quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Para Refletir Neste Natal


It’s easy to invent a Life –

God does it – every day –

Creation – but the Gambol

Of His Authority –

It’s easy to efface it –

The thrifty Deity

Could scarce afford Eternity

To Spontaneity –

The Perished Patterns murmurs –

But His Perturbless Plan

Proceed – inserting Here – a Sun –

There – leaving out a Man –


Emily Dickinson: Poema 724, escrito cerca de 1863 (The Complete Poems of Emily Dickinson, pg. 355).


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Na versão livre do blogueiro:


É fácil inventar a Vida:

Deus o faz – todos os dias

Recriação. Mas as dádivas

Da Santíssima Autoridade,

Com facilidade as perdemos;

E a providencia divina precavida

Poderá ser menos sensível

Às frias súplicas imerecidas.

Ela imperturbável seguirá o plano

– incluindo aqui um Sol

E lá – desabrigado um Homem.


Indômita, a Natureza Inova


Ninho da Asa-Branca. Foto de Johan Dalga Frisch
Hoje noticiaram um dos mais emblemáticos exemplos de impacto ambiental no comportamento animal. No município paulista de Atibaia, um pombo asa-branca construiu o seu ninho com clipes, fios elétricos e arames que colheu em construções próximas. Segundo o ornitólogo Johan Dalga Frisch é o primeiro caso registrado desse comportamento no Brasil.
O fato está intimamente relacionado às distorções assumidas pelo paisagismo urbano: os que embelezam os jardins das casas e das praças preferem plantas que não sejam caducas, para que não seja necessário recolher folhas e gravetos. O pragmatismo de nossos paisagistas acarreta uma praga à vida dos pássaros, ao serem obrigados a buscar alternativas para garantir a reprodução espécie.
Sabemos, contudo, que a capacidade adaptativa dos seres vivos não é ilimitada, nem tão pouco igual para todas as espécies. Chegamos assim a mais importante pergunta sobre o assunto: Quantos pássaros não fazem a postura por indisponibilidade de material natural para construção de seus ninhos, comprometendo assim de modo irremediável o processo reprodutivo?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os Desafios de João Falcão

Recebo ainda com o calor dos prelos o livro de memórias do Dr. João Falcão, homem de letras jornalísticas e de ação política, que é parte da história da Bahia. Sobre Valeu a Pena (Desafios de Minha Vida), editado pela Fundação Astrojildo Pereira e Ponto e Vírgula Publicações, duplico aqui o que escrevi certa feita sobre a obra do Autor, que por sua vez, no exercício de inestimável generosidade, inscreveu-a na contracapa de suas memórias a exemplo de comentário:

João Falcão merece referência entre nossos melhores escritores, seja porque possui o estilo cativante, com apreço pelo vernáculo, seja porque nos conta sua história de par com a história política e social da Bahia e do Brasil, sujeitando a biografia incomum à memória de seu tempo.
Nesse sentido, em literatura, a impressão que tenho é a de que João Falcão faz boa companhia a Pedro Nava e Stephan Zweig, nomes que li e tenho em boa conta no exercício da memorialística.

Aos que se interessarem pela História do Brasil, e em especial sobre a História do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tem-se aqui um exemplo formidável para estudos, valorizadíssimo por sabemos que as informações sobre o assunto foram e estão encobertas pelo silêncio do cinismo repressor, o que agrava o necessário efêmero a que estavam obrigadas as comunicações no âmbito de um partido político, que funcionou e sobreviveu a maior parte de sua existência na clandestinidade de duas longas ditaduras.

Ordem do Mérito ao Prof. Gastão Wagner

O ministro José Gomes Temporão concede nesta tarde, no Auditório Emílio Ribas (Ministério da Saúde), em Brasília -DF, a comenda Oswaldo Cruz ao chefe do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, o professor Gastão Wagner de Souza Campos.
A medalha de mérito é a mais alta honraria reservada a quem apresente reconhecido nível de contribuição em saúde pública.
Como intelectual e militante da Reforma Sanitária, Gastão Wagner é um dínamo acadêmico com incursões também no campo da gestão, prática quase sempre difícil e arriscada pelas diferenças intrínsecas de olhares sobre o objeto que reclama intervenção, e pelas leituras de tempo necessárias para que a miscigenaçào dessas boas fumaças garanta consequência aos resultados pretendidos.
Na condição de gestor, Gastão Wagner foi secretário executivo do Ministério da Saúde no primeiro governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, ao tempo em que foi ministro da pasta o médico Humberto Costa.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Viajantes da Amazônia Brasileira





















Em edição da Metalivros, foi publicado Grandes Expedições à Amazônia Brasileira (Metalivros, 2009. 242 pg.). O autor é um paraense honorário, paulista de nascimento, João Meirelles Filho, que antes já havia publicado O Livro de Ouro da Amazônia (Ediouro, 206. 480 pg.). O Grandes Expedições é um esforço de reunião e síntese do conhecimento sobre viagens de exploração da Amazônia brasileira, escolhidas pelo autor a partir de um recorte temporal que vai de 1500 até 1930, iniciando-se, portanto, com o relato do achamento da foz do Amazonas por Vicente Yáñez Pinzón e finalizando com as expedições do general Rondon à região, no terceiro decênio do século XX.
Está claro que nesse intervalo de tempo muito mais expedições aconteceram, além das 42 selecionadas para resgatar para a literatura nacional e regional a importância do tema dos viajantes da Amazônia. De fato é uma pequena amostra de um universo que supera mais de 1000 relatos publicados ou não, a maioria fora do catálogo das editoras, outras sem tradução para o vernáculo, com acesso restrito às seções de obras raras das bibliotecas públicas e particulares e à venda em alfarrabistas, onde com frequência alcançam preços na casa de centenas ou milhares de reais, conforme seja a raridade e o estado de conservação dos títulos. O próprio autor de Grandes Expedições reconhece a impossibilidade de resenhar todos os relatos dos viajantes na Amazônia, o que obrigaria a rever o planejamento e o formato da obra para uma condição enciclopédica, elevando assim custos não só editoriais, mas aqueles de pesquisa que respondessem às necessidades de ampliação do trabalho.
Porém, nem por isto o Grandes Expedições fica comprometido em seu objetivo de resgate e disseminação da informação histórica, para conhecimento do grande público. Como obra de divulgação, cabe ressaltar que o livro não trata de simples recompilação de notícias passadas, busca de algum modo articular a súmula das viagens com referenciais acadêmicos, sem contudo pretendê-los substituir.
Como limitante para o consumo amplo da obra, eu apontaria apenas o preço de aquisição do volume, a R$ 140, valor que o distancia do poder aquisitivo do leitor médio brasileiro. No que concerne a qualidade do livro, temos o padrão das publicações de luxo produzidas pela Metalivros, descontando um ou outro pequeno deslize de revisão, como por exemplo grafar Ferdinand Keller em vez de Franz Keller, que é o nome correto do autor de Vom Amazonas und Madeira (Stuttgart, 1874), viajante citado, mas infelizmente não resenhado, apesar desta viagem ter grande relevância para a região do Rio Madeira, enquanto exploratória para o desenvolvimento do projeto da E.F. Madeira-Mamoré. O volume, por fim, ainda é mais enriquecido por seus anexos, onde encontramos um precioso rol que nos lista cerca de 567 expedições à Amazonia brasileira, que excedem em muito àquelas detalhadas ao longo do livro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Minotauro e Alice na Reforma de Obama

