domingo, 14 de agosto de 2011

Pet Scan, Ciclotron e o Mercado das Estrelas

Ouça um bom conselho,
Que eu lhe dou de graça:
Inútil dormir que a dor não passa (...)
Devagar é que não se vai longe

(Chico Buarque. Bom Conselho)

Foi a partir de 2004 que a discussão no Brasil sobre a produção e a distribuição de radiofármacos adquiriu maior peso, inclusive no Congresso Nacional. Coincindiu esse momento com o início do processo de incorporação no mercado nacional de saúde dos tomógrafos por emissão de posítrons (PET-CT ), que entre nós utiliza para a geração das imagens médicas o 2 - [F18]-fluoro-2-deoxi-glicose ou FDG, cuja meia vida (extremamente curta: 2 horas), impõe à produção e à distribuição um desafio hercúleo para dar conta de um país com extensão territorial com mais de 8 milhões de km2.
Com o aperfeiçoamento dos equipamentos Ciclotrons, destinados a produção de insumos diagnósticos e terapêuticos agregados à radioisótopos, as chances de atender a produção do FDG se tornou realizável, a ponto de hoje o mercado de PET CT se encontrar em franca expansão no Brasil, apesar das indicações serem muito restritas do ponto de vista das seguradoras de saúde. Mas, descontado esse limitante, conta hoje o Brasil com um total de quase 10 equipamentos desse tipo, distribuídos na década principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
Nesse processo de difusão veloz do binômio tecnológico PET-Ciclotron, foi apanhado no foco de discussão a capacidade operacional do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), orgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por 95% da produção nacional de radioisótopos em geral. Para fazer frente aos desafios dessa demanda por esses insumos estratégicos de rádio-diagnóstico e radio-terapia, que se expande no cenário de um país em franca transição epidemiológica para o envelhecimento, foi elaborado em 2004 um projeto ambicioso para a construção de um reator multipropósito brasileiro, que em algumas avaliações custaria cerca de U$ 500 milhões e necessitaria de até 8 anos para ser construído e operado.
Passados dez anos do início dessa discussão, no meio da qual houve período de escassez na importação de rádio-fármacos não produzidos no Brasil, e não bastasse a banal constatação de que a fila anda - e rápido em termos de mercado e tecnologias de saúde -, o que temos de concreto é a informação de que o cincoentenário reator nuclear de pesquisa IEA-R1 do Ipen aumentou sua produção quase ao máximo de sua capacidade, a partir deste mês, e a constatação de que uma planta competitiva de pesquisa e produção multipropósito existe apenas enquanto promessa governamental, sem recursos orçamentários necessários para torná-la realidade.
Enquanto isso, na Comissão de Seguridade Social e Família do Congresso Nacional, foi discutida em julho a questão da incorporação do PET CT no Sistema Único de Saúde (SUS) e - com a pompa e a circunstância que a grande imprensa concede nessas epifânias do seu agrado - alardeia-se a chegada de uma gigante mundial na produção de radiofármacos, a norte-americana Cardinal Health, que pesquisará, desenvolverá e distribuirá por meio de rádio-farmácias esses produtos de saúde, em parceria com o filantrópico Hospital A. C. Camargo. Nada contra esse fato, pois, reconsiderando as palavras do lendário Percilval Farquhar, em termos de mercado as estrelas são o limite e cabe aos postes emoldurá-las na solidão das noites tropicais.

2 comentários:

Anônimo disse...

O projeto está Orçado em US$500Milhões e não US$500Bilhões conforme foi citado no artido.

Itajaí disse...

Obrigado pela correção, aceita.