quarta-feira, 14 de setembro de 2022

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Da Importância da Higiene do Sono no Hum

Ela, meia idade, entra no seu 1,20 metros acompanhada da irmã, que, calculo, tem 50 cm a mais de altura. Vai logo dizendo, mal senta:
- Estou muito nervosa, doutor... eu brigo por tudo, tenho ganas por qualquer coisa besta, até quis dar um murro na cara desta aqui ...
- Isto é verdade, Solange ?
Sim, confirma a irmã que minha paciente ficou pulando para lhe esmurrar o rosto, depois que lhe negou um cigarro.
- Mas o que houve de novo na tua vida, que possa ter relacionamento com esse nervosismo, a ponto de tentar agredir a tua irmã, amiga tua a vida inteira ?
Ela fica de pé, aproxima-se e eu me preparo para o golpe, que não acontece.
- O senhor não sabe, mas eu me casei há um mês, doutor ... e o gostoso não me deixa dormir. Estou assim, acabada, com os nervos a flor da pele, me ajude.
******* Moral da história: Nem sempre o que funciona nos faz felizes.

Independência Que Tarda



Esta foi a sessão solene das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. Eu, certamente, a pensaria de outro modo, buscando reconhecer a importância da unidade da América Latina, a partir do exemplo que representa a utopia colossal de Simon Bolívar e a onda irradiadora de libertação colonial que promoveu. Mas, como eu digo aos mais íntimos, vivemos tempos confusos, onde o raciocínio fácil sempre com vistas ao imediatismo midiático orienta vontades e ambições.
Avalio que Portugal deveria ser convidado para o evento, sem sombra de dúvida, em razão de nossa história comum, hoje felizmente pacificada. Embora tenha se ouvido o chavão sobre conhecermos o passado para construímos o futuro, ninguém em discurso disse que o primeiro país latino a reconhecer nossa Independência foi a Argentina, um ano depois do Ipiranga, na sequência de negociações para retirada de nossas tropas do Uruguai. Na História não há santos, mas ela sempre é melhor quando há homens inteiros e de boa vontade.
Outra grave omissão, e falo como Nortista nato, foi a omissão ao movimento da Cabanagem, que se insere no processo da Guerras Regenciais, e organicamente estranho à fidelidade à metrópole portuguesa, pois não pretendia um “revival” como é uso dizer hoje. Esse movimento foi a maior revolução popular que este país já assistiu até hoje, que efetivamente levou o povo a governar pelo instrumento revolucionário.
Apesar de ter tido epicentro no Grão Pará, a Cabanagem irradiou-se ao Amapá, antes Pará e depois criado por Getúlio Vargas como Território que veio a se tornar estado, e não ficou só aí, pois se estendeu até Manaus, no Amazonas. Mulheres não faltaram nessa luta, nossas caboclas de pé no chão, quilombolas, índias, negras, todas anônimas para a história registrada, embora Haroldo Maranhão, ciente desta injustiça, lhes tenha dado voz na fortaleza da personagem Puxavante, que integra o seu magnífico romance “Cabelos no Coração”, cujo enredo transcorre no período.
No Norte, quem nele nasce, sabe que naquela época a injustiça era tamanha que alguém com 13 anos, do povo, nem em sonho poderia escrever sonetos pela independência brasileira, e apenas contava para contrapor a humilhação, a fome e ao açoite, apenas a possibilidade de supera-los ao lado de iguais famélicos, deserdados de terra e teto, quase bichos vegetando na urbe colonial. Como sabiamente ensinou Chico Buarque, a dor dessa gente não sai nos jornais senão nas páginas policiais.
Como pode a oratória qualificada então esquecer dos cabanos, que dominaram a região Norte do Brasil por 4 anos, com governo e leis constituídas, e demonstram arquivos que o movimento teve contribuição intelectual de foragidos da Revolução Francesa, que estavam na respectiva Guiana, palco depois de outra luta tardia que disputamos contra a França, sob a liderança do belemense Cabralzinho, cujo heroísmo fez dele general honorário do Exército Brasileiro?
Em contrário do que possa parecer, os cabanos não protagonizaram um movimento separatista, porque sempre disseram que a luta deles não era para separar a Amazônia do Brasil, mas para que nosso povo fosse tratado com dignidade.
Com este objetivo, enfrentaram com incomparável destemor as tropas imperiais, que tiveram, como era de costume, usar dos mercenários ingleses para esmagar-nos, após derrotas acachapantes em meio a uma epidemia.
Em termos de mortos, na Cabanagem, como dimensão infame da reação, basta dizer que 30% da população local foi morta, e, depois de "pacificada" a província, os revolucionários sobreviventes, homens adultos e crianças, foram submetidos à condição de semi-escravos do Estado Imperial brasileiro por muitos anos, prosseguindo a violência com que o Estado Português tratava os sediciosos da Colônia, dos quais o Tiradentes, protomártir da Independência, constitui exemplo máximo da selvageria da metrópole portuguesa.
Vocês já imaginaram ter um ente querido enforcado e o cadáver vilipendiado, esquartejado, desmembrado cabeça, quartos, tronco, braços e pernas, e depois fincados ao longo dos caminhos para que o tempo e os bichos os devorassem, como exemplo aos olhos de quem passasse ?
No Panteão da Inconfidência Mineira estão aqueles que dela participaram, mas faltam justamente os restos mortais do alferes, que nem a vala comum lhe foi reservada. Desaparecidos políticos, neste país, vêm de bem longe.
O processo da Independência vai assim como onda para além do que foi citado corretamente, de que são exemplos em termos de Norte tanto a Cabanagem quanto a Questão do Acre e do Contestado Amapaense.
Porém, o demônio mora nos detalhes dos discursos desta solenidade, serão eles a revelar a altura da seriedade dos homens, distinguindo entre quem contorne, habilmente com elegância e os que desastradamente omitam gentes e fatos. De A a Z lamento pelo serviço do espetáculo.