sábado, 29 de maio de 2010

Um Falcão na Academia de Letras da Bahia






















Ontem à noite recebi com alegria a notícia de que meu amigo João Falcão, grande memorialista da literatura baiana e brasileira, fora eleito para a Academia de Letras da Bahia. O ex-proprietário do Jornal da Bahia será o titular da cadeira número 35, que tem como patrono o médico, ex-vice presidente da República e senador Manoel Vitorino Pereira.
Conforme recordo de Ruy Barbosa, a escolha de homens como João Falcão fortalece o princípio maravilhoso que senhoreia nossos espíritos, testemunha aquela liberdade que as instituições devem ter para a escolha de seus pares nos altiplanos de pensamento que dignificam os valores da democracia, da paz e da igualdade entre homens e povos.
Parabéns, doutor Falcão.

terça-feira, 25 de maio de 2010

No Salão Hillary Faz a Alegria do Maestro


Presidente Eisenhower despede-se da presidência (1961)

Dizem que nada melhor que uma guerra para por de pé uma economia industrial em crise. A dedicação da secretaria de estado Hillary Clinton em fazer naufragar o Acordo Diplomático Turquia-Irã, mediado pelo governo brasileiro, tem uma única razão que apenas a mídia brasileira parece desconhecer como fosse querubim, daqueles cacheados e gordinhos que inofensivos assistem missas nas igrejas barrocas brasileiras.
A razão da Sra. Clinton para ensaiar uma valsa antipática à diplomacia estão explícitas aqui e aqui. Causa idêntica a que o general Eisenhower se referiu em seu famoso discurso de despedida da Casa Branca, quando a descreveu como potencial risco aos valores democráticos do pais se os objetivos de mercado do complexo industrial militar se confundissem com os objetivos dos governos, e vice e versa, fossem eles de responsabilidade de democratas ou de republicanos.

Atualizando com base no discurso do presidente Lula, por ocasião da cerimônia de abertura da IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (27/05/2010): O acordo assinado não difere daquele que a AIEA havia proposto e o Irã vinha se recusando ratificar. Mesmo assim os cascos da cavalaria se fazem ouvir cada vez mais próximos...

Bairrismos das Ciências











Os psicólogos: a Sociologia é apenas Psicologia aplicada.
Os biólogos: a Psicologia é apenas Biologia aplicaca.
Os químicos: a Biologia é apenas Química aplicada.
Os físicos esnobam: Ora, tudo é Física aplicada, e como é bom ficar no topo do conhecimento científico.
Aí os matemáticos se fazem ouvir: Pessoal, todos os caminhos vão daqui pra aí!

Suicidio e Trabalho: O Caso Foxconn


Haverá quem se admire, talvez, de que a questão possa ser colocada.
(Emille Durkheim. O Suicído - Estudo Sociológico. Paris, 1897)

O suicídio constitui uma das chamadas zonas de sombra e silêncio da sociedade. A análise, por exemplo da casuística brasileira, evidencia claramente que essa causa de morte violenta está subnotificada. No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul apresenta a maior incidência (número de casos novos/unidade temporal) entre as unidades da federação. Na França o problema vem crescendo de forma consistente, apesar de uma curiosa previsão no Código Penal francês que prevê penalidade para o crime de alguém induzir outrém ao suicídio.
Tabu certamente por razões morais e religiosas no mundo ocidental, o suicídio tem sem dúvida relações com o mundo econômico, independente de outras inferências que concorram para a existência do fenômeno.
A Foxconn é uma empresa com sede em Taiwan, que se constitui em uma das maiores fabricantes mundiais de componentes eletrônicos e de computadores. Seus produtos estão fortemente associados a marcas como Apple, Dell, Hewlett-Packard (HP), Sony, Nintendo e Microsoft. A empresa chinesa é portanto um peso pesado de uma gigantesca cadeia produtiva que movimenta bilhões de dólares e alavanca fortunas e reputações que a mídia alça a condição de superstars. Entretanto na fábrica de Shenzhen, na China continental, há sinais constantes de que algo grave está consumindo a força laborativa da empresa. Novos funcionários assinam contratos ilegais de trabalho, sendo pelas cláusulas obrigados a cumprimerem horas extras entre 60 e 100 horas mensais.
Há denúncias de assédio moral, de redução dos já baixos salarios ou do bônus que o melhora por razões relacionadas a conflitos entre gerentes e trabalhadores na linha de produção. Com isso cerca de 12,5% da força de trabalho contratada, ou 50 mil pessoas, abandonam mensalmente a fábrica. Não se sabe se na condição de demissionários ou de demitidos. Mas o pior de tudo é outra estatística, representada pelo índice alarmante de suicídios dos trabalhadores. Em apenas 5 meses do ano de 2010, cerca de 10 pessoas, ou 2 pessoas por mês, empregadas da Foxconn mataram-se.
O estudo dos epidemiologistas Estela Meneghel, César Victora e colaboradores sobre a questão do suicídio no Rio Grande do Sul encerra com uma advertência que bem explica a tragédia chinesa aqui comentada:

