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sábado, 22 de setembro de 2012

Um Cientista Inglês




Em Londres no início do ano, ao sair pela esquerda da Estação de Saint Pancras - aquela onde Harry Porter se perdeu - dei com um grande tapume de construção civil. O outdoor em frente dizia que se tratava da construção do Instituto Francis Crick, homenagem do governo britânico ao notável cientista que, em 1962, pela descoberta da estrutura em dupla hélice do DNA, dividiu o Nobel de Fisiologia e Medicina com James Watson. A nova instituição britânica de pesquisa substitui o antigo UK Centre for Medical Research and Innovation, estando prevista a conclusão integral das obras para 2015. Antes de chegar na parada do ônibus, impressionado com inesperada recepção visual, fiz estas fotos que compartilho aqui. 

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A página do The Francis Crick Institute pode ser acessada com um click.

Mais Uma On Line: A Biblioteca de Charles Darwin


Com a popularização da internet, as tecnologias da informação experimentaram um aprimoramento que sem exagero podemos dizer exponencial. No delta desses avanços, hoje é comum o acesso livre a variadas fontes de informação e em especial aos aceervos digitalizados das bibliotecas on line. O que era inimaginável há 30 anos, hoje é plenamente possível: um leitor acessar à distância tesouros impressos da Biblioteca Nacional ou, na USP, a lendária coleção brasiliana de José Mindlin, que teve por base a coleção de livros de Ruben Borba de Moraes, integrante do Semana Modernista de 22 e considerado um dos maiores investigadores da história dos livros no Brasil.
Nesse cenário em plena expansão sempre surgem novidades na rede mundial de computadores. Ontem à noite, explorando links da revista Science em busca de um trabalho sobre herpes vírus, encontrei a informação de que a biblioteca de Charles Darwin já se encontra praticamente toda digitalizada no sítio da Biodiversity Heritage Library. Nessa página  não só os livros e anotações (marginália) do autor da Teoria da Evolução estão disponíveis, mas também as bibliotecas de Carl Linneau e Ernest Mayr, entre outras relacionadas a Biologia. Na Biblioteca de Darwin estão disponíveis para consulta livre cerca de 22000 mil páginas, integrantes de 439 títulos digitalizados.  
Sabemos que o estudo da natureza brasileira deu importante contribuição a teoria evolucionista. Nesse aspecto a contribuição a destacar é aquela de Alfred Russel Wallace, cuja relevância permitiu-lhe durante algum tempo, uma insubsistida coautoria da Teoria da Evolução. Como viajante naturalista - e do mais brilhantes -, Wallace explorou durante quatro anos a Amazônia brasileira e registrou suas reflexões sobre a natureza da região no antológico Narrativas de Viagens pelo Amazonas e o Rio Negro (1853), trabalho que dedicou a Darwin. 
Está claro que Wallace está bastante presente na versão digital da Biblioteca de Darwin, assim como outros viajantes da Amazônia no século XIX, por exemplo Henry Bates (O Naturalista no Rio Amazonas ) e James Orton (O Andes e o Amazonas). Curiosamente, contudo, o livro das Narrativas está ausente. Além dele senti também a falta da Viagem ao Rio Amazonas, escrito por William H. Edwards (1847). Edwards foi o primeiro pesquisador norte-americano a explorar a natureza amazônica, tendo o seu trabalho impressionado vivamente a Charles Darwin. Talvez sejam ausências circunstanciais, que expressem o estado da arte do processo de digitalização das obras que integram a biblioteca de um dos mais influentes filósofos da dúvida, combatido sem trégua até hoje pelos criacionistas, por gente como George W. Bush, Sarah Palin e Marina Silva.

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Para acessar a biblioteca clique aqui.

domingo, 26 de agosto de 2012

Neil Armstrong e o Conhecimento

Ao longo de seus 82 anos de vida, encerrados fisicamente ontem, Neil Armstrong legou a História inúmeros escritos em que registrou seu pensamento sobre a conquista do espaço, seu papel pioneiro nos eventos que o levaram a caminhar na Lua, sua  visão da condição heróica e a centralidade da ciência para o progresso humano. 
Certa vez um bibliotecário de Michigan expediu carta a várias personalidades mundiais, em que lhes solicitava a gentileza de um comentário sobre a importância das bibliotecas, dos livros e da leitura. As respostas seriam usadas para estimular crianças a frequentarem bibliotecas. Neil Armstrong respondeu a essa carta com um comentário de grande valor humanista:

"Through books you will meet poets and novelists whose creations will fire your imagination. You will meet the great thinkers who will share with you their philosophies, their concepts of the world, of humanity and of creation. You will learn about events that have shaped our history, of deeds both noble and ignoble. All of this knowledge is yours for the taking… Your library is a storehouse for mind and spirit. Use it well."
 
