa sequência de respostas ilustrativas a perguntas formuladas num estilo curto e objetivo, o entrevistado afirma seu domínio teórico-prático da comunicação em política, fato que antes havia já demonstrado em seus livros Marketing de Guerrilha e o Novo Marketing Político. O texto da entrevista considero obrigatório para aqueles que estudam ou teem curiosidade sobre comunicação e marketing aplicados. O conteúdo está acessível clicando-se sobre a imagem que acompanha a postagem, ou aqui: na página do Diário do Pará.

sábado, 6 de novembro de 2010

Passarinhando na Chuva

































Ele é um antigo conhecido. Circula por aí, entre os prédios da quadra onde moro. Há uns dias, contudo, tornou-se mais íntimo e agora pousa nas plantas que mantenho em minha sacada. O local preferido que escolheu é esse galho de Bougainville.
Hoje, afinal, o lambe-lambe aqui conseguiu surpreende-lo com o registro desse quase portrait. Na manhã nublada e chuvosa, sempre arisco ele posou e me disse que agora tem uma companheira. Com sorte qualquer dia eu os fotografo juntos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nunca É Demais Repor o Demasiado

Por que não te calas? A pergunta foi feita hoje, em França, por um plebeu zapatista a José Serra, candidato derrotado à Presidência da República nas eleições de 2010. A interrupção aconteceu no momento em que o tucano recalcava críticas genéricas contra o presidente Lula, levando Serra a perder a pose de Rei de Roma, de todos os mares, de todos os rios, dos sertões et urbes brasiliensis.