As regiões sul dos Estados Unidos e norte do México não só compartilham uma fronteira, também compartilham história, cultura e idioma. Mediante o trânsito constante de pessoas e bens, a região de fronteira EUA - México (na qual a parte texana representa uma grande proporção) pode ser considerada uma única unidade epidemiológica, com suas próprias dificuldades e desafios. Embora o México e Texas tenham se beneficiado do desenvolvimento económico e, com isso, obtido melhorias na expectativa de vida e de saúde pública global, as doenças do grupo de infecções conhecidas como doenças infecciosas negligenciadas (DIN) ainda continuam altamente endêmicas em ambos os lados da fronteira entre os dois países.
As DIN são as infecções mais comuns entre os mais pobres, e em especial entre aqueles que vivem com menos de U$ 2 por dia, afetando a cerca de 120 milhões de pessoas nas Américas. Nesse grupo estão incluídos flagelos antigos como a ancilostomíase e outras infecções transmissíveis por helmintos, a doença de Chagas, a amebíase, a esquistossomose, a malária, a leishmaniose e a dengue. Juntas as DIN produzem uma carga de doença que impacta todo o hemisfério ocidental, observando-se que em certas regiões chega a ultrapassar a HIV / AIDS, enquanto, simultaneamente, contribui para que 100 milhões de pessoas sejam mantidas na base da linha de pobreza da América Latina, em consequência dos efeitos deletérios dessas doenças sobre o desenvolvimento físico e intelectual das crianças , sobre a evolução da gravidez e do puerpério e sobre o trabalho e a produtividade.
A alta prevalência e incidência das principais DIN no México e sul do Texas representam uma oportunidade de cooperação conjunta entre os dois países para enfrentar aquelas de condições mais elevadas de prevalência, especialmente doença de Chagas, leishmaniose, a dengue e as infecções transmitidas por helmintos do solo. As estatísticas de cada uma destas DIN apontam para a urgência de adotar programas de vigilância ativa com base em estudos de soroprevalência e de diagnóstico em ambos os lados da fronteira.
Há uma necessidade igualmente urgente para determinar os principais mecanismos de transmissão, que, para a doença de Chagas, também incluem a transmissão de cães e outros caninos, estudos de estimativas da extensão da infecção congênita e a incidência de infecção adquirida através de transfusão de sangue. Entre as recomendações sugeridas recentemente para o controle da doença de Chagas no Texas, está a necessidade de tornar a compulsória a notificação doença (como nos estados do Arizona e de Massachusetts), de modo que possam ser realizados estudos sorológicos de populações humana e canina, acompanhar o grau da infecção pelo T. cruzi em roedores e outros reservatórios selvagens zoonóticos e realizar testes de doadores de sangue e em outras populações de risco.
Programas semelhantes de vigilância e dinâmica de transmissão também são necessários para leishmaniose, a dengue e infecções por helmintos. Devido aos riscos da doença de Chagas (incluindo a doença de Chagas congênita) no México e nos EUA, há uma necessidade urgente de educar os cardiologistas, obstetras e outros profissionais de saúde quanto ao conhecimento e avaliação da probabilidade dessa e de outras doenças infecciosas negligenciadas nos agravos à saúde da população.
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O artigo Texas and Mexico: Sharing a Legacy of Poverty and Neglected Tropical Diseases foi publicado em 27 de março de 2012, no PLOS NEGLECTED TROPICAL DISEASES. Acesse o artigo completo, clicando aqui.
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