"Por meio dos livros vocês encontrarão a criação dos poetas e dos romancistas que incendiarão suas imaginações. Vocês encontrarão grandes pensadores que compartilharão consigo suas filosofias, seus conceitos de mundo, de humanidade e de criação. Vocês aprenderão sobre fatos que moldaram nossa história e também sobre os atos cometidos tanto para fins nobres quanto ignóbeis.  Todo este conhecimento está disponível para que vocês usem... A biblioteca representa um armazém para o espírito e a mente. Façam dela bom uso."

segunda-feira, 2 de julho de 2012

UPdate Saúde

O blog Uptade Saúde é uma extensão do projeto Construindo Pontes entre a Evidência Científica e a Gestão em Saúde, sob coordenação  da professora Uliana Pontes no campus avançado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Macaé. Como campo de atividade para a extensão,  o blog constitui-se em campo de prática para seus alunos. É uma experiência portadora de inovação em termos de difusão do conhecimento científico, e, mais especialmente, no que respeita ao objetivo que o título do projeto revela: ligar a margem do conhecimento científico (know how) à margem da gestão das políticas de saúde (know do). A quem interessar, a página do blog pode ser acessada aqui: Update Saúde.

sábado, 23 de junho de 2012

As Imagens da Ciência no Cinema

O tema ciência e cinema não é de grande frequência, mesmo em espaços acadêmicos. Outro dia, sapeando pelas cordilheiras da internet encontrei um artigo de José Ribeiro, da Faculdade Aberta do Porto (Portugal), de que transcrevo este instigante trecho:

As Imagens da Ciência

O filme científico para o grande público não pode apenas celebrar o mito, tem de "saber interrogar-se sobre os pressupostos ideológicos e filosóficos que servem de base à sua actividade ... e as relações implícitas que estabelece com o restante corpo social"(FAYARD); promover a integração da multiplicidade das ciências na explicação dos problemas; acentuar os valores éticos e humanos que controlem o curso e as consequências dos processos de antecipação e construção do futuro empreendidos pela ciência; apresentar os limites da ciências "o novo espírito científico consiste em fazer progredir a explicação, não em eliminar a incerteza e a contradição"(MORIN), exercendo um olhar crítico e epistemológico.
O filme científico de divulgação pode contribuir para o desenvolvimento de uma cultura científica e esta para a redução de conflitos de interesse que venham a manifestar- se entre o individual e o social, o individual e o político. Estes, podem diluir-se com o desenvolvimento de uma cultura científica, uma vez que a compreensão da ciência e da tecnologia é útil para todos os que vivem numa sociedade. Os indivíduos informados estão mais apetrechados para tomar decisões em matérias como o consumo, a segurança pessoal, a formação profissional, os cuida- dos de saúde, a influência de decisões, e para se tornarem cidadãos activos e eficazes. As instituições, os produtores, a sociedade be- neficiam desta actividade: uma economia de mercado tecnologicamente avançada requer consumidores com um mínimo de bagagem científica, assim como o direito de influenciar decisões, ou o exercício de uma profissão ou de uma competência técnica, social ou profissional.

O artigo está com acesso livre para a leitura

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Curso de Jornalismo Científico em Neurociências

