domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Papel da Tecnologia na Desigualdade, Segundo Paul Krugman

Paul Krugman em entrevista à Business Insider
Nessa entrevista Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, tangencia o papel da tecnologia em relação às desigualdades sociais. A perspectiva adotada pelo economista é histórica e parte da realidade de alguns avanços tecnológicos atuais, que prescindem de habilidades humanas para que funcionem, e como tal são portadores de risco para desenvolver desigualdades. Sem dúvida que a abordagem de Krugman tem pertinência, se analisarmos o impacto das duas Revoluções Industriais na relação capital x trabalho e suas repercussões sobre o bem estar da classe trabalhadora, conforme Marx as analisou. 
Ocorre que o papel das tecnologias na origem, produção e sustentação de desigualdades sociais não se esgota nesse cenário de países centrais industrializados. A globalização da economia é uma realidade muito mais complexa do aquela do século XIX, quando a Inglaterra ritmava a economia mundial e advertia que "where the ocean meets the sky", lá estaria comerciando. Hoje o domínio tecnológico tem impactos mais profundos e por ele não responde apenas a substituição de mão de obra nos países desenvolvidos pela vantagem competitiva de tecnologias inteligentes.  Tem outra ordem genética as desigualdades nos países pobres.
O problema mais grave vivido pelos países africanos, por exemplo, não está representado pelo advento breve de carros com direção remota ou por softwares multilíngues para tradução em tempo real e suas possíveis repercussões na curva de desemprego. Para esses povos a desigualdade tecnológica, por exemplo, pode ser exemplificada pela ausência ou insuficiência de acesso à informação e a tecnologias de saúde, sendo que, nesse último caso, ainda estão expostos à iniquidade do consumo de medicamentos falsos ou mal fabricados, que aumentam ainda mais os riscos de adoecimento e morte.  Está representado por exemplo pela escassez de rede física móvel ou fixa para atendimento de saúde.
Por outro lado, nesses mesmos países, as dificuldades no acesso à educação e a melhores tecnologias de ensino estão implicadas no melhor desenvolvimento da infraestrutura e na atração de investimentos externos que promovam geração de emprego e renda. 
Conforme ressaltam Frost e Reich em artigo publicado na revista Health Affairs:
Essas tecnologias incluem medicamentos que salvam vidas, como os anti-retrovirais para o HIV / SIDA, bem como outros que conferem qualidade de vida, tais como medicamentos que ajudam a tratar crises de asma. Acesso limitado é também um problema com muitos outros produtos de saúde, tais como vacinas que podem prevenir doenças debilitantes, testes diagnósticos para doenças infecciosas e crônicas, tecnologias preventivas como mosquiteiros tratados com insecticidas e vários tipos de contraceptivos. Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, desde meados dos anos 1980, cerca de 1,7 bilhão de pessoas, cerca de um terço da população do mundo em 1999 - não têm acesso regular a medicamentos essenciais e vacinas.
Sem o rompimento do ciclo de riqueza e miséria em ordem global, as desigualdades tecnológicas persistirão e farão novas vítimas, que contarão sempre maiores do lado dos países pobres e em desenvolvimento. Ao modo como foi advertido a algumas organizações não governamentais piedosas, não basta fazer doação de equipamentos aos países africanos, faz-se necessário educar aqueles que os farão funcionar, pois, em caso contrário,  centenas de equipamentos continuarão se deteriorando em algum lugar da África e os ricos a achar que alcançaram o reino dos céus.

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