quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Blade Runner - O Livro de Desenhos


Blade Runner - Livro de Desenhos (Blade Runner Sketchbook), editado em 1982, é uma rarirade. Mesmo em livrarias especializadas em raros e esgotados achá-lo é difícil, devido a constante procura dos fãs desse clássico da ficção científica e pela tiragem pequena da edição. Enquanto não se publica uma segunda edição, delicie-se com essa cópia on line. Para ler, basta clicar sobre a imagem.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Síntese do Instante Num Catálogo de Livraria

Sempre recebo no meu endereço de Belém o Catálogo de Livros Selecionados, da Livraria Académica. A simpática livraria tem página na internete e está localizada na cidade do Porto, em Portugal, na Rua dos Mártires da Liberdade, 10. A sede física, contudo, não conheço em que pese o desejo sempre insatisfeito de visitar a terra de avoengo paterno, lá falecido.
Além da seleção de raridades bibliográficas, Nuno Canavez, proprietário da livraria e reconhecido intelectual portuense, sempre encarta na última folha do catálogo um poema para reflexão do leitor.
Sabemos o quanto Portugal tem sofrido com os revezes da economia européia. Só para avaliarmos a atual gravidade da situação, uma fonte que de lá retornou disse-me que o governo português já trabalha com o cenário de manter ao menos uma pessoa empregada por unidade familiar, e que patrões e empregados já negociam redução de salários.
É inserido nesse contexto que o catálogo 264/2011 da Livraria Acadêmica oferece aos olhos do leitor um inquietante poema sem título, assinado por Maria Ângela de Sousa - de quem, infelizmente, não obtive maiores informações nos sistemas de busca usuais.

Diga-me amigo
o senhor que tanto sabe
do passado, do presente e do futuro da nossa gente
diga-me que genética ou que História
nos transformou nas quimeras que hoje somos
quem nos fez de tão larga imaginação e tão estreito agir
de tanto falar e tão pouco fazer

deste permanente ser e não ser
de tanto querer e tanto temer
de tanto criar e tão pouco ousar

lembradas glórias de impérios conquistados?
restos mouros de resignação e sofrimentos antecipados?
o esperar em vão de reis por vir?

ou simplesmente a paz das sardinheiras
e tudo o que nunca voltou d'Álcácer-Quibir?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Mais Letal Vírus do Mundo e o Super-Pateta

O sonho acabou desmanchando
A trama do Dr. Silvana
A trama do Dr. Fantástico
E o melaço de cana.
(Gilberto Gil - O Sonho Acabou)


Com frequência assuntos científicos comparecem na mídia como parte de notícias sensacionalistas e, com alguma frequência, associada a alguma interpretação conspiratória que poria em risco a humanidade. Lembro de algumas estórias mirabolantes que bem ilustram a questão, por exemplo:
1) Que a origem do vírus da Aids estaria relacionada a experimentos de cientistas em laboratórios militares norte-americanos, o qual ao fugir do controle de segurança teria se espalhado pelo mundo. Ou de que o único agente etiológico de imunodeficiência adquirida - o HIV - teria alcançado a humanidade mediante a vacina contra pólio, tecnologia que tantas vidas salvou no planeta.
2) Ou de que o ex-ditador líbio Saddam Hussein teria adquirido cópias do vírus da varíola, que lhe teriam sido vendidas por bilhões de dólares, depois que cientistas russos a roubaram de um laboratório em Novosibirsk, Rússia, por ocasião do desmoronamento do Império Soviético.
3) Esse denuncismo, que a história comprovou não possuir qualquer base factual, também afirmava que o complexo soviético de guerra biológica teria produzido 20 toneladas do mesmo vírus e as espalhado secretamente nos quatro cantos do mundo, sob a guarda de ex-agentes da KGB, homens de olhos rútilos de ódio e prontos para aniquilar o planeta a primeira ordem sabe lá de quem.
4) Também houve quem questionasse na blogosfera se a Escherichia coli implicada nas infecções gastro-intestinais na Europa não seria um teste de arma biológica promovido pelas grandes potências, não importanto que para isso se ignorasse - como nos casos anteriores citados - que a Teoria da Evolução diz basicamente o seguinte: as espécies evoluem às ordens da natureza, sem que necessariamente o homem tenha de intervir nesse processo.
Entretanto, no que se pode ter de factual sobre um ataque biológico - o uso do carbúnculo (Antraz) nos EUA, em 2001 - nunca foi objeto de interesse jornalístico que esclarecesse afinal quem ou o quê estavam por detrás desses atentados terroristas. O que teria dissuadido os jornalistas de investigar fatos tão graves para a coletividade?
Os fatos antes citados, portanto, não pretendem negar a realidade de que os países ou grupos políticos com pretensões hegemônicas globais sempre tiveram interesse em desenvolver armar biológicas para dissuadir e atacar seus inimigos, desde a Antiguidade e a Idade Média, e modernamente antes mesmo do desenvolvimento da tecnologia nuclear aplicada para fins bélicos.
Notemos que essas teorias anedóticas trabalham sempre com a idéia de que cientistas trazem consigo um potecial certo de risco para a humanidade, como ilustram as figuras romanescas de Mr. Hekyll/ Mr. Hide e do doutor Frankestein, seguidos nos quadrinhos e jogos de vídeo por uma súcia de ensandecidos que integra entre outros Hugo Ago-Ago, doutor Silvana, Lex Luthor e doutor Killjoy.
Toda essa galeria de personagens evocaria a grosso modo correspondências com "pesquisadores" criminosos de que são exemplos os médicos nazistas Mengele, Eduard Wirths e Hilario Hubrichzeinen , que praticaram no complexo dos campos de morte Auschwitz-Birkenau uma pseudo-ciência racial, demonstrando que a liga entre personagens de ficção e da história e de seus crimes fictícios e reais está fundamentada no fato de que a ciência como todo processo criador não é neutra, os agentes fomentadores e produtores do conhecimento possuem ideologia e não estão acima do bem e do mal.
O problema, contudo, é a instrumentalização midiática em torno dessa assertiva que, nos últimos dias, vem exemplificada na denúncia publicada em jornais norte-americanos e europeus de que uma equipe de cientistas teria desenvolvido um novo vírus da gripe (H5N1), hoje raro entre humanos, cuja letalidade seria de 60%. Esse experimento de biotecnologia deriva da competência que foi adquirida para manipular mutação de gens em laboratório, fenômeno biológico sensível para a evolução dos vírus em geral. Isso por certo levaria a elaboração de um banco viral altamente virulento, disponível para a elaboração de vacinas e medicamentos que fossem necessários quando a mutação ocorresse espontaneamente na natureza e os primeiros surtos fossem verificados.
Eu não tenho dúvida quanto a segurança com que essa pesquisa foi conduzida, nem da competência da equipe de cientistas que a conduziu, nem de que ela anuncia um novo patamar na prevenção e tratamento de doenças infecciosas. Tenho dúvidas sim, no médio e longo prazo, quanto à migração desse conhecimento científico em termos de produto de mercado, considerando que a indústria farmacêutica expressou que haveriam limitações tecnológicas para responder uma demanda mundial de vacinas na última pandemia de H1N1.
Por outro lado, confirmando que o sensacionalismo e a visão conspiratória sempre comparecem para confundir, é inaceitável que revistas científicas sejam pressionadas para não publicarem a pesquisa, ou, se o façam, do texto sejam eliminadas "determinadas informações" que poderiam ser apropriadas por bioterroristas. A comunidade científica não pode aceitar tal interferência do estado, seja porque abre oportunidades que fragilizarão a transparência e a ética em pesquisa, seja porque trabalho científico mutilado e domesticado, em qualquer revista que o publique, em definitivo será ciência do Super-Pateta.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Balanço Pessoal de Ano

1- O desempenho do Voo de Galinha em 2011 foi vexaminoso, conforme expressa o registro das postagens, que, em número, retrocedeu à produção de 2009.
2- Em compensação, @itajaideal, twitter associado a este blog, disparou mais que duplicando o número de seguidores.
3- Em 2011, por questões de tempo não foi possível cristalizar novo blogue, que associaria bibliofilia e medalhística no âmbito da Amazônia.
4- Fiz uns magros progressos na fotografia, que estão disponíveis no Flickr ou aqui, em link na coluna à direita desta página.
5- No mais tenho a agradecer àqueles que prestigiam o blog, o twitter e o Flickr com suas presenças e comentários sempre generosos.

Mas, se toda história guarda alguma conclusão, este balanço breve e personalíssimo tem lá sua moral, resumida na constatação de que O problema é que eu tenho hobbies demais e dinheiro de menos. Mas outros melhores dias prometem vir, e comme il le faut terei de conquistá-los.

Resistir é Viver



















Shikhei Goh da Indonésia ganhou o primeiro prêmio do concurso internacional de fotografia promovido pela revista National Geographic, em 2011. A foto, denominada Splashing (Chuvisco), tem por objeto uma jacinta resistindo à força da chuva e do vento, sob uma luz que remete a um fim de tarde. O registro fotográfico permite a quem o observa - e especialmente para aquele habitante dos trópicos - a sensação de que participa da cena. No meu ver essa foto impressionante se tornará um dos ícones da macrofotografia. Aqui outras fotos do fotógrafo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

E Aquilo Deu Nisso?