Da Agência Fapesp

Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o processo seletivo do curso de pós-graduação lato sensu em Divulgação científica e Saúde: Neurociências, oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) em parceria com o Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O curso é gratuito e se destina à formação de jornalistas científicos, divulgadores de ciências e assessores de comunicação de universidades e de instituições de pesquisa que estejam envolvidos com a temática da saúde.
O objetivo da especialização é formar profissionais que tenham visão global sobre o sistema de ciência, tecnologia e saúde, para atuar nos meios de comunicação de massa.
O currículo é constituído por 12 disciplinas, de caráter obrigatório. A dinâmica do curso prevê a interação entre jornalistas e cientistas, por meio da formação de duplas de trabalho, orientadas por professores das duas áreas.
O curso tem duração de três semestres, com aulas realizadas às quintas-feiras, das 9h às 17h.
A seleção dos participantes será feita em duas etapas. Em uma primeira fase, os interessados deverão enviar a ficha de inscrição preenchida, seu curriculo vitae e um texto de sua autoria sobre neurociências, sociedade e divulgação científica. Os selecionados nesta etapa serão convocados para realizar uma prova escrita e de proficiência em inglês, além de uma entrevista com os coordenadores do curso.
O resultado da seleção está previsto para ser divulgado em 20 de junho e o curso terá inicío em 9 de agosto.
Mais informações: www.labjor.unicamp.br.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Scielo Lança Portal de Livros no Brasil

A Scientific Eletronic Library On Line (Scielo) disponibilizou a partir do dia 30 de março passado, em seu portal brasileiro, o acesso à livros eletrônicos. Os títulos procedem de editoras da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Editora Fiocruz. 
O acervo inicial é de 200 títulos que o leitor já pode acessar sem restrições. No futuro o projeto também oferecerá a possibilidade de compra de ebooks publicados por editoras estrangeiras. Imagino que serão incluídas editoras acadêmicas cujo acervo não está disponível para compra na Amazon, por exemplo. 
A iniciativa da Scielo, somada a outras congênes já em plena operacionalidade, de que são exemplo as da Biblioteca Nacional e da Universidade de São Paulo (Brasiliana USP), representam importante passo para a democratização da informação num país em que historicamente lê-se pouco, lê-se mal e o leitor não tem por hábito frequentar bibliotecas.

sábado, 31 de março de 2012

A Fronteira do Conhecimento por Hipócrates

Disse-o Hipócrates (460 - 377 A.C) : Há menos perigo nas doenças que se relacionam com à constituição, hábitos, idade e com a estação, do que naquelas que não guardam essas relações. 
Nas palavras de nosso tempo: Inquietava-o os agravos à saúde que estão na fronteira do conhecimento de uma época, que representam maior risco ao indíviduo exposto devido às impossibilidades ou fragilidades impostas à compreensão das causas e dos mecanismos dessas doenças, e também porque serão instáveis as intervenções conexas de cura, de recuperação, de alívio e de controle, comprometendo as políticas públicas que venham a ser desenhadas para o enfrentamento daqueles problemas.
Na História da Ciência são exemplos desse drama a Aids, as doenças causadas por príons, o câncer, o Alzheimer e as viroses de variada virulência e letalidade, que desafiam nosso conhecimento e o uso de intervenções efetivas: isto é, aquelas que funcionem com superioridade no mundo real e confirmem o que antes foi verificado no mundo controlado dos laboratórios científicos quanto ao seu uso e segurança.
No aforismo hipocrático há também a sutil presença do conceito de determinantes sociais de saúde, que apenas viria a ser desenvolvido de forma plena a partir dos anos 70 passados, depois da Conferência de Alma-Ata em plena Guerra Fria. Significa compreender, a partir desse exemplo, que o conhecimento é substantivo, transitivo e incremental, o que lhe confere enorme valor agregado, quer o classifiquemos no relevo e nos caminhos de suas planícies e planaltos como tácito (know how) ou explícito (know do).

quinta-feira, 15 de março de 2012

Kabuki - Viagem à Memória e a Construção do Objeto

Capa do catálogo da exposição

A construção do objeto do conhecimento se dá por sucessivas aproximações.
 
