quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ecos da Crise Econômica Norte-Americana

(The Wall Street Journal) - Em Manhatan (Nova Iorque), com hospitais fechando as portas e outros cortando orçamentos, os trabalhadores do setor saúde temem que possam enfrentar um período longo de desemprego. Nesta próxima sexta-feira, por exemplo, o Hospital St. Vincent ao fechar as portas por falência mandará 3,5 mil funcionários de volta ao mercado de trabalho, que estima-se conter cerca de 162 mil profissionais.

Comentário: O encolhimento da rede hospitalar determinará outras consequências tão ou mais graves que o desemprego, definidas pelos transtornos no acesso às unidades de saúde e pelo prejuízo inevitável na qualidade dos serviços prestados por aquelas que mantiverem as portas abertas.

Vioxx: Suprema Corte Enquadra Merck

A Suprema Corte de Justiça dos EUA decidiu nesta última terça-feira que os investidores prejudicados com a suspenção da comercialização do anti-inflamatório Vioxx, podem processar a empresa farmacêutica Merck & Co., para esclarecer se a companhia tomou de fato todas as precauções necessárias quanto à informação sobre os riscos do medicamento, antes que fosse retirado do mercado por razões de segurança.

A Tormentosa Vida de Michael Jackson

O jornal The Guardian publica a síntese de um livro ainda não lançado, que analisa o papel da hipocondria na angustiante vida do megastar Michael Jackson. O blogueiro registra que não concorda com todas as argumentações do autor, que algumas vezes lhe parecem desrespeitosas ou destituídas de embasamento teórico mais robusto.
Além do mais, o autor secundariza o papel de um dos fetiches que mais seduzia a complexa personalidade de MJ em qualquer situação: aquele relacionado ao imperativo tecnológico, que, parece-me, ele instrumentalizava com mais lucidez quando para chegar a seus objetivos artísticos. A matéria publicada no periódico inglês, está disponível aqui.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O STF e o Viagra

O Supremo Tribunal Federal decidiu que a patente do medicamento Viagra (sildenafil) termina em junho deste ano, não reconhecendo o direito do laboratório proprietário da patente de mantê-la no Brasil até junho de 2011. A decisão permite que laboratórios nacionais produzam o genérico do medicamento, reduzindo por esse modo o custo final para o consumidor. Para termos uma idéia da importância dos genéricos, e também fazer uma estimativa rápida da relação custo-efetividade e equidade em saúde, o governo federal utiliza 20% do orçamento para aquisição de antineoplásicos com a compra do imatinib, medicamento que trata um conjunto de pacientes que representam 2% da população brasileira.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

As Convulsões da Terra

Afghanistan. 19 April 2010. A powerful earthquake measuring 5.3 on the Richter scale strikes central Afghanistan, killing at least seven people and wounding more than 30. The earthquake hit the mountainous Samangan province, northwest of the capital, Kabul. Further information (BBC).

Guatemala. 19 April 2010. A magnitude 5.6 earthquake, with an epicentre some 160 km west of the capital Guatemala City and 50 km southeast of the city of Tapachula in Mexico's Chiapas State, hits western Guatemala. No immediate casualties or damage are reported. (Latin American Herald Tribune).

Papua New Guinea. 18 April 2010. An earthquake measuring 6.3 on the Richter scale hits the east coast of Papua New Guinea. The earthquake was centred about 29km east of the city of Lae. There were no immediate reports of damage or injuries and the Pacific Tsunami Warning Center in Hawaii did not issue a tsunami alert. (BBC).

Iceland. 14 April 2010. The eruption of Icelandic volcano, Eyjafjallajokull, causes the suspension of flights across much of western Europe.(BBC).

China. 14 April 2010. An earthquake measuring 6.9 on the Richter Scale hits China’s Qinghai province. Hundreds of people are killed and more than 10,000 people are injured and thousands are left homeless. (BBC).

terça-feira, 20 de abril de 2010

Bomba! Israel Proíbe o iPad.

