Quando o suicídio acontece preponderantemente em um grupo etário, étnico, profissional ou isolado geograficamente, pode-se indagar se esse evento estaria funcionando como barômetro indicador de pressão na sociedade.

Eu escrevo esse texto em um iMac equipado com um microprocessador da Intel, duas marcas de empresas riquíssimas do mercado de informática. Aqui, sobre a mesa, a minha direita está o clássico O Suicídio de Emille Durkhein, o meu iPhone e o meu iPod carregando suas baterias. Uma coincidência que apenas fortalece o que eu pensava quanto a essas empresas estabelecerem um selo de qualidade não só energético (Energy Saver), mas outro de ordem humanamente necessária desde que Karl Marx um dia cunhou seu famoso Proletários do Mundo, Uni-vos: a criação de um selo que garanta ao consumidor que o produto de alta tecnologia adquirido foi fabricado em condições decentes de relações de trabalho, de não desprezo com a vida humana.

Revendo Oliver Sachs

Oliver Sachs é um médico neurologista com uma obra literária que articula saberes da antropologia, sociologia, biologia e medicina. Suas opiniões refletem sempre uma inteligência aguçada, mas, sobretudo uma sensibilidade cada vez mais rara na medicina atual. Aqui, a sua entrevista completa no Roda Viva em 1997.

domingo, 23 de maio de 2010

Google Earth: O Tamanho da Encrenca

O blogue Alexander Higgins oferece com base no Google Earth um recurso didático para o leitor avaliar comparativamente o tamanho da mancha de óleo derramada no Golfo do México. Calcule por exemplo, aqui, a relação entre a extensão da mancha e a cidade em que você mora. É impressionante a magnitude desse desastre ecológico.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Malária x Alterações Climáticas: Pesos & Medidas

A associação de mudanças crescentes de temperatura à epidemiologia da malária em teoria está justificada pelos conhecidos efeitos biológicos que as diferenças de temperatura provocam no ciclo de vida do vetor Anopheles e do Plasmodium. Contudo tais efeitos não agem de forma isolada, e avaliações empíricas serão válidas apenas se o papel e a influência relativa dos fatores não climáticos forem considerados. A interpretação óbvia é de que a recessão global observada nos casos de malária desde 1900 é que fatores não-climáticos, principalmente aqueles relacionados diretamente ao controle da doença e os efeitos indirectos de um século de urbanização e desenvolvimento econômico, embora espacialmente e temporalmente variáveis, exerceram uma influência substancialmente maior na extensão geográfica e intensidade da malária durante o século XX do que os fatores climáticos. Esta simples inferência é consistente com outros estudos que analisaram as forças históricas climáticas e antrópicas e demonstraram importantes implicações para o debate sobre a importância das alterações climáticas na determinação de cenários futuros da malária.