A recente aprovação de medidas no Congresso dos EUA, sem dúvida, desatou pela primeira ves os nós que impediam a reestruturação de um sistema de saúde dispendioso, ineficaz e excludente, se considerarmos que 45 milhões de cidadãos estadunidenses estão à margem da cobertura de saúde, outro quantitativo não especificado incluídos em cobertura de seguro incompleta e as elevadas taxas de reinternação observadas em diversos estados da mais rico e poderoso país do mundo.
Trata-se de uma realidade até pouco tempo mantida à distância de leigos, habituados a consumir o fetiche de um modelo de saúde fundamentado na excelência tecnológica e na pretensa rapidez no acesso à serviços, como parte da estratégia para garantir os objetivos político-militares hegemônicos e os interesses mercantis do complexo industrial norte-americano de saúde.
A crise da seguridade em saúde nos EUA deriva fortemente do fato de que, do ponto de vista legal, não há um estatuto que estabeleça a saúde como direito constitucional, sob proteção portanto do estado. A luz do laissez faire, laissez passer liberal que fundamenta a federação norte-americana, o cidadão terminou refém do mercado. Num país onde o peso político do setor industrial é tremendo, pode se esperar que a influência das forças de mercado sobre o campo normativo e regulatório seria exorbitante e não estaria preocupada com questões relacionadas à equidade em saúde. Daí se pode entender a razão pela qual a discussão das questões de saúde nos EUA sempre estiveram marcadas pela pressão do custo-benefício ou do custo-utilidade dos serviços, sob as diretrizes de um imperativo tecnológico de mercado, em prejuízo da ampliação do debate ao campo da ética em saúde pública.
Nesses tempos de gravíssimo escândalo político, envolvendo o poder executivo e legislativo do Distrito Federal, Brasília, faz-me ler com admiração um exemplo de transparência pública nos EUA, no artigo publicado no The New England Journal of Medicine em que é analisado o papel dos lobistas, as contribuições de campanha e a reforma no setor saúde. Se considerarmos que já foram investidos cerca de 1,7 bilhão de dólares para influenciar o resultado final da reforma, junto a congressistas e agências federais, mesmo diante ao fato de que os EUA possuem um dos níveis de organização civil mais elevados no mundo, não posso deixar de preocupar-me quanto a legitimidade e o poder de correlação dessas forças em disputa no Congresso, ainda que feita em campo aberto e a vista da sociedade. Em termos de biopolítica, não posso deixar de pensar que mais parece um jogo entre o Minotauro e Alice, no país das maravilhas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Operação Conjunta Anvisa-PF: Material Médico-Cirúrgico Falso

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Polícia Federal apreenderam hoje, em São Paulo, grande quantidade de material círurgico e de terapia intensiva. Os produtos falsificados são material cirúrgico para uso em cirurgia bariátrica e em respiradores, que juntos somam a impressionante cerca de uma tonelada. O local, conforme descrito na grande imprensa, além de não ter qualquer registro oficial, em termos de higiene assemelhava-se a uma verdadeira pocilga.
A quantidade do material apreendido demonstra que existe um mercado ilegal de insumos de saúde fortemente operativo no país. A gravidade do assunto exige uma ação imediata e conjunta do Ministério da Saúde, Anvisa, Agência Nacional de Saúde Suplementar, Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, no sentido de reprimir esse tipo de crime organizado contra a saúde pública e o exercício profissional, que está classificado como hediondo. Detalhes da operação, na página de O Globo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Planeta Estúpido

A ONG Planet Stupid tem por objetivo esclarecer sobre os danos ambientais. Seus vídeos em geral usam de uma linguagem violenta como instrumento didático para a veiculação e a compreensão da mensagem. Este, em exemplo, trata do impacto ambiental provocado por um vôo de porte médio. Chovem então ursos na medida em que o avião queima mais e mais combustível na aceleração, para ganhar altura. A criação é da agência inglesa Mother e a produção é de Rattling Stick.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jacarés Agora Morrem de Calor


















Pará - Matança de Jacarés em Marajó ( O Estado do Pará em 1908. Imprimerie Chaponet. Paris: 1908)

















Jacaré morto no leito seco de um lago amazônico que integra o sistema fluvial da Bacia do Amazonas (Agência Reuters, novembro 2009)


Durante todo o século XX os jacarés da Amazônia foram caçados sem descanso. Ameaçados de extinção, esses répteis, em sendo animais pecilotérmicos, têm agora um poderoso inimigo nas mudanças climáticas e ambientais que levam a seca aos rios e lagos amazônicos.
Para pesquisadores o fenômeno decorre do aumento da temperatura nos oceanos, ainda que concorram outras causas relacionadas com a ocupação e a exploração descontrolada dos recursos naturais da região amazônica.
Contudo, o jacaré-açu, de todos o maior da espécie, que pode alcançar até 5,5 metros e pesar meia tonelada, até o momento tem população estável como resultado da proibição de sua caça predatória.

Sting Contra Belo Monte



















Durante a novela Que Rei Sou Eu, transmitida pela Rede Globo de Televisão em 1989, ele foi citado como o cantante Ping, responsável pela agitação das comunidades indígenas no imaginário Reino de Avilon. Vinte anos depois, o roqueiro e bibliófilo inglês Sting volta aos palcos do ambientalismo nacional e apresenta solidariedade ao amigo cacique Raoni na luta contra a construção da hidroelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Estado do Pará, Amazônia Oriental).
Pelo visto somadas as posições do Greenpeace, de partidos políticos como o PSOL e o PSTU, do Movimento dos Sem Terra e dos Atingidos por Barragens, mais aquelas já expressas por acadêmicos, será uma disputa de peso contra a decisão do governo federal e estadual de ali estabelecer a maior hidroelétrica já situada em domínio brasileiro. O projeto à cargo da EletroNorte mobiliza discussões como estas aqui e aqui.
Aliás, no Brasil, lugares com o nome Belo Monte parecem fadados à inundações. O primeiro, urbe monstruosa, na descrição de Euclides da Cunha em Os Sertões, foi a cidade do beato Antonio Conselheiro, também conhecida como Canudos, na Bahia. Depois de conquistada pelas tropas do governo federal em 1897, o que restou da Belo Monte conselheirista foi sepultada sob as águas no fim década de 60, para término da Barragem do Açude Cocorobó.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Caravana Rolidei* Chega aos EUA


















Apesar do NY Times, o Brasil de gente esquisita, que vive na praia de Copacabana, em Buenos Aires, no dolce far niente de tomar cachaça, olhar bundas de belas mulheres semi-nuas e, no intervalo do carnaval, sempre jogar um futebol de mestres, tornou-se um latino respeitável nas academias de Tio Sam. Surpreenda-se, clicando aqui.