A Penguin Books, editora de âmbito internacional, está presente no Brasil pelo menos há um ano, com a confirmação de que vende livros a preço justo em consórcio com a brasileira Companhia das Letras. Ao catálogo internacional, que guarda títulos importantes para o conhecimento, a parceria tem agregado obras para o Brasil, dos quais são exemplo, entre outros, o Essencial de Joaquim Nabuco, o Essencial de Padre Antônio Vieira (com inédito A Chave dos Profetas) e os Apontamentos de Viagem (J.A. Leite Moraes).
Dos bate-pernas dos chamados viajantes na Amazônia, Leite Moraes talvez seja um dos menos conhecidos, ainda que a paixão dos bibliófilos pague pequena fortuna para ter a primeira edição do livro, publlicado salvo engano pela Câmara Municipal de São Paulo, em edição de magra tiragem. Logo, reedições como essas da Penguim e, seja dito, antes a da Companhia das Letras são importantes para a perenidade do instantâneo que Leite Moraes deu ao público de sua época e às gerações do futuro (em última forma, publicações almejam sempre a eternidade).
Haroldo Maranhão, patrono desse blog, não selecionou Mello Moraes para compor sua revisão literária, a que deu o título de Pará, Capital: Belém/ Memórias & Pessoas & Coisas & Loisas da Cidade (Prefeitura de Belém, 2000). Não importa, pois esses Apontamentos de Viagem, escrito pelo avô do maior intelectual brasileiro já havido - Mário de Andrade -, é obra de importância para o estudo da civilização na Amazônia entre o fim do século XIX e o início do XX, ainda que não acresça de maior originalidade aos registros realizados por outros que, advindos aos trópicos com o espírito de capitalistas da Segunda Revolução Industrial, interpretavam com bom ânimo o pensamento e o empreendedorismo, enquanto silenciavam sobre a violência escancarada e as omissões das elites na fronteira amazônica do capitalismo.
Não é segredo que permanecemos fronteira de riqueza, cobiças e vícios do capital. E essas reflexões à maneira da que nos foi legada por Mello Moraes, de que "em Belém tudo é grande e tudo indica o desenvolvimento daquele povo", ao tempo em que o Pará e Belém representavam faces do mesmo ente, mas não escapes do inevitável espelhamento entre o discurso Belle Époque de Paris n'América e o que de fato foi construído nas sequências entrantes do futuro, hoje misère obligé (criação do poeta José Paulo Paes) constituem para nós, paraenses, um doloroso legado que, confrontado com a degradação experimentada ao longo de um século, representa a apavorante constatação de que a ópera dessas elites se reduz a um drama desvirtuoso, que ofende por onde se escute ou leia aos mais comezinhos princípios do direito e da moralidade pública.
Para remédio que supere essa farsa /farra grotesca, só nos resta chamar a quem nos bastidores sempre esteve; a quem tudo assistiu bestializado e violentado no mato, na senzala e nas atualizados reservas de miséria da capital e do interland paraense: O povo, ou os bárbaros como preferem alguns, pois só ele permitirá reverter essa empreitada de bucaneiros. Como disse a clarividência poética do grego Kaváfis - Sem bárbaros o que será de nós? / Ah! eles eram uma solução.

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Bahia A.D.

"Bahia A.D. by Itajai de Albuquerque
"Bahia A.D., a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.

O AD não tem nada de latino: é abreviatura de Alta Definição. Trata-se de um tratamento digital que possibilita a criação de um cromatismo que remete ao realismo fantástico. Os registros originais foram feitos em Salvador-Bahia, de manhã cedo, com um tempo nublado. Logo em seguida garoou.
Então é isto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

The Time's Files

Dizem que o tempo é curvo e, ao menos aqui, nessa foto, algumas de suas linhas se encontram.

sábado, 19 de novembro de 2011

NOT THIS PIG: A Poesia de Philip Levine



















Philip Levine. Foto de David Shankbone (2006). Creative Commons.


Philip Levine, nascido e criado em Chicago durante a Grande Depressão, é um poeta quer da classe trabalhadora na dimensão de sua universalidade. Foi trabalhador da indústria automobilística, onde chegou a fazer "trabalho estúpido". Bacharel e Mestre em Artes pela Wayne State University, faz uma poesia que é marcada de ceticismo em relação ao American Way of Life e também pela herança dos valores judaicos legados por seus pais.
Seus poemas são como fossem instantâneos que revelam uma teia social contínua e insidiosa que atrai, aprisiona e distancia para uso as pessoas. Como a locomotiva e o narrador do poema que aqui transcrevo, trazido de um de seus primeiros livros publicados - NOT THIS PIG (1968) -, em tradução e com os erros que me pertencem.
Laureadíssimo, Levine recebeu entre outros prêmios o Lenore Marshall Poetry Prize, dois National Book Critics Circle Awards (1980) e o National Book Award in Poetry (1991). É professor da California State University. No Brasil sua obra foi tema da dissertação de mestrado de Vinicius França da Silveira - "A Poesia de Philip Levine: Estudo Seguido de Pequena Antologia Traduzida e Comentada" (Unicamp, 2011).

Em Toledo, Quase Voltando pra Casa

Nós paramos no terraço do bar,
Bebemos e vimos os fazendeiros de sempre.
Com olhares censuravam por trazermos
Conosco um trabalhador grosseiro: Ele
Que do acostamento da estrada
Ria-se, acenava e mijava sobre a neve
A quarenta milhas geladas do lar.

Quando a locomotiva enguiçou
Nos juntamos em círculo.
Apenas nossas respirações
E o som da neve era ouvido.

Depois, noutro tempo, noutra cidade
No segundo dia de um novo ano
Já velho, antes do amanhecer
Nós a encontramos em cores pálidas
Como houvesse caído no sono
E, na sua pobreza abandonada,
Despertasse numa gare de vidro
Sob um teto de madeira barata.

Irmãos e amigos, eu lhes chamei alto
Por vocês algumas esposas
E crianças vieram - faces consoladoras -
e diziam "pai" e "marido".

Vocês nunca responderam.
Sob as estrelas congeladas
Não ouviram naquele velho ano,
O ranger da neve amontoando-se
Nem sentiram o ar zinabre da escória
Reunida a vinte milhas ao Sul de Ecorse.
Vocês que estavam felizes, cansados
E não voltavam para casa.

domingo, 13 de novembro de 2011

A Exuberância Luminosa de Gaia

Earth | Time Lapse View from Space | Fly Over | Nasa, ISS from Michael König on Vimeo.

Na coluna eletrônica Dot Earth, no The New York Times, Andrew Revkin presenteia-nos com esse belo filme feito há dois meses pelos tripulantes da Estação Espacial Internacional. É um passeio belíssimo sobre nosso planeta, em que observamos a exuberância das luzes de nossa civilização concorrendo com a beleza das auroras boreais e os clarões de trovões sob as nuvens de nossa atmosfera.

Nesses tempos em que nós brasileiros lutamos para que seja garantido o acesso a documentos de Estado, e que nenhum tenha estatuto de eternamente secreto, não posso deixar de registrar que o acesso universal dessas imagens só é possível, porque o Congresso dos EUA em 1958 votou o Space Act (Ato Espacial), onde é estabelecido que a NASA deve comunicar seus achados científicos ao público.

sábado, 12 de novembro de 2011

Ministro da Saúde Dá Entrevista a VEJA

O Passeio do Besouro Entimus

Entimus Beetle in a Bougainville branch by Itajai de Albuquerque
Entimus Beetle in a Bougainville branch, a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.

No finalzinho da tarde desse sábado, brasilianamente ensolarado, quando molhava as plantas na minha sacada, dei com um visitante diferente. Um besourinho que parecia fantasiado para o Carnaval, no tempo em que ainda haviam bailes à fantasia na altura dessa descrição.
Claro que montei a velha Nikon D-40 e fui observá-lo mais de perto. Tratava-se de um besouro bem blasé - ou seria uma besoura? Até fez uma paradinha para tomar quem sabe um pouquinho d'água.
Na internete busquei saber o nome e o sobrenome do visitante, e penso que a identidade se aproxima bastante de um espécime do gênero Entimus. O esclarecimento dessa dúvida caberá aos entomólogos, que acaso por distração dêem uma passadinha aqui, no blog.
O fato é que hoje, no planeta, os besouros estão entre as espécies ameaçadas de extinção. O risco se deve às mudanças provocadas em seu habitat natural, que são as florestas.
Não se sabe ao certo quantas espécies desses insetos existem no mundo, nem tão pouco qual a exata função que desempenham no ecosistema terrestre. Mas que eles teem uma ou algumas nem se pode duvidar! Afinal, falta de evidência científica não significa ausência de evidência. Novas perguntas ou reinquirições são o combustível da ciência.

