sábado, 5 de março de 2011

Será, o Benedito?















Professor Benedito Nunes (1929-2011)


Benedito Nunes quando refletia sobre os limites atuais da filosofia, ressaltava o desânimo que as novas gerações demonstram para leitura, a despeito do potencial tecnológico que a sociedade dispõe hoje, quase inestimável, para elevar a qualidade da formação dos leitores.
Assim mesmo lê-se em um twitter que, após nove meses de seu lançamento, usuários do iPad baixaram cerca de 100 milhões de livros eletrônicos nos quatro cantos do mundo real. Nada foi informado, contudo, sobre os títulos baixados ou da qualidade literária do que está guardado naqueles tablets da Apple. No meu, por exemplo, tenho além das obras técnicas de interesse médico o Camões (Os Lusíadas) e o Lima Barretto (O Triste Fim de Policarpo Quaresma), que releio em aeroportos e nos voos em que viajo, associando-os ao passar tempo.
Então qual a política que os países em desenvolvimento devem adotar para leitura, que seja convergente em tábula rasa, mas diversa dos interesses hegemonicos das editoras do mercado local e dos países centrais, neste cenário de produção mundializada de informação digital que, em processo, pretende espelhar uma escala ampliada de lucros para as casas editoras?
Transpor e difundir o livro no formato digital reinova a efetividade dos tipos móveis de Guttemberg e o seu propósito de reproduzir livros à mancheia. Entretanto não podemos nos iludir com o paradoxo de uma civilização com este potencial informacional jamais antes intuído, quando reduz a sua capacidade crítica à leitura de manuais duvidosos e à onipresença dos livros de auto-ajuda, dizendo-se por tal modo - e por fim -, espaço averso para aprofundar conceitos ou reflexões sistêmicas. Como um dia pela metafísica o Benedito ratificou, a filosofia já não consola.

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P.S.

1. Depois de haver publicado esse texto no blog, neste domingo li no jornal O Estado de São Paulo um artigo pertinente, que é acessível em .

2. Meu texto homenageia o filósofo Benedito Nunes, falecido há sete dias. Tive o prazer de conhece-lo quando com ele e outros integramos a comissão designada pelo prefeito de Belém (1997-2002), doutor Edmilson Rodrigues , com o fim de organizar a publicação das obra reunida de Haroldo Maranhão. Desse mandato resultou a publicação do então inédito Pará, Capital Belém: Memórias & Pessoas & Coisas & Loisas da Cidade.

3. O projeto municipal não foi além desse livro. Em seguida, por intermédio de Benedito Nunes, os direitos e a biblioteca do autor de Cabelos no Coração e O Tetraneto D'el Rei - ambos magistrais - foram adquiridas pela Vale do Rio Doce e doadas ao Governo do Estado Pará, ao tempo em que Simão Jatene o administrava e ainda vivia Haroldo Maranhão. O conjunto, inclusos originais e obras raras, encontram-se hoje sob a guarda da Biblioteca Pública do Estado do Pará.

4. Mas Pará, Capital Belém é um livro misterioso. O original desapareceu das vistas do escritor por muitos anos e apenas ressurgiu por mãos incógnitas na época da publicação de sua única edição. Até hoje desconheço quem praticou a reposição digna dos samaritanos. Esse segredo foi confiado ao Márcio Meira, atual presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), que, passados mais de dez anos, mantem em confidencialidade o que decerto esclareceria o sumiço e o achamento da obra.

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