O Ministério das Comunicações de Israel determinou que fossem confiscados todos os iPad que sejam importados ou entrem como bagagem de israelenses no país. O ministro afirma que a medida foi tomada porque o equipamento da Apple Inc. foi configurado para uso nos EUA e não atende aos requisitos técnicos israelenses.
Especialistas discordam da justificativa, que consideram uma desculpa esfarrapada. Para alguns a medida foi adotada para proteger os interesses comerciais da iDigital, que é o representante oficial da Apple Inc. em Israel. A azeitona da empada é o fato da empresa ter como proprietário Chemi Peres, filho do presidente do país. Quando inquirido pela Time, o ministro das Comunicações confirma que discutiu com a iDigital medidas para definir quando e como o iPad poderá ser utilizado com segurança em Israel, e para isso aguardam as orientações que virão de Cupertino, cidade californiana onde está localizada a matriz da Apple Inc.
Há outras versões, inclusive conspiratórias, como seria esperado em se tratando de Oriente Médio. Entre admiradores de romances policiais e filmes de suspense acredita-se que a proibição teria sido determinada por questões militares, pois o iPad interferiria com as frequências de comunicação dos orgãos de defesa e segurança israelenses, fragilizando a segurança nacional. Há quem afirme, por exemplo, que problema igualzinho teria acontecido quando a tecnologia bluetooth foi introduzida no país.
A proibição também preocupa a empresários da tecnologia de informação, que consideram a medida danosa à economia e à imagem de país inovador em tecnologia, construída pelos israelenses nas últimas três décadas. A insatisfação dos consumidores por fim não foi menor. A medida governamental provocou na blogosfera israelense uma verdadeira intifada. Entre os comentários registrados, houve o de um insurgente que deu no anonimato uma solução anedótica para driblar as medidas restritivas. Aconselhou que para se entrar no país com a engenhoca Bastará comprar o iPad no exterior, e na alfândega israelense seguir a fila do Nada a Declarar.
Na mesma linha de apreciação do non sense, antes de encerrar o post, cabe me indagar o que o governo israelense fará com os iPad de turistas e executivos estrangeiros que chegarem ao país. Serão eles retidos e apenas devolvidos quando os proprietários retornarem para os seus países de origem? Aguardemos portanto, como evoluirá esse inusitado exemplo de impacto tecnológico.