Que Tal um Gole?

domingo, 2 de outubro de 2011

Terá Karl Marx Lido esse Poema?
























Paisagem Urbana de Bruxelas

Em setembro passado, recebi de presente o livro de Carlos Drummond de Andrade, Poesia Traduzida. O inédito do poeta itabirano chegou às livrarias com aquela apresentação impecável que habitualmente encontramos no selo Ás de Colete, sob as ordens das editoras 7 Letras] e CosacNaify.


A Organização e Notas do volume ficaram a cargo dos poetas Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães, que assina a introdução. No preâmbulo aos textos poéticos bilíngues, são feitas considerações sobre o pensamento drummoniano sobre o ofício de traduzir poemas, com destaque para alguns dos escolhidos que, avalia-se, alguma influência tiveram na formação da poética do tradutor.

A leitura dos poemas traduzidos por Drummond, contudo, não me levaram a buscar a companhia sempre presente de Manuel Bandeira, outro grande poeta-tradutor, mas sim a Poesia Alheia - de Nelson Archer -, publicada em 1998 pela editora Imago. São 124 poetas de nacionalidade vária, desde clássicos, como Catulo, Horácio e Marcial, até modernos como Borges e Octávio Paz reunidos em florilégio.

É um belíssimo livro de poesia, em que a sua introdução demonstra a tese de que a tradução poética deveria ser considerada um gênero próprio da literatura, conforme Archer sublinha:

A tradução de poesia é, portanto, uma arte (ou um gênero literário) que tem características próprias. O que ela tem em comum com a poesia em geral é o fato de que deve, fisicamente, atingir o seu grau de complexidade (se é que é possível mensurar algo assim). (...) E, diferentemente da "tradução propriamente dita", requer-se da de poesia que, indo além da transposição do material supra-idiomático, apresente determinados resultados que nem sempre mantêm uma correlação simples e facilmente comparável com seu original. A tradução de um poema, como a de qualquer texto, pode estar errada; no caso da poesia, porém, a tradução correta não existe: uma vez que não esteja errada, ela será (com todas as possíveis gradações intermediárias) boa ou ruim.

Esse Poesia Alheia eu li faz tempo. Nesse reencontro, no século seguinte, lembrei que na ocasião de seu lançamento, vi em um de seus poemas trecho daquele que bem poderia ser epitáfio ou, melhor dito, advertência para aqueles países com pretensões hegemônicas globais, como o foram no século XX a extinta URSS e a Alemanha Nazista. Trata-se do poema Sobre Roma, escrito por Janus Vitalis (1485-1560):

Recém-chegado que, buscando Roma em Roma,
não encontras, em Roma, Roma alguma,
olha, ao redor, muro e mais muro, pedras rotas,
ruínas, que assustam, de um teatro imenso:
é Roma isto que vês - cidade tão soberba,
que ainda exala ameaças seu cadáver.
Vencido o mundo, quis vencer-se e, se vencendo,
para que nada mais seguisse invicto,
jaz, na vencida Roma, Roma, a vencedora,
pois Roma é quem venceu e foi vencida.
Só resta, indício do que já foi Roma, o Tibre:
corrente rápida que corre ao mar.
Assim age a Fortuna: o que há de firme passa
e o que sempre se move permanece.

sábado, 1 de outubro de 2011

Mimosa pudica - 1

Mimosa pudica by Itajai de Albuquerque
Mimosa pudica, a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.

Mimosa pudica - 2

Mimosa pudica by Itajai de Albuquerque
Mimosa pudica, a photo by Itajai de Albuquerque on Flickr.

Comprei esse bonsai há uns três anos. Extremamente sensível, obriga-me a não descuidar da rega. Nessa primavera supreendeu, e hoje abriu um de seus botões.

domingo, 25 de setembro de 2011

Primavera de Belezas - 1

O nome é belo: Dendrobium bohemian rhapsody. Quis vê-la então numa atmosfera a média luz e me deixar encantar pelo seu mistério.

Primavera de Belezas - 2

Ela induz a contemplação, principalmente tendo por fundo o céu límpido de Brasília.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vivendo no Limite

Eu sempre tive pesadelos, mas agora os fantasmas não esperam que eu durma.
(O paramédico Frank Pierce em Vivendo no Limite [Bringing Out the Dead - 1999])

Dê uma chance ao SUS.
(Reinaldo Guimarães . Ex-Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde)

O título brasileiro Vivendo no Limite, do filme de Martin Scorcese, não corresponde à tradução literal de Bringing Out the Dead, isto é Trazendo os Mortos para Fora. Mas entre aquela recriação e a tradução portuguesa do título original, estão contidas a imensidão dos dramas e sofrimentos que afetam tanto o pessoal de saúde quanto aqueles que os procuram, nos seus momentos de maior fragilidade vital. Não por menos, há uma definição em saúde, que tem sido objeto de pouca reflexão nas práticas rotineiras de saúde, que conforma uma urgência como a situação em que nos defrontamos com o limite da necessidade humana. Frente a ela, é imperativa uma tomada de decisão pelo menos humanitária, simbolizada na palavra acolhimento que, na sua polissemia, é descrita como refúgio em casa forte.
Curiosamente, na contra-mão do que habitualmente vemos na cinematografia norte-americana, parte do filme de Scorcese acontece num hospital público e os seus personagens não são heróis ao modo House; antes são anti-heróis simbolizados nas figuras de um paramédico transtornado, de pessoas empobrecidas e doentes e também na de um segurança, gestor do acesso da porta de entrada do hospital, aquele que decide quem entra e quem sai, um homem corpulento sempre de óculos escuros, os quais ameaça tirar sempre que alguém lhe contesta a condição de agente de jurisdição e veridição, no termo foucaultiano que bem se ajusta à essa situação marginal de poder.
São, portanto, personagens muito familiares para quem, no Brasil, por dever de ofício, trabalha em unidades de saúde pública ou na gestão do sistema nacional de saúde.
Entretanto devemos sempre resgatar, porque sempre me parece na iminência de perder-se, a verdade de que o Sistema Único de Saúde é uma conquista da sociedade brasileira, que surge como um dos corolários das lutas sociais contra a ditadura e a exclusão social, que não foi invenção dela, no processo de redemocratização do país, amparado nas cláusulas pétreas da Constituição Cidadã de 1988. Antes do SUS, convém recordar, vários modelos burocráticos buscaram garantir o acesso a saúde no Brasil, todos mais ou menos excludentes, e mesmo segregacionistas em termos de classe social, como o foi a experiência dos chamados Institutos de Aposentadoria e Pensões - os IAPS. Pois foi nesse contexto pré-redemocratização que, por exemplo, aprendi medicina no estudo das doenças que acometiam pessoas consideradas indigentes, uma espécie de cidadão de segunda categoria, que para remediarem seus males haveriam de recorrer às Santas Casas de Misericórdia.
Não quero dizer com essa referência que a classe média também não sofresse suas contingências no acesso à saúde, naqueles tempos. Ainda que fosse amparada pelo antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), na verdade quando havia a necessidade de consumir procedimentos de alta complexidade logo a porta de acesso obscurecia, distanciava-se e não restava outro jeito que não fosse o de recorrer com o sacrifício de bens e poupança à iniciativa privada. Era comum por exemplo, na década de 80 e 90, umas campanhas nacionais que apelavam à caridadade pública, quando havia necessidade de encaminhar alguém ao exterior para fazer tratamentos cardiológicos, oncológicos ou à ordem de outras especialidades raras, como era o caso dos transplantes que hoje o SUS garante. Em 1991 eu mesmo cheguei a conhecer uma jovem brasileira em Pittsburgh (Pensilvania - EUA), figurante da Rede Globo na novela Que Rei sou Eu?, que, para alcançar o serviço privado de transplante de fígado do Presbyterian General Hospital, os pais e irmãos dessa moça tiveram de sacrificar bens e fazer inúmeros pedágios nos sinais do Rio de Janeiro.
Então por que essa reiterada prática de preconceito, de falta de paciência com o SUS, ao invés de nos dispormos como cidadãos usuários, como profissionais e gestores, a lutar por ele, reconhecendo-o como um bem público que obriga a ser continuamente aperfeiçoado ? Talvez pela ilusão de hoje, superada a aridez de emprego e renda das décadas de 80 e 90, estarmos entediados com a disponibilidade de planos de saúde para consumo, descuidados de que esses produtos para terem qualidade obrigam custos elevados, que talvez sequer possamos pagar na velhice, como é fato frequente de acontecer entre aposentados nos países ricos industrializados.
Nesse sentido não podemos ignorar que os babyboomers do país e os filhos do milagre econômico dos anos 70, ou mesmo os yuppies da década de 90, enfim aqueles que um dia justicaram o epíteto do Brasil ser um país de jovens, doravante iniciam um ciclo para o envelhecimento que os epidemiologistas chamam de transição demográfica. Não sejamos assim uns velhos de amanhã, com aposentadorias minguadas, sem recursos para pagar um seguro privado de saúde que nos atenda as mazelas da idade a justo preço, saudosistas de um SUS que poderia ter existido senão tivessemos pactuado por atos e omissões com a debilidade do sistema público de saúde do país, cuja a riqueza de seus pressupostos e alcances em quase 25 anos de existência atrai a atenção de outros países com mais de 100 milhões de habitantes, onde não poucas vezes saúde não é direito fundamental, é negócio sem intermediário público e sujeita às exclusões que as leis de mercado e a conta bancária dos consumidores estabelecem.
Tenho carregado comigo essas reflexões há algum tempo, mas as catalizei aqui em função dos últimos acontecimentos ocorridos em Belém do Pará, onde a saúde pública mais uma vez se viu desmoralizada sob qualquer ângulo em que se a olhe, mas, principalmente, pelo lado humanitário da questão. Afinal, a parte ângulos e visões ideológicas, é um escândalo que uma mulher com gravidez de alto risco busque socorro no hospital certo, na hora certa e, impedida no seu direito de ser atendida e de recorrer a outro caminho, assista do lado de fora da casa de saúde, o seu refúgio, dois de seus filhos nascerem mortos porque ali não poderia entrar por falta de leitos, ou quiçá descansar numa manjedoura se ainda existissem tais equipamentos nos hospitais. Naquela situação humilhante e aterrorizante, em que os limites das humanidades presentes na cena já não mais existiam, implodidos que foram pelo desregramento da superestrutura, de antemão todos que ali compareceram estavam derrotados.

