sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Imperativo Diagnosticista e o Desafio da Solução

Iniciei a leitura de "Em Defesa das Causas Perdidas" ( Boitempo Editorial, 2011), de Slavoj Zizek, por conta de um artigo sobre Heiddeger que integra o volume. Tenho interesse na influência do pensamento heiddegeriano nas questões tecnológicas, e além do mais vi-me atraído pela elegância dos primeiros parágrafos em que o autor inicia a sua tarefa, a partir da citação de alguns contos de Chesterton.
Todavia a impressão que Zizek em mim causou não foi das melhores, exatamente porque pretende fazer uma crítica cultural do Ocidente e apontar responsabilidades em Deus, no mundo e até em raimundos como Platão, Brecht, Sartre, Foucault e outros ilustres que forem passando, incautos, defronte ao seu ágora pós-moderno. E, o pior - passent tous - sem demorar-se numa necessária análise de evidência.
Fique claro, sem dúvida, que o charm brilha de pronto em algumas ribaltas que o apreciam, e o engrandecem por obra de animadores que apresentam-se tolerantes quanto ao que lhes é servido em tábula rasa. Como soem fosforecer os best-sellers e, em termos de cinema, os filmes blockbusters sazonais.
Pois vem daí grande parte da minha reatividade ao texto, pois não é do meu estilo sentar o pau em tudo e em todos e ficar por isso mesmo, atracado no conforto do salva-vidas do conceito de intelectualidade - alías outro alvo da iconoclastia do psicólogo Zizek - enquanto outros, que eu virei a criticar depois, danam-se em busca de soluções.
Porém tenho de reconhecer algo de proveitoso no capítulo que li; quando Zizek exercita o diagnóstico sobre uma questão aguda da política internacional da atualidade, com base no embate entre direita e esquerda nos espaços (trans) nacionais de poder. Diz ele, e com razão, sem aprofundar na complexidade do objeto que analisa, mas atento ao pontapé inicial para um debate que além de pertinente é justo:
Assim, quando os esquerdistas deploram o fato de que hoje só a direita tem paixão, só ela consegue propor um novo imaginário mobilizador, e que a esquerda só se dedica à administração, o que não veem é a necessidade estrutural do que percebem como mera fraqueza tática da esquerda. Não admira que o projeto europeu, amplamente debatido hoje, não consiga despertar paixões: em última análise, é um projeto de administração, não de compromisso ideológico. A única paixão é a reação da direita contra a união da Europa; nenhuma das tentativas da esquerda de infundir paixão política na noção de uma Europa unida (como a iniciativa de Habermas e Derrida no verão de 2003), conseguiu ganhar impulso.
Não por menos se diz que o futuro na política no mundo, os loci sem dúvida são construídos excêntricos aos países da Europa e da Ásia. Tais experiências comparecem como formulação e praxis no hemisfério sul do continente americano. Há que administrá-las para que deem frutos em direitos, promovam a inclusão e o desenvolvimento econômico e social.

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