domingo, 12 de dezembro de 2010

Cólera: o Velho e o Novo do Mesmo

Então com indômita violência atacou a cólera toda a cidade,
varejou as casas dos ricos e pobres, as espeluncas imundas
como os palácios asseados;
antes que o mês terminasse,
podiam-se já contar sem exagero
seis a sete mil atacados,
isto é, mais de um terço da população.

(Arthur Vianna. As Epidemias no Pará. Diário Oficial, 1906)


O cólera foi descrito pela primeira vez por Robert Koch em 1883, trinta anos depois de termos os primeiros casos da doença no Brasil. A primeira epidemia brasileira surgiu em Belém, na então província do Grão Pará, em que aportara o navio Defensor, procedente de Portugal, como transporte de colonos portugueses para a Amazônia. Na ocasião, havia epidemia de cólera na Espanha e em algumas cidades portuguesas, sem contudo haver registro de sua presença na cidade do Porto, de onde o navio levantara suas âncoras em direção ao Brasil.
Segundo o clássico de Arthur Vianna (Op. cit.), as condições higiênicas de bordo eram péssimas, propício à transmissão de doenças infecciosas entre os passageiros. Contudo, apesar do governo imperial e do Pará estarem alertas sobre a epidemia de cólera na Europa, a saúde dos portos paraenses errou ao acreditar nas palavras tranquilizadoras do médico de bordo, e apiedada com a condição dos colonos, liberou o navio da quarentena e autorizou o desembarque. O erro foi gravíssimo, pois os registros de bordo evidenciavam que 36 passageiros haviam falecido de um quadro diarreico agudo e incontrolável, compatível com a clínica coleriforme.
A primeira epidemia brasileira de cólera foi, em consequência do estado da arte da ciência médica e das condições sanitárias existentes na época, uma verdadeura tragédia nacional. Rapidamente a doença se disseminou pelo país, acometendo a população das capitais e das cidades polo de atividade econômica; tanto a brancos, quanto aos escravos e índios, na cidade e no campo. Conta Lycurgo Santos Filho (História Geral da Medicina Brasileira. USP, 1991) que em Santo Amaro, na Bahia, a mortalidade foi tamanha que a administração pública autorizou a incineração dos mortos pela impossibilidade de dar-lhes enterro convencional.
O governo imperial reuniu então os médicos e os acadêmicos de medicina do país e os despachou para as cidades do Norte e do Nordeste para auxiliar nos trabalhos. Vários deles pereceram da doença junto com outras autoridades, dentre as quais o próprio presidente da Província do Grão-Pará, Angelo Custódio Correa, que se deslocara em socorro de Cametá, então a segunda maior cidade paraense, uma terra que a epidemia tornara inabitável - de onde todos procuram fugir! - como registrou a imprensa na época.
A cólera depois de sua entrada triunfal entre nós no século XIX sempre esteve presente como surto ou epidemia. Segundo alguns historiadores, na Guerra do Paraguai afligiu impiedosamente os soldados em luta, conforme os horrores descritos na Retirada da Laguna, de Taunay. Nos anos 90, a partir de uma epidemia no Perú, a doença voltou a entrar no Brasil. Por essa época, entre 1991 e 1994, foram registrados mais de 100 mil casos e pouco mais de 1000 óbitos.
O mais recente aparecimento da cólera no continente foi no Haiti, país caribenho devastado por guerra civil, corrupção, pobreza e catástrofes naturais. Nesse caso, porém, há uma característica importante a ser destacada com respeito a doença, que é o fato de ser provocada por um novo tipo de vibrião cólera que pela primeira comparece nas Américas. A introdução da variante do Sul da Ásia pode ter graves consequências para além da população haitiana, caso não se estabeleça efetivo controle sanitário. O tipo introduzido de vibrião cólera possui maior resistência aos antibióticos além de maior capacidade de provocar formas graves da doença, elevando a curva de mortalidade a ela relacionada. Segundo um grupo de pesquisadores, em artigo publicado este mês no The New England Journal of Medicine, é provável que no ecossistema caribenho aconteçam trocas de material genético entre o vibrião relacionado à cólera clássica, já antes presente na região, e o novo, com o risco de aumentar ainda mais a virulência do microorganismo. A despeito dessas complexidades genéticas, está claro que a oferta de saneamento adequado, a implantação de medidas de educação em saúde e a oferta de água potável à população do Haiti, assim como a restauração da democracia nesse país, são fatores essenciais para controlar e prevenir a propagação da doença.

sábado, 11 de dezembro de 2010

As Muitas Saudades da Carmela





















A matogrossense Carmela Rebuá de Mattos gravou seu primeiro disco aos 82 anos, acompanhada da filha Alda de Mattos, ao piano. Desse encontro de gerações surgiu o independente Enquanto Houver Saudades, que eu considero entre os melhores do ano. No CD, dezesseis clássicos populares são relembrados por Carmela em interpretaçoes muito delicadas, entre as quais destaco as composições dos paraenses Waldemar Henrique (Noite de São João [1935], Minha Terra [1932], Uirapurú [1934] Tamba-Tajá [1934]), e Jayme Ovalle (Azulão). À venda na Livraria Cultura.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Fiocruz Amplia Biossegurança

Fiocruz publica nova edição, revista e ampliada, de Biossegurança: uma Abordagem Multidisciplinar. A primeira edição do livro pioneiro data de 1996 e, desde então, se tornou referência nacional sobre o tema para as àreas de saúde pública, biologia e medicina experimental. Para o pesquisador Pedro Teixeira, que organizou a nova ediçãoe em parceria com Silvio Valle, os ensaios que compõem a coletânea transitam pelo tema da biossegurança, entendida como proteção ao trabalhador de saúde na pesquisa e na assistência, cobrindo também as áreas de esterelização química, proteção radiológica e organização de laboratórios de saúde pública. O livro pode ser adquirido na livraria da Associação Brasileira de Saúde Coletiva - ABRASCO.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Brasil do Futuro em 3 Artigos da Science

























Ciência Brasileira: Dando Fluência a Nascente (Antonio Regalado. Science 3 December 2010: Vol. 330 no. 6009 pp. 1306-1312 ).

Nos últimos oito anos, o maior país da América Latina começou a se mover. Sua economia está crescendo rapidamente e tornou-se um jogador nos assuntos mundiais, demonstrando uma auto-confiança sem precedentes. Os bons tempos estão levantando a ciência também. Entre 1997 e 2007 o número de artigos brasileiros em revistas indexadas e peer-reviewed mais que dobrou, alcançando 19 mil por ano. Segundo a Thomson Reuters, o Brasil já ocupa o 13 o. lugar mundial em publicações científicas, tendo ultrapassado a Holanda, Israel e Suíça. As universidades brasileiras dobraram o número de doutores formados este ano e milhares de novos postos de trabalho acadêmico abriram em 134 novos campi federais. É o sorriso da fortuna para uma nação que, durante a década de 1990, foi marcada por terríveis problemas econômicos. Mas o Brasil não é formidável, sua produção científica ainda é uma trilha de ambições. O país produz poucos trabalhos de alto impacto e apenas uma pequena parcela de patentes. Seu sistema de educação pública primária e secundária tem problemas de organização, deixando a nação de 195 milhões de habitantes com escassez crônica de trabalhadores técnicos.

Talentosos, mas sub-financiados: Os Futuros Cientistas do Brasil. (Antonio Regalado. Science 3 December 2010: Vol. 330 no. 6009 pp. 1306-1312).