domingo, 14 de agosto de 2011

Pet Scan, Ciclotron e o Mercado das Estrelas

Ouça um bom conselho,
Que eu lhe dou de graça:
Inútil dormir que a dor não passa (...)
Devagar é que não se vai longe

(Chico Buarque. Bom Conselho)

Foi a partir de 2004 que a discussão no Brasil sobre a produção e a distribuição de radiofármacos adquiriu maior peso, inclusive no Congresso Nacional. Coincindiu esse momento com o início do processo de incorporação no mercado nacional de saúde dos tomógrafos por emissão de posítrons (PET-CT ), que entre nós utiliza para a geração das imagens médicas o 2 - [F18]-fluoro-2-deoxi-glicose ou FDG, cuja meia vida (extremamente curta: 2 horas), impõe à produção e à distribuição um desafio hercúleo para dar conta de um país com extensão territorial com mais de 8 milhões de km2.
Com o aperfeiçoamento dos equipamentos Ciclotrons, destinados a produção de insumos diagnósticos e terapêuticos agregados à radioisótopos, as chances de atender a produção do FDG se tornou realizável, a ponto de hoje o mercado de PET CT se encontrar em franca expansão no Brasil, apesar das indicações serem muito restritas do ponto de vista das seguradoras de saúde. Mas, descontado esse limitante, conta hoje o Brasil com um total de quase 10 equipamentos desse tipo, distribuídos na década principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
Nesse processo de difusão veloz do binômio tecnológico PET-Ciclotron, foi apanhado no foco de discussão a capacidade operacional do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), orgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por 95% da produção nacional de radioisótopos em geral. Para fazer frente aos desafios dessa demanda por esses insumos estratégicos de rádio-diagnóstico e radio-terapia, que se expande no cenário de um país em franca transição epidemiológica para o envelhecimento, foi elaborado em 2004 um projeto ambicioso para a construção de um reator multipropósito brasileiro, que em algumas avaliações custaria cerca de U$ 500 milhões e necessitaria de até 8 anos para ser construído e operado.
Passados dez anos do início dessa discussão, no meio da qual houve período de escassez na importação de rádio-fármacos não produzidos no Brasil, e não bastasse a banal constatação de que a fila anda - e rápido em termos de mercado e tecnologias de saúde -, o que temos de concreto é a informação de que o cincoentenário reator nuclear de pesquisa IEA-R1 do Ipen aumentou sua produção quase ao máximo de sua capacidade, a partir deste mês, e a constatação de que uma planta competitiva de pesquisa e produção multipropósito existe apenas enquanto promessa governamental, sem recursos orçamentários necessários para torná-la realidade.
Enquanto isso, na Comissão de Seguridade Social e Família do Congresso Nacional, foi discutida em julho a questão da incorporação do PET CT no Sistema Único de Saúde (SUS) e - com a pompa e a circunstância que a grande imprensa concede nessas epifânias do seu agrado - alardeia-se a chegada de uma gigante mundial na produção de radiofármacos, a norte-americana Cardinal Health, que pesquisará, desenvolverá e distribuirá por meio de rádio-farmácias esses produtos de saúde, em parceria com o filantrópico Hospital A. C. Camargo. Nada contra esse fato, pois, reconsiderando as palavras do lendário Percilval Farquhar, em termos de mercado as estrelas são o limite e cabe aos postes emoldurá-las na solidão das noites tropicais.

sábado, 13 de agosto de 2011

A Arte Tipográfica no Pará
























De Bubuia/ Aspectos e Assuntos Regionais Paraenses/ Folclore.
Livraria Gillet (Belém - Pará, 1933)


A tipografia no Pará chegou pelas mãos industriosas de Madureira Pará e Filippi Patroni, espíritos agitadíssimos que se destacaram nos primeiros movimentos políticos que levariam à Independência do Brasil do reino de Portugal. Daí para frente a arte e a técnica de impressos tem evoluído seguidamente, que, pela envergadura histórica da produção editorial, são a Typographia de Santos e Irmãos, a casa editora de Alfredo e Silva, a luso-paraense Tavares Cardoso e, mais recentes, a Falangola e a CEJUP.
Por sua vez, a ilustração gráfica foi progressivamente incorporada na medida em que artífices e artistas desenhistas e pintores foram formados e incorporados ao mercado. Para edições paraenses, assinaram capas artistas autóctones como Theodoro Braga, Adalberto Lassance, Aloísio Carvão, Dina de Oliveira, Eládio, Miguel Chicaoka, P.P. Condurú e Rosenildo Franco, entre outros. A ilustração desta postagem é de A. Lassance, para o livro do jornalista Aldo Guajará - De Bubuia (1933) -, título sobre folclore hoje escasso de se encontrar.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

De Preguiçosos, Bestas e um Esperto que Seria Doido.

Estava no conforto de casa, quando atendi ao convite de um amigo, de passagem por Brasília-DF, para que juntos jantássemos. A companhia e a comida alemã combinaram a decisão. Porém, antes de chegar ao restaurante, resolvi ir ao super-mercado e comprar umas pilhas para fazer funcionar uma lixeira eletrônica de 50 litros, item esse reputado como de luxo exorbitante pela imprensa brazuca, e que motivou a renúncia do reitor de umas das mais importantes universidades brasileiras, sob a alegação de comportamento perdulário.
Tudo, essa e outras alegações, conformavam na verdade uma embrulhada para servir à luta de facções políticas na sucessão universitária. Para aquele reitor, detentor de um cargo público cobiçado, a traquitana tecnológica fora reputada como coisa de milionário, quando para mim, três anos depois, seria vendida por 170 reais no tal do Sam's Club. Mas esse parentese não representa o mote da glosa, que tem na imprevisibilidade do homem para fazer valer seu senso de oportunidade a razão de ser.
Pois bem. Escolhidas as pilhas, fui à fila para pagá-las. Os caixas-rápidos se reduziam a uma só, que extendia-se por duas fileiras de gôndolas, tal qual as duas outras - dentre as quais incluia-se a preferencial para idosos, gestantes e clientes com deficiência física. Como sou estranho às três categorias de clientes, escolhi aquela que prometia ser mais célere.
Pois ali estava enfileirado bovinamente, quando de súbito o estrondo de um tapa sobre uma mesa despertou da sonolência o gerente com uma cara de quem viu assombração. Um brutamontes gritou com o o seu carão a um palmo da fuça gerencial:
Manda abrir outra porra de caixa, que não quero mais esperar! Sou maluco e estou armado !!!
O gerentinho de súbito ágil nem titubeou, e por graça nem teve a idéia de cobrar algum atestado que comprovasse a justificativa do cliente, ou perguntar se havia algum médico presente no recinto como é praxe nas companhias aéreas, sempre que alguém passa mal. Prestativa a gerência logo providenciou a abertura de outro caixa, com a concorrência de uma funcionária que por ali namoricava um empacotador, ambos por igual enrolando no serviço.
Atendido o auto-proclamado maluco, depois dele formou-se uma fila meio tímida no caixa improvisado, a qual integrei sem pestanejar, pois não podia perder mais tempo ali, nem o do meu amigo que me aguardava para jantar. Mas ainda houve tempo para lembrar de que, quando menino, em Belém, era comum algum desordeiro alegar em seus desatinos que não adiantaria chamar-se a polícia, porque nada aconteceria com alguém com atestado do Hospício Juliano Moreira - documento que aliás nunca se veria, embora alguns alegassem que seria firmado por um certo doutor Durvalino - personagem fictício decerto calcado na existência de homônimo professor de Psicologia Médica, que eu viria encontrar anos depois na faculdade.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

HTAI-2011: Um Dia Chuvoso no Rio

A Rainy in Rio by Itajaí de Albuquerque
A Rainy in Rio, a photo by Itajaí de Albuquerque on Flickr.

