quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Superbactéria Não Resiste à Higiene das Mãos

Toda essa gente se engana
Então finge que não vê que
Eu nasci pra ser o superbacana
Super-homem, superflit, superfink, superist
(Superbacana. Caetano Veloso, 1968)


No caso da KPC (Klebsiella pneumoniae), o adjetivo de superbactéria tem sido usado com insistência na mídia brasileira. Esse tipo de bactéria produz substância - a enzima Carbapenemase - que lhe permite resistir ao ataque de antibióticos, simplesmente inutilizando-os. Como outros mutantes bacterianos, o surgimento da KPC deriva basicamente do uso não responsável de antibióticos e de medidas de higienização precária nos serviços de saúde. Portanto, é problema que pode ser resolvido de imediato e a médio prazo por meio de conscientização do público, dos profissionais e dos administradores de unidades de saúde, a partir da ação sustentada das vigilâncias sanitárias estaduais (Visas), com o apoio imprescindível das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, que devem sair do papel e valer na prática.
Nesse sentido, embora vivamos em tempos de super-ultra-hiper sei lá o quê, não podemos esquecer que uma das maiores revoluções da Medicina no século XIX foi a descoberta do médico húngaro Semmelweiss, que baseado em observações de enfermaria concluiu que a mortalidade por Febre Puerperal seria reduzida se os obstetras e as parteiras da época lavassem as mãos antes e depois de cada parto, antes e depois de examinar suas pacientes.
A medida consagrada é válida para prevenir qualquer infecção em que o agente causal seja transportado pelas mãos de um ser humano para outro, quer sejam bactérias, os vírus das gripes ou das conjuntivites. Água, sabão e álcool na higiene das mãos e a aplicação correta de protocolos para degermação de materiais e equipamentos bastam para quebrar a transmissão da KPC, demonstrando que a adoção de medidas de higiene evitam e destroem a "famigerada" bactéria sem precisar empregar algum super-raio laser terrível.
Contudo é necessário coibir o uso abusivo e indiscriminado de antibióticos, posto que a indicação incorreta e a administração em sub-doses e em horários equivocados são os principais responsáveis pelo desenvolvimento de resistência bacteriana, aliás um fenômeno representativo da Teoria da Evolução de Darwin. O uso incorreto de antibióticos constitui no Brasil assunto da maior importância, especialmente porque sabemos que a auto-medicação além da influência cultural está relacionada às dificuldades no acesso a cuidados de saúde e na acessibilidade a medicamentos.
Por fim a decisão da Anvisa de disciplinar a compra de antibióticos não deve se limitar ao balcão das farmácias. Na medida em que as farmacias cumpram as normas regulatórias, outras possibilidades à margem surgirão, por meio do comércio ambulante e da internete. É necessário portanto uma ação que discipline e ao mesmo tempo desencoraje e combata o comércio ilegal de antibióticos.

2 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Ao mesmo tempo em que dou os parabéns pelo texto de utilidade pública, meu amigo, pondero que a questão vai além e toca de perto os teus colegas.
Médicos adoram prescrever antibióticos! É impressionante como recorrem a eles como primeira alternativa. Dou-te um exemplo: minha esposa teve mastite por causa da amamentação. Ao todo, ouvimos oito médicos, de diferentes especialidades, e ninguém resolveu nada. Mas prescreveram antibióticos. No final, quem nos salvou para as enfermeiras da Santa Casa.
Tenho visto isso há anos. Já ignorei sumariamente prescrições que me foram feitas e me recuperei plenamente sem recorrer aos famigerados medicamentos.
Um amigo teve um problema dermatológico e mandaram que tomasse um antibiótico por dez dias. Tanto tempo assim não é desrecomendável?
Portanto, penso que a casa precisa ser arrumada de dentro, com a prescição de antibióticos apenas quando isso se mostrar absolutamente necessário. O passo seguinte é controlar a venda. Porque esta já é o reflexo do fato de o leigo achar que antibiótico é o remédio correto.

Itajaí disse...

Obrigado, Yúdice. O debate dos antibióticos na prática médica precisa ser retomado com urgência. Quanto ao tempo de uso varia de acordo com a virulência do microrganismo, com o tipo de antibiótico, com a gravidade e as condições clínicas do paciente. Mas há protocolos seguros que orientam os médicos nesse tocante.