Reinaldo Sousa dos Santos, de 25 anos, é um Ph.D. Candidato à professor no departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é um morador do Parque União, favela populosa onde os moradores vivem sob o jugo de narcotraficantes. José Eduardo dos Santos deve sua trajetória da favela para a bancada de laboratório ao seu mentor, Leopoldo de Meis (72 anos), professor de bioquímica da UFRJ. Em 1985, de Meis começou a oferecer um curso prático de ciências para adolescentes de baixa renda, que denominou Jovens Talentos. Dos Santos foi matriculado quando tinha 14 anos, já orfão, um ano depois que seu pai morreu. O Brasil deve reescrever milhares de histórias como a de José Eduardo dos Santos, se pretende superar suas profundas divisões sociais e atingir o sonho nacional de se tornar um jogador importante na investigação científica mundial. Muitos dizem que a tarefa deve começar com melhoria de escolas públicas, onde professores mal pagos oferecem aulas na base da decoreba.

As Recompensas dos Barris do Pré-Sal (Antonio Regalado, (Antonio Regalado. Science 3 December 2010: Vol. 330 no. 6009 pp. 1306-1312 )

Três anos atrás uma broca atingiu reservas de petróleo depositadas a grande profundidade, na costa do Brasil. A Petrobrás, a empresa petrolífera brasileira, desde então delimitou campos submarinos estimados para produzir cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás natural, ou cerca de três vezes o tamanho do reservatório em Prudhoe Bay, no Alasca. O Pré-Sal trouxe aos brasileiros promessas de novas riquezas e a expectativa de que o Brasil vai subir ao topo em ciência e tecnologia, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que denomina a exploração dessas reservas como "a segunda Independência do Brasil", definiu que as receitas derivadas da economia do petróleo do Pré-Sal serão aplicadas preferencialmente em projetos de educação e saúde pública. Contudo, no processo, a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias serão os primeiros a se beneficiar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Uma Onda da Pesada

O navio de cruzeiro Clélia II estava na Passage Drake na Antártica, quando foi atingido por onda de 30 pés de altura (9 metros). O impacto danificou um dos motores, desligou o sistema de comunicação e quebrou vidros de janelas, deixando o navio a deriva. Nenhum dos 160 passageiros foi ferido e com a ajuda de um barco da National Geographic, que estava próximo, foram rebocados em segurança para a Argentina. No YouTube impressiona a agitação do mar na região.

WikiLeaks: Perguntas Sem Respostas



















O assunto WikiLeaks está em ebulição nas redes sociais. Contudo não me impressiona o fato de documentos governamentais reservados serem levados a curiosidade pública, visto que a história está repleta de casos sérios e jocosos; dos segredos atômicos às indiscrições na alcova do príncipe Charles com a então amante Camila Park Bowles. Nem tão pouco tenho dúvidas de que as tais denúncias de abuso sexual contra Julian Assange (39 anos), dono daquele repositório de documentos, tenham toda a pinta de ordinária armação para desmoralizá-lo, visto que o acusado responderá em tribunal por fornicar sem camisinha e com duas mulheres diferentes na mesma semana. Ora, combinemos! Por isso nem Dante o poria no inferno junto aos lascivos, embora decerto não escapasse da categoria dos linguarudos.
Na verdade de tudo o que li sobre esses documentos, nenhum me pareceu ter impacto estratégico importante. O dano provocado aos governos ali citados está mais para constrangimento, embora o fato por si demonstre que os sistemas de segurança informacional dos EUA foram para o brejo sabe lá como. Nesse sentido, porém, cabe observar que nenhuma informação sobre segredo tecnológico, militar ou não, das guerras travadas no Oriente Médio fazem parte do pacotão wikilikeano. Talvez por que essas redes informacionais sejam protegidíssimas, além do alcance da bisbilhotagem de Mr. Assenge.
Pois aqui chegamos a uma derivada que tem escapado à curiosidade daqueles que estão mesmerizados na garimpagem de inconfidências documentais ou inebriados com a possibilidade de assistirem a realização da lenda de um homem só desafiar o império, descuidando de que certas perguntas nesse imbróglio internacional merecem respostas tanto transparentes quanto convincentes.
Daí que é inescapável indagarmos: Que atributos o dono do WikiLeaks possui, que lhe dão total intimidade com fontes de informações secretas de governos estrangeiros? Seria ele próprio um espia renegado? Quem financia a farra? Porque de graça os documentos não lhe são dados, e as suas fontes devem lhe cobrar bem caro pelos riscos que estão correndo. Depois, qual a razão do governo norte-americano não pedir a Inglaterra a extradição de Assenge? Seria porque o dono do WeakLeaks teria um tal arquivo secreto (poison pill), que a boataria digital diz ser de conteúdo impactante?
De fato faltam peças fundamentais nesse jogo de limites e profundidade mal definidas, e sem essas respostas de fundo ético não posso considerar o WikiLeaks uma ferramenta de democratização da informação.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ela não É "os Caras": É Zara!

Às 23:40 hr: Pois não é que essa lindinha dai de baixo empatou em número de acessos com os caras, aqui no Voo? Poderosa !!!

O Banho de Sol

















Zara tem quatro anos. É filha de outra cadela schnauzer que possuo. Dona de um pedigree principesco, essa preto e prata jura que é gente. Talvez por isso esteja com hipertensão, que trata com 1/2 comprimidinho de benazepril. Entre caminhadas semanais, seu maior prazer é o banho de sol diário.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Queiram ou Não, Lula É o Cara

















O Latinobarômetro realizou pesquisa com 19 mil pessoas, em 18 países latino-americanos, para avaliar a democracia no continente e definir quem seriam os líderes mais bem avaliados por suas trajetórias políticas.
Daniel Ortega (Nicarágua), Hugo Chávez (Venezuela) e Fidel Castro (Cuba) tiraram nota vermelha, enquanto Lula e Obama confirmaram suas lideranças, ambas melhores avaliadas e a frente das obtidas pelo rei Juan Carlos e o primeiro-ministro espanhol Zapatero, por igual incluídos na enquete como contra-pontos.
A ONG avaliou também o regime democrático no continente. Uruguai, Chile e Costa Rica foram os países em que os entrevistados tiveram as melhores impressões. Nesse quesito, o Brasil ficou em quinto lugar, empatado com a Venezuela, decerto - não o diz a pesquisa - pelo contraste entre riqueza nacional e desigualdade social, tão absurdamente agudas nos dois países.
Por fim, cabe destacar, apenas 30% do total de latino-americanos entrevistados reconheceram que proteção social, solidariedade com os pobres, oportunidades de trabalho e proteção contra o crime estavam garantidas em seus países. Pois então é isso.

A Flor do Mês: Galeandra sp.