Em junho de 2011 foi realizado, na cidade do Rio de Janeiro, o primeiro congresso da Health Technology Assessment International na América Latina. Foi o terceiro maior encontro já realizado pela organização que congrega técnicos com interesse em avaliação de tecnologias de saúde, superado apenas por aqueles realizados em Barcelona (Espanha, 2007) e Dublin (Irlanda, 2010). Foram inscritos mais de 1000 participantes e compareceram cerca de 50 países, representativos de todos os cinco continentes.
O evento começou a ser organizado com dois anos de antecedência e o Brasil concorreu com os EUA, mais especificamente com a prestigiadíssima Universidade John Hopkins. O tema que orientou as discussões do HTAI-2011 foi a relação estabelecida entre tecnologias de saúde, sua avaliação e a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Coube ao Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde financiar e liderar a organização desse mega-evento científico de interesse para a saúde pública.
Num fim de dia em São Conrado - chuvoso, nublado e frio -, da janela de meu apartamento no Hotel Intercontinental, sede do congresso, usei a câmera de meu iPhone 4 para fazer a foto que ilustra essa postagem. Depois a brincadeira ganhou esses efeitos obtidos com Photoshop.
Quanto ao prédio cilíndrico, à esquerda, é o extinto Hotel Nacional - um projeto do arquiteto Oscar Niemayer e de Burle Marx, que projetou os jardins. Está inabitado desde que o grupo hotelerio que o administrava faliu em 1995. Tem 35 andares e 510 apartamentos. É um dos patrimônios arquitetônicos do Rio de Janeiro que aguarda ser revitalizado.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dois dos Tuiteiros do Ministério da Saúde





















Odorico Monteiro (dir) e Itajaí de Albuquerque (esq) na comemoração

do aniversário do secretário de atenção à saúde, Helvécio Magalhães.


Dois blogueiros e tuiteiros recalcitrantes: doutores Odorico Monteiro (@odoricomonteiro), dirigente da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP), e Itajaí de Albuquerque (@itajaideal), chefe do gabinete da Secretaria de Atenção à Saúde.
Odorico tem entre suas missões disponibilizar para a população brasileira o Cartão SUS, que permitirá reunir num só código de barra, com a confidencialidade necessária, importantes informações do cidadão vinculadas ao sistema público de saúde.
Além dos dois, são também tuiteiros na gestão federal da saúde pública: o ministro da Saúde Alexandre Padilha (@padilhando), o diretor do Departamento de Atenção Básica do SAS/Ministério da Saúde (@heiderpinto) e o diretor-presidente da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (@dirceubarbano). Vamos acompanhá-los, pois eles sempre trazem novidades sobre temas de saúde de interesse para a coletividade.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Primavera Acapella



O quinteto vocal Carmel A-Cappella, de Haifa (Israel), é especialista em interpretações acapella. Os arrajos e regência são de Shula Erez. As moças teem página bilíngue (inglês - hebraico) na rede mundial de computadores, onde se pode obter detalhes sobre o grupo. Indiscutivelmente uma interpretação belíssima de Primavera, parte integrante das Quatro Estações de Vivaldi.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tempo e Fotografia

Perguntaram sobre a fotografia que ilustra o blogue. Em contrário a atualidade arquitetônica da Catedral de Brasília, em meus termos esse registro é parte da adolescência. Quando o retrato foi tirado - era assim que dizíamos - tinha eu então quase meus 15 anos e vivíamos a década de 70, conforme denunciam o cabelão e o jeans "boca de sino". Foi a primeira chegada nesta cidade, com destino ao Rio; e estava com as roupas tintas de poeira vermelha da viagem rodoviária pela Belém-Brasília.

Cruzamentos do Conhecimento na Modernidade

Enquanto leio Medicine & Kindred Arts in the Plays of Shakespeare, tese de doutorado do clínico John Moyes (Universidade de Glasgow, 1896. 1a. ed.), o tuíter surpreende-me e anuncia que, pela primeira vez, pesquisadores desenvolveram modelo experimental que explica como um elemento fundamental para a origem da vida, o carbono, surge na natureza. Os resultados experimentais permitem que a produção do elemento vital seja reprodutível em ambiente extra-terrestre; nas estrelas por conseguinte.
O artigo foi publicado no Physical Review Letters: Phys. Rev. Lett. 106, 192501 (2011) , mas uma síntese pode ser lida aqui.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entre as Estrela e o Crescente: A Ética Sob as Botas do Mercado e do Nacional-Fundamentalismo

Eu me lembro bem do infausto 11 de setembro. Mal chegara ao gabinete da Secretaria de Saúde de Belém, vi minha credulidade ser desafiada ao saber que um avião atingira mortalmente uma das torres do World Trade Center, incendiando-a. Enquanto ao redor da televisão, testemunhamos não só que o mundo se punha desnorteado com o fato, mas o choque de outro avião contra a segunda torre e, em seguida, o desmoronamento de ambas.
Para os norte-americanos, ali se iniaciava a maior dor depois do ataque a Pearl Harbor, que levou ao país entrar na II Guerra Mundial e mudar decisivamente o rumo dos acontecimentos que levaram a derrota dramática da Alemanha, da Itália e do Japão. Seria uma dor moral, física e espiritual que perdurará tanto tempo quanto as gotas de óleo que ainda afloram do submerso USS Arizona, como fossem lágrimas dos milhares de marinheiros que ali encontraram a sepultura sob as vagas de bombas japonesas despejadas sobre a frota americana ali baseada.
Porém, em setembro de 2001, o ataque em solo nacional ianque não fora obra de um estado-nação estrangeiro, mas sim fruto da liderança de um só homem, antigo combatente das milícias do Afeganistão, à época da invasão desse país pela União Soviética, e que após a derrota e retirada dos exércitos comunistas de Moscou, decidira enfrentar o outrora aliado e financiador de suas operações militares - os EUA - em nome de princípios religiosos islâmicos e da construção de sua dimensão política: o grande Islã.
O ato de Osama Bin Laden contra civis indefesos em solo norte-americano desencadeou a mais formidável operação civil-militar que levou a revogação temporária de direitos civis - confidencialidade de comunicações, prisões secretas onde foram denunciadas terríveis torturas, além de contingenciamento de garantias legais e de escândalos como Abu Ghraib. Criou-se no discurso até léxico para despertar a memória das antigas potências inimigas do Eixo nazi-fascista com a categorização do chamado Eixo do Mal, no qual estavam elencados países que os EUA e aliados identificavam como de alguma forma associados ao terrorismo internacional.
Entretanto, apesar de todo o aparato tecnológico militar, dos milhões de dólares gastos com o pagamento de uma poderosa rede de informações no Oriente, nada se sabia ao certo sobre o paradeiro do famigerado Bin Laden, que superasse ao já descrito por Robert Fisk em seu já clássico "A Grande Guerra pela Civilização: A Conquista do Oriente Médio" (Planeta, 2005): ou seja, que o inimigo público número 1 da América escondia-se no deserto, em locais de difícil acesso, protegido pela confidencialidade de poucos contatos que jamais utilizavam telefones, computadores ou qualquer outra forma material para registro de dados e informações.
Daí que a notícia de morte daquele notório assassino político, surpreendido por ataque de um comando de forças especiais da Marinha norte-americana, não em caverna ou no deserto, mas no conforto suburbano de uma cidade de médio porte no Paquistão, correu na internete como fogo em campo de palha, assanhando as redes sociais nos dois hemisférios terrestres. É verdade que, em seguida ao fato logo comemorado por uma malta de quase imberbes em frente a Casa Branca, restaram mais perguntas que respostas sobre essa secretíssima operação militar conduzida em solo e espaço aéreo do Paquistão, país com que a Casa Branca se relaciona mantendo a mão no coldre dada a flagrante relação de dubiedade que esse estado mantem com a resistência islâmica, ou os ditos insurgentes como é comum no léxico da grande guerra pela civilização.
Como tudo na vida, e em horas graves não diferimos, o humor compareceu e houve quem na rede mundial, como traduzindo o pensamento dos soldados em combate no Oriente Médio, cunhasse a tirada viral OK, o cara morreu. Podermos voltar para casa? No mundo concreto da política internacional e da guerra, entretanto, a resposta óbvia e dura ao desejo de retorno é Nunca, pois a engrenagem do sistema encontrou seu moto contínuo que alimenta um sangrento trabalho de Sísifo. Dez anos se passaram desde o ataque ao World Trade Center, tempo suficiente para que os responsáveis pelo ato criminoso reorganizassem e desenhassem estratégias e saídas em caso de morte do seu maior líder. Além do mais, os últimos acontecimentos que sacodem a estabilidade dos governos do Oriente Médio sinalizam que a pax americana para a região tem menos solidez do que as dunas de areia frente ao vento do Saara.
Não sobra, portanto, ética que ordene ou imponha limites nessas trincheiras inextinguíveis, estejam elas no campo de batalha nos arredores de Kandahar ou entre as paredes das editorias de veículos ocidentais de comunicação. Nesse último caso, ilumina com agudez e sensibilidade a dimensão da tragédia, o brilhante artigo de Robert Fisk, publicado hoje, no The Independent. Nesse artigo - March 2007: Robert Fisk on Bin Laden at 50 (Março de 2007: Robert Fisk sobre Bin Laden aos 50), comove-me a indelével lição de ética jornalística com que Fisk ilumina o campo de batalha onde por regra aquela escasseia, sufocada pelo entrechoque das mais poderosas forças sociais conduzidas pelo homem: o mercado e o nacional-fundamentalismo a leste e a oeste.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Música ao Longe*

