sábado, 14 de novembro de 2009

De Corais e Poesia Zen
























Corais se alimentam de plancton, dizia-se. As fotos acima evidenciam um fato até o momento desconhecido para a ciência. Um coral da espécie Fungia scruposa "engole" uma água-viva no Golfo de Aqaba (Mar Vermelho). Publicado em Coral Reefs (2009), 28:831–837.

A globalização tem sido implicada em inúmeros problemas sócio-econômicos e ambientais nas mais diferentes regiões do mundo. O atual momento do sistema capitalista promove ou subverte práticas culturais, delineando novas práticas e estilos de vida quase sempre nocivos à saúde da coletividade, como fruto de larga e profunda capacidade de produção industrial em escala, que faria os ideólogos da primeira revolução industrial paralisarem de espanto, se lhes fosse possível saber do mundo à frente, duzentos anos depois.
Costuma-se dizer que a unidade anos é um nada em termos de evolução do planeta e dos seres vivos que nele coabitam. Esta é uma verdade relativa, se considerarmos - e devemos fazê-lo seriamente -, quando consideramos que é inversamente proporcional à capacidade humana de produzir danos exponenciais ao ambiente na medida em que aprimora suas forças produtivas e responde às necessidades de mercado. Enquanto não temos limites para desenvolver, inovar, comerciar e alterar negativamente o meio ambiente, a reserva da natureza para responder aos efeitos colaterais do progressismo certamente tem, porque assim é demonstrado em todo e qualquer modelo de sistema, exceção feita à máquina de moto contínuo, jamais inventada.
Alguns pesquisadores, contudo, desenvolveram um niilismo perigoso quanto ao desaparecimento de espécies, fato extensivo à própria a que pertencem, afirmando que grande parte das espécies que hoje interagem no planeta não existiam há alguns milhões de anos, o que demonstra a finitude da vida. Seria inteligente a afirmação se não limitassem suas explicações evolutivas à catástrofes naturais e incluíssem a progressiva participação humana nas modificações do planeta, a ponto de alguns de seus colegas considerarem que vivemos uma nova era geológica, o Antropoceno.
Nessa linha de raciocínio científico, Bradbury (Australian National University) e Seymour (University College of London) publicaram na revista Coral Reefs (2009) 28:831–837) um artigo elegante que indaga com justificada preocupação sobre o futuro dos recifes de corais, organização com importância para o equilíbrio biológico dos mares, ainda que frágil em termos adaptativos frente à velocidade e profundidade das modificações promovidas no ambiente. Trabalhando com a teoria dos sistemas, articulando na argumentação referências conceituais de Biologia, Bioquímica, Economia, Física e de História da Ciência, os autores criticam também os atuais modelos de santuário ecológico para corais, observando que a atual crise não pode ser resolvida sem considerar que homens e corais são indissociados, porque representam indivíduos que integram sistemas superpostos e interagentes, contínuos e contíguos, onde um possui poder e velocidades ilimitados para promover modificações ambientais, enquanto o outro possui reservas com grande inércia para adaptar-se a essas alterações.
O mundo, portanto, precisa superar o atual paradigma de progresso técnico-científico-inovador iniciado na Inglaterra no século XIX, quando, já naquela época, ao lado de jornadas de trabalho com duração de dezoito horas, extensivas à crianças, observávamos que o enegrecimento dos troncos das árvores, provocado pela fuligem depositada pelas fábricas, levou ao quase imediato desaparecimento de mariposas claras, extintas devido a impossibilidade de adaptarem-se ao novo ambiente, como vítimas da cumplicidade estabelecida entre o modelo econômico expoliador e o predador natural daquela espécie.
Penso que não há outro modo de confirmarmos nossa vocação ética de sempre estarmos em um tempo futuro humanamente aceitável. Consciência, coragem e atitude são palavras que decerto nos animarão a caminhar no sentido de reconhecermos os valores de universalidade, integralidade, equidade e transcendência como zelos necessários a vida. Ao modo como Ryushu Shutaku (1309-1388) a imortalizou em poesia zen:
Uma única árvore em seu vaso é minha companhia
A penumbra verde de milhões de anos pesa sobre mim
Quem pode falar da vastidão contida neste mundo?
No espaço de poucos centímetros,
o imenso monte Zhuyong Feng.

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