domingo, 18 de abril de 2010

As (In) coerências de James Cameron























Para o Professor Aluísio Lins Leal

Em termos modernos, segundo Marilena Chauí, o termo intelectuais descreve seres bidimensionais por terem eles surgido "no e pelo ultrapassamento da oposição cultura pura e o engajamento". Repercutindo uma tese de Boaventura de Souza Santos, a filósofa brasileira conclui que a lógica da autonomia das artes, ciências, técnicas, ética e direito foi determinante para o surgimento da figura do pensador e do artista não submentidos às instituições eclesiásticas, estatal, partidária e acadêmica. Ao praticarem com autonomia o pensar e o agir, os intelectuais adquiriram mais que independência, pois armaram-se de uma autoridade teórica e prática que permitiu-lhes o exercício da crítica ao modo como agiram livremente os filósofos da Revolução Francesa, os socialistas utópicos, os anarquistas e os marxistas.
A apreciação desses escritores e filósofos permite ilustrar que, à luz da autonomia e em qualquer tempo, a fala e a ação pública dos intelectuais estão orientadas para a defesa coerente de causas universais e para a insurgência contra a ordem vigente. Para Pierre Bourdieu, contudo, esse duplo agir confronta de forma crítica a bidimensionalidade que justifica o intelectual enquanto agente histórico e social, pois os "intelectuais oscilam entre o recolhimento e o engajamento, o silêncio e a intervenção pública, oscilação que decorre das circunstâncias nas quais a demanda de autonomia racional é respeitada ou ameaçada pelos poderes instituídos". São ícones modernos dessa capacidade de intervenção Emille Zola, Arthur Rimbaud, Bertrand Russel e Jean-Paul Sartre.
Mas para além da grandeza desses exemplos universais, a procissão dos dias nos confronta com exemplos que nos desafiam como esfinge quanto a estarmos de fato frente a um intelectual engajado ou uma fraude midiática muito comum em sociedades onde o espetáculo é uma força senão de primeira ordem, mas certamente acessória dotada de efetiva consequência. É o caso do insistente aparecimento do diretor James Cameron no cenário da política ambiental brasileira, a partir do lançamento de seu bilionário filme Avatar, que na primeira semana de projeção mundial faturou mais de 1 bilhão de dólares.
Cameron (55 anos ), confesso admirador de Jacques Cousteau, produziu obra cinematográfica irregular do ponto de vista de conteúdo e qualidade, mas decerto rendosa ao incluir alguns blockbusters, ou seja aqueles filmes voltados exclusivamente para auferir lucro estrastoférico e de conteúdo duvidoso, porém não inócuo. Sua atual face midiática de defensor do meio ambiente e de autonomia dos povos procura ser coerente com a mensagem pacifista e ambientalista de Avatar, mas decerto esse discurso é incompatível com a mensagem de violência e hegemonia militar norte-americana que veiculou em quatro de seus seis filmes de maior sucesso e renda: O Exterminador do Futuro (1984), O Exterminador do Futuro 2: Dia de Julgamento (1996) e True Lies (1994), além de Rambo II: A Missão, do qual foi roteirista.
Para a The New Yorker, o canadense James Cameron é um legítimo produto classe média da ambiência da Guerra Fria e transfere toda essa carga a sua obra cinematográfica. Em entrevista recente, quando inquirido quanto a sua admiração por operações militares e armas confirmou: " Eu suponho que você diria que eu acredito na paz pela superioridade das armas. Mas eu não acredito que a raça humana de repente evoluiu ao ponto de todos nós darmos as mãos e cantarmos kumbaya*". A compreensão da afirmativa é suficiente para entender porque a segurança da residência do diretor é feita por ex-militares que atuaram na Guerra do Golfo**, ou de sua decisão para ser treinado em todo tipo de arma, incluindo o tiro com fuzil AK-47, quando escrevia o roteiro de O Exterminador do Futuro. Sobretudo o que lemos é uma visão de mundo muito difícil de ser compatibilizada com o pacifismo lacrimogêneo de Avatar.
Para a direita norte-americana o diretor estimula movimentos como o Green Peace e grupos autóctones de países subdesenvolvidos, conferindo a ele grau mais de curiosidade do que de periculosidade propriamente dita. E aqui talvez tenhamos o resumo de uma advertência para a mídia brasileira de oposição, de direita e de esquerda, que enxergam no palavrório do diretor uma oportunidade para reduzir a hegemonia política do governo do presidente Lula à véspera das eleições presidenciais.
Ao contrário da veemente defesa da anti-construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, nunca se teve notícia que Cameron protestasse contra a extração petrolífera das areias betuminosas no Canadá, processo considerado por 10 entre 10 ambientalistas como o mais poluente do mundo; ou do porquê o seu contrangedor silêncio com respeito a Guerra do Iraque, decidida e conduzida pelo mainstream norte-americano para assegurar o equilíbrio do problema energético dos Estados Unidos. Marina Silva e o pragmatismo dos seus ambientalistas aliados do Partido Verde deveriam apreciar melhor tais questões e saber que, nesses casos, a nossa direita logo identifica que o adversário do meu inimigo pode vir a ser o meu melhor amigo.

*Canção afro-judaica pela paz e integração dos povos.
** O irmão do diretor é ex-combatente do conflito e consultor militar para Avatar.