* Nome de um circo mambembe no filme Bye-bye Brasil, um clássico do cinema brasileiro dirigido por Cacá Dieges, no final dos anos 70.

Política Pública Brasileira È Destaque em Harvard

Brasil prova aos países em desenvolvimento que é possível enfrentar a epidemia de HIV/AIDS com o uso de genéricos. Quem anuncia é a Harvard School of Epidemics, mas eu completo: o resultado alcançado só é possível, porque o Brasil possui um sistema de saúde público, universal, equânime e integral - o SUS. De outro modo os pacientes portadores do HIV e acometidos de AIDS padeceriam como padecem aqueles que vivem em países desenvolvidos e em desenvolvimento, excluídos pelos limites contratuais dos planos de saúde e/ou pela ausência de um sistema público de saúde que os atenda. Mais detalhes do elogio norte-americano aqui.

Com Fumaça Não se Brinca

Não bastassem a violência e as balas, o Rio de Janeiro agora contará com um novo inimigo: o aumento na emissão de gases nocivos à saúde humana. Segundo notícia publicado no jornal O Globo, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma comandita da empresa Companhia Vale do Rio Doce com a alemã Thyssen-Krupp, quando em funcionamento, irá aumentar "em 76% a taxa de dióxido de carbono na atmosfera". Esse percentual representa mais de 12 vezes o total de emissões industriais do gás no município e cerca de 14% do total de emissões produzidas no estado.
A denúncia tem outros ingredientes que permitem compará-la à nitroglicerina pura, que, ao sugerir as razões e os interesses por trás desse projeto, explicará por que ele é vendido ao público como a menina dos olhos da recuperação econômica do estado do Rio de Janeiro. Detalhes sobre a gravidade do problema, que afetará a saúde da população da zona oeste carioca, mas em igual a Baixada Fluminense, podem ser lidos na página eletrônica da Fundação Lauro Campos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Sem Dinheiro, Motosserras Travam

A ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ao modo como foi observado em âmbito internacional sobre outros assuntos ambientais, especula que o recuo observado no desmatamento da região deve-se aos freios da crise econômica mundial.
A hipótese tem validade, pois desde 2008 haviam evidências de iminente contração setorial na pecuária brasileira. Por exemplo: segundo estudo financiado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), divulgado em 2008, o custo operacional total (custo variável + custo fixo + depreciação) acumulou alta de 88%, enquanto o valor da arroba do boi gordo havia subido 56%.
Tratava-se naquela altura de um prejuízo operacional na ordem de 32%, que, no transcurso da crise, com as curvas cambiais positivas do Real, levou a desacelaração de novos investimentos na ampliação de rebanhos e pastos para fins exportadores.
Mas a conclusão do Imazon, por mais redonda que aparente, requer complemento. Ainda resta avaliar quais foram os efeitos concorrentes da política ambiental para a Amazônia, na definição do desfecho para o período observado. Sem a medida dessa variável quali-quantitativa, a avaliação perde a completude científica necessária à elaboração de um quadro compreensivo do problema ambiental na região.

A Civilização do Petróleo

É sob a influência de uma realidade social instável e ameaçadora para a América Latina e o mundo que Pablo Neruda, prêmio Nobel de Literatura, escreve em 1943 o poema Standard Oil Co., até hoje considerado um líbelo contra o neocolonialismo e o poder ilimitado de meia dúzia de empresas transnacionais com notável influência sobre a tecnologia e os negócios das países industrializados centrais, ainda que 85% da demanda diária de petróleo, necessária para manter girando essa imensa roda da fortuna, proceda de campos petrolíferos situados nos países em desenvolvimento ou periféricos.

O cinema, por sua vez, nunca ficou indiferente a essa temática. Longas-metragens como Salário do Medo (1953), Assim Caminha a Humanidade (1956), Caminho do Petróleo (1966), Syriana (2005) e Sangue Negro (2007), são clássicos que abordam a dimensão hostil da economia petrolífera. O vídeo aqui anexado é parte de uma produção da Four Seasons Productions, uma empresa norte-americana que apresenta um interessante catálogo de filmes em dvds sobre temas sociais de interesse geral.

A narrativa do curto documentário é o poema Standard Oil Co., em versão soberba para o inglês, que nivela-se à sonoridade e ao rítmo do original.

sábado, 14 de novembro de 2009

De Corais e Poesia Zen
























Corais se alimentam de plancton, dizia-se. As fotos acima evidenciam um fato até o momento desconhecido para a ciência. Um coral da espécie Fungia scruposa "engole" uma água-viva no Golfo de Aqaba (Mar Vermelho). Publicado em Coral Reefs (2009), 28:831–837.