 A primeira notícia que tive do teatro Kabuki foi nos meados dos anos 70. Na época formava com Rômulo Paes, Antônio Carlos de Andrade Monteiro e Elias Israel um pequeno grupo de jovens secundaristas interessados em cinema, que tomaram para si a responsabilidade de organizar e conduzir um pequeno cinema nas dependências do Serviço Social do Comércio (SESC), no qual, além da projeção da película em cartaz, fosse garantido à platéia algum debate, de preferência com a presença de algum crítico ou professor universitário. Era uma forma de nos formarmos e também de contribuírmos para a formação de uma platéia em cinema, entre comerciários.
Embora sofressemos vigilância institucional, para evitar qualquer incidente com filmes pouco palatáveis à ditadura militar - então estávamos no governo do general Geisel -, conseguíamos regularidade e títulos interessantes, projetados na técnica hoje antiga, em máquina de projeção mecânica para bitola 35 mm, obrigando a troca dos rolos e as vezes a emergência de emendar o celulóide de súbito rompido. 
Foi um belo tempo de formação. Mas não lembro exatamente como chegamos a projeção daquele documentário sobre o teatro Kabuki, que é expressão milenar do teatro japonês, representado até hoje exclusivamente por atores por determinação de decreto imperial, ainda que na origem tenha sido criado e interpretado por atrizes. Quem sabe o fornecimento do filme tenha sido algum gesto de cooperação e amizade do Consulado Geral do Japão, em Belém, capital brasileira que possui uma comunidade japonesa expressiva desde os meados do século XX.
Estimulado pelo que assisti, procurei aprofundar a informação recebida, contudo sem obter muito êxito diante da excentricidade ou do exotismo do tema para a época, nas bibliotecas da cidade paraense. Nos anos seguintes, entretanto, na medida em que o ambiente de informação cultural foi se ampliando pelo território quase continental do Brasil, sempre havia em alguma revista ou jornal uma ou outra reportagem sobre teatro Kabuki, que eu logo reunia aos fragmentos da experiência vivida no antigo cineminha do SESC, como fosse um dos tantos cacos de uma xícara incompleta, deixada na mesa da memória.
Então nesses últimos dias de férias, eu caminhava no metrô e minha esposa me chamou a atenção para um poster com a informação de que na sede da Fundação Pierre Bergé - Yves Saint Laurent estava em cartaz, de 7 de março a 15 de julho, a exposição Kabuki: Costumes du Théâtre Japonais. Confesso que de início não animei muito, mas a perseverança da descobridora do anúncio, lembrando-me de seu interesse no evento, levou-nos três dias depois à exposição dos trajes teatrais.
Pois fiquei maravilhado com a exuberância da exposição; sumarizada nos 30 exemplares de vestimentas trazidas do Japão até Paris. E desse espetáculo saí com a certeza de que havia acrescentado uma importante parte nas minhas lembranças começadas no SESC de Belém. Hoje estou com a certeza de que a última parte que corporificará a tal xícara fragmentária do Kabuki na minha memória, seu desencantamento como objeto do conhecimento, será assistir ao vivo uma peça dessa grande manifestação cultural da humanidade.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os Riscos de uma Extravagância: O Vírus H5N1 Modificado

















Diana e Actéon por Cesari (1606).

"Na manufatura, como na ciência, - a produção de novos instrumentos é uma extravagância".
(Thomas S. Kuhn - A Estrutura das Revoluções Científicas)

Sempre vejo as relações do Estado com a ciência como uma questão delicada, especialmente por dois atributos de alcance inestimável - coerção e conhecimento -, que cada um desses interagentes possui como atributo, assim como pelo risco político contido na interação crítica estabelecida entre ambos. O ponto de tensão mais recente, relacionado a aqueles dois motores poderosos da história, está representada na polêmica sobre a síntese bem sucedida do mais mortal vírus da gripe já havido desde 1918, quando a pandemia de Gripe Espanhola levou à morte cerca de 40 milhões de seres humanos. No Brasil, o cálculo de mortalidade mais citado é de 300 mil mortes, em que está incluída a do presidente eleito da República, o septuagenário Rodrigues Alves.
Está claro, portanto, que a criação do H5N1 artificial é assunto que mobiliza autoridades nacionais e científicas e estabelece um debate em torno dos critérios de segurança relacionados à síntese do organismo e a sua guarda, redimensionando o Princípio de Precaução (1). Em contrapartida, no outro prato da balança da polêmica, está o valor da ciência como motor de economias inovadoras, na qual a pesquisa em biotecnologia constitui elemento fundamental para as engrenagens internacionais da cadeia produtiva farmacêutica e o seu correspondente mercado bilionário, controlado fundamentalmente pelos EUA, União Européia e Japão - que juntos detêm 55% da produção dessa riqueza, em que pese o crescente papel de países farmacêuticos-emergentes como China, Brasil, Rússia e Índia (2). Nesse sentido, imagine-se o impacto que a síntese de um vírus artificial, avant la lettre, teria sobre o lucrativo mercado global de vacinas para influenza.
Com respeito aos critérios de segurança, o Canadá, cujos cientistas dividem com os holandeses a criação do novo vírus, estabeleceu protocolos de acesso e guarda do espécime em nível 4, o mais restrito nas regras internacionais vigentes para esses laboratórios especiais. Por sua vez a questão da difusão do conhecimento, configurada na publicização completa do relatório da pesquisa em revistas científicas, tem evoluído como tour de force entre o governo norte-americano e a comunidade científica, no que respeita a reprodutibilidade do experimento por grupos políticos interessados em obter armas biológicas de destruição em massa; o que considero uma probabilidade pequena, mas ainda assim probabilidade com sucesso limitado à capacidade dos criminosos desenvolverem simultaneamente a respectiva vacina que os proteja e aos seus conterrâneos dos efeitos globais de semelhante engenho maligno.
Nesse sentido, atenta ao princípio da livre difusão do conhecimento científico, a revista Nature publicou nesta semana editorial entitulado Flu Papers Warrant Full Publication (Garantida a Publicação dos Artigos Completos sobre a Gripe), em que é reafirmada a posição do renomado períodico de publicar a pesquisa na íntegra, com o reconhecimento de que "embora seja necessário mais debate, os benefícios de publicar dados sensíveis superam os riscos que até o momento têm sido argumentados". Caso essa tendência se consolide, teremos testemunhado o fato inédito do interesse científico sobrepor-se às razões de Estado.

