"Além dessas formas naturais que reveste a fitologia amazônica, é necessário mencionar ainda as formas artificiais, resultantes da influência do homem. Embora relativamente insignificantes as zonas modificadas, em comparação com a área total, não são, entretanto, para desprezar, e mesmo muito para lamentar, pela maneira desconscienciosa com que se manifesta, contribuindo, pela exploração exaustiva e desordenada, para o desaparecimento de espécies preciosas. É nas matas que esta influência se faz, quase exclusivamente, sentir, pois que nos campos se manifesta apenas pela introdução de espécies exóticas. Tanto a mata de várzea como a de terra firme são igualmente atingidas. Quanto àquela, é de fácil verificação nas terras marginais do baixo Amazonas; quanto a estas, um pouco em toda parte onde se praticam derrubadas para fins agrícolas ou de indústria extrativa (roças, campos artificiais, extração de madeiras, lenha, fabrico de carvão vegetal, etc.).
Abandonada por qualquer motivo o local da derrubada, forma-se imediatamente a capoeira, com sua vegetação especial, heliófila, e que lentamente pode regenerar a mata. Quando, consequente à derrubada, foi procedida a queima, principalmente se esta é repetida, dá-se a extinção da mata, e o local é invadido por espécies estranhas, formando novas associações, e então é quase impossível a regeneração. Verifica-se o reaparecimento de formas que o amadurecimento do solo havia afastado, e que encontram novamente ambiente favorável pela intervenção do homem. A distribuição faunística, naturalmente, ressente-se com estas modificações do meio. Várias espécies migram, tangidas pela desambientação; outras as substituem pela superveniência de condições favoráveis ao seu desenvolvimento, mas, em geral o balanço é contrário à riqueza, que a própria proximidade do homem compromete."
Estes dois parágrafos integram a obra Mamíferos da Amazônia*, escrita pelo dublê de desembargador e desenhista científico Eládio Cruz Lima, infelizmente falecido de modo abrupto aos 43 anos, sem conseguir completá-la. Da leitura podemos concluir que já havia um discurso científico que chamava a atenção para a grave questão do desenvolvimento amazônico, prolongada até hoje, ainda que gravíssima após decorridos 65 anos da publicação da obra. Como é corrente o governo federal e os governos estaduais da Amazônia Legal não deram uma resposta satisfatória para o desafio de desenvolver a maior região brasileira em extensão territorial e riquezas naturais, sem incorrer nos riscos tão bem descritos por Eládio Cruz Lima.
* volume 1, Introdução Geral e Primatas/ com quarenta e duas pranchas coloridas feitas pelo autor. Belém do Pará-Rio de Janeiro: 1944
Abandonada por qualquer motivo o local da derrubada, forma-se imediatamente a capoeira, com sua vegetação especial, heliófila, e que lentamente pode regenerar a mata. Quando, consequente à derrubada, foi procedida a queima, principalmente se esta é repetida, dá-se a extinção da mata, e o local é invadido por espécies estranhas, formando novas associações, e então é quase impossível a regeneração. Verifica-se o reaparecimento de formas que o amadurecimento do solo havia afastado, e que encontram novamente ambiente favorável pela intervenção do homem. A distribuição faunística, naturalmente, ressente-se com estas modificações do meio. Várias espécies migram, tangidas pela desambientação; outras as substituem pela superveniência de condições favoráveis ao seu desenvolvimento, mas, em geral o balanço é contrário à riqueza, que a própria proximidade do homem compromete."
Estes dois parágrafos integram a obra Mamíferos da Amazônia*, escrita pelo dublê de desembargador e desenhista científico Eládio Cruz Lima, infelizmente falecido de modo abrupto aos 43 anos, sem conseguir completá-la. Da leitura podemos concluir que já havia um discurso científico que chamava a atenção para a grave questão do desenvolvimento amazônico, prolongada até hoje, ainda que gravíssima após decorridos 65 anos da publicação da obra. Como é corrente o governo federal e os governos estaduais da Amazônia Legal não deram uma resposta satisfatória para o desafio de desenvolver a maior região brasileira em extensão territorial e riquezas naturais, sem incorrer nos riscos tão bem descritos por Eládio Cruz Lima.
* volume 1, Introdução Geral e Primatas/ com quarenta e duas pranchas coloridas feitas pelo autor. Belém do Pará-Rio de Janeiro: 1944