terça-feira, 26 de maio de 2009

A Cochrane Library e o Descuido do Deja Vu?

A Cochrane Library representa uma das mais importantes instituições do conhecimento em saúde, porque produz estudos de síntese a partir de trabalhos científicos categorizados como portadores de evidência científica robusta. Para realizar seus estudos os pesquisadores da Cochrane Collaboration fundamentam suas atividades sobre trabalhos científicos publicados previamente, conduzidos para esclarecer questões afeitas a um tema comum, em que os resultados publicados serão reunidos para fins de maior peso estatístico, em acordo com as metodologias utilizadas em Medicina (ou Saúde) Baseada em Evidências. Isto, contudo, não é plágio científico, menos ainda duplicação de trabalho, posto que o resultado das metanálises podem concluir que em síntese os trabalhos selecionados não fornecem robustez para responder em definitivo a determinada questão científica. Apesar dessa conclusão óbvia a Cochrane Library foi vítima recente de uma e-iatrogenia, digamos assim*.
Em artigo publicado na Science desta semana, Couzin-Frankel comenta o erro da ferramenta Deja Vu, que listou 2879 documentos da Cochrane Library como suspeitos de plágio científico. O equívoco levou os dirigentes do Deja Vu a rever a classificação dos trabalhos e, por consequência, criou uma nova categoria, a de estudos sancionados. Penso que a emenda soa pior que o soneto, pois ao incluir um trabalho na categoria sancionado a Deja Vu não deixa de informar ao consulente que o conteúdo do trabalho em que tem interesse foi passível da suspeita de fraude. Policial demais para a comunidade científica, que, por tradição, detesta essa palavra tanto quanto aquela que designa a cópia intencional ou não de um objeto, o plágio.

* O sentido original do termo se refere aos efeitos adversos à saúde de seres humanos, relacionados ao uso da tecnologia da informação, como por exemplo sistemas que controlam à distância a administração de medicamentos ou o resultado de exames laboratoriais em idosos.

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