domingo, 2 de outubro de 2011

Terá Karl Marx Lido esse Poema?
























Paisagem Urbana de Bruxelas

Em setembro passado, recebi de presente o livro de Carlos Drummond de Andrade, Poesia Traduzida. O inédito do poeta itabirano chegou às livrarias com aquela apresentação impecável que habitualmente encontramos no selo Ás de Colete, sob as ordens das editoras 7 Letras] e CosacNaify.


A Organização e Notas do volume ficaram a cargo dos poetas Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães, que assina a introdução. No preâmbulo aos textos poéticos bilíngues, são feitas considerações sobre o pensamento drummoniano sobre o ofício de traduzir poemas, com destaque para alguns dos escolhidos que, avalia-se, alguma influência tiveram na formação da poética do tradutor.

A leitura dos poemas traduzidos por Drummond, contudo, não me levaram a buscar a companhia sempre presente de Manuel Bandeira, outro grande poeta-tradutor, mas sim a Poesia Alheia - de Nelson Archer -, publicada em 1998 pela editora Imago. São 124 poetas de nacionalidade vária, desde clássicos, como Catulo, Horácio e Marcial, até modernos como Borges e Octávio Paz reunidos em florilégio.

É um belíssimo livro de poesia, em que a sua introdução demonstra a tese de que a tradução poética deveria ser considerada um gênero próprio da literatura, conforme Archer sublinha:

A tradução de poesia é, portanto, uma arte (ou um gênero literário) que tem características próprias. O que ela tem em comum com a poesia em geral é o fato de que deve, fisicamente, atingir o seu grau de complexidade (se é que é possível mensurar algo assim). (...) E, diferentemente da "tradução propriamente dita", requer-se da de poesia que, indo além da transposição do material supra-idiomático, apresente determinados resultados que nem sempre mantêm uma correlação simples e facilmente comparável com seu original. A tradução de um poema, como a de qualquer texto, pode estar errada; no caso da poesia, porém, a tradução correta não existe: uma vez que não esteja errada, ela será (com todas as possíveis gradações intermediárias) boa ou ruim.

Esse Poesia Alheia eu li faz tempo. Nesse reencontro, no século seguinte, lembrei que na ocasião de seu lançamento, vi em um de seus poemas trecho daquele que bem poderia ser epitáfio ou, melhor dito, advertência para aqueles países com pretensões hegemônicas globais, como o foram no século XX a extinta URSS e a Alemanha Nazista. Trata-se do poema Sobre Roma, escrito por Janus Vitalis (1485-1560):

Recém-chegado que, buscando Roma em Roma,
não encontras, em Roma, Roma alguma,
olha, ao redor, muro e mais muro, pedras rotas,
ruínas, que assustam, de um teatro imenso:
é Roma isto que vês - cidade tão soberba,
que ainda exala ameaças seu cadáver.
Vencido o mundo, quis vencer-se e, se vencendo,
para que nada mais seguisse invicto,
jaz, na vencida Roma, Roma, a vencedora,
pois Roma é quem venceu e foi vencida.
Só resta, indício do que já foi Roma, o Tibre:
corrente rápida que corre ao mar.
Assim age a Fortuna: o que há de firme passa
e o que sempre se move permanece.

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