sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Réquiem do Adeus às Armas



NY Times. Weege: Murder is My Business (Weegee: Assassinato É  o Meu Negócio)

Quando eu lecionava a disciplina Saúde do Trabalhador na  Medicina da UFPA, prestei atenção num aluno que trazia sequelas graves no corpo. Avaliei comigo que deveriam ser resultantes de acidente automobilístico, com moto provavelmente.Avaliei errado. Um dia houve oportunidade de conversarmos mais próximos e lhe indaguei sobre a origem das cicatrizes e deficiências que exibia no corpo.
Fui policial militar, disse. E, certa vez, na folga fui a uma borracharia consertar o pneu de minha moto. Estava à paisana, mas armado. Foi quando entraram 4 bandidos com a intenção de tomar a minha arma. Matei um, feri outro gravemente e os outros dois fugiram.
Recebi oito tiros que me levaram a ficar 3 meses na UTI, e ainda há estilhaços de chumbo no meu corpo. Deixei a polícia tão logo pude andar, mas ainda faço fisioterapia e luto na justiça para me aposentar.
Lembrei desse jovem assim que li sobre o decreto de Bolsonaro, que dá livre acesso à armas  e destrói o Estatuto do Desarmamento. Hemingway, que apreciava armas e matou-se com um tiro de carabina, testemunhou as maiores violências coletivas da humanidade no século XX. Por ele temos o melhor resumo do momento que vivemos, cada vez mais distante de um adeus às armas:
É sempre assim. Morre-se. Não se compreende nada. Nunca se tem tempo de aprender. Envolvem-nos no jogo. Ensinam-nos as regras e à primeira falta matam-nos.

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