Hoje comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. É dia para uma reflexão sobre um país que acostumou-se a crer que é uma democracia racial, quando na verdade não o é. Um dos primeiros filtros que a sociedade brasileira estabeleceu foi distinguir o proprietário de quem seria escravo, isto é, pessoa da não pessoa, mas coisa animada com valor de troca no infame mercado que perdurou no país até 1888, não fosse o advento da Lei Áurea.
Entretanto, em que pese o estatuto legal ser produto de um notável embate cívico que mobilizou por completo o país e suas lideranças políticas, a liberação do cativeiro não reconheceu ao negro a devida cidadania completa e o manteve na prática agregado da família em que antes fora propriedade, ou senão como despachado para biscates nos centros urbanos, quando muito percebendo vinténs de pagamento em uma sociedade que só conheceria o salário mínimo e a carteira de trabalho quase cincoenta anos depois do encerramento do modo de produção escravagista no Brasil.
Numa República nascida como parada militar diante a um povo bestificado, em que a cor do africano e do afro-descendente enredou-se com outros elementos, diluindo-se para complexificar a exclusão social brasileira, um dos espaços de que a população negra sempre estiveve alijada no Brasil foi o acesso aos diferentes níveis de educação e, por derivada, a melhores postos de trabalho. Penso aonde ela chegaria, por exemplo, se no final dos anos 20, com 11 anos, não tivesse trocado o sonho de cursar a Escola Normal por um emprego numa loja de costuras, onde alcançou a posição de gerência. Não fosse isso, imagino que minha mãe, com sua férrea determinação libriana e inegável inteligência, teria sido a primeira na família a obter diploma de nível superior e não eu, que o alcançei 56 anos depois de que ela fora obrigada a deixar os bancos escolares para assumir o sustento de minha avó, filha de um ex-escravo de ganho e a única alfabetizada numa prole de seis filhos.
Zumbi dos Palmares, o sobrinho do rei Ganga Zumba, foi a personalidade associada ao Dia da Consciência Negra. Sem dúvida ninguém maior na memória coletiva que aquele que lidera seu povo na guerra contra o opressor. Entretanto, em nossa história, outros negros se notabilizaram com a inscrição de seus nomes na produção de conhecimento científico. Entre aqueles relacionados à Medicina, é destaque aquele que é considerado o patrono da psiquiatria moderna entre nós - o médico Juliano Moreira (1873-1933).
Um posicionamento contra-hegemônico quanto ao papel da raça e da cor no processo saúde e doença é marca indelével na prática médica, na obra acadêmica e na biografia do psiquiatra baiano, quer estivesse ele debatendo sobre o enlouquecimento, quer sobre a origem da Hanseníase no Brasil, na época imputada aos escravos trazidos da África; ou quando lamentou-se a morte de Juliano Moreira, quando era necessário o combate intelectual ao anti-semitismo mundial que Hitler inaugurara, prática que foi considerada de bom tom entre aqueles de escol, aqui e alhures. Ao contrário de Machado de Assis, também mulato, o professor Juliano Moreira nunca permitiu que sua iconografia fosse progressivamente embranquecida nos traços e na tez.
Numa República nascida como parada militar diante a um povo bestificado, em que a cor do africano e do afro-descendente enredou-se com outros elementos, diluindo-se para complexificar a exclusão social brasileira, um dos espaços de que a população negra sempre estiveve alijada no Brasil foi o acesso aos diferentes níveis de educação e, por derivada, a melhores postos de trabalho. Penso aonde ela chegaria, por exemplo, se no final dos anos 20, com 11 anos, não tivesse trocado o sonho de cursar a Escola Normal por um emprego numa loja de costuras, onde alcançou a posição de gerência. Não fosse isso, imagino que minha mãe, com sua férrea determinação libriana e inegável inteligência, teria sido a primeira na família a obter diploma de nível superior e não eu, que o alcançei 56 anos depois de que ela fora obrigada a deixar os bancos escolares para assumir o sustento de minha avó, filha de um ex-escravo de ganho e a única alfabetizada numa prole de seis filhos.
Zumbi dos Palmares, o sobrinho do rei Ganga Zumba, foi a personalidade associada ao Dia da Consciência Negra. Sem dúvida ninguém maior na memória coletiva que aquele que lidera seu povo na guerra contra o opressor. Entretanto, em nossa história, outros negros se notabilizaram com a inscrição de seus nomes na produção de conhecimento científico. Entre aqueles relacionados à Medicina, é destaque aquele que é considerado o patrono da psiquiatria moderna entre nós - o médico Juliano Moreira (1873-1933).
Um posicionamento contra-hegemônico quanto ao papel da raça e da cor no processo saúde e doença é marca indelével na prática médica, na obra acadêmica e na biografia do psiquiatra baiano, quer estivesse ele debatendo sobre o enlouquecimento, quer sobre a origem da Hanseníase no Brasil, na época imputada aos escravos trazidos da África; ou quando lamentou-se a morte de Juliano Moreira, quando era necessário o combate intelectual ao anti-semitismo mundial que Hitler inaugurara, prática que foi considerada de bom tom entre aqueles de escol, aqui e alhures. Ao contrário de Machado de Assis, também mulato, o professor Juliano Moreira nunca permitiu que sua iconografia fosse progressivamente embranquecida nos traços e na tez.
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