Fotos: A atriz Sigourney Weaver e James Cameron visitam o porta-aviões Dwight D Eisenhower (5a. Frota - Oriente Médio) para promover Avatar. A respeito da relação dos fuzileiros com Avatar, Cameron afirmou em entrevista que os militares da Marinha estão respresentados no heroísmo do personagem Jake, registrando textualmete que "Eu tenho o maior respeito pelos homens e mulheres do corpo dos fuzileiros navais dos EUA, e acredito firmemente que Avatar honra a coragem, a ousadia e os valores de sua honra". A principal atividade dos marines é atuar na contra-insurgência nos países invadidos ou conquistados para o equilíbrio local e a hegemonia global norte-americana (N.T.).

domingo, 11 de abril de 2010

Neurônios, Escrita e Leitura

Muito foi escrito sobre o que é literatura, mas pouco foi investigado sobre a dimensão biológica da criação literária, da leitura e seus reflexos na cultura. Pois um grupo de neurocientistas, críticos literários e estudantes ingleses estão mergulhados num projeto que pretende responder a essa questão. Para eles a leitura e a criação literária se relacionam a um complexo sistema neurofisiológico, com possível interferência de genes, que faz com que um Shakespeare, Virgínia Wolf, Joyce, Fernando Pessoa, Camões, Jorge Luis Borges, Drummond e Manoel Bandeira tenham criado o que publicaram. E mais ainda; pretendem avaliar como o cérebro dos leitores reage a esses textos complexos, comparando-os com reações registradas durante a leitura de jornais ou da Playboy... Aqui, com direito a um comentário do professor Michael Holquist, da Yale University, no melhor bom humor inglês em dia de domingo.

Os Maiores Crâneos da Matemática

Alex Bellos, articulista do The Observer, lista na edição de hoje quem ele considera os 10 maiores matemáticos em 2500 anos de História. Acesse aqui.

sábado, 10 de abril de 2010

Produtos Centenários

* O belga Leo Hendrick Baekeland (1863-1944) cria a baquelite, material sintético que permitiu o desenvolvimento do plástico e de uma civilização que hoje luta para reduzir a presença desse material na sociedade e no meio ambiente.
* O soviético Sergey Lebedev (1874-1934) desenvolve a primeira borracha sintética, fazendo com que a URSS se tornasse em 1940 o líder mundial na produção desse material altamente poluente.
* O norte-americano Adams-Farwell constroi o protótipo do primeiro sistema de injeção de combustível, inicialmente para uso em motores à diesel. Só 40 anos depois a fuel injection foi incorporada aos carros movidos à gasolina.
* O francês Georges Claude (1870-1960) cria a lâmpada neón e veste a noite com as cores da moderna boemia.

A Medicalização do Espiritismo

Talvez tenha sido o Brasil onde mais se difundiu e foi consolidada a doutrina de Alan Kardec, pseudônimo do pedagogo francês Hyppolite León Denizard Rivail (1804-1869). Comprovam-no os inúmeros centros espíritas distribuídos em milhares de cidades brasileira e a vista que tenho diariamente da imponente Federação Espírita Brasileira, em Brasília-DF. Além do mais, este ano comemora-se o centenário de nascimento de Chico Xavier, o mais influente médium brasileiro, com o lançamento de selo comemorativo pelos Correios, de medalha comemorativa pela Casa da Moeda e de longa-metragem homônimo dirigido por Daniel Filho. Contudo os praticantes do espiritismo já foram vítimas de preconceitos terríveis no século XX, a ponto de serem considerados acometidos de loucura coletiva. Não raro famílias internavam seus membros no hospício, por manifestarem mediunidade ou decidirem ser espíritas. Foi o caso de meu amigo Rafael Gomes, já falecido. A história de como o Brasil medicalizou o Espiritismo está contada aqui, na Revista de História da Biblioteca Nacional.