A globalização tem sido implicada em inúmeros problemas sócio-econômicos e ambientais nas mais diferentes regiões do mundo. O atual momento do sistema capitalista promove ou subverte práticas culturais, delineando novas práticas e estilos de vida quase sempre nocivos à saúde da coletividade, como fruto de larga e profunda capacidade de produção industrial em escala, que faria os ideólogos da primeira revolução industrial paralisarem de espanto, se lhes fosse possível saber do mundo à frente, duzentos anos depois.
Costuma-se dizer que a unidade anos é um nada em termos de evolução do planeta e dos seres vivos que nele coabitam. Esta é uma verdade relativa, se considerarmos - e devemos fazê-lo seriamente -, quando consideramos que é inversamente proporcional à capacidade humana de produzir danos exponenciais ao ambiente na medida em que aprimora suas forças produtivas e responde às necessidades de mercado. Enquanto não temos limites para desenvolver, inovar, comerciar e alterar negativamente o meio ambiente, a reserva da natureza para responder aos efeitos colaterais do progressismo certamente tem, porque assim é demonstrado em todo e qualquer modelo de sistema, exceção feita à máquina de moto contínuo, jamais inventada.
Alguns pesquisadores, contudo, desenvolveram um niilismo perigoso quanto ao desaparecimento de espécies, fato extensivo à própria a que pertencem, afirmando que grande parte das espécies que hoje interagem no planeta não existiam há alguns milhões de anos, o que demonstra a finitude da vida. Seria inteligente a afirmação se não limitassem suas explicações evolutivas à catástrofes naturais e incluíssem a progressiva participação humana nas modificações do planeta, a ponto de alguns de seus colegas considerarem que vivemos uma nova era geológica, o Antropoceno.
Nessa linha de raciocínio científico, Bradbury (Australian National University) e Seymour (University College of London) publicaram na revista Coral Reefs (2009) 28:831–837) um artigo elegante que indaga com justificada preocupação sobre o futuro dos recifes de corais, organização com importância para o equilíbrio biológico dos mares, ainda que frágil em termos adaptativos frente à velocidade e profundidade das modificações promovidas no ambiente. Trabalhando com a teoria dos sistemas, articulando na argumentação referências conceituais de Biologia, Bioquímica, Economia, Física e de História da Ciência, os autores criticam também os atuais modelos de santuário ecológico para corais, observando que a atual crise não pode ser resolvida sem considerar que homens e corais são indissociados, porque representam indivíduos que integram sistemas superpostos e interagentes, contínuos e contíguos, onde um possui poder e velocidades ilimitados para promover modificações ambientais, enquanto o outro possui reservas com grande inércia para adaptar-se a essas alterações.
O mundo, portanto, precisa superar o atual paradigma de progresso técnico-científico-inovador iniciado na Inglaterra no século XIX, quando, já naquela época, ao lado de jornadas de trabalho com duração de dezoito horas, extensivas à crianças, observávamos que o enegrecimento dos troncos das árvores, provocado pela fuligem depositada pelas fábricas, levou ao quase imediato desaparecimento de mariposas claras, extintas devido a impossibilidade de adaptarem-se ao novo ambiente, como vítimas da cumplicidade estabelecida entre o modelo econômico expoliador e o predador natural daquela espécie.
Penso que não há outro modo de confirmarmos nossa vocação ética de sempre estarmos em um tempo futuro humanamente aceitável. Consciência, coragem e atitude são palavras que decerto nos animarão a caminhar no sentido de reconhecermos os valores de universalidade, integralidade, equidade e transcendência como zelos necessários a vida. Ao modo como Ryushu Shutaku (1309-1388) a imortalizou em poesia zen:
Uma única árvore em seu vaso é minha companhia
A penumbra verde de milhões de anos pesa sobre mim
Quem pode falar da vastidão contida neste mundo?
No espaço de poucos centímetros,
o imenso monte Zhuyong Feng.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Lorotas ao Pé da Serra

Um amigo, residente na cidade de São Paulo, alerta-me sobre uma questão importante. O tal prejuízo no abastecimento de água na região metropolitana, imputado pelas autoridades estaduais ao blecaute que o país sofreu na última terça-feira, não passa de conversa para inglês ver.
Conforme antes identificado, o buraco que escoa a água do contribuinte paulistano está em pé de Serra, e não é o da Cantareira. Por essa razão, pensando bem, só Eremildo - o idiota -, acreditaria que reservatórios, bombas e tanques de uma megalópole seriam esgotados em quatro horas de falta de energia.

*Eremildo, o idiota, é personagem criado pelo jornalista Élio Gaspari. A criação pretende descrever alguém parvo, que é convencido com qualquer argumento que lhe é apresentado, em especial quando se trata de assunto de natureza política.



sábado, 7 de novembro de 2009

Para Cólera, Beba Limonada!

























Reprodução

As epidemias constituíram um flagelo social na Amazônia durante o Império, em parte pelas condições sanitárias vigentes, em parte pelos limites próprios da ciência à época, mas principalmente porque naquela altura a região já se apresentava como fronteira econômica para o mercado internacional, conforme pode ser verificado nos registros portuários sobre a navegação de cabotagem.
O documento em destaque, redigido com a objetividade burocrática, reflete em parte as dimensões dessa realidade, por ocasião da epidemia de Cólera que acometeu o Pará e o Amazonas na segunda metade do século XIX. Nessa ocasião, ao lado da inovação dos navios a vapor, tínhamos apenas limões para tratar de uma doença mortal.
Em linguagem atual, a transcrição da correspondência entre os governadores diz o seguinte:
Excelentíssimo Senhor,
Tenho a honra de acusar a recepção do Ofício que V. Excia dirigiu-me em 30 do mês passado, bem como o impresso que o acompanhou, em que vem anexado o ofício do presidente da Comissão de Higiene Pública dessa província, versando sobre ter sido aplicado com sucesso o sumo de limão no tratamento das pessoas afetadas da moléstia aí reinante; o qual vou mandar à publicidade, agradecendo a V. Excia. a solicitude de semelhante comunicação.
Deus guarde V. Excia.
Província do Amazonas, na cidade de Barra do Rio Negro, 7 de dezembro de 1853.
Manoel Gomes Correia de Miranda.
Ao Exmo. Sr. Conselheiro Sebastião do Rego Barros
Presidente da Província do Pará

Bioética em Nanotecnologia, a Inclusão Necessária

O livro Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal (Xamã Editora, 2007) é um estudo qualitativo que tem por objetivo construir um quadro compreensivo sobre as pesquisas nanotecnológicas no Brasil, o que em parte é obtido com entrevistas de representantes da academia, de ONG, de sindicatos, da indústria e dos governos federal e estadual. Entre as recomendações necessárias ao desenvolvimento da nanotecnologia brasileira, os autores apontaram a principalidade da Bioética, a ser garantida com a inclusão dos saberes das Ciências Humanas sobre o assunto. Os autores não excederam na ênfase, a vista do impacto, potencial e real, que essa tecnologia possui para a vida humana e, em especial, para o meio ambiente.

Medicina e a Delicadeza Perdida

Tão logo chegou na semana passada a Recife, para a abertura do IX Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), o presidente Lula foi informado por lideranças acadêmicas do apoio incondicional que o Ministério da Saúde havia oferecido ao citado Projeto de Lei do Ato Médico (PLS25/2002), que em seu reducionismo questiona a legalidade das parteiras. A denúncia foi suficiente para Lula se irritar com o ministro da saúde, que é médico e doutor em medicina social. No discurso, à ocasião da abertura do evento, o presidente advertiu que ficará atento para o fato, considerado por ele injusto, e que o apreciará em definitivo, no momento em que for sancionar o citado projeto, ora em trâmite para apreciação de mérito no Senado Federal.
Ora, suspender a atividade das parteiras por considerar de forma unilateral a assistência ao parto um ato exclusivo de médico, é fato gravíssimo, especialmente porque todos sabemos das brechas de atenção pública ao parto, a gravidez e ao puerpério nesse país continental. Além do mais, ninguém pode desconhecer a insuficiência de profissionais médicos em determinadas especialidades, obstetrícia incluída, condição que piora quando se trata de exercer esses ofícios nos sertões do Nordeste, Centro Oeste e Norte do Brasil. Apenas a absoluta ausência de uma carreira para os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), uma das causas para a escassez crônica de técnicos de nível superior no SUS, já recomendaria cautela a quem inspirasse ou redigisse semelhante artigo do projeto de lei.
Ao que parece o esforço de dar régua e compasso ao mercado, nós médicos esquecemos que um dia a obstetra mais famosa do Rio de Janeiro, então capital do Império, foi exatamente uma parteira formada pela nossa Academia Médico-Chirúrgica. Tão excelente profissional foi Madame Durocher que, em 1871, tornou-se membro da Academia Nacional de Medicina, onde fez inúmeras comunicações científicas e publicou o livro Considerações Sobre a Clínica Obstérica, ainda hoje considerado o melhor estudo sobre a obstetrícia do Brasil imperial. Mas, nessa época, ainda não havíamos aprendido que poderiámos ser expertes nos cânones da delicadeza perdida.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Modernidade para Cinéfilos

A gigante japonesa NEC apresentou protótipo de óculos que reconhece por microfone a língua estrangeira falada em um filme, e realiza a tradução simultânea para o idioma do usuário.
Esta é uma inovação inesimável para os cinéfilos, entre os quais me incluo. Melhor que isso, apenas a projeção holográfica de um filme em sua sala de visitas. Imagine eu e você a festa que faríamos com um gadjet desses pousado sobre os olhos, como fregueses do www.theauteurs.com!