(1) O Princípio da Precaução é salvaguarda contra o risco do potencial tecnológico que, pela insuficiência do estado da arte do conhecimento, não pode ser identificado e ponderado, e requer medidas preventivas que protejam de possíveis danos a coletividade e o meio-ambiente (Conferência Rio-92). (2) Enumerados nessa ordem.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A Elegância da Medicina

























Fronstipício de De Humanis Corporis Fabrica (1543).
Colorido posteriormente.


A Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque faz questão de estabelecer a primazia do ensino da clínica à beira do leito do paciente em sua página eletrônica. Entretanto, a escola conjuga tradição osleriana com alta tecnologia didática.
Na NYU os alunos de anatomia tem por suporte ao estudo teórico não o tradicional livro de Garder & Gray ou do Sobotta, por exemplo, mas sim um atlas anatômico digital... que utiliza tecnologia 3-D.
Nessas horas, quando tenho a informação de tais progressos, recordo da emoção que tive em Bethesda ao manusear na National Library of Medicine a primeira edição De Humanis Corporis Fabrica, obra seminal escrita por Vesalius* em 1543.

* Na gravura acima, Vesalius é o homem de barba escura que toca a perna direita do cadáver. Para ampliar clique duas vezes sobre a imagem.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Mais Letal Vírus do Mundo e o Super-Pateta

O sonho acabou desmanchando
A trama do Dr. Silvana
A trama do Dr. Fantástico
E o melaço de cana.
(Gilberto Gil - O Sonho Acabou)