A Segregação Econômica em Saúde

Acessar serviços de saúde constitui um dos fundamentos da boa saúde pública. A garantia do acesso aos atos relativos à prevenção, ao tratamento e à recuperação dos agravos tem consequências diretas na eficácia dos tratamentos, na evolução das doenças, na morte e no morrer.
Estudo publicado em 6 de abril do corrente, no Journal of National Cancer Institute, conclui que a maior incidência e mortalidade por cancer cólon-retal na população norte-americana afro-descendente está relacionada a diferenças na utilização de serviços de saúde e menos à Biologia.
Embora o estudo não tenha o objetivo de esclarecer as causas que interferem para que brancos tenham melhor acesso a cuidados de saúde do que negros, infere-se que o fator econômico represente papel importante nesse processo, especialmente quando é considerado que a quase totalidade do sistema de saúde norte-americano se organiza de forma privativa, com acesso mediado por meio da contratualização de planos de saúde. O estudo acompanhou mais de 60 mil pessoas e a síntese dele está aqui.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Tragédias: Mudou o Cenário, Não as Razões

Outro dia, quando lia poesia grega clássica, cheguei ao fragmento de um poema de Semónides (VII A.C)*. Nele o poeta faz uma reflexão sobre a vida e a fragilidade humana, como expressa o seguinte trecho:

Assim, nada existe sem misérias, mas incontáveis
desgraças e sofrimentos inesperados existem
para os mortais.

Está claro que para aquele poeta grego o inesperado é a fonte de todo o sofrimento dos homens. Esse modo de interpretação do mundo revela desamparo a mercê do sobrenatural, e reflete com clareza os limites do conhecimento de uma época em que a ciência mal dava os primeiros passos num mundo ainda habitado pela supremacia explicativa de deuses e demônios, como diria Carl Sagan**.
Por estarmos separados mais de dois mil anos de Semónides, é inadmissível considerar que tragédias naturais ao modo das que aconteceram ultimamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, continuem a enlutar famílias e a empobrecer o patrimônio dos cidadãos e da coletividade. O inesperado nestes casos não subsiste ao olhar crítico, e a corporificação material do fortuito, o dito acidente, terrível palavra que embota pela idéia de acaso a percepção do concreto, apenas expressa que alguém, instituição, governo ou o Estado deixou de fazer ou fez algo que desencadeou um processo que no desfecho final prejudicou alguém ou uma coletividade.
Não são outros os nossos demônios...
Daí que muito do que aconteceu ultimamente naqueles dois estados brasileiros - um deles o mais rico da federação - seria evitado e minorado se o poder público fizesse uso de tecnologias preventivas e corretivas apropriadas à gestão de riscos na ocupação de solos urbanos.
Por outro lado, esses fatos recentes testemunham que nós brasileiros temos reatividade pouco inteligente às questões de segurança, mesmo para aquelas relacionadas a criminalidade que sitia os grandes centros urbanos do país. Há um claro vazio cultural, político e institucional sobre as questões mais amplas sobre a política de segurança no Brasil. Do Oiapoque ao Chuí, dos morros cariocas aos naufrágios com inúmeras vítimas no Rio Amazonas e afluentes, muda o cenário mas as razões da tragédia são as mesmas.
Talvez por esse modo dissonante de valorizarmos uma vida segura em sociedade, quem sabe as musas não dirigiram a nós a advertência escrita por Semónides ao final da poesia, que avaramente a Antiguidade nos transmitiu?

Mas se eu tivesse o poder de persuadir,
não estaríamos apaixonados pelas desgraças,
nem daríamos cabo do coração com dores amargas.

* Poesia Grega. De Álcman a Teócrito. Lourenço, F (org). Cotovia, Lisboa,2006.
**Sagan, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios. Companhia das Letras, Brasil, 1996 (esgotado).