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Trecho de carta publicada na edição da Nature (20/05/2010) em que os autores Gethi, Smith e Patil e colaboradores discorrem com elegância sobre as relações entre alterações climáticas e a prevalência/indicência da malária no mundo. O artigo na íntegra e sem ônus está disponível para leitura.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Enfisema: Prevenir É o Melhor Remédio

O Receptor Mamífero para Rapamicina – mTOR – é uma proteína do tipo quinase relacionada ao funcionamento das células. O mTOR está associado à regulação do crescimento e da proliferação celular, à síntese de proteínas orgânicas e ao equilíbrio de radicais livres, substâncias altamente lesivas às funções celulares. Além dessas propriedades, estudos científicos demonstram também que o mTOR funciona desregulado em várias doenças, como alguns cânceres. O conhecimento das sempre crescentes funções dessa proteína-kinase constitui fronteira do conhecimento científico para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos inovadores.

Em 16 de maio, nesta semana, a Nature Medicine * publicou artigo que descreve uma outra função da mTOR associada aos mecanismos de lesão que levam ao enfisema pulmonar, uma doença incapacitante e terminal que afeta a 15-20% da população de fumantes. O estudo demonstra que a inibição da mTOR pela molécula Rt801 leva ao acúmulo de radicais livres intracelular, enquanto ao mesmo tempo ela ativa outra molécula que dispara sinais químicos para o estabelecimento de um processo inflamatório que no longo prazo termina por promover o desarranjo da arquitetura dos tecidos alveolares.

As evidências experimentais demonstram que a fumaça do cigarro está correlacionada a maior produção da molécula Rt801 nas células alveolares, demonstrando a função crucial que a molécula possui para o desenvolvimento do enfisema pulmonar experimental. O achado também é consistente com o fato de que a inibição do mTOR pela Rapamicina está associada ao desenvolvimento de processo inflamatório. Os pesquisadores pretendem agora prosseguir as pesquisas em primatas não humanos, passo fundamental para confirmar os achados em ratos e, certamente, iniciar as pesquisas farmacêuticas que tenham por objetivo desenvolver uma molécula que bloqueie a Rt801 e assim tratar o enfisema pulmonar e talvez a bronquite crônica.

Está claro que a evolução tecnológica é o que todos almejamos na medicina, mas, para mim, tão mais claro e desejável é a necessidade das autoridades públicas de saúde continuarem o investimento em educação e em medidas legais que reduzam a influência da indústria tabageira sobre a sociedade, especialmente entre os jovens. O desenvolvimento de um medicamento inibidor da Rt801 sem dúvida é importante, mas jamais pode representar um estímulo ao tabagismo sem riscos.

* Rtp801, a suppressor of mTOR signaling, is an essential mediator of cigarette smoke–induced pulmonary injury and emphysema.

A Questão Nuclear do Irã: Cenário e Personagens de um Enredo Petrolífero




































































Com respeito ao ruidoso affair relacionado ao domínio da tecnologia nuclear pelo Irã, algumas questões merecem esclarecimento para o público. Em primeiro lugar é necessário recordar alguns pontos cardeais para que o leitor possa se situar no cenário em que se desenrola a disputa por enquanto diplomática. Isto significa clarificar algumas questões de domínio público relacionadas às partes em litígio, o que significa reconhecer que:

  • O Irã é uma república religiosa islâmica ortodoxa, que há mais de 30 anos tem se mostrado hostil aos EUA e a Israel, desde que o aiatolá Khomeini depôs o aliado Xá Reza Pahlevi no final da década de 70.
  • Em termos energéticos, considerando dados do BP Statistical Review of World Energy, publicado em 2004, o Irã é o terceiro maior produtor mundial de petróleo, com reservas estimadas para durar em média 95 anos.
  • As pretensões de hegemonia mundial dos EUA nos campos da política e da economia são necessariamente balizadas pela questão energética. O país é o maior consumidor mundial de produtos derivados do petróleo, consomindo 3 vezes mais petróleo do que produz. Ao fazê-lo, como seria de esperar, torna-se o líder na emissão de CO2 na atmosfera, sem que demonstre uma disposição de efetivamente associar-se as recomendações do Protocolo de Kyoto.