Com frequência assuntos científicos comparecem na mídia como parte de notícias sensacionalistas e, com alguma frequência, associada a alguma interpretação conspiratória que poria em risco a humanidade. Lembro de algumas estórias mirabolantes que bem ilustram a questão, por exemplo:
1) Que a origem do vírus da Aids estaria relacionada a experimentos de cientistas em laboratórios militares norte-americanos, o qual ao fugir do controle de segurança teria se espalhado pelo mundo. Ou de que o único agente etiológico de imunodeficiência adquirida - o HIV - teria alcançado a humanidade mediante a vacina contra pólio, tecnologia que tantas vidas salvou no planeta.
2) Ou de que o ex-ditador líbio Saddam Hussein teria adquirido cópias do vírus da varíola, que lhe teriam sido vendidas por bilhões de dólares, depois que cientistas russos a roubaram de um laboratório em Novosibirsk, Rússia, por ocasião do desmoronamento do Império Soviético.
3) Esse denuncismo, que a história comprovou não possuir qualquer base factual, também afirmava que o complexo soviético de guerra biológica teria produzido 20 toneladas do mesmo vírus e as espalhado secretamente nos quatro cantos do mundo, sob a guarda de ex-agentes da KGB, homens de olhos rútilos de ódio e prontos para aniquilar o planeta a primeira ordem sabe lá de quem.
4) Também houve quem questionasse na blogosfera se a Escherichia coli implicada nas infecções gastro-intestinais na Europa não seria um teste de arma biológica promovido pelas grandes potências, não importanto que para isso se ignorasse - como nos casos anteriores citados - que a Teoria da Evolução diz basicamente o seguinte: as espécies evoluem às ordens da natureza, sem que necessariamente o homem tenha de intervir nesse processo.
Entretanto, no que se pode ter de factual sobre um ataque biológico - o uso do carbúnculo (Antraz) nos EUA, em 2001 - nunca foi objeto de interesse jornalístico que esclarecesse afinal quem ou o quê estavam por detrás desses atentados terroristas. O que teria dissuadido os jornalistas de investigar fatos tão graves para a coletividade?
Os fatos antes citados, portanto, não pretendem negar a realidade de que os países ou grupos políticos com pretensões hegemônicas globais sempre tiveram interesse em desenvolver armar biológicas para dissuadir e atacar seus inimigos, desde a Antiguidade e a Idade Média, e modernamente antes mesmo do desenvolvimento da tecnologia nuclear aplicada para fins bélicos.
Notemos que essas teorias anedóticas trabalham sempre com a idéia de que cientistas trazem consigo um potecial certo de risco para a humanidade, como ilustram as figuras romanescas de Mr. Hekyll/ Mr. Hide e do doutor Frankestein, seguidos nos quadrinhos e jogos de vídeo por uma súcia de ensandecidos que integra entre outros Hugo Ago-Ago, doutor Silvana, Lex Luthor e doutor Killjoy.
Toda essa galeria de personagens evocaria a grosso modo correspondências com "pesquisadores" criminosos de que são exemplos os médicos nazistas Mengele, Eduard Wirths e Hilario Hubrichzeinen , que praticaram no complexo dos campos de morte Auschwitz-Birkenau uma pseudo-ciência racial, demonstrando que a liga entre personagens de ficção e da história e de seus crimes fictícios e reais está fundamentada no fato de que a ciência como todo processo criador não é neutra, os agentes fomentadores e produtores do conhecimento possuem ideologia e não estão acima do bem e do mal.
O problema, contudo, é a instrumentalização midiática em torno dessa assertiva que, nos últimos dias, vem exemplificada na denúncia publicada em jornais norte-americanos e europeus de que uma equipe de cientistas teria desenvolvido um novo vírus da gripe (H5N1), hoje raro entre humanos, cuja letalidade seria de 60%. Esse experimento de biotecnologia deriva da competência que foi adquirida para manipular mutação de gens em laboratório, fenômeno biológico sensível para a evolução dos vírus em geral. Isso por certo levaria a elaboração de um banco viral altamente virulento, disponível para a elaboração de vacinas e medicamentos que fossem necessários quando a mutação ocorresse espontaneamente na natureza e os primeiros surtos fossem verificados.
Eu não tenho dúvida quanto a segurança com que essa pesquisa foi conduzida, nem da competência da equipe de cientistas que a conduziu, nem de que ela anuncia um novo patamar na prevenção e tratamento de doenças infecciosas. Tenho dúvidas sim, no médio e longo prazo, quanto à migração desse conhecimento científico em termos de produto de mercado, considerando que a indústria farmacêutica expressou que haveriam limitações tecnológicas para responder uma demanda mundial de vacinas na última pandemia de H1N1.
Por outro lado, confirmando que o sensacionalismo e a visão conspiratória sempre comparecem para confundir, é inaceitável que revistas científicas sejam pressionadas para não publicarem a pesquisa, ou, se o façam, do texto sejam eliminadas "determinadas informações" que poderiam ser apropriadas por bioterroristas. A comunidade científica não pode aceitar tal interferência do estado, seja porque abre oportunidades que fragilizarão a transparência e a ética em pesquisa, seja porque trabalho científico mutilado e domesticado, em qualquer revista que o publique, em definitivo será ciência do Super-Pateta.

domingo, 13 de novembro de 2011

A Exuberância Luminosa de Gaia

Earth | Time Lapse View from Space | Fly Over | Nasa, ISS from Michael König on Vimeo.

Na coluna eletrônica Dot Earth, no The New York Times, Andrew Revkin presenteia-nos com esse belo filme feito há dois meses pelos tripulantes da Estação Espacial Internacional. É um passeio belíssimo sobre nosso planeta, em que observamos a exuberância das luzes de nossa civilização concorrendo com a beleza das auroras boreais e os clarões de trovões sob as nuvens de nossa atmosfera.