Tal qual a encontrei hoje, perfil de delicadeza, em minha sacada.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Agrotóxicos no Brasil: O que não Querem os Empresários

Ontem Agenor Álvares, ex-ministro da saúde e diretor da Anvisa, foi convocado pela senadora Kátia Abreu a explicar-se em comissão. Segundo a senadora e representante do DEM, ao informar a sociedade sobre as preocupações e as providências dadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária sobre o gravíssimo assunto do uso de agrotóxicos, o diretor teria provocado prejuízos em empresas. Conforme informado, Agenor Álvares terá de expor suas idéias e debater com pelo menos cinco profissionais escolhidos pela senadora, que assim tentará desmoralizar o diretor e a instituição governamental. Aqui a matéria que mexeu com os nervos da senadora Kátia Abreu: Silvio Caccia Bava: A reavaliação que os empresários não querem - Le Monde Diplomatique Brasil

domingo, 28 de novembro de 2010

Clube das Nações (Brasília - DF)
























Foto realizada a noite de ontem, com a câmera do iPhone 4. Tratamento no Photoshop utilizando os recursos Crop e Unsharp Mask.

domingo, 21 de novembro de 2010

Mulheres Cientistas e o Preconceito Masculino

O público leigo habituou-se à idéia de que o ambiente acadêmico é um espaço protegido contra os bafejos dos preconceitos que vicejam na sociedade, como fosse antídoto abençoado que perenizasse o debate de idéias, ágora dimensionada para o respeito ao contradito e à tolerância às diferenças, ainda que sob o implacável respeito à verdade científica. Infelizmente esse imaginário ético não correponde a realidade, como demonstra artigo publicado hoje no inglês The Observer por Richard Holmes.
Analisando os arquivos da Royal Society of London, o autor observa que o papel feminino em assuntos científicos foi bem maior do que o apresentado na vitrine histórica dos 350 anos de existência da instituição. O artigo de Holmes traz inúmeros exemplos das limitações impostas a cientistas mulheres, a começar pelo acesso oficial a instituição que não lhes foi permitido senão em 1945, ou seja, 285 anos após sua fundação - exceção feita a admissão honorária da Rainha Victória, que não era obviamente pesquisadora; apenas a mais poderosa rainha que o Império onde o Sol jamais se punha conhecera desde Elisabeth I. A bem da verdade, a carapuça machista não serve apenas a Royal Society, e cabe com perfeição e graça nos estatutos de outras congêneres européias, como por exemplo a Académy des Sciences de France que rejeitou o pedido de associação de madame Marie Curie em 1911, mesmo ano em que a notável cientista recebia o seu segundo Prêmio Nobel!
O espaço científico era assim vedado a participação feminina em condições igualdade com os homens. Segundo Holmes havia a certeza de que as mulheres apenas poderiam fazer ciência senão na condição de membros diletantes, com a cautela de sempre afastá-las dos estudos botânicos pela inconveniência das palavras latinas que descreviam a anatomia reprodutiva das plantas: hermaphroditus (bissexualis), sexualis, assexualis e spadix, entre outros exemplos inoportunos à moralidade vitoriana.
De outro modo, o estranhamento entre homens e mulheres na ciência também comparecia até quando tratatava-se de aconselhar. Em 1788, o astrônomo real saudava com sinceridade Caroline Herschel, que aos 38 anos de idade fora a primeira mulher "na história do mundo" a descrever dois novos cometas, advertindo-lhe contudo que tivesse cuidado de não "pegar carona na cauda de um deles", antes mesmo que seus pares reconhecessem o valor de sua descoberta.
Machismos à parte, a ida aos arquivos demonstram que a ciência moderna tem dívidas imensas com a parte feminina que lhe deu impulsos imensuráveis não só nas técnicas e tecnologias, mas também na ética em pesquisa, pois foi uma assistente de Cavendish quem pela primeira vez peticionou pelo direito dos animais - e de todos os seres vivos - como sujeitos de pesquisa. Estávamos então no século XVIII e nem sonhávamos com o pesadelo que seria realizado duzentos anos para frente, na escala industrial dos campos da morte de Auschwitz-Birkenau, quando Anna Barbauld requereu ao seu chefe que atentasse para o sofrimento dos animais de laboratório, lavrando os seguintes versos que entitulou como The Mouse's Petition to Dr Priestley, Found in the Trap where he had been Confined all Night (Petição do Camundongo que Permanece Aprisionado na Armadilha onde Esteve Confinado a Noite Inteira ao Dr. Priestley,):

For here forlorn and sad I sit,
(Abandonado e triste, aguardo)
Within the wiry Grate, (Dentro desta grelha aramada,)
And tremble at the approaching Morn (E estremeço com o amanhecer)
Which brings impending fate… (Que anuncia a sorte iminente)

The cheerful light, the Vital Air, ( A luz alegre, o ar vital,)
Are blessings widely given; (São bençãos amplamente dadas;)
Let Nature's commoners enjoy (Para usufruto dos plebeus da natureza)
The common gifts of Heaven. (Como dádivas comuns do Paraíso.)

The well-taught philosophic mind (Ora et labora a mente filosófica)
To all Compassion gives; (Para todos a compaixão dá;)
Casts round the world an Equal eye, (Molda a volta do mundo uma visão de igualdade)
And feels for all that lives. (E sente por todos aqueles que vivem).

O belo artigo - The Royal Society's Lost Women Scientists (As Cientistas Mulheres Que a Royal Society Esnobou) de Richard Holmes está disponível para leitura na página eletrônica do jornal The Guardian.


sábado, 20 de novembro de 2010

Ciência, Tecnologia e Inovação no Simbravisa

Está disponível o áudio da mesa redonda Ciência, Tecnologia e Inovação: Regulação e Desenvolvimento. O evento aconteceu em Belém do Pará, entre 13 e 17 de novembro. Além do doutor José Rubens Bonfim, compareceram como palestrantes dois grandes amigos decitianos: o médico Luis Eugenio Portela e a nutricionista Erika Camargo. As apresentações estão disponíveis nos links: a, b, c.

Dia da Consciência Negra Com Juliano Moreira

Hoje comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. É dia para uma reflexão sobre um país que acostumou-se a crer que é uma democracia racial, quando na verdade não o é. Um dos primeiros filtros que a sociedade brasileira estabeleceu foi distinguir o proprietário de quem seria escravo, isto é, pessoa da não pessoa, mas coisa animada com valor de troca no infame mercado que perdurou no país até 1888, não fosse o advento da Lei Áurea.
Entretanto, em que pese o estatuto legal ser produto de um notável embate cívico que mobilizou por completo o país e suas lideranças políticas, a liberação do cativeiro não reconheceu ao negro a devida cidadania completa e o manteve na prática agregado da família em que antes fora propriedade, ou senão como despachado para biscates nos centros urbanos, quando muito percebendo vinténs de pagamento em uma sociedade que só conheceria o salário mínimo e a carteira de trabalho quase cincoenta anos depois do encerramento do modo de produção escravagista no Brasil.
Numa República nascida como parada militar diante a um povo bestificado, em que a cor do africano e do afro-descendente enredou-se com outros elementos, diluindo-se para complexificar a exclusão social brasileira, um dos espaços de que a população negra sempre estiveve alijada no Brasil foi o acesso aos diferentes níveis de educação e, por derivada, a melhores postos de trabalho. Penso aonde ela chegaria, por exemplo, se no final dos anos 20, com 11 anos, não tivesse trocado o sonho de cursar a Escola Normal por um emprego numa loja de costuras, onde alcançou a posição de gerência. Não fosse isso, imagino que minha mãe, com sua férrea determinação libriana e inegável inteligência, teria sido a primeira na família a obter diploma de nível superior e não eu, que o alcançei 56 anos depois de que ela fora obrigada a deixar os bancos escolares para assumir o sustento de minha avó, filha de um ex-escravo de ganho e a única alfabetizada numa prole de seis filhos.
Zumbi dos Palmares, o sobrinho do rei Ganga Zumba, foi a personalidade associada ao Dia da Consciência Negra. Sem dúvida ninguém maior na memória coletiva que aquele que lidera seu povo na guerra contra o opressor. Entretanto, em nossa história, outros negros se notabilizaram com a inscrição de seus nomes na produção de conhecimento científico. Entre aqueles relacionados à Medicina, é destaque aquele que é considerado o patrono da psiquiatria moderna entre nós - o médico Juliano Moreira (1873-1933).
Um posicionamento contra-hegemônico quanto ao papel da raça e da cor no processo saúde e doença é marca indelével na prática médica, na obra acadêmica e na biografia do psiquiatra baiano, quer estivesse ele debatendo sobre o enlouquecimento, quer sobre a origem da Hanseníase no Brasil, na época imputada aos escravos trazidos da África; ou quando lamentou-se a morte de Juliano Moreira, quando era necessário o combate intelectual ao anti-semitismo mundial que Hitler inaugurara, prática que foi considerada de bom tom entre aqueles de escol, aqui e alhures. Ao contrário de Machado de Assis, também mulato, o professor Juliano Moreira nunca permitiu que sua iconografia fosse progressivamente embranquecida nos traços e na tez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma Noite no Ministério Público Federal