Está claro que estamos diante de um conflito de interesses que envolve grandes riscos, especialmente se considerarmos que está em curso no Oriente Médio uma guerra localizada no Iraque desde 2003, declarada sob a alegação de que esse país pretendia dominar a tecnologia nuclear para fins militares, além de fabricar armas de destruição em massa. Em que pese Sadam Hussein ser um criminoso político que deveria ser julgado em Haia, o fato é que iniciada a guerra nunca essas armas foram encontradas pelos exércitos de ocupação liderados pelos EUA.
Logo, sem desconsiderar a vociferante retórica do presidente iraniano Ahmadinejad, o que podemos estar assistindo nesse momento é uma bem montada operação para os EUA constituirem uma favorável estabilidade de fornecimento de petróleo no Oriente Médio, visto que a queda de Ahmadinejad significará o controle político e militar de 96% da produção de petróleo na região, que por sua vez representam 64,5% da produção mundial. Some-se a isto o fato de que o regime dos aiatolás representa o único estado capaz de fornecer suporte moral e material às forças militares palestinas que hostilizam permanentemente o estado de Israel.
Mas tal necessidade se torna mais estratégica na medida em que a relação reserva/produção norte-americana ou R/P (quantidade remanescente de recurso não renovável autóctone expressa em anos), considerando dados de 2008, é calculada em 8 anos. No caso do Brasil, sem o Pré-Sal, a R/P é de 14 anos. O domínio político de 96% das reservas petrolíferas do Oriente Médio, portanto, significa a estabilidade de fornecimento de óleo crú por ao menos 500 anos, tempo suficiente para a substituição da atual matriz energética fundamentada em combustível fóssil.
A possibilidade do retorno do Irã à mesa de negociações, mediado pela diplomacia brasileira, desde o início gerou manifestações de incrédula hostilidade, tanto procedentes da Europa quanto da Casa Branca. É sabido que a Europa tem uma longa história de desconfiança com a Turquia, apesar do país ser aliado na OTAN. Quanto a Casa Branca é de se estranhar face as sinalizações recebidas pelo Itamaraty no processo de construção do acordo. A divulgação de um rascunho de documento do Conselho de Segurança da ONU, em que são impostas sanções pesadas ao Irã não pode ter o objetivo de criar terreno propício para que o acordo assinado na semana passado frutifique, mas certamente expressa a influência de políticos linha dura e o desejo da Casa Branca em amenizar as relações pouco auspiciosas com o Congresso .
Ao tempo dos governos Bush senior e Bush junior, analistas justificavam o uso do grande porrete (big stick) nos assuntos energéticos e do Oriente Médio com base na pesada doação que empresas petrolíferas haviam feito para a eleição dos líderes republicanos. Não sabemos o quanto esses interesses econômicos doaram para a campanha eleitoral do presidente Obama, que no momento tem se mantido estranhamente calado sobre os últimos acontecimentos da questão iraniana. Sabe-se, contudo, que petrodólares irrigaram fortemente o fundo milionário que lastreia a fundação do ex-presidente Bill Clinton, a ponto de ele ter de apresentar justificava publica por ocasião em que a sua esposa, a atual secretária de Estado Hillary Clinton, então disputava as prévias do Partido Democrata com o atual presidente estadunidense.
Não menos estranho é o silêncio da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) sobre o acordo Turquia-Irã, considerando que caberia a instituição dar o próximo passo no processo e firmar-se institucionalmente, ao modo como o fez nos meses que antecederam a invasão do Iraque pelas forças de coalizão, quando contradisse o alardeado uso de energia nuclear para fins não pacíficos, que não existia. Não é possível que o atual diretor geral, Yukiya Amano, nada soubesse do acordo, especialmente depois de encontrar-se com o ministro das relações exteriores do Irã no final de abril passado.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dossiê Sócioambiental

O Instituto de Estudos Avançados da USP lança o número 68 da revista USP Estudos Avançados. Dossiê/ Teorias Socioambientais, dedicado ao geógrafo Aziz Ab Saber. Leitura indispensável a quem tem interesse no tema ambiental. Edição integral aqui.