Nesses tempos em que nós brasileiros lutamos para que seja garantido o acesso a documentos de Estado, e que nenhum tenha estatuto de eternamente secreto, não posso deixar de registrar que o acesso universal dessas imagens só é possível, porque o Congresso dos EUA em 1958 votou o Space Act (Ato Espacial), onde é estabelecido que a NASA deve comunicar seus achados científicos ao público.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Saúde: Na Corda Bamba de Sombrinha

Lançado Na Corda Bamba de Sombrinha: Saúde no Fio da História, organizado por Carlos Fidelis Pontes e Ialê Faleiros. O livro é fruto de um projeto homônimo relacionado à gestão do conhecimento em saúde e propõe-se descrever "a trajetória percorrida pela sociedade brasileira na busca por melhores condições de saúde, desde o Brasil colônia até os dias atuais". Mas o mais importante em termos de difusão da obra: está disponível para leitura na página da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, sem qualquer custo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

WikiLeaks: Perguntas Sem Respostas



















O assunto WikiLeaks está em ebulição nas redes sociais. Contudo não me impressiona o fato de documentos governamentais reservados serem levados a curiosidade pública, visto que a história está repleta de casos sérios e jocosos; dos segredos atômicos às indiscrições na alcova do príncipe Charles com a então amante Camila Park Bowles. Nem tão pouco tenho dúvidas de que as tais denúncias de abuso sexual contra Julian Assange (39 anos), dono daquele repositório de documentos, tenham toda a pinta de ordinária armação para desmoralizá-lo, visto que o acusado responderá em tribunal por fornicar sem camisinha e com duas mulheres diferentes na mesma semana. Ora, combinemos! Por isso nem Dante o poria no inferno junto aos lascivos, embora decerto não escapasse da categoria dos linguarudos.
Na verdade de tudo o que li sobre esses documentos, nenhum me pareceu ter impacto estratégico importante. O dano provocado aos governos ali citados está mais para constrangimento, embora o fato por si demonstre que os sistemas de segurança informacional dos EUA foram para o brejo sabe lá como. Nesse sentido, porém, cabe observar que nenhuma informação sobre segredo tecnológico, militar ou não, das guerras travadas no Oriente Médio fazem parte do pacotão wikilikeano. Talvez por que essas redes informacionais sejam protegidíssimas, além do alcance da bisbilhotagem de Mr. Assenge.
Pois aqui chegamos a uma derivada que tem escapado à curiosidade daqueles que estão mesmerizados na garimpagem de inconfidências documentais ou inebriados com a possibilidade de assistirem a realização da lenda de um homem só desafiar o império, descuidando de que certas perguntas nesse imbróglio internacional merecem respostas tanto transparentes quanto convincentes.
Daí que é inescapável indagarmos: Que atributos o dono do WikiLeaks possui, que lhe dão total intimidade com fontes de informações secretas de governos estrangeiros? Seria ele próprio um espia renegado? Quem financia a farra? Porque de graça os documentos não lhe são dados, e as suas fontes devem lhe cobrar bem caro pelos riscos que estão correndo. Depois, qual a razão do governo norte-americano não pedir a Inglaterra a extradição de Assenge? Seria porque o dono do WeakLeaks teria um tal arquivo secreto (poison pill), que a boataria digital diz ser de conteúdo impactante?
De fato faltam peças fundamentais nesse jogo de limites e profundidade mal definidas, e sem essas respostas de fundo ético não posso considerar o WikiLeaks uma ferramenta de democratização da informação.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Transparência de Resultados: Remédio Para Escândalo Científico

Como devemos tornar os resultados dos ensaios clínicos disponíveis? A razão dessa pergunta publicada no blogue Scholarly Kitchen é o desafio de tornar disponível a integralidade dos dados referentes a ensaios clínicos em artigos de divulgação científica, de modo a permitir uma avaliação profunda no que respeita a eticidade, a qualidade e a segurança do experimento.
Segundo o autor da postagem, Kent Anderson, apesar do movimento internacional para o estabelecimento de bases públicas para registros de ensaios clínicos, e da decisão das mais importantes revistas científicas internacionais de não publicar artigos com ensaios não registrados nessas bases de informação, a questão da transparência dos ensaios clínicos ainda está longe de ser resolvida, à vista da indústria farmacêutica ter desenvolvido estratégias de realizar ensaios clínicos em países onde há fragilidade regulatória sobre o assunto.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pesquisa de Sobre Twitter Pede Outra