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Energia do Brasil: Para Além do Pessoal - 1

O debate sobre energia é amplo e diz respeito à construção de uma nova economia, de uma nova forma de relação da sociedade com o Estado. De como gerar energia que garanta segurança no abastecimento, modicidade tarifária, universalização do atendimento, sustentabilidade e eficiência sob o ponto de vista energético e econômico. Hoje o crescimento da economia brasileira gera uma demanda de energia que foi, nos últimos 4 anos, cerca de 30% maior que a do período entre 1998 e 2002.
O Governo fortaleceu o planejamento setorial, criou a Empresa Brasileira de Planejamento Energético, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Incentivou a retomada dos investimentos e a expansão do sistema a partir de fontes energéticas nacionais, renováveis e competitivas e por meio de maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
Foi construído um modelo com maior equilíbrio entre empresas de geração e distribuição e os consumidores. É garantido o suprimento de energia, pois as distribuidoras são obrigadas a contratar 100% da energia que se propuserem a vender aos consumidores. Revisões tarifárias da Aneel transferem ao consumidor ganhos de eficiência das empresas capazes de reduzir de forma significativa a tarifa final, em alguns casos em até 20%.
Avanços recentes no setor devem fortalecer essa tendência. Em 2010, a Aneel aditou o contrato de 46 distribuidoras de energia elétrica com intuito de alterar o cálculo dos reajustes tarifários. Os termos assinados representam 71,86% do total de contratos existentes. A alteração da metodologia do cálculo de reajuste tarifário anual tem por objetivo assegurar a neutralidade dos encargos setoriais, evitando que variações de mercado gerem receitas indevidas à concessionárias ou à grandes consumidores.
Na busca de equidade social, de acordo com as regras introduzidas pela Lei n°12.212/2010, a Aneel também atualizou tarifas para os consumidores enquadrados como de baixa renda. O cálculo considerou o fim da cobrança dos encargos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) e do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Novos critérios para enquadramento como beneficiário da Tarifa Social também foram levados em conta.
Entretanto, seria imprudente ignorar que parte da tarifa não depende da eficiência da regulação. Os encargos, tributos e impostos sobre a tarifa chegam a 1/3 da conta de energia. No Brasil, em média, inclusive em São Paulo, a alíquota de ICMS é de 25% incidente sobre o consumo de energia domiciliar que, na prática, corresponde a uma alíquota real de 33,35%.
Com o objetivo de universalizar o atendimento, o programa Luz Para Todos alcançou até dezembro de 2009 a marca de 2 milhões e 235 mil ligações de casas. Em 2010, serão atendidas mais 800 mil famílias. Fruto do potencial de inclusão social do programa, cerca de 500 mil brasileiros voltaram da periferia para o meio rural, identificando-se por esse modo claramente a natureza iníqua de manter populações pobres à margem do consumo de energia elétrica.
O Sistema Eletrobras por sua vez está em processo de reestruturação. O acervo de conhecimento e experiência da empresa estava se deteriorando com a falta de coordenação entre a holding e suas 16 subsidiárias regionais. A Eletrobrás está presente em todo o Brasil e é responsável por 38% da capacidade instalada de geração de energia elétrica no país e por cerca de 56% do total das linhas. Em termos continentais, o Brasil possui seis interligações de médio e grande porte com outros países da América do Sul, quatro destas operadas pelo Sistema Eletrobrás, no Paraguai, no Uruguai, na Argentina e na Venezuela. Atualmente, amparada pela Lei 11.651/2008, o foco da empresa é ampliar sua inserção no continente americano – a integração energética da América do Sul, particularmente com os países que fazem fronteira com o território brasileiro, e a América do Norte e Central.
No setor petrolífero, o Governo Lula conquistou a autossuficiência brasileira (2006), reduzindo a fragilidade do pais frente a crises internacionais com foco no Oriente Médio. A descoberta do pré-sal (2007-2008) representou um vantagem competitiva que não apenas confirma a Petrobrás entre as maiores companhias de energia do mundo, mas amplia o valor geopolítico do do pais e garante às gerações futuras os lucros de uma recurso energético que será cada vez mais raro e necessário para uma transição de um modelo de matriz energética complexa.

