sábado, 14 de abril de 2012

O Mundo Como Objeto e Representação

Fontaine des Quatre-Parties-du-Monde

The Fountain of The Observatory

 Fonte dos Quatros Continentes, por Itajaí de Albuquerque 

Adventures and Empire

Placa Comemorativa das Aventuras de Citroën. Musée des LÁrmée (Invalides), Paris.

Durante o século XIX nosso planeta ainda foi um grande desafio para o conhecimento, em especial com respeito ao interior dos continentes. A França, nessa época, desempenhou um papel de grande importância na exploração de regiões desconhecidas e quase sempre inóspitas. Foi o tempo das grandes explorações,  cabeças de ponte para o domínio global dos mercados na lógica colonialista dos Grandes Impérios, conforme descreveu Hobsbawn.
Destacam-se entre esses exploradores na Amazônia brasileira, o casal Henry (1859-1899) e Octavie Coudreau (1870-1910) - que realizaram viagens exploratórias comissionados pelo governo paraense na transição para o século XX. Henry Coudreau inclusive perdeu a vida na região, quando foi vitimado pela malária e veio a ser enterrado nas margens do Rio Trombetas, em local identificado no relatório que madame Coudreau assinou para o governo paraense.
A obra publicada desse casal de exploradores franceses da belle époque é vasta, apaixonante e cientificamente sólida, a ponto de até hoje constituir-se em referência para o estudo da região.Quem sabe os cineastas brasileiros, depois que retomaram as sagas biográficas com o filme Xingú, se interessem por filmar a epopéia dos Coudreau na Amazônia.
Ao visitar os Jardin de Louxemburg, em Paris, não pude deixar de conhecer mais adiante a homenagem dessa cidade aos aventureiros dedicados a explorar os diferentes cantos do nosso planeta, quando sequer tínhamos computador, satélites e celulares, mas tão só informações verbais conflitantes, documentos cartográficos nem sempre precisos, o amparo magnético das bússolas e muita, muita coragem temperada pelo romantismo e a visão de vida típicos da Belle Époque.
No Jardin dos Grandes Exploradores está localizada a Fonte do Observatório ou dos Quatro Continentes-, que eu considero entre as mais belas da Cidade Luz. Nessa fonte magnífica, o globo terrestre é sustentado por quatro mulheres que representam a Europa, a América, a África e a Ásia. A Oceania foi então excluída por razões unicamente estéticas. Na foto de que essa postagem é mera moldura, vemos apenas a representação da Ásia na composição. O projeto dessa obra de arte  foi concebido e desenvolvido a seis mãos, por Gabriel Davioud (conjunto), Emanuel Fremiet (os cavalos) e Jean Baptiste Carpeaux (as quatro mulheres) em 1879.
Ficamos um tempinho sentados e observando a Fonte dos Quatro Continentes, naquele fim de tarde em que o inverno parisiense anunciava sua despedida. Não pude na ocasião deixar de lembrar dos monumentos que restaram da economia da borracha em Belém, quando a municipalidade da capital paraense optara por um projeto urbano nitidamente de influência européia e à maneira de Haussmann, o projetista da Paris como hoje a conhecemos.

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1. Alguns títulos da obra de Henry Anatole Coudreau podem ser baixados dali, na Biblioteca Virtual que tem por patrono o lendário Curt Nimuendajú. Falar um pouco desse outro intérprete da Amazônia é, contudo,  conversa pr'adiante.
2. O Título da postagem remete à obra O Mundo Como Vontade e Representação, do filósofo Shopenhauer (1788-1860), que no seu início tem a famosa definição: O mundo é a minha representação. Até que ponto essa obra influenciou a geografia política do mundo, no século XIX?


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