Consultoria canadense fez pesquisa e concluiu que 71% das mensagens no Twitter não recebem respostas (retuítes). Na chamada blogosfera, tal qual no mundo real, a efetividade da comunicação não pode ser medida exclusivamente por réplica ou tréplica entre emissor (es) e receptor (es). O arco da comunicação pode continuar sem retuítes para outros níveis ou topos comunicacionais (blogues, outras redes sociais, listas de discussão, etc), sem interrupção, em teias que se interpolam. Logo, a evidência apresentada pela pesquisa tem alcance limitado para a compreensão do impacto das redes sociais no cotidiano.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Popularização da Ciência e da Tecnologia

A leitora Letícia nos avisa sobre evento que discutirá na Unicamp questões relacionadas a gestão do conhecimento no âmbito da ciência e da tecnologia.

A Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia da América Latina e do Caribe (Red-POP) recebe até 15 de novembro, propostas de trabalho para a 12ª Reunião Bienal (http://www.mc.unicamp.br/redpop2011/) que acontece no Brasil, organizada pelo Museu Exploratório de Ciências (MC), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de 29 de maio a 2 de junho de 2011.
Com o tema “A profissionalização do trabalho de divulgação científica”, o encontro aceitará tanto trabalhos de pesquisa, de caráter acadêmico, quanto de profissionais da área, interessados em relatar suas experiências. Cinco eixos temáticos vão nortear a 12ª Reunião: Educação não-formal em ciências; Jornalismo científico; Programas e materiais para museus de ciências: materiais e práticas concretas; Museografia e museologia científica; Público, impacto e avaliação dos programas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma Escolha a Ser Feita

De vez em quando alguém diz que hoje se le menos, que os jovens não leem mais, que entramos, como afirmou um crítico americano, na idade do "Decline of Literacy". Eu não sei, certamente hoje as pessoas veem muita televisão, e existem indivíduos de risco que não veem nada além de televisão, assim como existem indivíduos de risco que gostam de injetar substâncias mortais na veia: mas também é verdade que nunca se imprimiu tanto quanto em nossa época, e que jamais como em nossos dias floresceram livrarias que parecem discotecas, cheias de jovens que, mesmo quando não compram, folheiam, examinam, informam-se.
O problema é antes, inclusive para os livros, o da abundância, da dificuldade de escolha, do risco de já não conseguir discriminar: é natural, a difusão da memória vegetal tem todos os defeitos da democracia, um regime no qual, para permitir que todos falem, é preciso deixar falarem também os insensatos, e até os cafajestes. Há o problema de como educar-se para escolher (...).

Extraído do livro de Umberto Eco - A Memória Vegetal e Outros Escritos sobre Bibliofilia (Record, 2010. 271 pg).

sábado, 18 de setembro de 2010

De livros, Internete e Striptease


















Junto com um presente recebo um cartão da editora alemã Taschen, que completa 25 anos. Muito bonito na composição gráfica e certeiro no diagnóstico: Livros ricos para tempos pobres. De fato, em termos comparativos quanto a qualidade, a profusão de nossa produção intelectual não supera os resultados obtidos nas primeiras décadas o do século XX, muitos deles formadores de tendências, escolas e movimentos que perduram até hoje.
Em nosso tempo, embora tenhamos vias extraordinárias de comunicação, nosso prato de resistência na internete não passa da troca de bilhetinhos digitais na base do a quem interessar possa, que não poucas vezes revelam a indigência de leitura de quem os assina, ou não, pois sob a tolerância do anonimato não poucas vezes os missivistas demonstram a esqualidez de seus pensamentos com uma desenvoltura que combina a nudez exposta das stripteasers profissionais com a velocidade do mais amoral dos sátiros.
A situação é mais aguda no Brasil, uma república com perfil promissor no mercado econômico mundial, que nunca executou uma política pública efetiva na formação de leitores numa população marcada pela desigualdade de acesso a bens culturais e materiais. Além do que, seguida à redemocratização em 1985, o sistema educacional brasileiro manteve a prescrição de subtrair do aluno médio e de nível superior a possibilidade de adquirir referências teóricas que permitissem a elaboração de um humanismo para além da competência no uso da maquinaria técnica e o seu correspondente aproveitamento no mercado do trabalho.