segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Situação da Influenza nas Américas

Dr. Jarbas Barbosa, diretor regional da Organização Pan-Americana de Saúde, convida para a conferência em que será apresentada a situação da gripe suína (H1N1) nas Américas, em 9 de setembro próximo. Não é preciso tomar um avião e ir até os EUA para participar. Bastará que o (a) interessado (a) disponha de computador e de uma boa conexão com a rede mundial. A conferência será em inglês com tradução simultânea para o espanhol.
Eis os links:
1. para checar o fuso horário do país com a hora da reunião em Washington, DC:
http://www.timeandd ate.com/worldclock/meeting. html
2. para acessar a sala virtual da conferência:
https://sas.elluminate.com/m.jnlp?sid=1110&password=M.13BE00255A2E6838A6E644D5C39BDA (em inglês)
https://sas.elluminate.com/m.jnlp?sid=1110&password=M.173214B9ABCE0FDD46CD299DF48EC1 (em espanhol)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Trombose e Viagens Longas - Metanálise





Para quem viaja muito constitui uma preocupação, especialmente quando são longas. Afinal, qual é o risco de Trombose Venosa Profunda (TVP) para viajantes de longas distâncias no Ocidente? Para responder essa pergunta Chandra D e cols. publicaram metanálise no Annals of Internal Medicine, em agosto deste mês. De modo resumido as conclusões são as seguintes: i) viagens de longa duração aumentam em até 3 x o risco de TVP; ii) são necessários estudos que avaliem a efetividade das intervenções de baixo custo e risco (hidratação, deambulação, etc), tanto quando utilizadas por viajantes com risco conhecido para condição, quanto para aqueles que não apresentam riscos predisponentes à TVP.

Uma Antropóloga Brasileira no COHRED

Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília, foi eleita para representar o Brasil no colégio de diretores do Council on Health Research for Development (COHRED). Débora possui uma extensa produção técnica e acadêmica em Bioética, onde é destaque a direção dos filmes Solitário Anônimo, Quem São Elas, Habeas Corpus e a A Casa dos Mortos, todos abordando em profundidade questões limites do direito à vida e a saúde. Daqui vão o abraço e os parabéns do blogueiro.

Ministerio da Saúde Inova na Comunicação

O Ministério da Saúde inovou em termos estratégia e instrumentos de comunicação para divulgar informação sobre a gripe suína (H1N1). Além de mídias tradicionais do tipo cartazes, folderes, inserções em rádio, aúdio em aeroportos e página eletrônica oficial, a instituição está presente também no YouTube e no Twiter. A partir desses materiais educativos outras páginas eletrônicas, não necessariamente oficiais, poderão ser construídas e ajudar no esclarecimento sobre a atual pandemia de gripe. Um exemplo está aqui.