Alérgicos do Mundo, Uni-vos!

Para a revista Life Science, o aquecimento global aumentará a quantidade de mofo e pólen - atchim, atchim, atchim! - nos aglomerados urbanos. A notícia, é certo, confirma a principalidade do tema do meio ambiente nas discussões científicas e políticas da próxima década.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Equidade, Ainda que Tarde

Quando os sanitaristas lutam por preservar o princípio da equidade em saúde pública, alguns críticos desse princípio torcem o nariz ao modo liberal. Para nós da saúde pública, equidade é proteger o acesso de a cada um à tecnologias de saúde em conformidade com a correspondente necessidade social, reconhecendo em cada cidadão a real possibilidade de alcançar esse objetivo como direito. É com base nesse princípio de ética pública que podemos evitar fato igual a este aqui. Ou entender os porquês da chamada judicialização da saúde.

sábado, 24 de outubro de 2009

A Fraternidade È Vermelha

No cotidiano da vida, as sociedades reconhecem entre seus membros aqueles em situação de maior risco a agravos. Dentre todos, os mais expostos, e que requerem por consequência atenção e proteção das autoridades são as mulheres, os idosos e as crianças. Tal necessidade confirma-se dolorosamente por ocasião dos conflitos armados.
Nessas ocasiões, quando por regra humanidade é produto de rara oferta, em meio a desagregação do Estado, não poucas vezes frágil e titubeante na condução de políticas públicas em tempos de paz, o consolo chega às populações pela obra humanitária da Cruz Vermelha Internacional. Aqui, uma prova desse trabalho de proteção .

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nobel Mais Que Merecido

Os cientistas que possibilitaram a inovação das fibras ópticas e o surgimento da câmara digital dividem o prêmio Nobel de Física. Nada mais justo. Além de provocarem uma revolução tecnológica, contribuíram de forma decisiva para que o mundo se aproximasse ao modelo de uma aldeia global como Marshall Mcluhan pensou. Mas a democratização digital e a reversão de outras desigualdades sociais, inclusive em ciência e tecnologia, andam a passos de cágado.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Falta Alguém no Ig-Nobel

Com a presença de dez prêmios nobeis foi realizada na Universidade de Harvard a premiação do Ig-Nobel. O prêmio é uma forma da ciência ironizar cientistas que produzem trabalhos destituídos de valor para o conhecimento científico. Este ano, dentre os premiados, destacam-se Kathy Whitcome e Daniel Liberman, ambos publicaram na revista Nature em 2007 que a causa para mulheres grávidas não caírem de frente deve-se ao fato de que todas tem lordose - o aumento acentuado da curvatura do terço inferior da coluna vertebral, que fisiologicamente está associada à gravidez. Tudo bem que uma das maiores revoluções científicas da humanidade foi iniciada com a queda de uma fruta sobre a cabeça de Isaac Newton, mas a Nature, que é considerada uma das mais exigentes e prestigiadas revistas científicas do mundo, bem poderia levar o Ig-Nobel na categoria jornalismo científico.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Gestão de Tecnologias no SUS - A Inovação Necessária

A Comissão Intergestora Tripartite (CIT) aprovou na última reunião a proposta de política de gestão de tecnologias de saúde idealizada no Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde em 2006. A aprovação é um passo importante, mas a certidão de batismo só virá com a publicação de portaria ministerial. Enquanto isso, para dar bom futuro à política, pegue, portanto, faz-se necessário dar a proposta de política um caráter menos genérico que o atual, face aos desdobramentos orçamentários e financeiros necessários a sua implementação nos estados e municípios.
Uma política de gestão de tecnologias de saúde está para além da elaboração de estudos de avaliação de tecnologias de saúde e da formação de pessoal, ambos produtos da mais clara necessidade para o fortalecimento da capacidade gestora do Estado. Seu detalhamento requer considerar um modelo executivo de hierarquia ágil que estimule competências regionais e considere o atual cenário do parque tecnológico do SUS, sua distribuição se em acordo com as necessidades locais de saúde, além de protocolos para incorporação, manutenção e retirada de tecnologias obsoletas e mapas de rotas tecnológicas com base no horizonte industrial e sanitário do país. Sem estes cuidados será apenas uma meia-sola, ainda que chuleada com boas intenções.

Estatinas e a Prevenção de Eventos Cardiovasculares

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, em colaboração com a Agência de Saúde Suplementar (ANS) e Ministério da Saúde, lança mais um Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias de Saúde (BRATS) para responder questão sobre o custo-efetividade das estatinas na prevenção primária de eventos cardiovasculares. O termo custo-efetividade pertence à economia da saúde e indica se o custo de uma tecnologia é adequada ao benefício real que ela assegura. Trata-se de um dos melhores números do BRATS já produzidos. Obrigatório para gestores da saúde, médicos clínicos e cardiologistas.

domingo, 20 de setembro de 2009

Nem Só de CO2 Vive um Flex

A recente ferramenta** estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que utiliza a chamada Nota Verde*, põe as montadoras brasileiras, as distribuidoras e a rede de comercialização numa sinuca, ao identificar que veículos flex (bi-combustíveis) apresentam emissão preocupante de poluentes como resultado de seu funcionamento. Trata-se de uma iniciativa meritória do IBAMA para a proteção do direito do consumidor e para o estímulo à pesquisa e a inovação necessárias a redução da emissão de poluentes por veículos automotores.
* considera a média de emissão de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio.
** com acesso público.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Segundo MONICA, Ter Coxão É Bom

O projeto de pesquisa MONICA (monitoramento de tendência e determinantes de doença cardiovascular) acompanhou durante dez anos a saúde de 1436 homens e 1380 mulheres dinarmaquesas , para identificar relações entre circunferência da coxa, doença cardiovascular, doença coronariana e a mortalidade geral. Em 1997 e 1998 o grupo foi avaliado quanto a altura, peso, circunferência da coxa, quadris, cintura e composição corporal.
A conclusão do estudo, divulgado esta semana no The British Medical Journal, foi de que existe evidência científica que demonstra haver relação entre circunferência de coxa abaixo de 60 cm e maior incidência de doença cardiovascular em geral ou para morte prematura.
Os resultados foram todos rigorosamente avaliados do ponto de vista estatístico e vem ao encontro de conclusões observadas em outros estudos com respeito ao valor dessa musculatura para a saúde: a existência de relação entre massa muscular dos membros inferiores e diabetes tipo II, ou o fato de que a medida da coxa por exames de imagem podem ser melhor que o índice de massa corporal para o prognóstico da evolução da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A conclusões de MONICA representam também excelente evidência para a importância de adortar-se estilos de vida saudáveis. Para leitura completa do artigo publicado no BMJ, clique aqui.