A noite chegou com luzes. O doutor Gladaniel Palmeira de Carvalho foi promovido a Procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Fiquei emocionado ao assistir um amigo de 35 anos alcançar mais um patamar de sua brilhante carreira, marcada sempre por promoções meritórias de par com o respeito e a admiração de seus colegas, dos amigos e da família. Enquanto assistia a cerimônia e sucediam-se os discursos de saudações ao novo procurador, que citou Padre Antonio Vieira e José Bonifácio de Andrada e Silva, passava na minha memória o tempo em que fomos garotos-rapazes no Colégio Estadual Paes de Carvalho, em Belém, junto com outros grandes amigos como o defensor público estadual Antonio Carlos de Andrade Monteiro e os médicos Elias Israel e Rômulo Paes. Como tem sido bom tê-los comigo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que os Estadunidenses Querem de Obama





















Trata-se do resultado da pesquisa espontânea Gallup, divulgado esta semana na imprensa dos EUA. Houve outra anterior, realizada pela CBS, em que entrevistados reafirmam que suas expectativas estão relacionadas a políticas governamentais promotoras de economia/emprego (56%). Déficit, imigração e guerra não são opções de primeira ordem para os eleitores.

Uma Americana na Terra dos Vikings
























Petrus Christus. Retrato de uma jovem (circa 1460)


Considera-se que Cristovão Colombo foi quem introduziu na Europa os primeiros ameríndios, para lá conduzidos quando retornou das viagens que lhe garantiram lugar na História. Hoje, parece, a história não transcorreu exatamente desse modo. Estudo de demografia genética realizada em 80 membros de um família islandesa demonstrou a constância de genes que eram únicos no país, capazes de serem rastreados até o início do século XVIII.
O aprofundamento das pesquisas demonstrou um padrão genético caribenho, compatível com a presença de uma mulher ameríndia na Islândia, pelo menos há 1000 anos, quando o país esteve praticamente isolado de ondas migratórias. Como teria então essa mulher chegado a uma ilha tão longínqua quanto gelada?
Provavelmente, ao modo como aconteceria com seus conterrâneos 500 anos depois: fora para lá conduzida por guerreiros vikings, que antes de Colombo já circulavam pelo continente americano, conforme registro das lendas nórdicas. O desafio agora dos pesquisadores é buscar estabelecer com maior precisão o tempo em que esses fatos aconteceram. Os resultados da pesquisa estão publicados no American Journal of Physical Anthropology.

P.S. A publicação do Retrato de uma Jovem de Petrus Christus, pintor medieval flamengo, não possui qualquer relação de inferência com a pesquisa que revelou a presença de genes ameríndios na Islândia. Entretanto, quando eu iniciei a leitura da obra prima de Johan Ruizinga - O Outono da Idade Média -, fiquei inquieto tanto com a riqueza das vestes e adereços da modelo, quanto com o formato do seu rosto e olhos inegavelmente de fenotipo asiático. Eu então me perguntei como essa garota dos Países Baixos, que viveu pelos meados da Idade Média, havia adquirido esses olhos tão exóticos quanto belos? A possibilidade de miscigenação com povos asiáticos, pela contiguidade continental entre Ásia e Europa, foi a resposta que satisfez minhas dúvidas. Pois é: o conhecimento tem seus mistérios, encantos e enganos.

Transparência de Resultados: Remédio Para Escândalo Científico

Como devemos tornar os resultados dos ensaios clínicos disponíveis? A razão dessa pergunta publicada no blogue Scholarly Kitchen é o desafio de tornar disponível a integralidade dos dados referentes a ensaios clínicos em artigos de divulgação científica, de modo a permitir uma avaliação profunda no que respeita a eticidade, a qualidade e a segurança do experimento.
Segundo o autor da postagem, Kent Anderson, apesar do movimento internacional para o estabelecimento de bases públicas para registros de ensaios clínicos, e da decisão das mais importantes revistas científicas internacionais de não publicar artigos com ensaios não registrados nessas bases de informação, a questão da transparência dos ensaios clínicos ainda está longe de ser resolvida, à vista da indústria farmacêutica ter desenvolvido estratégias de realizar ensaios clínicos em países onde há fragilidade regulatória sobre o assunto.

O Banco Mundial É um Bom Papo

Otaviano Canuto e Marcelo Giugale, respectivamente vice-presidente e diretor para gestão econômica e redução da pobreza, na América Latina e Caribe, publicaram na Foreign Affairs interessante artigo, que demonstra a atual visão de alguns membros do board do Banco Mundial sobre programas sociais implementados nos países em desenvolvimento. Os autores, na última linha do artigo, advertem para a transitoriedade dos programas como motores do desenvolvimento e da salvação da lavoura nos países ricos.
Como eles não tenho dúvidas quanto a transitoriedade dos programas de inclusão social e transferência de renda, exatamente porque eles trazem na essência a designação de programa, não de uma política de estado, que supere a temporalidade de governos. São frutos, portanto, de um momento histórico que se ancora lá atrás, quando o Banco Mundial para atenuar o choque brutal de seu ajuste fiscal levou a toada dos programas de transferência de renda aos países pobres e endividados com o Fundo Monetário Internacional. Financiar o roadmapping de políticas de estado para tornar no longo prazo esses países desenvolvidos em termos material e moral é outra coisa, que
um Banco Mundial acostumado a reagir de crise em crise, aparentemente não tem receita a dar.

O artigo pode ser lido na integra na página eletrônica da
revista, mas traduzo aqui alguns dos parágrafos que ilustram o seu conteúdo analítico.


Políticas de redução da pobreza exigem mais mudanças nos próximos anos. Há um consenso amplamente corroborado pela crise - o que reduz a pobreza: crescimento rápido e sustentado (mais empregos), os preços ao consumidor estável (sem inflação), e a redistribuição focalizada (subsídios apenas para os pobres). Mas, não basta qualquer emprego: O que importa na redução da pobreza não é apenas o número de empregos, mas sua produtividade. Isso, claro, aponta para uma agenda mais ampla de reformas para tornar as economias dos países em desenvolvimento mais competitivas.

Os países em desenvolvimento também estão experimentando ajustes em seus programas sociais. Nos últimos 10 anos, 30 países em desenvolvimento teem criado mecanismos para transferência de dinheiro diretamente para os pobres através de seus telefones celulares. Agora os seus pobres tem um nome, são uma pessoa. Este tipo de relação estado-cidadão provou ser uma benção para amortecer o impacto da crise global - prevenir conflitos sociais no México, por exemplo. Ele também tornará os gastos com políticas sociais mais eficientes, com design inteligente e menos duplicação de beneficiários.

Em suma, se continuarem a desenvolver estas políticas, muitos países em desenvolvimento devem superar o seu atual estado de desenvolvimento inteiramente. Tais expectativas devem ser vistas com moderação, no entanto. Após a Primeira Guerra Mundial e antes da Grande Depressão, o mundo desenvolvido -, bem como os economistas - estavam confiantes de que tinham estabelecido uma base permanente de prosperidade sem fim. Cem anos depois, diante a ciclotimia de nova crise, os países hegemônicos economica e militarmente terão de depender do mundo em desenvolvimento para tirá-los da crise.