Caia a chuva no fim de tarde em Brasília. Pela segunda vez meu iPhone-4 resolvera brigar com o som do meu carro. Queria naquela chuva de abril dirigir pela Epia ao som de Alain Toussaint e confesso que fiquei irritado com aquele cisma tecnológico ali estabelecido. Eu sabia que a única maneira de recuperar a esperteza de meu celular seria reconfigurar a conexão à distância, mas para isso precisava do manual que no momento estava em alguma gaveta, em casa.
Estava quase resignado em dirigir sem música, quando lembrei de que o tocador de discos digitais, agregava junto a função de rádio. Então! As boas e efetivas ondas de rádio, que navegam atrás de ouvidos humanos até as espirais de escuridão nos quintos do universo, salvar-me-iam do silêncio até que entrasse em casa. Assim feito, tocou então os últimos segundos da música tema de Um Homem e uma Mulher, da trilha de filme homônimo (1966), assinada pelo francês Francis Lai.
Pensei ali na sorte que tive de sintonizar algo do meu gosto e em circunstância tão apressada, sob o risco de ser invadido na boléa por algum sertanejo ou axé, da estirpe epidêmica que os jabás irradiam 24 horas pelo Brasil afora. Entretanto o que veio de surpresa, levou-me a um patamar que não previ, fui devolvido a Belém do Pará dos tempos em que fui menino, quando a televisão sequer existia nem para os ricos, e o rádio ainda falava ao interland paraense como a voz da Amazônia.
Entrou no meu carro, então, um programa musical descrito como tradicional em Brasília - Piano Ao Cair da Noite -, em cartaz por quase três décadas. O pianista da noite descreveu a si como um professor graduado em História, e para fazer jus a formação acadêmica declinada, sempre entremeava no repertório informações sobre os autores, as músicas e os movimentos musicais a que um e outro estavam relacionados.
Ao vivo, nas passagens do repertório eclético, ouviam-se palmas que calculei vinham de no máximo quatro pares de mãos reunidas no subsolo do Conjunto Nacional, lugar onde acontecia o programa. Com o sinal fechado, já na entrada da W3 Norte, calculei: admirável heroísmo levar um programa a tão longe e a tal ponto. Eu próprio, já cativado, não pude deixar de aplaudir a liberdade do intérprete enquanto executava o Adágio de Albinoni com umas pausas assim um tanto esquisitas, que em outros momentos julgaria com aquela severidade dos virginianos.
Mas o maior lucro que tive não foi exatamente a música que ouvia, sim para onde ela naquele momento me transportava conforme disse antes. Dali fui até os idos anos 60 - 70, quando no princípio da noite minha mãe ligava o rádio e escutava o programa espírita de Rafael Gomes, um amigo descendente de banqueiros - o Banco Moreira Gomes -, em tempo de capitalismo paraense com ce-e-pe maiúsculos. Pois o que me apaixonava naquele programa, não era exatamente os ensinamentos kardecistas que minha mãe tanto apreciava, mas a belíssima trilha sonora que inaugurava-lhe a chegada e fazia fundo, representada pelo trabalho magistral de Vila Lobos, com as Bachianas numero 5 **.
Um tempo esgotado, é verdade. De um outro Brasil, onde não poucas vezes meus olhos de menino adormeceram ouvindo esse programa e sua música de rara qualidade. E, tantos anos passados, por essas lembranças ele me volta, pelas notas de um piano ao cair de uma tarde chuvosa em Brasília, trazendo-me de uma Belém longínqua as imagens de minha mãe e eu menino, de Rafael Gomes vestido nos seus linhos HJ, com seus cabelos completamente brancos e seus presentes de bombons de cupuaçú - para o meu amigo, ele me dizia - e, sobretudo, pela música que fez inesquecível seu programa radiofônico. Todas essas imagens físicas e musicais habitam fortes e sonoras minha memória, como deve ser a matéria das saudades.

* O título da postagem faz referência ao romance homônimo do gaúcho Érico Veríssimo. Dissertando sobre esse livro disputei concurso no colegial e fui vencido por Antonio Carlos de Andrade Monteiro - Toninho, meu amigo desde o primário, hoje Defensor Público. Ele escolheu dissertar sobre "Senhor Embaixador" e honrosamente venceu o concurso pelo mérito do texto que escreveu, pela escolha e pertinência do tema, pois estávamos nos meados dos 70 e a ditadura começava a entregar os pontos com o general Geisel, em prenúncios do que depois, já na presidência do general Figueiredo, a malícia cabocla confirmaria nos seus pregões, lá nas canoas do Ver-o-Peso: "Vamu aproveitá, vamu aproveitá, que a abertura tá aberta! É o chuchu, é o repolho a um crozeiro!"
** A interpretação das Bachianas número 5 que ilumina essa postagem é da extraordinária Bárbara Hendricks. Eu pessoalmente prefiro aquela de nossa Bidu Sayão; sem qualquer bairrismo, ou, quem sabe, porque fosse ela quem me encantasse na audição do programa de Rafael Gomes. Infelizmente, sei lá porquê, no Brasil o YouTube não pode transmiti-la.

domingo, 3 de abril de 2011

sábado, 19 de março de 2011

Terremotos e Tsunamis: Uma Visão de Espírito Livre





































A localização peculiar do Japão, na região de grandes falhas geológicas no Oceano Pacífico, faz com que terremotos e tsunamis compareçam com frequência nos registros dessa extraordinária cultura. O termo tsunami teve seu registro de uso em língua portuguesa por volta de 1897, com o significado de onda marinha gigante no porto (tsu = porto + nami = vaga).
A famialiridade do Japão com esse perigoso fenômeno da natureza, tanto motivado por abalos sísmicos quanto por erupção vulcânica, decorre da circunstância geográfica e da relação estabelecida dos pescadores japoneses com o mar, quando se deparavam com essas enormes ondas que promoviam toda sorte de prejuízos nos barcos, quando não perdas humanas. Nessa ocasião, de retorno ao porto, ao se proceder a inspeção nos barcos era uso corrente referir-se a tsunami como causa das avarias observadas.
No último abalo sísmico, seguido de um tsunami devastador, alguns artistas no Japão e também aqui no Brasil produziram obras retratando o maremoto. Os desenhistas foram severamente criticados por leitores, que reclamaram indignados da falta de respeito com o fato lutuoso. Quanto a mim não vi nas imagens publicadas nenhuma ofensa ao Japão ou às vítimas do desastre natural. Se percorrermos as galerias dos gênios da gravura japonesa, iremos encontrar registros semelhantes aos que foram motivos de reprovação, ao modo de testemunhos do poder dessas ondas no imaginário dos homens.
Sensíveis ao poderes e aos ciclos da natureza, os artistas japoneses da pintura, do cinema e da literatura não poucas vezes buscaram estabelecer um diálogo com essas forças que moldam a experiência e os destinos humanos, buscando-lhes aproximações e identidades. É o caso dessa última ilustração, em que o artista explora o erotismo para estabelecer uma comparação entre duas imagens que deixam de ser antagônicas quando as relacionamos ao poder das energias que subjazem na realidade a que aludem.

Ilustrações (de cima para baixo): A Grande Onda de Kanagawa (Hosukai Katsushika: 1760 - 1849); Trinta e Seis Imagens do Monte Fuji (Ando Hiroshige: 1797 - 1858) e Oito Visões de Omi (Utagawa Kuniyoshi: 1797 - 1861).

sexta-feira, 18 de março de 2011

Leitores

Eu sempre pergunto sobre qual a justa homenagem para quem é leitor. Pois hoje encontrei um texto que me deixou emocionado e satisfez a minha dúvida. Transcrevo-o para que vocês também apreciem a leitura. Foi escrito por um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos, ainda que pouco divulgado e já desaparecido tão precocemente.