Prevenção da Violência Baseada em Evidências

Violência é um determinante social de saúde. Por essa razão sua prevenção deve constar de forma séria na agenda governamental das autoridades de um país, sejam elas do legislativo, do judiciário, presidentes, governadores ou prefeitos. No Brasil, afora uma ou outra experiência meritória local, os programas de prevenção à violência são desarticulados e a criminalidade segue fazendo vítimas.
Numa questão com tal complexidade social, prevenir a violência vai mais além do que a necessária repressão policial à criminalidade, que, por sua vez, também treina seus combatentes, arma-se melhor do que a polícia, faz atividade de inteligência, corrompe e, pior, faz investimentos sociais ao modo de um estado paralelo. Sem termos a compreensão da natureza multifatorial da violência, não saberemos como preveni-la, não teremos como escapar da situação de guerra civil que ameaça muicípios de médio e grande porte. Evidências de como superar a violência nas cidades estão aqui.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Twin Peaks e a Bioética

Os fatos ocorridos em uma clínica de reprodução assistida na cidade de São Paulo servem de alerta aos secretários municipais de saúde e aos orgãos reguladores do exercício profissional nos estados.
A sensação que temos sobre o lastimável episódio é estarmos em uma ambiência a Twin Peaks, o filme em que o diretor David Linch demonstra as sombras e as camadas com que uma sociedade desfoca o que em si a nega como expressão da ética protestante (Weber) e sua correspondência na modelagem do mito fundador da história norte-americana .
A competência regulatória em bioética integra os atributos de uma autoridade sanitária, está claro. Daí o porquê, no campo da medicina reprodutiva, tenhamos de ir para mais além que a boa intenção do legislativo paulista. É imprescindível que, sem demasia legislativa, o Brasil disponha de um corpo legal que discipline de forma distinta e correlata ambas as três matérias.

Bom Senso e Canja de Galinha Não Fazem Mal a Ninguém

O medo epidêmico é um velho companheiro dos homens. Desde a Antiguidade a história registra o comportamento humano frente a ameaça de doenças infecciosas na comunidade. Na Idade Média micro-organismos viajavam com os exércitos das cruzadas e nas caravelas pelos mares, polulavam das insalubridade urbana e populações inteiras erravam pelos caminhos, tangidas por epidemias mortais como a temível Peste Negra. Nesses tempos pouco ou nada se podia fazer em termos de saúde pública que protegesse a população.
Frente ao medo, logo pavor e terror, a sociedade ficava a mercê do mágico e da frágil ciência da época. Cidades fechavam suas portas ao livre trânsito e comércio, desconhecendo que o principal risco para a Peste Negra, o rato, ganhava assim abrigo e proteção nas valas e cortiços com o agravamento das condições sócio-ambientais. Ao lado de súplicas aos réus, sonorizadas pelo badalo de sinos e as prédicas religiosas, coexistia a noção do contágio pelo ar (miasma) e a inspiração bíblica da quarentena aos suspeitos do mal epidêmico.
Mudamos, decorridos mais de dois mil anos de convívio com epidemias de variada gravidade e causalidade?
Sem dúvida. Hoje contamos com um arsenal científico que nos protege e socorre frente as armadilhas da seleção natural, ainda que vez por outra nos deparemos com atos de governo que demonstram a persistência do medo epidêmico em sociedades industrializadas. É quando constatamos que ao serem inspirados por aquele, tais atos governamentais não apenas afrontam o bom senso, mas até os princípios constitucionais. Para saber mais, clique aqui.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Globalização



















Apenas ignorem os sem-tetos... Informa o comandante.

Câncer - Doença Genética e Infecciosa?

O mundo dos vírus ainda é desconhecido para a ciência que, desde o século XIX, tem acrescido seguidos avanços na compreensão do papel das bactérias na patologia humana e dos animais em geral. O desnível de conhecimento acumulado nós podemos compreender como consequência tanto da maior pressão que as doenças bacterianas tinham sobre as populações desde a Antiguidade quanto de limitações tecnológicas, pois ao contrário do óptico, disponível desde o final de 1590, o microscópio eletrônico só aconteceu a partir dos anos 30 do século passado, quando já havíamos acumulado conhecimento em eletro-eletrônica suficiente para sustentar esse tipo de inovação. Não por coincidência data dessa época as primeiras experiências exitosas com transmissões analógicas de imagens por televisão em Nova Iorque.
Uma dos mais importantes avanços na compreensão do papel dos vírus no desenvolvimento das doenças da espécie humana foi a demonstração de nexo causal entre os papilomavírus (HPV) e o desenvolvimento de câncer de colo uterino. O mecanismo da doença inicia com o fato de que para uma reprodução viral eficaz existe a necessidade de infectar células de um hospedeiro geneticamente superior, que tem toda a maquinária celular tomada de assalto a partir da associação do dna viral com o dna do organismo hospedeiro. O processo reprodutivo levará a danos celulares irremediáveis ou, para dizer em linguagem científica, ao efeito cipopático responsável pela indução de alterações morfológicas graves na matriz genética capazes de transtornar os processos energéticos da célula hospedeira, além de sua multiplicação e a diferenciação ordenadas. Por esse modo é correto avaliar o câncer tanto como doença infecciosa, quanto como doença genética e não mais como fato vital incompreensível.
A compreensão das leis do desenvolvimento embrionário é importante não só para compreender como os diferentes tecidos e orgãos do embrião humano são desenvolvidos. Conhecê-lo auxilia na explicação de algumas doenças importantes pela origem dos orgãos em tecidos embrionários comuns. No caso do aparelho urogenital ambos tem origem comum no chamado mesoderma intermediário do embrião. Tais semelhanças podem explicar a suscetibilidade tecidual ao HPV no que respeita ao câncer de pênis e do colo de útero.
O conhecimento científico sobre a relação vírus - câncer tem evoluído de forma substancial tanto na compreensão dos bio-mecanismos implicados nas lesões, quanto no diagnóstico e no tratamento de alguns cânceres. Na fronteira da linha de investigação têm se destacado estudos que buscam definir qual o papel viral na origem do câncer de próstata, um dos mais prevalentes e mortais na população masculina. Embora não seja exatamente uma novidade, a exploração dessa hipótese pode explicar o comportamento de tumores prostáticos de comportamento reconhecidamente mais agressivo. Esta é, por exemplo, uma das contribuições do trabalho de Schlaberg e colaboradores, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (07/09/2009). Mediante um experimento desenhado com acurácia e elegância, os autores demonstram a relação causal entre XMRV (vírus xenotrópico relacionado a leucemia de roedores) e algumas linhagens de câncer de próstata com maior agressividade na progressão da doença.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Situação da Influenza nas Américas