Energia do Brasil: Para Além do Pessoal - 2

Não se pode ao falar de energia, deixar de considerar alguns aspecto relacionados a Petrobrás. Antes, em 2003, a empresa valia cerca de US$ 14 bilhões e hoje com os resultados alcançados vale cerca de US$ 210 bilhões. Parte dessa valorização resulta de portfólio exploratório em crescimento, que levou a empresa a renovar a composição da força de trabalho e fortalecer a sua estrutura corporativa. A Petrobrás é hoje a sexta maior empresa de energia do mundo e a segunda maior em petróleo, destacando-se que a participação brasileira nos investimentos chega a 74%. Apenas a Esso a supera a Petrobrás em termos de mercado.
A Estratégia para a exploração do Pré-Sal foi concebida em alinhamento com as diretrizes da Agenda de Desenvolvimento do Brasil. Com o novo marco regulatório para a exploração do Petróleo, proposto pelo Governo Lula, o papel do Estado é fortalecido no controle desse produto estratégico para assegurar o desenvolvimento do país. Com a queda do risco exploratório não faz sentido o modelo de concessão que permite as empresas privadas captarem todos os ganhos da atividade do petróleo, como foi praticado até 2002. 
O novo modelo propõe o regime de partilha de produção, em que a Petrobrás será operadora única, com o mínimo de 30% dos investimentos do Pré-Sal e será criada a Petro-Sal com a função de baixar ao máximo o custo do óleo. Como operadora única, a Petrobrás pode se comprometer com uma política de conteúdo nacional para a cadeia de fornecedores, em linha com a política industrial do Governo que, via MDIC e BNDES, pode apoiar essas empresas.
Não será trivial a demanda: são sondas, barcos de apoio, árvores de natal molhadas, flowlines, infraestrutura para entrega de suprimento e, principalmente, gente especializada para operar esses sistemas. São demandas de uma Empresa que tem 23% da operação de águas profundas do mundo. A segunda (ExxonMobil) tem 14%. 
Hoje a Petrobrás, em águas profundas, é a empresa que tem maior mobilização tecnológica e conhecimento incorporado. Para enfrentar os novos desafios a Empresa investiu R$ 1,4 bilhão, nos últimos quatro anos, em 80 universidades e centros de pesquisa, que estão atuando em 50 redes temáticas diferentes que envolvem o setor de petróleo e gás. Já foram estruturados 26 laboratórios. Outros R$ 1,4 bilhão serão investidos no desenvolvimento de outras vertentes de pesquisa. A exploração do Pré-Sal não coloca em risco a sustentabilidade da matriz.
Há um claro compromisso do Brasil com a diversificação da matriz e os investimentos em energia limpa são reconhecidos internacionalmente. O relatório "G-20 Clean Energy Factbook", elaborado pela fundação Pew Charitable Trusts, mostra o Brasil em sexto lugar no ranking do G-20, com US$7,4 bilhões destinados às fontes limpas de energia. Com base nessas referencias, o Brasil aparece como um "líder do G-20" e “pronto para um crescimento significativo nos investimentos em energia eólica". É o nono colocado entre os países com mais capacidade renovável instalada, com 8,9GW. Em 2009, diferente dos outros países que recuaram com a crise financeira, o Brasil experimentou a segunda maior taxa de investimentos dos últimos cinco anos, destaca o relatório. É o segundo maior em renováveis entre os emergentes - atrás apenas da China - e como "um claro líder em energia limpa", com destaque para a capacidade instalada em usinas a biomassa e PCHs .
O Brasil tem uma folgada vantagem comparativa em relação ao resto do mundo. Na matriz de energética brasileira, a participação de fontes renováveis (45,8%) é mais de três vezes superior à média mundial (12,9%). Várias iniciativas governamentais estão contribuindo para aprofundar essa vantagem como leilão específico para PCH e empreendimentos de geração a partir de biomassa e de fonte eólica. A Agência Nacional de Petróleo já realizou o 17º Leilão de Biodiesel. A Petrobrás investirá, por sua vez, US$2,8 bilhões em biocombustíveis até 2013, demonstrando o interesse no promissor mercado de fontes de energia renováveis.

Os dois textos se referem à entrevista publicada do Correio da Cidadania, que em minha opinião descola a discussão do contexto, filtrando-a pelo imperativo nada justo das questões pessoais.