sábado, 15 de agosto de 2009

Gripe Suína: Verdades e Mentiras

1. Resistência ao Tamiflu: VERDADE
Durante uma epidemia a melhor arma para enfrentá-la é a correta informação da população. Jornais brasileiros de grande circulação publicam matéria com chamada do tipo "Saúde Comprará remédio para Gripe Suína Resistente ao Tamiflu, mas não há motivo para pânico.
Oficialmente não temos no Brasil casos confirmados de resistência. A medida do Ministério da Saúde apenas representa zelosa cautela. Segundo a Organização Mundial da Saúde, até hoje, na América Latina foram registrados 4 casos. Todos relacionados com o uso do Tamiflu em subdose. Daí porque é importante restringir o uso do medicamento sem prescrição e supervisão médica.
2. O Ministério da Saúde retirou do mercado o Tamiflu: MENTIRA
A autoridade sanitária nacional jamais ordenou a retirada do Tamiflu do mercado. Estrategicamente, o Laboratório Roche recolheu o medicamento para atender a necessidade do governo brasileiro de enfrentar a atual pandemia de gripe H1N1. Evidente que a medida administrativa do produtor contempla a equidade, porque permite que todos tenham acesso ao medicamento nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), evitando que o poder aquisitivo de poucos restrinja o acesso de muitos.
3. Idosos podem ter proteção relativa contra o vírus: VERDADE
Os idosos constituem grupo de risco para a gripe suína, especialmente devido a concorrência de comorbidades, ou seja, doenças prévias que debilitam o indivíduo. Contudo, pelo fato dessa geração ter entrado em contato antes de 1957 com um grupo de vírus semelhantes ao H1N1, o quadro desenvolvido poderá em tese ser menos grave em 33% dos casos com mais de 60 anos de idade.
4. Pacientes acometidos de H1N1 transmitem por uma semana a doença - VERDADE
Após o início da doença, pessoas infectadas pelo vírus H1N1 transmitirão a doença até 7 dias após o início dos sintomas. Durante esse período devem ser mantidas em isolamento.
5. Retardar o início das aulas é uma boa medida para evitar a doença - MENTIRA
Não existem evidências científicas consistentes que comprovem a efetividade da medida. A rigor durante qualquer epidemia de gripe recomenda-se evitar a presença em locais onde compareçam grande número de pessoas. Devemos considerar, contudo, que ao retardar o início das aulas os estudantes não permanecem em casa e terminam por buscar outros ambientes coletivos, como danceterias, cinemas, shopping centers, expondo-se assim à doença. Em Cingapura, no mês de julho, por exemplo, era expressivo o número de adolescentes que adquiriram a doença em danceterias.
6. Grávidas devem ser afastadas de ambientes insalubres - VERDADE
As estatísticas da epídemia por H1N1 demonstram claramente que gestantes são grupo de risco. Por essa razão é recomendável não expô-las a ambientes onde o vírus tenha maior circulação. Entretanto, não basta afastá-las por um período x ou y de dias, pois se estivermos numa curva ascendente da epidemia, quando retornarem ao ambiente, essas mulheres novamente estarão sob risco de contrair a gripe. Recomenda-se assim afastamento até o parto ou mudança do ambiente de trabalho.
7. Pacientes com SIDA (AIDS) apresentam mais insuficiência respiratória - MENTIRA
Embora ainda não esteja esclarecido por qual razão, é muito raro que pacientes com SIDA (AIDS) desenvolvam o quadro gravíssimo de Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto por H1N1. Em termos estatísticos, no Brasil, entre os internados na Terapia Intensiva por essa condição potencialmente letal apenas 1 estava em tratamento para o HIV.
8. Exames negativos afastam a possibilidade de gripe suína - MENTIRA
Os testes apresentam limites técnológicos, especialmente entre aqueles utilizados para diagnósticos rápidos. Além do tempo de evolução da doença, um aspecto importante a considerar é o uso de Tamiflu, por reduzir a carga viral e, por conseguinte, possibilitar resultados negativos de investigação laboratorial. Cabe por fim sublinhar que, na vigência de uma pandemia por H1N1 , um diagnóstico post-mortem onde sejam descritas lesões do tipo citopáticas nos pulmões, fígado e rins é sugestivo de que o desfecho decorreu devido a complicações pelo H1N1, desde que excluídas outras possibilidades infecciosas. Casos de grave insuficiência respiratória podem decorrer de uma excessiva resposta orgânica ao vírus, a ponto de ser necessário o uso de corticóides em altas doses para salvar o paciente. Contudo, não existem estudos estatísticos que definam a acurácia da microscopia eletrônica para identificar o H1N1 em tal situação. Em resumo: frente a uma situação pandêmica, a suspeita de gripe por H1N1 deve ser principalmente fundamentada em informações clínicas e epidemiológicas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Bunge e as Cinzas do Capitalismo

Nesses tempos de crise econômica mundial e suas repercussões nos mais variados campos da vida social, sempre vem ao debate questões do âmbito da filosofia e da ciência política. O texto que segue foi produzido por um dos mais brilhantes filósofos que a América Latina produziu. Dele é o clássico Causalidad (1961) - de extrema importância epistemológica para a formação científica, especialmente para epidemiologistas.
Com vocês, o argentino Mário Bunge, do alto de seus 90 anos, ativo na McGill University, no Canadá. O artigo reproduz conferência realizada no Perú.

O autêntico socialismo renascerá sobre as cinzas do capitalismo

* ** ***

A sociedade capitalista, caracterizada pelo chamado mercado livre, passa por uma grave crise. Ainda que os políticos e seus economistas nos prometam que eventualmente sairemos dela, não nos dizem como, nem quando. Não o podem fazer porque carecem de teorias econômicas e políticas corretas: somente dispõe de modelos matemáticos irreais e de consignas ideológicas desgastadas. Isto vale não só para os dirigentes neoliberais mas também para os socialistas, tanto os moderados como os autoritários. Os neoliberais não nos explicam a alquimia que transformaria a liberdade de empresa e de comércio em prosperidade; e os poucos marxistas que encontramos se regozijam com a crise que profetizaram tantas vezes, mas não propõe idéias novas e realistas para reconstruir a sociedade sobre bases mais justas e sustentáveis.

Eu creio que existam motivos práticos e morais para preferir o socialismo autêntico ao capitalismo, e que a construção do socialismo não requer a restrição da democracia, mas muito pelo contrário, requer sua ampliação, do terreno político a todos os demais. Isto é o que chamo democracia integral: biológica, econômica, cultural e política1. Semelhante sociedade seria inclusiva: não haveria exclusões por sexo nem por raça, nem exploração econômica, nem cultura exclusivista, nem opressão política.

Perguntar-se-á, com razão, se esta não será uma utopia a mais, e minha postura a de um cantamañanas. Minha resposta é que a democracia integral poderá tardar para realizar-se, mas que seu embrião nasceu há mais de um século, quando se constituíram as primeiras cooperativas de produção e trabalho na Itália, sobre a base de empresas capitalistas falidas. Um exemplo parecido, mais recente e modesto, é o movimento argentino das fábricas recuperadas; estas foram as empresas que, quando foram abandonadas por seus donos porque as consideravam improdutivas, foram a seguir ocupadas e reativadas por seus trabalhadores2. Estes são exemplos em pequena escala do socialismo cooperativista.

