sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Crise Internacional e o GAP 10/90


Nos anos noventa a Comissão de Pesquisa em Saúde para o Desenvolvimento estimou que somente 5% dos recursos mundiais para a pesquisa em saúde era aplicados na solução dos problemas de países de baixa e média renda, que, no mundo, são os locais em que ocorrem 93% das mortes evitáveis.  Essa evidência científica permitiu que o Global Forum, instituição relacionada com o Banco Mundial, elaborasse o conceito de Gap 10/90, que captura o desequilíbrio existente entre a magnitude do problema sanitário e os recursos que deveriam ser empregados para solucioná-lo.
Em termos gerais essa relação devirtuosa pode ser entendida por meio de duas leituras, que se complementam em espelho: 90% (10%) dos recursos mundiais de pesquisa são destinados ao financiamento de investigações voltadas para a solução de doenças que afligem apenas 10% (90%) da população mundial.
Desde então os governos dos países  vinham incluindo na agenda governamental  maior aplicação de recursos para financiamento de pesquisas  que permitissem no longo prazo reverter essa desigualdade brutal, certamente implicada na prevalência de males sanitários como a esquistossomose, a leishmaniose, a hanseníase, a doença do sono entre outras incluídas no grupo das chamadas doenças negligenciadas. Mas aí sobreveio a atual crise econômica internacional e a consequente contração orçamentária dos fundos para financiamento de pesquisas.
Em 2010, por exemplo, o financiamento para desenvolvimento de produtos relacionados a 31 doenças negligenciadas foi diminuído de 109 milhões dólares, caindo para US $ 3,1 bilhões de acordo com o Financiamento Global de Inovação para Doenças Negligenciadas, ou G-Finder. A queda foi consequência de cortes orçamentários havidos em agências governamentais e organizações filantrópicas. Esse movimento de contigenciamento dos recursos foi compensado, contudo, por um aumento de 28% no financiamento de pesquisas conduzidas por empresas farmacêuticas, desde que fossem aplicados em projetos sem fins lucrativos. Não se tem notícias sobre o quão efetiva foi essa medida no contexto global, em especial porque as empresas farmacêuticas possuem roadmaps e timings orientados por suas estatégias de mercado.

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