Leitores

Mal os percebemos os que nos leem.
Noturnos em suas camas sozinhas, claros ao sol dos parques, curvos nas bibliotecas de Babel e da Conchichina, nos reinventam os sonetos desperados, redizem o dizer já dito, mas com tal tamanha invenção que incendeiam, ah como incendeiam, os textos exangues - de heróica desesperança.
Não importa se de enlevo a tua cara branca no vidro da janela; ainda és, mesmo assim, a intangível margem dos livros fátuos, e os parágrafos mortos de medo.
Trêmulo me agarro a um decassílabo perfeito. Tonto de ternura, as mãos insones, vos advinho e a vós me dedico com um luxo que decididamente não é meu nem me pertence.
Animal de pequeno porte, uivo.
Examino a lombada dos livros eternos, gravadas a ouro e cristal; você cochicha na sala a canção que um dia foi minha. És assim, a reescrever o duas vezes lido porque escrito; o reescrito porque ainda outra vez lido.
E é de amor, sim, de indecifrável amor, o nosso enlace.

Wilson Bueno (1949-2010)

Eis a (Quase) Super-Lua

A Lua estará mais perto da Terra amanhã, por um fenômeno natural cíclico. A foto foi tirada hoje, 18 de março, alguns tempo depois da "saída" de nosso satélite no céu do planalto central. Espero que amanhã, quando efetivamente teremos a anunciada Super-Lua, não tenhamos noite tão nublada quanto a de hoje. Usei a velha Nikon D-40, com objetiva AF-S Nikkor 55-200 mm, para fazer esse registro.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Terremoto de Lisboa em 1755





















Edward Paice: Terremoto de Lisboa 1755


No Dia de Todos os Santos, 01 de novembro de 1755, aconteceu um terremoto de grandes proporções na costa do Algarve, que destruiu quase toda a cidade de Lisboa. Seguiu-se um tsunami com ondas de até 20 metros, segundo relatos da época. Por conta do fervor religioso dos portugueses e a hora do cataclisma, 9:30 horas da manhã, a maioria da população estava rezando nas igrejas.
Morreram 100 mil pessoas e a família real só escapou por se encontrar em outra cidade. Ao constatar a amplitude da destruição de Lisboa, o rei nunca mais admitiu dormir em uma casa. Fazia-o no jardim em uma barraca de campanha. Lisboa foi reconstruída inteiramente pelo primeiro-ministro Marquês de Pombal.

Perguntas & Respostas

















Homenagem ao filósofo paraense Benedito Nunes, recentemente falecido, produzida pela empresa de propaganda DC3. Foi publicada nos principais jornais do Pará, por encomenda de uma escola privada.

terça-feira, 8 de março de 2011

Canção da Manhã Feliz

Orquideacea by Itajaí de Albuquerque
Orquideaceae a photo by Itajaí de Albuquerque on Flickr.

(Miltinho)

Luminosa manhã
Prá que tanta luz
Dá-me um pouco de céu
Mas não tanto azul
Dá-me um pouco de festa não esta
Que é demais pro meu anseio
Ela veio olhar, você sabe, ela veio

Despertou-me chorando
E até me beijou
Eu abri a janela
E este sol entrou
De repente em minha vida
Já tão fria e sem desejos
Estes festejos, esta emoção
Luminosa manhã
Tanto azul, tanta luz
É demais pro meu coração

sábado, 5 de março de 2011

Será, o Benedito?















Professor Benedito Nunes (1929-2011)


Benedito Nunes quando refletia sobre os limites atuais da filosofia, ressaltava o desânimo que as novas gerações demonstram para leitura, a despeito do potencial tecnológico que a sociedade dispõe hoje, quase inestimável, para elevar a qualidade da formação dos leitores.
Assim mesmo lê-se em um twitter que, após nove meses de seu lançamento, usuários do iPad baixaram cerca de 100 milhões de livros eletrônicos nos quatro cantos do mundo real. Nada foi informado, contudo, sobre os títulos baixados ou da qualidade literária do que está guardado naqueles tablets da Apple. No meu, por exemplo, tenho além das obras técnicas de interesse médico o Camões (Os Lusíadas) e o Lima Barretto (O Triste Fim de Policarpo Quaresma), que releio em aeroportos e nos voos em que viajo, associando-os ao passar tempo.
Então qual a política que os países em desenvolvimento devem adotar para leitura, que seja convergente em tábula rasa, mas diversa dos interesses hegemonicos das editoras do mercado local e dos países centrais, neste cenário de produção mundializada de informação digital que, em processo, pretende espelhar uma escala ampliada de lucros para as casas editoras?
Transpor e difundir o livro no formato digital reinova a efetividade dos tipos móveis de Guttemberg e o seu propósito de reproduzir livros à mancheia. Entretanto não podemos nos iludir com o paradoxo de uma civilização com este potencial informacional jamais antes intuído, quando reduz a sua capacidade crítica à leitura de manuais duvidosos e à onipresença dos livros de auto-ajuda, dizendo-se por tal modo - e por fim -, espaço averso para aprofundar conceitos ou reflexões sistêmicas. Como um dia pela metafísica o Benedito ratificou, a filosofia já não consola.

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P.S.

1. Depois de haver publicado esse texto no blog, neste domingo li no jornal O Estado de São Paulo um artigo pertinente, que é acessível em .

2. Meu texto homenageia o filósofo Benedito Nunes, falecido há sete dias. Tive o prazer de conhece-lo quando com ele e outros integramos a comissão designada pelo prefeito de Belém (1997-2002), doutor Edmilson Rodrigues , com o fim de organizar a publicação das obra reunida de Haroldo Maranhão. Desse mandato resultou a publicação do então inédito Pará, Capital Belém: Memórias & Pessoas & Coisas & Loisas da Cidade.

3. O projeto municipal não foi além desse livro. Em seguida, por intermédio de Benedito Nunes, os direitos e a biblioteca do autor de Cabelos no Coração e O Tetraneto D'el Rei - ambos magistrais - foram adquiridas pela Vale do Rio Doce e doadas ao Governo do Estado Pará, ao tempo em que Simão Jatene o administrava e ainda vivia Haroldo Maranhão. O conjunto, inclusos originais e obras raras, encontram-se hoje sob a guarda da Biblioteca Pública do Estado do Pará.

4. Mas Pará, Capital Belém é um livro misterioso. O original desapareceu das vistas do escritor por muitos anos e apenas ressurgiu por mãos incógnitas na época da publicação de sua única edição. Até hoje desconheço quem praticou a reposição digna dos samaritanos. Esse segredo foi confiado ao Márcio Meira, atual presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), que, passados mais de dez anos, mantem em confidencialidade o que decerto esclareceria o sumiço e o achamento da obra.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Saúde nos EUA: Um Estado de Confusão Mental

















Na sala de emergência.

- Um governo decente não vai deslizar para o socialismo, ordenando que eu compre contra a vontade um seguro saúde!

- Daí que eu devo entender que você está aqui em busca de cuidados de saúde gratuitos?

Publicado na semana de 31/01/2011 em McClathy Cartoons.

Bicudo


Bicudo
Upload feito originalmente por Itajaí de Albuquerque

Um Visitante na Sacada - 1


Pardal
Upload feito originalmente por Itajaí de Albuquerque

Um Visitante na Sacada - 2


Pardal
Upload feito originalmente por Itajaí de Albuquerque

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Imperativo Diagnosticista e o Desafio da Solução

Iniciei a leitura de "Em Defesa das Causas Perdidas" ( Boitempo Editorial, 2011), de Slavoj Zizek, por conta de um artigo sobre Heiddeger que integra o volume. Tenho interesse na influência do pensamento heiddegeriano nas questões tecnológicas, e além do mais vi-me atraído pela elegância dos primeiros parágrafos em que o autor inicia a sua tarefa, a partir da citação de alguns contos de Chesterton.
Todavia a impressão que Zizek em mim causou não foi das melhores, exatamente porque pretende fazer uma crítica cultural do Ocidente e apontar responsabilidades em Deus, no mundo e até em raimundos como Platão, Brecht, Sartre, Foucault e outros ilustres que forem passando, incautos, defronte ao seu ágora pós-moderno. E, o pior - passent tous - sem demorar-se numa necessária análise de evidência.
Fique claro, sem dúvida, que o charm brilha de pronto em algumas ribaltas que o apreciam, e o engrandecem por obra de animadores que apresentam-se tolerantes quanto ao que lhes é servido em tábula rasa. Como soem fosforecer os best-sellers e, em termos de cinema, os filmes blockbusters sazonais.
Pois vem daí grande parte da minha reatividade ao texto, pois não é do meu estilo sentar o pau em tudo e em todos e ficar por isso mesmo, atracado no conforto do salva-vidas do conceito de intelectualidade - alías outro alvo da iconoclastia do psicólogo Zizek - enquanto outros, que eu virei a criticar depois, danam-se em busca de soluções.
Porém tenho de reconhecer algo de proveitoso no capítulo que li; quando Zizek exercita o diagnóstico sobre uma questão aguda da política internacional da atualidade, com base no embate entre direita e esquerda nos espaços (trans) nacionais de poder. Diz ele, e com razão, sem aprofundar na complexidade do objeto que analisa, mas atento ao pontapé inicial para um debate que além de pertinente é justo:
Assim, quando os esquerdistas deploram o fato de que hoje só a direita tem paixão, só ela consegue propor um novo imaginário mobilizador, e que a esquerda só se dedica à administração, o que não veem é a necessidade estrutural do que percebem como mera fraqueza tática da esquerda. Não admira que o projeto europeu, amplamente debatido hoje, não consiga despertar paixões: em última análise, é um projeto de administração, não de compromisso ideológico. A única paixão é a reação da direita contra a união da Europa; nenhuma das tentativas da esquerda de infundir paixão política na noção de uma Europa unida (como a iniciativa de Habermas e Derrida no verão de 2003), conseguiu ganhar impulso.
Não por menos se diz que o futuro na política no mundo, os loci sem dúvida são construídos excêntricos aos países da Europa e da Ásia. Tais experiências comparecem como formulação e praxis no hemisfério sul do continente americano. Há que administrá-las para que deem frutos em direitos, promovam a inclusão e o desenvolvimento econômico e social.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Promotoras de Pobreza

