Capa do catálogo da exposição
A construção do objeto do conhecimento se dá por sucessivas aproximações.
A primeira notícia que tive do teatro Kabuki foi nos meados dos anos 70. Na época formava com Rômulo Paes, Antônio Carlos de Andrade Monteiro e Elias Israel um pequeno grupo de jovens secundaristas interessados em cinema, que tomaram para si a responsabilidade de organizar e conduzir um pequeno cinema nas dependências do Serviço Social do Comércio (SESC), no qual, além da projeção da película em cartaz, fosse garantido à platéia algum debate, de preferência com a presença de algum crítico ou professor universitário. Era uma forma de nos formarmos e também de contribuírmos para a formação de uma platéia em cinema, entre comerciários.
Embora sofressemos vigilância institucional, para evitar qualquer incidente com filmes pouco palatáveis à ditadura militar - então estávamos no governo do general Geisel -, conseguíamos regularidade e títulos interessantes, projetados na técnica hoje antiga, em máquina de projeção mecânica para bitola 35 mm, obrigando a troca dos rolos e as vezes a emergência de emendar o celulóide de súbito rompido.
Foi um belo tempo de formação. Mas não lembro exatamente como chegamos a projeção daquele documentário sobre o teatro Kabuki, que é expressão milenar do teatro japonês, representado até hoje exclusivamente por atores por determinação de decreto imperial, ainda que na origem tenha sido criado e interpretado por atrizes. Quem sabe o fornecimento do filme tenha sido algum gesto de cooperação e amizade do Consulado Geral do Japão, em Belém, capital brasileira que possui uma comunidade japonesa expressiva desde os meados do século XX.
Estimulado pelo que assisti, procurei aprofundar a informação recebida, contudo sem obter muito êxito diante da excentricidade ou do exotismo do tema para a época, nas bibliotecas da cidade paraense. Nos anos seguintes, entretanto, na medida em que o ambiente de informação cultural foi se ampliando pelo território quase continental do Brasil, sempre havia em alguma revista ou jornal uma ou outra reportagem sobre teatro Kabuki, que eu logo reunia aos fragmentos da experiência vivida no antigo cineminha do SESC, como fosse um dos tantos cacos de uma xícara incompleta, deixada na mesa da memória.
Então nesses últimos dias de férias, eu caminhava no metrô e minha esposa me chamou a atenção para um poster com a informação de que na sede da Fundação Pierre Bergé - Yves Saint Laurent estava em cartaz, de 7 de março a 15 de julho, a exposição Kabuki: Costumes du Théâtre Japonais. Confesso que de início não animei muito, mas a perseverança da descobridora do anúncio, lembrando-me de seu interesse no evento, levou-nos três dias depois à exposição dos trajes teatrais.
Pois fiquei maravilhado com a exuberância da exposição; sumarizada nos 30 exemplares de vestimentas trazidas do Japão até Paris. E desse espetáculo saí com a certeza de que havia acrescentado uma importante parte nas minhas lembranças começadas no SESC de Belém. Hoje estou com a certeza de que a última parte que corporificará a tal xícara fragmentária do Kabuki na minha memória, seu desencantamento como objeto do conhecimento, será assistir ao vivo uma peça dessa grande manifestação cultural da humanidade.
Pois fiquei maravilhado com a exuberância da exposição; sumarizada nos 30 exemplares de vestimentas trazidas do Japão até Paris. E desse espetáculo saí com a certeza de que havia acrescentado uma importante parte nas minhas lembranças começadas no SESC de Belém. Hoje estou com a certeza de que a última parte que corporificará a tal xícara fragmentária do Kabuki na minha memória, seu desencantamento como objeto do conhecimento, será assistir ao vivo uma peça dessa grande manifestação cultural da humanidade.
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