segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um Curioso Exemplo de Higienismo na Política Brasileira

Em comentário à postagem As Fúrias Tropicais, em outro blogue em que colaboro - o Flanar -, pediram-me opinião sobre o seguinte texto: Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Sua maior malignidade está em se infiltrar sem ser percebido. E, mesmo sendo impossível, passar a ser aceito como normal.
Eu não sei exatamente a procedência do texto, mas qualquer que seja a origem dele é de pouca importância para responder o que me foi solicitado. De cara observamos que o parágrafo exemplifica um viés ideológico, ao apresentar uma visão estereotipada do presidente Lula. Chama a atenção elementos textuais claramente relacionados às idéias dos higienistas raciais que contaminaram vergonhosamente a ciência desde os meados século XIX e levaram aos desvios éticos da eugenia. Os termos "força da natureza" e "culminação de instintos vitais", "malignidade", "infiltrar", "normal" remetem com força à linguagem própria dessas disciplinas que deram sustentáculo ao nacional-socialismo alemão e seus conhecidos crimes contra a Humanidade.
Para clarificar melhor o conteúdo narrativo do texto, cito Roso e colaboradores*, que descrevem de forma aguda a fisiologia do estereótipo: estereotipar faz parte da manutenção da ordem social e simbólica, estabelecendo uma fronteira entre o “normal” e o “desviante”, o “normal” e o “patológico”, o “aceitável” e o “inaceitável”, o que “pertence” e o que “não pertence”, o “nós” e o “eles”. Estereotipar reduz, essencializa, naturaliza e conserta as ‘diferenças’, excluindo ou expelindo tudo aquilo que não se enquadra, tudo aquilo que é diferente.
Podemos contextualizar os elementos dessa explicação no exemplo a seguir, extraído de "Minha Luta" (Mein Kampf), opera omnia de Adolfo Hitler: As qualidades intelectuais do judeu formaram-se no decorrer de milênios, Ele passa hoje por "inteligente" e o foi sempre até um certo ponto. Somente, sua compreensão não é o produto de evolução própria, mas de pura imitação.
Minha opinião, portanto, quanto ao parágrafo que me foi solicitado comentar, é a constatação do quanto a paixão política pode levar as pessoas ao exercício das mais baixas inspirações ideológicas.

*Cultura e Ideologia: A Mídia Revelando Estereótipos Raciais de Gênero. Psicologia & Sociedade; 14 (2): 74-94; jul./dez.2002 .

Atualizando: Fui informado agora que o parágrafo pertence a artigo do jornalista Lúcio Flávio Pinto, que está disponível na íntegra aqui.

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