STJ e Pegui-Interferon: A História Completa

A Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, em 2002, na gestão dos Srs. José Serra e Barjas Negri (PSDB/SP), publicou a portaria 863/2002 - Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Tratamento da Hepatite C Viral Crônica -, apenas para o tratamento de pessoas doentes com hepatite C provocada pelo sorotipo viral-1. A portaria ao normalizar produzia o equívoco de fazê-lo sobre um medicamento novo para o qual a própria ciência havia produzido evidências pouco robustas que recomendasse a incorporação ou não da tecnologia.
Os gestores pareciam desconher o princípio de que a falta de evidência não significa ausência de evidência. A cautela recomendaria que face a evidente ausência de estudos científicos confiáveis à época a portaria-protocolo registrasse esta situação e, enquanto isso, financiaria pesquisa no Brasil que desse ao governo a confiança necessária para proceder a incorporação. Está claro que, naquele ano, o processo da judicialização da saúde já se encontrava bastante avançado e o cidadão a que o médico prescrevesse o medicamento poderia buscá-lo por medida judicial em caso de indeferimento administrativo.
Nos anos seguintes as pesquisas clínicas sobre o uso do interferon peguilado na hepatice C começaram a produzir evidências mais confiáveis quanto a valor do medicamento no mundo doloroso e real dos pacientes. Mas, independente desse fato, em 2003, no início do governo do presidente Lula foi criada no âmbito do Ministério da Saúde a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, com a responsabilidade de fazer o fomento a pesquisas de interesse estratégico para o SUS e a gestão da assistência farmacêutica.
Estava criado por essa medida o espaço institucional que em termos institucionais estaria relacionado à questão do interferon pequilado e a de outros medicamentos considerados não rotineiros. Para articular os diferentes atores relacionados a incorporação de produtos de saúde, em 2006, a secretaria passaria a contar com a Comissão de Incorporação de Tecnologias (CITEC), instituída por portaria do gabinete do Ministro, iniciativa francamente elogiada por gestores, academia e indústrias do complexo tecnológico da saúde.
Entre os produtos gerados por esse esforço de governo está sem dúvida a portaria num. 34 de 24 de setembro de 2007, que institui o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C. Nesse documento lê-se textualmente o que representa um avanço substancioso em relação a portaria anterior, produzida com açodamento e extemporaneidade:
Pacientes não-respondedores após tratamento com interferon convencional associado ou não à ribavirina, independente do genótipo, poderão ser tratados com interferon peguilado e ribavirina, devendo completar o esquema até a 48ª (quadragésima oitava) semana, desde que seja documentada a presença de Resposta Virológica Precoce na 12ª semana de tratamento (negativação ou redução de 2 log (100 vezes) do HCV-RNA, detecção por tecnologia biomolecular de ácido ribonucléico (teste qualitativo) em relação ao nível prétratamento.
Dai porque a mim soa estranho a conduta da administração tucana de Curitiba (PR) em negar atendimento ao pedido de um doente acometido de hepatite C, não-respondedor ao interferon convencional, para que recebesse o interferon peguilado, utilizando para isso o governo municipal de uma argumentação eivada de erros conceituais, além - pasme! - do defasado protocolo clínico de 2002. Ontem, a 1a. turma do Supremo Tribunal de Justiça fez a coisa certa: deu ao cidadão Keigi ganho de causa, ainda que o juiz relator não citasse a nova portaria publicada em Diário Oficial da União, há dois anos passados.
Kemmer N e Guy W N. Managing chronic hepatitis C in the difficult-to-treat patient (Set.2007)

