quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Câncer - Doença Genética e Infecciosa?

O mundo dos vírus ainda é desconhecido para a ciência que, desde o século XIX, tem acrescido seguidos avanços na compreensão do papel das bactérias na patologia humana e dos animais em geral. O desnível de conhecimento acumulado nós podemos compreender como consequência tanto da maior pressão que as doenças bacterianas tinham sobre as populações desde a Antiguidade quanto de limitações tecnológicas, pois ao contrário do óptico, disponível desde o final de 1590, o microscópio eletrônico só aconteceu a partir dos anos 30 do século passado, quando já havíamos acumulado conhecimento em eletro-eletrônica suficiente para sustentar esse tipo de inovação. Não por coincidência data dessa época as primeiras experiências exitosas com transmissões analógicas de imagens por televisão em Nova Iorque.
Uma dos mais importantes avanços na compreensão do papel dos vírus no desenvolvimento das doenças da espécie humana foi a demonstração de nexo causal entre os papilomavírus (HPV) e o desenvolvimento de câncer de colo uterino. O mecanismo da doença inicia com o fato de que para uma reprodução viral eficaz existe a necessidade de infectar células de um hospedeiro geneticamente superior, que tem toda a maquinária celular tomada de assalto a partir da associação do dna viral com o dna do organismo hospedeiro. O processo reprodutivo levará a danos celulares irremediáveis ou, para dizer em linguagem científica, ao efeito cipopático responsável pela indução de alterações morfológicas graves na matriz genética capazes de transtornar os processos energéticos da célula hospedeira, além de sua multiplicação e a diferenciação ordenadas. Por esse modo é correto avaliar o câncer tanto como doença infecciosa, quanto como doença genética e não mais como fato vital incompreensível.
A compreensão das leis do desenvolvimento embrionário é importante não só para compreender como os diferentes tecidos e orgãos do embrião humano são desenvolvidos. Conhecê-lo auxilia na explicação de algumas doenças importantes pela origem dos orgãos em tecidos embrionários comuns. No caso do aparelho urogenital ambos tem origem comum no chamado mesoderma intermediário do embrião. Tais semelhanças podem explicar a suscetibilidade tecidual ao HPV no que respeita ao câncer de pênis e do colo de útero.
O conhecimento científico sobre a relação vírus - câncer tem evoluído de forma substancial tanto na compreensão dos bio-mecanismos implicados nas lesões, quanto no diagnóstico e no tratamento de alguns cânceres. Na fronteira da linha de investigação têm se destacado estudos que buscam definir qual o papel viral na origem do câncer de próstata, um dos mais prevalentes e mortais na população masculina. Embora não seja exatamente uma novidade, a exploração dessa hipótese pode explicar o comportamento de tumores prostáticos de comportamento reconhecidamente mais agressivo. Esta é, por exemplo, uma das contribuições do trabalho de Schlaberg e colaboradores, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (07/09/2009). Mediante um experimento desenhado com acurácia e elegância, os autores demonstram a relação causal entre XMRV (vírus xenotrópico relacionado a leucemia de roedores) e algumas linhagens de câncer de próstata com maior agressividade na progressão da doença.

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