Dr. Jarbas Barbosa, diretor regional da Organização Pan-Americana de Saúde, convida para a conferência em que será apresentada a situação da gripe suína (H1N1) nas Américas, em 9 de setembro próximo. Não é preciso tomar um avião e ir até os EUA para participar. Bastará que o (a) interessado (a) disponha de computador e de uma boa conexão com a rede mundial. A conferência será em inglês com tradução simultânea para o espanhol.
Eis os links:
1. para checar o fuso horário do país com a hora da reunião em Washington, DC:
http://www.timeandd ate.com/worldclock/meeting. html
2. para acessar a sala virtual da conferência:
https://sas.elluminate.com/m.jnlp?sid=1110&password=M.13BE00255A2E6838A6E644D5C39BDA (em inglês)
https://sas.elluminate.com/m.jnlp?sid=1110&password=M.173214B9ABCE0FDD46CD299DF48EC1 (em espanhol)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Trombose e Viagens Longas - Metanálise





Para quem viaja muito constitui uma preocupação, especialmente quando são longas. Afinal, qual é o risco de Trombose Venosa Profunda (TVP) para viajantes de longas distâncias no Ocidente? Para responder essa pergunta Chandra D e cols. publicaram metanálise no Annals of Internal Medicine, em agosto deste mês. De modo resumido as conclusões são as seguintes: i) viagens de longa duração aumentam em até 3 x o risco de TVP; ii) são necessários estudos que avaliem a efetividade das intervenções de baixo custo e risco (hidratação, deambulação, etc), tanto quando utilizadas por viajantes com risco conhecido para condição, quanto para aqueles que não apresentam riscos predisponentes à TVP.

Uma Antropóloga Brasileira no COHRED

Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília, foi eleita para representar o Brasil no colégio de diretores do Council on Health Research for Development (COHRED). Débora possui uma extensa produção técnica e acadêmica em Bioética, onde é destaque a direção dos filmes Solitário Anônimo, Quem São Elas, Habeas Corpus e a A Casa dos Mortos, todos abordando em profundidade questões limites do direito à vida e a saúde. Daqui vão o abraço e os parabéns do blogueiro.

Ministerio da Saúde Inova na Comunicação

O Ministério da Saúde inovou em termos estratégia e instrumentos de comunicação para divulgar informação sobre a gripe suína (H1N1). Além de mídias tradicionais do tipo cartazes, folderes, inserções em rádio, aúdio em aeroportos e página eletrônica oficial, a instituição está presente também no YouTube e no Twiter. A partir desses materiais educativos outras páginas eletrônicas, não necessariamente oficiais, poderão ser construídas e ajudar no esclarecimento sobre a atual pandemia de gripe. Um exemplo está aqui.

sábado, 15 de agosto de 2009

Gripe Suína: Verdades e Mentiras

1. Resistência ao Tamiflu: VERDADE
Durante uma epidemia a melhor arma para enfrentá-la é a correta informação da população. Jornais brasileiros de grande circulação publicam matéria com chamada do tipo "Saúde Comprará remédio para Gripe Suína Resistente ao Tamiflu, mas não há motivo para pânico.
Oficialmente não temos no Brasil casos confirmados de resistência. A medida do Ministério da Saúde apenas representa zelosa cautela. Segundo a Organização Mundial da Saúde, até hoje, na América Latina foram registrados 4 casos. Todos relacionados com o uso do Tamiflu em subdose. Daí porque é importante restringir o uso do medicamento sem prescrição e supervisão médica.
2. O Ministério da Saúde retirou do mercado o Tamiflu: MENTIRA
A autoridade sanitária nacional jamais ordenou a retirada do Tamiflu do mercado. Estrategicamente, o Laboratório Roche recolheu o medicamento para atender a necessidade do governo brasileiro de enfrentar a atual pandemia de gripe H1N1. Evidente que a medida administrativa do produtor contempla a equidade, porque permite que todos tenham acesso ao medicamento nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), evitando que o poder aquisitivo de poucos restrinja o acesso de muitos.
3. Idosos podem ter proteção relativa contra o vírus: VERDADE
Os idosos constituem grupo de risco para a gripe suína, especialmente devido a concorrência de comorbidades, ou seja, doenças prévias que debilitam o indivíduo. Contudo, pelo fato dessa geração ter entrado em contato antes de 1957 com um grupo de vírus semelhantes ao H1N1, o quadro desenvolvido poderá em tese ser menos grave em 33% dos casos com mais de 60 anos de idade.
4. Pacientes acometidos de H1N1 transmitem por uma semana a doença - VERDADE
Após o início da doença, pessoas infectadas pelo vírus H1N1 transmitirão a doença até 7 dias após o início dos sintomas. Durante esse período devem ser mantidas em isolamento.
5. Retardar o início das aulas é uma boa medida para evitar a doença - MENTIRA
Não existem evidências científicas consistentes que comprovem a efetividade da medida. A rigor durante qualquer epidemia de gripe recomenda-se evitar a presença em locais onde compareçam grande número de pessoas. Devemos considerar, contudo, que ao retardar o início das aulas os estudantes não permanecem em casa e terminam por buscar outros ambientes coletivos, como danceterias, cinemas, shopping centers, expondo-se assim à doença. Em Cingapura, no mês de julho, por exemplo, era expressivo o número de adolescentes que adquiriram a doença em danceterias.
6. Grávidas devem ser afastadas de ambientes insalubres - VERDADE
As estatísticas da epídemia por H1N1 demonstram claramente que gestantes são grupo de risco. Por essa razão é recomendável não expô-las a ambientes onde o vírus tenha maior circulação. Entretanto, não basta afastá-las por um período x ou y de dias, pois se estivermos numa curva ascendente da epidemia, quando retornarem ao ambiente, essas mulheres novamente estarão sob risco de contrair a gripe. Recomenda-se assim afastamento até o parto ou mudança do ambiente de trabalho.
7. Pacientes com SIDA (AIDS) apresentam mais insuficiência respiratória - MENTIRA
Embora ainda não esteja esclarecido por qual razão, é muito raro que pacientes com SIDA (AIDS) desenvolvam o quadro gravíssimo de Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto por H1N1. Em termos estatísticos, no Brasil, entre os internados na Terapia Intensiva por essa condição potencialmente letal apenas 1 estava em tratamento para o HIV.
8. Exames negativos afastam a possibilidade de gripe suína - MENTIRA
Os testes apresentam limites técnológicos, especialmente entre aqueles utilizados para diagnósticos rápidos. Além do tempo de evolução da doença, um aspecto importante a considerar é o uso de Tamiflu, por reduzir a carga viral e, por conseguinte, possibilitar resultados negativos de investigação laboratorial. Cabe por fim sublinhar que, na vigência de uma pandemia por H1N1 , um diagnóstico post-mortem onde sejam descritas lesões do tipo citopáticas nos pulmões, fígado e rins é sugestivo de que o desfecho decorreu devido a complicações pelo H1N1, desde que excluídas outras possibilidades infecciosas. Casos de grave insuficiência respiratória podem decorrer de uma excessiva resposta orgânica ao vírus, a ponto de ser necessário o uso de corticóides em altas doses para salvar o paciente. Contudo, não existem estudos estatísticos que definam a acurácia da microscopia eletrônica para identificar o H1N1 em tal situação. Em resumo: frente a uma situação pandêmica, a suspeita de gripe por H1N1 deve ser principalmente fundamentada em informações clínicas e epidemiológicas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Bunge e as Cinzas do Capitalismo