O professor Carlos Morel, da Academia Brasileira de Ciências e do Instituto de Economia da UFRJ, publicou hoje, no Jornal Valor Econômico, artigo sobre doenças negligenciadas. No texto são apresentados o desenvolvimento histórico do conceito de doenças negligenciadas e o porque desses agravos, que impactam de forma negativa o desenvolvimento de um país, serem ítens obrigatórios nas agendas governamentais. O artigo foi licenciado para publicação e livre acesso na página da Associação Brasileira de Saúde Coletiva - Abrasco.

No Gosto Inglês: O Programa Saúde da Família

O Programa Saúde da Família - PSF, implantado em praticamente todo o Brasil, foi objeto de matéria elogiosa no tradicional The British Medical Journal (BMJ). Bom que seja avaliado dessa forma. Ao menos assim, quem sabe, os tribunais de penitência ajustem suas lentes na União, nos Estados e Municípios para resultados, e assim contribuam de modo positivo para a qualificação da gestão, no lugar de perseguir gestores, a partir da interpretação fria da lei, apenas porque implantaram o PSF nos seus municípios sob a pressão do vazio assistencial frente à doença, à morte e à pobreza. O artigo do BMJ, traduzido para o Português pela Organização Pan-Americana de Saúde, está disponível para leitura aqui.

Saúde: Na Corda Bamba de Sombrinha

Lançado Na Corda Bamba de Sombrinha: Saúde no Fio da História, organizado por Carlos Fidelis Pontes e Ialê Faleiros. O livro é fruto de um projeto homônimo relacionado à gestão do conhecimento em saúde e propõe-se descrever "a trajetória percorrida pela sociedade brasileira na busca por melhores condições de saúde, desde o Brasil colônia até os dias atuais". Mas o mais importante em termos de difusão da obra: está disponível para leitura na página da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, sem qualquer custo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Para Entender o Egito


A revista Foreign Affairs em 12 de março de 2009 publicou o seguinte roteiro bibliográfico para quem deseja compreender o papel do Egito hoje, no complicado tabuleiro político internacional. A materia da revista tem autoria de Mona El-Ghobashy. A tradução e ajustes ao texto é do editor deste blogue.

O QUE LER SOBRE POLÍTICA EGÍPCIA

O Egito de Nasser e Sadat: A Economia Política de Dois Regimes. Por John Waterbury. Princeton University Press, 1983.

Passados 25 anos de sua publicação, este livro ainda é o melhor estudo sobre as elites do Egito e suas estratégias de sobrevivência. John Waterbury descreve como os dois primeiros presidentes do Egito construíram um poderoso Estado, apesar dos obstáculos nacionais e internacionais. Ambos, Gamal Abdel Nasser e Anwar al-Sadat, reestruturaram a sociedade e a economia para dar sustentação ao novo estado: o primeiro, por meio da subordinação do capital privado aos interesses do Estado; e Sadat, por meio do fortalecimento dos laços entre o sector privado e os representantes estatais. Ambos os presidentes habilmente projetaram a arena política doméstica de modo a evitar que trabalhadores, camponeses e a classe média urbana se organizassem politicamente de forma independente, legando às gerações futuras a tradição de autoritarismo que domina a política do país. Influenciada pela Teoria da Dependência e pela análise marxista, que alguns consideram datadas, a análise de Waterbury sobre os estratégia política dos governantes do Egito continua atual e mais relevante do que nunca.


O Egito de Mubarak: A Fragmentação da Ordem Política.
Por Robert
Springborg. Westview Press, 1989.

O Autor descreve como
presidente Mubarak conseguiu sobreviver politicamente apesar de crescentes pressões nacionais e internacionais. Concentrando-se nos primeiros anos de mandato de Hosni Mubarak, Springborg retrata o presidente como um estrategista consumado, que joga grupos de oposição interna um contra o outro, no estilo "dividir para reinar em famíla". O livro destaca duas das tendências mais significativas na política egípcia: a metódica redução do papel político das forças armadas egípcias e o fortalecimento da oposição laica as elites relacionadas com os fundamentalistas islâmicos.

A Sociedade dos Irmãos Muçulmanos. Por Richard P. Mitchell. Oxford University Press, 1993.

Publicado pela primeira vez em 1969, é este o estudo original ainda sem rival sobre a organização do Egito. Descreve o grupo religioso de maior da oposição ao governo de Mubarak, a Irmandade Muçulmana, que serviu de inspiração para muitos outros grupos islâmicos no mundo inteiro. Mitchell estuda o período de 1928-1954, em que narra como o carismático professor Hasan al-Banna fundou um movimento de massa que pedia "um governo inspirado pela religião, não um governo religioso". O estudo é organizado em três partes - uma explora a história do grupo, outra o aspecto organizacional e o terceiro os princípios ideológicos . A análise do autor sobre o grupo é a um só tempo justa e cética, embora evite o tom polêmico que costuma caracterizar a maioria das discussões sobre a Irmandade Muçulmana. O capítulo da conclusão representa uma valiosa previsão da transformação da Irmandade em um ator político crucial na história egípcia.

"A Irmandade Vai ao Parlamento" Por Samer Shehata e Joshua
Stacher. Middle East Report 240 (Fall 2006): pp 32-39.


Bom complemento ao livro de Mitchell, este panorama rápido acompanha meio século da participação parlamentar contemporânea da Irmandade Muçulmana. Através de entrevistas e da observação das atividades de 88 parlamentares, os autores demonstram porque os membros desse grupo religioso representam na verdade um verdadeiro partido político no Egito. Quer ao liderarem protestos de rua em apoio a juízes de oposição, quer na formulação de regras parlamentares, os deputados da Irmandade injetaram vida nova em legislaturas marcadas pela subserviência ao governo Mubarak. Shehata e Stacher sugerem nesse relatório a iminência de um endurecimento governamental. E eles estavam certos: em março de 2007, o governo Mubarak alterou a Constituição, proibiu os partidos políticos de base religiosa e enfraqueceu a supervisão judicial nas eleições.

Avenidas de Participação: Família, Política e Redes na Periferia do Cairo. Por Diane Singerman. Princeton University Press, 1996.

Estudos sobre política egípcia em geral teem foco nas elites e em seus opositores. Mas como os egípcios comuns defendem seus interesses? Este livro fascinante enfoca as redes informais construídas por cidadãos comuns, como "caminhos de participação" em um espaço público que rotineiramente os exclui. Diane Singerman nem romantiza as pessoas comuns, nem ignora o seu comportamento de "resistência" ao Estado. Para a pesquisa do livro, ela conviveu com uma família de classe baixa, na periferia do Cairo e observou como seus anfitriões e a vizinhança estabeleceram associações de poupança para financiar cerimônias de casamento, discutir sobre normas, convenções sociais e o relacionamento com instituições semi-oficiais, tais como organizações voluntárias privadas. Singerman não está interessada no que "a rua" pensa de seus líderes, o seu interesse reside na forma como os excluídos se organizam politicamente., sempre que confrontados com o fato de que as instituições
políticas formais estão cada vez mais distantes de seus interesses.

O Edifício Yacoubian. Por Alaa Al Aswany. Harper Perennial, 2006.



Quase que simultâneo a sua publicação no Cairo em 2002, O Edifício Yacoubian tornou-se um bestseller. Ele foi rapidamente traduzido para o Inglês e em seguida adaptado para o cinema*, constituindo-se num blockbuster de elenco estelar. O livro é um drama repleto de personagens mais ou menos fictícios, onde a narrativa transcorre num edifício de passado glorioso, que veio decaindo prosseguivamente com o passar do tempo, ao modo de uma metáfora com o Egito moderno. Os moradores vivem lado a lado, mas seus mundos distintos e imiscíveis: o capitalista desonesto divide espaço com vizinhos miseráveis, lobistas corruptos dividem espaço com trabalhadores oprimidos, enquanto a violenta polícia egípcia vigia a todos sem descanso. É uma crítica ácida estabelecida a partir do contraste entre a nostalgia romântica pré-1952 e a atualidade das desigualdades sociopolíticas no Egito.


*O filme está disponível em dvd brasileiro, distribuído pela Imovision/Sonopress.