Se nos EUA existissem sindicatos e partidos políticos progressistas, estes aproveitariam a ocasião atual e transformariam em cooperativas as grandes empresas em bancarrota, tais como General Motors e AIG. Obviamente, semelhante mudança requer a anuência dos poderes públicos, já que envolve o reconhecimento legal das empresas “recuperadas” por seus empregados, o que ocorreu na Argentina.

Mas o que está fazendo o governo norte-americano desde final de 2008 é usar dinheiro público para resgatar essas empresas privadas falidas por má gestão. Ou seja, estão fazendo o oposto de Robin Hood. Garret Hardin3 chamou a esse processo de "socializar as perdas e privatizar os lucros”

Em resumo, um programa realista para os partidos socialistas partiria da consigna da Revolução Francesa, agregando participação popular e competência na gestão do Estado. O meio para realizar este ideal da democracia integral é: Ir construindo ela aos poucos desde abaixo com as cinzas do capitalismo, como um trem de autocombustão. Ou seja, multiplicar as cooperativas e mutualidades, renovar os partidos socialistas com uma forte dose de ciência e tecnologia social, e multiplicar os sindicatos independentes, fundar centros de estudo da realidade social, e multiplicar as bibliotecas e universidades populares.

Em suma, o socialismo terá um porvir se propuser a socialização gradual de todos os setores da sociedade. Sua finalidade seria ampliar o Estado para construir um socialismo democrático e cooperativista. Este poderia ser em prática uma versão atualizada da consigna da Revolução Francesa de 1879, a saber: Liberdade, igualdade, fraternidade, participação e idoneidade.

*Texto publicado em www.kaosenlared.net

**Tradução: Paulo Marques

*** Revisto pelo poster.

1 ) Mario Bunge, Treatise on Basic Philosophy, tomo 4: A World of Systems. Dordrecht, Boston: D. Reidel, 1979

2 .Rebón e I. Saavedra: Empresas recuperadas: La autogesión de los trabajadores. Buenos Aires, Capital Intelectual, 2006

3 Garrett Hardin: Filters Against Folly. Nueva York, Londres, Penguin

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Bond no Tucupí

James Bond residiu em Belém no final do século XIX. Ao modo do super-espião criado por Ian Fleming, o cônsul norte-americano também gostava de inovações tecnológicas. Foi ele quem introduziu os trilhos urbanos no Pará. E, acreditam alguns, assim foi incorporada a palavra bonde na língua portuguesa.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

À Francesa: Grippe

























Na história da Humanidade, epidemias sempre estiveram presentes. Antes que a ciência compreendesse o papel das bactérias, fungos e vírus na origem das doenças infecciosas o mundo as compreendia como resultado de flagelos divinos ou de contágio com emanações de máteria em decomposição (miasma). Entretanto a compreensão dos mecanismos das doenças não foram necessariamente acompanhados em paralelo com avanços no modo de tratar as doenças infecciosas. Até a descoberta e produção comercial da penincilina nos anos 40 do século passado, a medicina estava limitada a tratamentos hoje anedóticos, embora representassem a única possibilidade terapêutica que os clínicos de família tinham à mão.
A ilustração deste post foi retirada da versão digital do Dicionário de Medicina Popular, (ed. 1890) de Pedro Leão Chernoviz, disponível no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, e exemplifica como seria o tratamento recomendável para alguém acometido de resfriado. O livro é um clássico da História da Medicina Brasileira e foi bastante utilizado entre nós no século 19 , especialmente em lugares distantes, onde não haviam médicos e boticas. Na Amazônia, por exemplo, há notícias de seu uso até no primeiro quarto do século 20 tanto entre famílias da região, quanto no comércio de regatão que atendia os seringueiros nos confins da floresta.
No Dicionário, o termo grippe, de origem francesa e internacionalizado desde 1743, é descrito como termo vulgar para a descrição de bronquite epidêmica, associando-lhe um quadro clínico onde predominam a febre, a tosse, dor de garganta, vermelhidão dos olhos e prostração. O autor, como podemos observar, dá ao quadro gripal uma origem infecciosa (epidêmica), ainda que a limite como doença do aparelho respiratório, quando na verdade, hoje sabemos, ela o é sistêmica, isto é, o vírus circula por todo o organismo. Nos casos de maior gravidade da gripe suína (H1N1), por exemplo, temos lesões pulmonares, renais e hepáticas. Entretanto, no tempo de Chernoviz, os tratamentos de gripe e resfriado (hoje constipação está em desuso) não apresentavam diferenças significativas, demonstrando os limites da ciência.

Caso haja desejo de ampliar a imagem anexa, basta um duplo clique sobre ela.