Um Encontro de Amigos Levamos Sempre Conosco

Domingo passei boas horas no aniversário de minha amiga Salete, uma anfitriã perfeita. Os pratos estavam primorosos: os paraenses patinhas de caranguejo, maniçoba e camusquim dividiam o cardápio com o brasileiríssimo estrogonofe de filé. As sobremesas foram pavês e doce de cupuaçú. As bebidas compunham-se de cerveja (Cerpinha), caipirinha, sucos de frutas da Amazônia, café e o scottish Jonhy Walker Black Label. A excelência do encontro foi complementada com a presença de amigos em comum de longa data: Joseney e Set Pires dos Santos, Márcio Meira e Lúcia Van Velthem e o Luis Araújo, sem a Celza, que está fazendo estágio de artes plásticas em Florença, Itália. Saí de lá com saudades.

Alegrem-se, Trabalhadores Ingleses: Tatcher is Back!

O National Health Service - NHS, orgão de saúde do governo inglês, publicou hoje uma declaração ministerial escrita que descreve as bases da política pública que orientará a organização dos cuidados sociais destinados a adultos. Ao documento de nome pomposo como a Abadia de Westminster - A Vision for Adult Social Care: Capable Communities and Active Citizens - está vinculada uma consulta pública sobre transparência da qualidade e desfechos em políticas de atenção social.
Contudo a declaração está fundamentada em sete princípios, onde o papel provedor do Estado está prescrito como sintomático: isto é, "quando necessário". Coisa para inglês ver, afinal quem viveu os anos 80/90 passados, exposto às administrações da ex-primeira ministra Tatcher, sabe muito bem onde o sapato apertará e qual o amargor que terá com os modos neoliberais de enfrentar uma crise econômica. Como Galbraith tem dito, os ilustres jenios da sociologia e da economia neoliberal preferem salvar bancos, financeiras, indústrias a acudir na mesma medida à população quebrada na renda e no emprego.

domingo, 14 de novembro de 2010

Relatório Unesco -2010: O Estado da Ciência no Brasil








































A Unesco publicou seu relatório sobre a situação da ciência no mundo. O Brasil, abordado em capítulo próprio, apresentou uma evolução consistente e sustentada quanto a aplicação de recursos e resultados de pesquisa. Contudo, em termos governamentais há necessidade de enfrentar a desigualdade regional na distribuição de recursos e de pesquisadores, assim como ampliar a participação da iniciativa privada no setor. Outro exemplo, em que precisamos avançar, é aproximar as curvas de publicação de papéis científicos com aquela referente ao depósito de patentes. Nada, portanto, do apontado difere dos diagnósticos apontados nas políticas públicas que temos desenvolvido. O resumo executivo do "Relatório Unesco Sobre Ciência 2010 - O Atual Status da Ciência em Torno do Mundo" constitui-se do capítulo primeiro - sobre o papel do conhecimento na economia glogal - e do quinto referente ao Brasil.

Major Tom para Controle de Terra - 1

Major Tom Para Controle de Terra - 2

David Bowie logo após assistir o clássico 2001 - Uma Odisséia no Espaço compôs em 1969 a música Space Oddity, que é um de seus grandes sucessos. A canção narra a comunicação entre um fictício astronauta com um centro espacial na Terra e o insucesso da missão: por razões não reveladas, intui-se que o major Tom flutuará para sempre no espaço do orbital terrestre.
Nessa altura os norte-americanos já haviam tomado a dianteira da corrida espacial, deixando a pioneira União Soviética, arqui-inimiga na Guerra Fria, para trás em solitário segundo lugar. Entretanto, à conquista da Lua, ocorrida em 1969, seguiram-se só mais cinco missões tripuladas e bem sucedidas da NASA, que depois as encerrou devido a brutal crise econômica do petróleo imposta pelos países árabes (aumentos de 300% no preço do barril), e também pelos limites tecnológicos que exigiam tempo e recursos incalculáveis para, com êxito, estabelecer bases ou explorar economicamente os recursos minerais de nosso satélite.
Space Oddity, a não menos bela Rocketman (Elton John e Bernie Taupin) e a tardia Major Tom (Peter Schilling) representam a impressão da corrida espacial na poesia da música popular, em diferentes momentos e com a singularidade do olhar desses compositores. Recomendo assim que usufruam da interpretação de Bowie e da letra aqui encartada. Um bom domingo para todos (as).

Space Oddity

Ground control to major Tom
Ground control to major Tom
Take your protein pills and put your helmet on
(Ten) Ground control (Nine) to major Tom (Eight)
(Seven, six) Commencing countdown (Five), engines on (Four)
(Three, two) Check ignition (One) and may gods (Blastoff) love be with you

This is ground control to major Tom, you've really made the grade
And the papers want to know whose shirts you wear
Now it's time to leave the capsule if you dare

This is major Tom to ground control, I'm stepping through the door
And I'm floating in a most peculiar way
And the stars look very different today
Here am I floatin' 'round my tin can far above the world
Planet Earth is blue and there's nothing I can do

Though I'm past one hundred thousand miles, I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go
Tell my wife I love her very much, she knows
Ground control to major Tom, your circuits dead, there's something wrong
Can you hear me, major Tom?
Can you hear me, major Tom?
Can you hear me, major Tom?
Can you...
Here am I sitting in my tin can far above the Moon
Planet Earth is blue and there's nothing I can do

sábado, 13 de novembro de 2010

Diário do Hospício e O Cemitério dos Vivos

Ler Lima Barreto representa a chance de mergulharmos nas primeiras décadas republicanas do Brasil, que adentrara no século XX trazendo consigo o legado excludente de uma sociedade escravagista, que, oficialmente, entre 1811 e 1870 fora responsável pela importação de 60% de todos os escravos expedidos para as Américas*.
Neste mês a editora CosacNaify lançou uma edição bem cuidada do Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos**, que apresenta as dores morais desse autor fluminense em suas internações nos hospícios cariocas, devido às alucinações que experimentava por conta do etilismo desregrado.
Esses livros únicos e incompletos demonstram perfeitamente o quanto as diferenças, os preconceitos e os vieses de classe em sociedades excludentes - em que a saúde sequer é direito e a doença não raro vista como defeito ingênito -, adentram suas instituições e consolidam as raízes da desigualdade social. D' O Cemitério dos Vivos, transcrevo aqui alguns de seus mais pungentes parágrafos:

Entrei no hospício no dia de Natal. Passei as famosas festas, as tradicionais festas de ano, entre as quatro paredes de um manicômio. Estive no pavilhão pouco tempo, cerca de vinte e quatro horas. O pavilhão de observação é uma espécie de dependência do hospício a que vão ter os doentes enviados pela polícia, isto é, os tidos e havidos por miseráveis e indigentes, antes de serem definitivamente internados.

Em si, a providência é boa, porque entrega a liberdade de um indivíduo, não ao alvedrio de policiais de todos os matizes e títulos, gente sempre pouco disposta a contrariar os poderosos; mas à consciência de um professor vitalício, pois o diretor do pavilhão deve ser o lente de psiquiatria da faculdade, pessoa que deve ser perfeitamente independente, possuir uma cultura superior e um julgamento no caso acima de qualquer injunção subalterna.

Entretanto, tal não se dá, porque as generalizações policiais e o horror dos homens da Relação às responsabilidades se juntam ao horror às responsabilidades dos homens do pavilhão, para anularem o intuito do legislador.

A polícia, não sei como e porquê, adquiriu a mania das generalizações, e as mais infantis. Suspeita de todo o sujeito estrangeiro com nome arrevesado, assim os russos, polacos, romaicos são para ela forçosamente cáftens; todo o cidadão de cor há de ser por força um malandro; e todos os loucos hão de ser por força furiosos e só transportáveis em carros blindados.