Sombra e Água Fresca Dão Força a Dengue



























Já havíamos abordado o assunto bem antes. Mas a situação dos estados da federação brasileira permanece deveras preocupante, conforme demonstram os primeiros parágrafos do Informe Epidemiológico da Dengue/ Análise da Situação e Tendências - 2010, publicado pela Secretaria de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde:
A distribuição dos casos notificados de acordo com as regiões do país é a seguinte: Centro-Oeste com 108.881 (47,9%), Sudeste com 65.557 (28,9%), Norte com 37.030 casos (16,3%), Nordeste com 11.960 casos (5,3%) e Sul com 3.681 casos (1,6%).
Os estados com maior incidência da doença durante o período foram Acre (1.732,4 casos por 100 mil habitantes), Mato Grosso do Sul (1.334,9 casos por 100 mil habitantes), Rondônia (1.248,5 casos por 100 mil habitantes), Goiás (849 casos por 100 mil habitantes) e Mato Grosso (778,8 casos por 100 mil habitantes). O Estado de Minas Gerais também se destaca pelo total de 48.723 casos notificados, com incidência de 243,2 casos por 100 mil habitantes e São Paulo com 11.875 casos, este ultimo equivalendo a maior proporção de aumento em 2010 (1.114,2%) entre as unidades federadas.
É inadmissível que os governos estaduais e municipais continuem levando a dengue na valsa, especialmente porque o Ministério da Saúde tem repassado recursos suficientes. Prova disso está em que ainda não vi governador ou prefeito irem a mídia para dizer que não há dinheiro para controlar a doença.

Para uma leitura completa do Informe Epidemiológico, o acesso é aqui.

Gráficos são das Secretarias de Saúde do Estado de Minas Gerais e São Paulo, extraídos de documentos publicados em 2010. Clique sobre eles para expandir a imagem.

sábado, 8 de maio de 2010

Anvisa, Nota 10

Esta semana a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi submetida a rigorosa avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo foi verificar se a agência brasileira respondia aos critérios para ser considerada orgão de referência para a OMS. Ontem, à tarde, saiu o resultado: Anvisa é nota 10.
A nota certamente reflete o compromisso institucional de uma equipe técnica formada por jovens, altamente profissionais, que foram selecionados por concurso público em 2004. Na América Latina e Caribe, além do Brasil, apenas os orgãos reguladores sanitários do Chile e da Argentina foram consideradas até o momento aptos.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Areias Betuminosas Sob Acusação


























James Cameron continua em cartaz no lado de baixo do Equador, agora acompanhado do talento e da beleza das pernas da atriz Sigourney Weaver. Entretanto, quando o assunto é o petróleo betuminoso no Canadá e a sua correspondente agressão ao meio ambiente, o diretor canadense faz cara de paisagem, esteja só ou acompanhado.
Também, como é dito no Norte, o porco não se esfrega em pupunheira*. Por ser garoto tão esperto quanto nossos caboclos, Cameron sabe que falar sério com o cartel do petróleo não é um passeio em país tropical: é arrumar inimigo poderoso para o resto da vida.
Caravana Roliúde** a parte, Le Monde Diplomatique pauta o dano ambiental provocado pela economia do petróleo no Canadá, demonstrando que o assunto está na ordem do dia tanto quanto Belo Monte, o projeto da hidrelétrica brasileira no Pará que o diretor de Avatar faz de cavalo de batalha; ou melhor, de pano de fundo para garantir mídia e platéia para o seu caríssimo filme de ficção científica.
Como leio no primeiro parágrafo da matéria publicada no jornal francês:
Enquanto o derramamento de 800 mil litros de óleo chamam atenção do mundo, em outros lugares problemas ambientais relacionados ao petróleo são tratados com indiferença. Como em Alberta, no Canadá, onde o dano ambiental da extração de petróleo das areias betuminosas e do seu necessário refinamento corresponde a um desastre por ano, na medida do que aconteceu no Golfo do México.