Os super-agudos homens policiais deviam perceber bem que há tantas formas de loucura quanto há de temperamentos entre as pessoas mais ou menos sãs, e os furiosos são exceção; há até dementados que, talvez, fossem mais bem transportados num coche fúnebre e dentro de um caixão, que naquela antipática almanjarra de ferro e grades.

É indescritível o que se sofre ali, assentado naquela espécie de solitária, pouco mais larga que a largura de um homem, cercado de ferro por todos os lados, com uma vigia gradeada, por onde se enxergam as caras curiosas dos transeuntes a procurarem descobrir quem é o doido que vai ali. A carriola, pesadona, arfa que nem uma nau antiga, no calçamento; sobe, desce, tomba pra aqui, tomba para ali; o pobre-diabo lá dentro, tudo liso, não tem onde se agarrar e bate com o corpo em todos os sentidos, de encontro às paredes de ferro; e, se o jogo da carruagem dá-lhe um impulso para frente, arrisca-se a ir de fuças de encontro à porta de praça-forte do carro-forte, a cair no vão que há entre o banco e ela, arriscando a partir as costelas... Um suplício destes, a que não sujeita a polícia os mais repugnantes e desalmados criminosos, entretanto, ela aplica a um desgraçado que teve a infelicidade de ensandecer, às vezes, por minutos...

* Almeida, Paulo Roberto. Formação da Diplomacia Econômica no Brasil. Senac. São Paulo, 2001.

** Prefácio de Alfredo Bosi. Organização e notas de Augusto Massi e Murilo Marcondes Moura.

Bebidas Açucaradas e Risco de Doença Metabólica

Pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) realizaram revisão de artigos publicados na literatura internacional, selecionados a partir da relevância científica e de suas respectivas afinidades metodológicas, e combinaram seus resultados individuais para originar um conjunto de resultados com maior significância estatística, que permitisse definir qual o risco de desenvolver Diabetes Mellitus e Síndrome Metabólica entre aqueles que consomem bebidas com alto teor de açúcar em sua composição.
Após selecionarem 11 estudos que atendessem aos critérios de seleção estabelecidos para o estudo, reuniram-se resultados referentes a 310.819 pessoas, antes alocadas em cada estudo selecionado. A análise estatística desse universo ampliado de pessoas, verificou que entre aquelas que consumiam de 1 a 2 porções de bebidas açucaradas, quando comparadas àquelas que consumiam até 1 porção por mês, o risco de desenvolver Diabetes tipo II foi tão elevado quanto 26% no longo prazo, enquanto o risco relativo para Síndrome Metabólica foi de 1,2.
A metanálise conduzida pelos pesquisadores de Harvard permite concluir que a ingestão de bebidas açucaradas - refrigerantes, sucos de fruta e bebidas energéticas e vitaminadas - além de estarem relacionadas à obesidade, também favorecem o desenvolvimento de doenças metabólicas graves, devendo as autoridades de saúde pública esclarecer a população e regular em termos sanitários a comercialização desses produtos.

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Foi o Golfinho, Sinhá

Botos e golfinhos são animais próximos na escala zoológica. Na Amazônia existe a lenda do boto, em que conta-se que esse mamífero assumiria a forma humana e viria a terra em noites de lua cheia, sempre vestido de branco e chapéu (para disfarçar o orifício respiratório sobre a cabeça), no intuito de seduzir jovens consideradas atraentes.
A lenda, como expressão de uma socialização de uma região isolada e periférica, remete às questões relacionadas à gravidez indesejada em comunidades fechadas. Hoje, como anedota, ainda perdura dizer com maldade: Fulano (a) é filho (a) do boto. Aqui, nesse extraordinário filme, vê-se com clareza a atração e o comportamento sexual de um golfinho macho em torno de uma nadadora que , decerto, desconhece a lenda dos botos amazônicos .

domingo, 7 de novembro de 2010

O Olhar Crítico de Chico Cavalcante

























Chico Cavalcante, à esquerda entre os melhores do marketing político na Amazônia, concedeu entrevista este domingo ao jornal Diário do Pará. Em pauta a avaliação da estrondosa derrota da governadora Ana Júlia Carepa (PT/PA), que pleiteava a reeleição, em favor do candidato Simão Jatene (PSDB/PA). Para entendermos melhor a dimensão desse desfecho, cabe recordar que a candidata petista foi eleita em 2006, a partir da derrota do partido neoliberal tucano, que , nessa altura, governava o Pará por 12 anos e pretendia estender seu domínio político pelo menos por mais oito.
Numa sequência de respostas ilustrativas a perguntas formuladas num estilo curto e objetivo, o entrevistado afirma seu domínio teórico-prático da comunicação em política, fato que antes havia já demonstrado em seus livros Marketing de Guerrilha e o Novo Marketing Político. O texto da entrevista considero obrigatório para aqueles que estudam ou teem curiosidade sobre comunicação e marketing aplicados. O conteúdo está acessível clicando-se sobre a imagem que acompanha a postagem, ou aqui: na página do Diário do Pará.

sábado, 6 de novembro de 2010

Passarinhando na Chuva

































Ele é um antigo conhecido. Circula por aí, entre os prédios da quadra onde moro. Há uns dias, contudo, tornou-se mais íntimo e agora pousa nas plantas que mantenho em minha sacada. O local preferido que escolheu é esse galho de Bougainville.
Hoje, afinal, o lambe-lambe aqui conseguiu surpreende-lo com o registro desse quase portrait. Na manhã nublada e chuvosa, sempre arisco ele posou e me disse que agora tem uma companheira. Com sorte qualquer dia eu os fotografo juntos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nunca É Demais Repor o Demasiado

Por que não te calas? A pergunta foi feita hoje, em França, por um plebeu zapatista a José Serra, candidato derrotado à Presidência da República nas eleições de 2010. A interrupção aconteceu no momento em que o tucano recalcava críticas genéricas contra o presidente Lula, levando Serra a perder a pose de Rei de Roma, de todos os mares, de todos os rios, dos sertões et urbes brasiliensis.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Superbactéria Não Resiste à Higiene das Mãos

Toda essa gente se engana
Então finge que não vê que
Eu nasci pra ser o superbacana
Super-homem, superflit, superfink, superist
(Superbacana. Caetano Veloso, 1968)


No caso da KPC (Klebsiella pneumoniae), o adjetivo de superbactéria tem sido usado com insistência na mídia brasileira. Esse tipo de bactéria produz substância - a enzima Carbapenemase - que lhe permite resistir ao ataque de antibióticos, simplesmente inutilizando-os. Como outros mutantes bacterianos, o surgimento da KPC deriva basicamente do uso não responsável de antibióticos e de medidas de higienização precária nos serviços de saúde. Portanto, é problema que pode ser resolvido de imediato e a médio prazo por meio de conscientização do público, dos profissionais e dos administradores de unidades de saúde, a partir da ação sustentada das vigilâncias sanitárias estaduais (Visas), com o apoio imprescindível das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, que devem sair do papel e valer na prática.
Nesse sentido, embora vivamos em tempos de super-ultra-hiper sei lá o quê, não podemos esquecer que uma das maiores revoluções da Medicina no século XIX foi a descoberta do médico húngaro Semmelweiss, que baseado em observações de enfermaria concluiu que a mortalidade por Febre Puerperal seria reduzida se os obstetras e as parteiras da época lavassem as mãos antes e depois de cada parto, antes e depois de examinar suas pacientes.
A medida consagrada é válida para prevenir qualquer infecção em que o agente causal seja transportado pelas mãos de um ser humano para outro, quer sejam bactérias, os vírus das gripes ou das conjuntivites. Água, sabão e álcool na higiene das mãos e a aplicação correta de protocolos para degermação de materiais e equipamentos bastam para quebrar a transmissão da KPC, demonstrando que a adoção de medidas de higiene evitam e destroem a "famigerada" bactéria sem precisar empregar algum super-raio laser terrível.
Contudo é necessário coibir o uso abusivo e indiscriminado de antibióticos, posto que a indicação incorreta e a administração em sub-doses e em horários equivocados são os principais responsáveis pelo desenvolvimento de resistência bacteriana, aliás um fenômeno representativo da Teoria da Evolução de Darwin. O uso incorreto de antibióticos constitui no Brasil assunto da maior importância, especialmente porque sabemos que a auto-medicação além da influência cultural está relacionada às dificuldades no acesso a cuidados de saúde e na acessibilidade a medicamentos.
Por fim a decisão da Anvisa de disciplinar a compra de antibióticos não deve se limitar ao balcão das farmácias. Na medida em que as farmacias cumpram as normas regulatórias, outras possibilidades à margem surgirão, por meio do comércio ambulante e da internete. É necessário portanto uma ação que discipline e ao mesmo tempo desencoraje e combata o comércio ilegal de antibióticos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dito e Feito

A ciência põe-se de pé sobre ombros de gigantes.

Os Genéricos do Serra: A História Sem Virtudes

O jornal Folha de São Paulo publicou hoje um artigo do físico Rogério César de Cerqueira Leite, que ilumina a origem dos genéricos no Brasil. É uma história pouco virtuosa, em que pese o valor imprescindível desse tipo de medicamentos para a saúde do povo brasileiro.

Genéricos e Outros Mistérios

Rogério César de Cerqueira Leite

Considero eminentemente pífia a atuação de Serra no Ministério da Saúde; seus genéricos pouco têm a ver com aqueles que planejamos

Como consequência da Guerra das Malvinas, quando a Argentina, por ter abdicado da produção própria de fármacos, ficou desabastecida de medicamentos, o governo militar brasileiro aprovou um programa, por mim proposto, de desenvolvimento dos princípios ativos (fármacos) dos 350 remédios constituintes da farmácia básica nacional.

Estimava-se que, em dez anos, seria possível desenvolver, por engenharia reversa, pelo menos 90% desses produtos. De fato, em pouco mais de três anos, cerca de 80 processos já haviam sido desenvolvidos e 20 produtos já estavam sendo produzidos e comercializados por empresas brasileiras.

O sucesso inicial desse projeto permitiu que fosse iniciada por mim, nesta Folha, uma campanha de esclarecimento sobre medicamentos genéricos, o que não teria sentido sem a produção própria de fármacos.

Precipitadamente, o governo Itamar Franco tentou lançar a produção de genéricos. O poderoso cartel de multinacionais de medicamentos se insurgiu. Ameaçou-nos de desabastecimento, de verdadeira guerra. Derrotou e humilhou o Ministério da Saúde.

Poucos anos depois, esse cartel não somente cedeu prazerosamente ao ministro José Serra, então na pasta da Saúde, como até fez dele seu "homem do ano".

Seria o costumeiro charme do ministro? Seu sorriso cândido? Senão, qual o mistério?

Como consequência da isenção de impostos de importação para o setor de química fina, da infame lei de patentes e de outras obscenidades perpetradas pela administração FHC, mais de mil unidades de produção no setor de química fina, dentre as quais cerca de 250 relativas a fármacos, foram extintas.

Além do mais, cerca de 400 novos projetos foram interrompidos.

Os dados foram extraídos de boletim da Associação Brasileira de Indústria da Química Fina. Em poucos anos, o deficit da balança de pagamentos para o setor saltou de US$ 400 milhões para US$ 7 bilhões. Quem acha que, com isso, Serra não merece o título de homem do ano das multinacionais de medicamentos?

Também os "empresários" brasileiros do setor de genéricos têm muito a agradecer ao ex-ministro da Saúde, pelas suas margens de lucro leoninas. Basta ver os imensos descontos oferecidos por quase todas as farmácias, que com frequência chegam a 50%. Os genéricos do Serra nada têm a ver com os genéricos que planejamos.

E o tão aclamado programa de Aids do Serra? É compreensível que todos os seres humanos, e talvez também o ministro Serra, tenham se comovido profundamente com a súbita e aterrorizante explosão da Aids. Que oportunidade sem par para políticos demagógicos!

A ONU homenageou o então ministro Serra pelo mais completo e dispendioso programa de apoio aos doentes de Aids de todo o planeta.

Países ricos, com PIB per capita dez vezes maiores que o nosso, ficavam muito aquém do Brasil. Como foi possível? E por que será que, nesse mesmo período, os recursos orçamentários destinados ao saneamento básico não foram usados?

O então dispendioso tratamento de um único doente de Aids correspondia à supressão de recursos para saneamento básico que salvariam centenas de crianças de doenças endêmicas, com base em uma avaliação preliminar. Será que Serra desviou recursos do saneamento básico? Mistério!

Mas persiste o fato de que, durante a administração Serra na Saúde, os recursos destinados ao saneamento, à época atribuídos a esse ministério, não foram aplicados.

Mesmo sem contar mistérios como aqueles dos "sanguessugas" e da supressão do combate à dengue no Rio, entre outros, considero pífia, eminentemente pífia, a atuação de Serra no Ministério da Saúde.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Soberania da Clínica

O The American Journal of Medicine deste mês (vol. 23, n.10, outubro, 2010) traz um interessante estudo de acurácia da ausculta cardíaca. O autor, clínico do Centro Médico de Atendimento a Veteranos da Universidade de Washington, em Seattle, examinou 379 pacientes e concluiu que apesar da ausculta cardíaca ser pouco explorada em suas potencialidades nos dias de hoje, seu valor semiotécnico ainda é apreciável na prática médica. A leitura do artigo permitiu-me que relembrasse meus tempos de estudante de Propedêutica Médica na Universidade Federal do Pará, quando fui aluno da notável Profa. Bettina Ferro de Souza. Muito do que o artigo diz, a saudosa mestra já ressaltava trinta anos atrás. Para ler o estudo completo do doutor Steve McGee clique aqui.

domingo, 24 de outubro de 2010

Os Neoliberais e o Tamanho do Estado Brasileiro

Os jornais que apoiam a candidatura de José Serra (Psdb) à sucessão do presidente Lula falam uma meia verdade, quando afirmam ter havido um aumento do tamanho do estado brasileiro na gestão petista. Na verdade, quando recebeu o governo de FHC (Psdb), Lula viu-se diante de uma máquina pública que era um faz-de-conta: o estado desempenhava suas funções a partir de terceirizados que faziam as vezes de funcionários públicos federais. Para sanear o governo federal de tal ilegalidade, denunciada sucessiva e exaustivamente pelo Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal, foram realizados centenas de concursos públicos com o objetivo de recompor a força de trabalho deliberadamente diminuída nos anos 1995-2002. É o que demonstra o gráfico procedente da dissertação de mestrado de Luciane Galdino Alberto (Análise do Quadro de Trabalhadores do Ministério da Saúde e Entidades Vinculadas no Ano 2000. Fiocruz, março 2010).

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Medicina Forense Recebe Recursos de Pesquisa

Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica
(Ferreira Gullar)

A pesquisa em Medicina Forense ainda é área muito pouco explorada no Brasil. Contudo, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financia estudo conduzido pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pretende estudar insetos de interesse para o esclarecimento de crimes, visto que estudos publicados na literatura internacional trazem evidências robustas quanto a importância deles, para esclarecer informações quanto ao local da ocorrência de um crime, a causa mortis e a presença de substâncias tóxicas na vítima. O primeiro produto da pesquisa foi a realização do censo faunístico desses insetos no estao de São Paulo. Maiores detalhes sobre a pesquisa financiada pela Fapesp poderão ser lidos na página da agência de financiamento.