*Dito popular sobre prudência e esperteza. A pupunheira (B. gasipaes) é especie vegetal nativa da flora da América Central e Amazônia, conhecida pela excelência de seu fruto, a pupunha, muito apreciada na culinária regional. A palmeira de porte magnífico tem o caule coberto de espinhos (v. foto), que podem alcançar até 7 cm de comprimento. Possui perfil econômico sustentável para a indústria do palmito
** Se Cacá Diegues criou a Caravana Rolidai no filme Bye-bye Brazil, por que não vermos na dobradinha Cameron-Weaver a Caravana Roliúde? Data venia o filme de Diegues ser uma das mais sérias leituras cinematográficas já feitas sobre o Brasil.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Science: Saúde de Cuba É Reconhecida

Os EUA sempre tiveram um sistema de saúde caro, ineficiente e excludente. Quando o presidente Obama assumiu a Casa Branca haviam, salvo engano, mais de 40 milhões de norte-americanos a margem ou parcialmente cobertos pelos poderosos planos privados de saúde. Como o acesso ao cuidado em saúde é mediado financeiramente, distorções, brechas e iniquidades foram se acumulando na medida em que oscilava a oferta de emprego, o envelhecimento populacional e a incorporação de inovações tecnológicas de alto custo.
Motivado politica e moralmente, Obama foi ao Congresso e aprovou o plano que pretende melhorar a efetividade do sistema de saúde dos EUA. A batalha foi dura e o presidente não saiu de lá com o plano que desejava, mas com aquele que foi possível aprovar. Mas, sem dúvida obteve um resultado meritório a ponto do mais notável crítico cubano dos EUA, Fidel Castro, vir a público e elogiar o esforço do presidente democrata em favor de quem por não ter como pagar os melhores planos de saúde, tem diferentes chances para acessar níveis assistenciais.
Na semana passada a prestigiada revista Science publicou artigo que aborda de forma clara e objetiva as conquistas do governo cubano na área da saúde, mesmo com o país constrangido pelo bloqueio econômico norte-americano, que dura 50 anos. E assinala quantas lições existem ali, úteis para a construção nos EUA de um sistema de saúde mais justo e eficiente. O original inglês está disponível na Science. A tradução em espanhol aqui, na página Cubadebate.

domingo, 2 de maio de 2010

Os Vulcões Brasileiros


















Ilha de Trindade, costa brasileira, Atlântico Sul. Autor anônimo.

Disse um poeta que o Brasil é uma terra abençoada por Deus e bonito por natureza. Lirismos à parte, de fato, no quesito vulcões e suas erupções temos enorme vantagem comparativa em relação a outros países.
A Ilha de Trinidade e outras ilhotas satélites está situada a 1.100 km da plataforma continental brasileira, próximo ao estado do Espírito Santo, e é considerada um vulcão sem atividade. As pequenas ilhas representam o território brasileiro mais afastado do continente com importância militar e científica devido a sua proximidade da fossa oceânica, que é sítio de instabilidade geológica para atrito de placas tectônicas e atividade vulcânica .
No final do século XIX, com objetivo de garantir sua supremacia no Atlântico Sul, a Inglaterra ocupou-a e tentou se apropriar do pequeno arquipélago, mas foi dissuadida pela pronta intervenção diplomática do Brasil sob a liderança do extraordinário Barão do Rio Branco.
Hoje a ilha é sede do Posto de Observação Oceanográfica, onde trabalham cerca de 32 militares da Marinha de Guerra do Brasil, especializados na coleta de dados maregráficos, sismológicos e meteorológicos naquela região. No arquipélago existem 5 vulcões acima da linha dágua oceânica. A última erupção contudo aconteceu há 50 mil anos.
Tal qual acontece nos terremotos, a ciência ainda não consegue estabelecer com exatidão quando um vulcão voltará a atividade, ou se irá extinguir-se em definitivo.

EVA, AD 2000



O British Pathe, um dos mais antigos produtores de filmes, realizou em 1939 este curta como exercício de futurologia tecnológica. A pergunta que pretendiam responder era a seguinte: o que as pessoas vestirão no ano 2000? Para assistir basta clicar sobre a fotografia. Depois riam até não poder mais.