Seis Medicamentos Expiram Patente em 2011

Nos próximos anos importantes patentes de medicamentos serão expiradas. Em 2011, por exemplo, podemos citar o mais bem sucedido redutor de colesterol - Lipitam ou Xalatan (Roche); o antidepressivo para uso em esquizofrenia e transtorno bipolar - Zyprexa (Elli-Lilly); o medicamento para asma que o inalador tem patente própria - Advair (GlaxoSmithKline); o tambem indicado para tratamento de distúrbios psiquiátricos - Seroquel (Astra Zêneca) e o medicamento para uso em infecções pediátricas Levaquin (Ortho-Mcneill).
A perda das patentes possibilita a fabricação de medicamentos genéricos por outras empresas do setor farmacêutico do complexo industrial da saúde. Contudo, especialmente quando se tratam de blockbusters ou carros-chefes de vendas, para reduzir o prejuízo da perda patentária, as gigantes farmacêuticas iniciam a compra ou parceria com empresas menores a quem passam a fornecer prioritariamente o apoio necessário para fabricação de genéricos de seus medicamentos referência, permitindo assim uma recomposição de lucros e de domínio do mercado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Solidariedade ao Manifesto Médico de Apoio a Dilma

Está disponível no Blogue Médicos com Dilma manifesto para assinatura de apoio à candidata Dilma Roussef do PT. Nesse momento, há menos de dez dias das eleições, estão em disputa titânica dois projetos para o Brasil, o neoliberalismo, conduzido pelo PSDB, e o projeto social-democrata do presidente Lula. O constraste deste com aquele resplandece, especialmente quando se os comparam nos resultados respectivamente alcançados na execução das políticas públicas, pelos respectivos indicadores que derivam de um lado da concepção de um estado mínimo à feitura neoliberal e de outro de um estado que pretende construir-se constitucionalmente como provedor de direitos sociais, includente e soberano.
Como defensor intransigente de uma medicina de qualidade; de um desenvolvimento nacional não subserviente aos interesses espúrios das privatizações; por defender o Sistema Único de Saúde e a contínua necessidade de fortalecer seus princípios de universalidade, integralidade e equidade; por reputar a candidatura do senhor José Serra (PSDB) como insolente, arrogante, geradora de ódio e violência entre brasileiros; por considerar que as alianças políticas celebradas por Serra extrapolam o campo da direita e incorporam forças historicamente alinhadas com a extrema-direita; por considerar que o projeto desse candidato para o Brasil não garantirá a continuidade do projeto social em curso, nem a integridade do controle nacional sobre nosso patrimônio e riquezas, especialmente a do petróleo, solicito aos (as) colegas que apóiem a candidatura de Dilma Roussef (PT), juntando suas assinaturas a minha e às de outros (as) naquele documento.
Assinaturas dos médicos que apoiam Dilma deverão ser realizadas aqui.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Comparar é Fundamental

Recomendo a leitura da excelente postagem sobre resultados de políticas públicas nos governos federais do PSDB/Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e do PT/Lula (2003-2010), publicada no blogue Lobo em Pele de Cordeiro. É a síntese que faltava.

Antibiótico Só Com Receita Médica

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) editará regras para coibir a venda nas farmácias de antibióticos sem receita médica. A medida é necessária porque a auto-medicação contribui para o desenvolvimento de resistência dos microorganismos a essa classe de medicamentos. A agência deve atentar que ao fechar o gargalo nas farmácias, haverá necessidade de reprimir a venda ilegal por ambulantes e pela marginalidade na internete.

Para Desenvolver, Educar É Necessário
























Para ler a matéria clique sobre a imagem e amplie. Tudo com o botão esquerdo do mouse.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ex-Reitor Enfrenta Xerimbabo da Veja 1/3

EDUCAÇÃO SUPERIOR EM LULA vs FHC: A PROVA DOS NÚMEROS

Um jornalista escreveu em seu blog, auto-apresentado como um dos mais acessados do Brasil: “Provei com números que o que ele [o Governo Lula] fez mesmo foi aumentar o cabide de empregos nas universidades federais, aumentar a evasão e o número de vagas ociosas.”

Fiquei muito interessado no tema, por dois motivos: Primeiro, porque fui Reitor de uma universidade federal durante quatro meses no governo FHC e quase todo o tempo do Governo Lula, o que me permite a rara situação de, na condição de gestor público, poder comparar os distintos cenários de política de educação superior. Segundo, porque minha área de pesquisa é a Epidemiologia. Nessa condição, trabalho com modelagem numérica e técnicas quantitativas de análise, num campo onde exercitamos uma quase obsessiva busca de rigor, validade e credibilidade. Isto porque uma eventual contrafação ou fraude estatística pode custar vidas, produzir riscos ou aumentar sofrimentos.

Assim, procurei, no blog do jornalista, a prova dos números. Encontrei, numa postagem de 24/08/2010 – arrogantemente intitulada “A fabulosa farsa de ‘Lula, o maior criador de universidades do mundo’. Ou: desmonto com números essa mentira” três blocos de questões: aumento de vagas e matrículas; evasão na educação superior; empreguismo na rede federal de ensino. Analisarei cada uma delas, demonstrando que essas “provas de números” são refutadas em qualquer exame sério de validade técnica ou metodológica.

No primeiro bloco, referente a aumento de vagas e matrículas, achei as seguintes afirmações: “A taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula. [...] Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008).”

Ex-Reitor Enfrenta Xerimbabo da Veja 2/3

Aqui o jornalista comete erros primários (ou de má-fé) de análise de dados. Qualquer iniciante em análise estatística, demográfica ou educacional sabe que não faz sentido comparar um período de oito anos com outro de seis anos, ou este com outro de quatro anos; mais ainda se usarmos médias aritméticas ou números brutos; e pior ainda se considerarmos (como ele bem sabe) que o principal programa de expansão das universidades federais, o REUNI, começa a receber alunos justamente depois de 2008.

Além disso, usa dados errados. Eis os dados corretos de matrículas nas IFES:

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

502.960

531.634

567.850

574.584

579.587

589.821

653.022

720.317

917.242

1.010.491

(fonte: INEP e ANDIFES)

Não precisamos questionar os indicadores do governo FHC; consideremos a credibilidade destes como de responsabilidade do jornalista. Mas, com os dados da pequena tabela acima, podemos demonstrar que, considerando todo o período do governo Lula, o volume total de matrículas nas federais aumentou 90,1%. Portanto, a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais, entre 2003 e 2010, não foi de 3,2% e sim de 11% ao ano.

Também, no que concerne à segunda afirmação, em seis anos de governo Lula (2003 a 2008), de fato ocorreram 188.683 novas matrículas nas universidades federais, e não, como afirma o jornalista, apenas 76.000 (aliás, números redondos são em geral suspeitos: sugerem ausência de fonte). Uma comparação tecnicamente mais correta será entre os dois segundos mandatos: entre 1998 e 2003, segundo mandato FHC, houve 158.461 novas matrículas; entre 2007 e 2010, segundo mandato Lula, foram exatas 478.857 novas matrículas registradas nas universidades federais. Ou seja, contrastando períodos equivalentes, o operário Lula abriu 200% mais vagas novas em universidades federais que o intelectual FHC.

No segundo bloco de questões levantadas pelo jornalista, o assunto era evasão na educação superior. Ele escreveu: “O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008. [...] A Universidade Federal do ABC perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009.”