Nesses tempos de crise econômica mundial e suas repercussões nos mais variados campos da vida social, sempre vem ao debate questões do âmbito da filosofia e da ciência política. O texto que segue foi produzido por um dos mais brilhantes filósofos que a América Latina produziu. Dele é o clássico Causalidad (1961) - de extrema importância epistemológica para a formação científica, especialmente para epidemiologistas.
Com vocês, o argentino Mário Bunge, do alto de seus 90 anos, ativo na McGill University, no Canadá. O artigo reproduz conferência realizada no Perú.

O autêntico socialismo renascerá sobre as cinzas do capitalismo

* ** ***

A sociedade capitalista, caracterizada pelo chamado mercado livre, passa por uma grave crise. Ainda que os políticos e seus economistas nos prometam que eventualmente sairemos dela, não nos dizem como, nem quando. Não o podem fazer porque carecem de teorias econômicas e políticas corretas: somente dispõe de modelos matemáticos irreais e de consignas ideológicas desgastadas. Isto vale não só para os dirigentes neoliberais mas também para os socialistas, tanto os moderados como os autoritários. Os neoliberais não nos explicam a alquimia que transformaria a liberdade de empresa e de comércio em prosperidade; e os poucos marxistas que encontramos se regozijam com a crise que profetizaram tantas vezes, mas não propõe idéias novas e realistas para reconstruir a sociedade sobre bases mais justas e sustentáveis.

Eu creio que existam motivos práticos e morais para preferir o socialismo autêntico ao capitalismo, e que a construção do socialismo não requer a restrição da democracia, mas muito pelo contrário, requer sua ampliação, do terreno político a todos os demais. Isto é o que chamo democracia integral: biológica, econômica, cultural e política1. Semelhante sociedade seria inclusiva: não haveria exclusões por sexo nem por raça, nem exploração econômica, nem cultura exclusivista, nem opressão política.

Perguntar-se-á, com razão, se esta não será uma utopia a mais, e minha postura a de um cantamañanas. Minha resposta é que a democracia integral poderá tardar para realizar-se, mas que seu embrião nasceu há mais de um século, quando se constituíram as primeiras cooperativas de produção e trabalho na Itália, sobre a base de empresas capitalistas falidas. Um exemplo parecido, mais recente e modesto, é o movimento argentino das fábricas recuperadas; estas foram as empresas que, quando foram abandonadas por seus donos porque as consideravam improdutivas, foram a seguir ocupadas e reativadas por seus trabalhadores2. Estes são exemplos em pequena escala do socialismo cooperativista.

Se nos EUA existissem sindicatos e partidos políticos progressistas, estes aproveitariam a ocasião atual e transformariam em cooperativas as grandes empresas em bancarrota, tais como General Motors e AIG. Obviamente, semelhante mudança requer a anuência dos poderes públicos, já que envolve o reconhecimento legal das empresas “recuperadas” por seus empregados, o que ocorreu na Argentina.

Mas o que está fazendo o governo norte-americano desde final de 2008 é usar dinheiro público para resgatar essas empresas privadas falidas por má gestão. Ou seja, estão fazendo o oposto de Robin Hood. Garret Hardin3 chamou a esse processo de "socializar as perdas e privatizar os lucros”

Em resumo, um programa realista para os partidos socialistas partiria da consigna da Revolução Francesa, agregando participação popular e competência na gestão do Estado. O meio para realizar este ideal da democracia integral é: Ir construindo ela aos poucos desde abaixo com as cinzas do capitalismo, como um trem de autocombustão. Ou seja, multiplicar as cooperativas e mutualidades, renovar os partidos socialistas com uma forte dose de ciência e tecnologia social, e multiplicar os sindicatos independentes, fundar centros de estudo da realidade social, e multiplicar as bibliotecas e universidades populares.

Em suma, o socialismo terá um porvir se propuser a socialização gradual de todos os setores da sociedade. Sua finalidade seria ampliar o Estado para construir um socialismo democrático e cooperativista. Este poderia ser em prática uma versão atualizada da consigna da Revolução Francesa de 1879, a saber: Liberdade, igualdade, fraternidade, participação e idoneidade.

*Texto publicado em www.kaosenlared.net

**Tradução: Paulo Marques

*** Revisto pelo poster.

1 ) Mario Bunge, Treatise on Basic Philosophy, tomo 4: A World of Systems. Dordrecht, Boston: D. Reidel, 1979

2 .Rebón e I. Saavedra: Empresas recuperadas: La autogesión de los trabajadores. Buenos Aires, Capital Intelectual, 2006

3 Garrett Hardin: Filters Against Folly. Nueva York, Londres, Penguin

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Bond no Tucupí

James Bond residiu em Belém no final do século XIX. Ao modo do super-espião criado por Ian Fleming, o cônsul norte-americano também gostava de inovações tecnológicas. Foi ele quem introduziu os trilhos urbanos no Pará. E, acreditam alguns, assim foi incorporada a palavra bonde na língua portuguesa.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

À Francesa: Grippe

























Na história da Humanidade, epidemias sempre estiveram presentes. Antes que a ciência compreendesse o papel das bactérias, fungos e vírus na origem das doenças infecciosas o mundo as compreendia como resultado de flagelos divinos ou de contágio com emanações de máteria em decomposição (miasma). Entretanto a compreensão dos mecanismos das doenças não foram necessariamente acompanhados em paralelo com avanços no modo de tratar as doenças infecciosas. Até a descoberta e produção comercial da penincilina nos anos 40 do século passado, a medicina estava limitada a tratamentos hoje anedóticos, embora representassem a única possibilidade terapêutica que os clínicos de família tinham à mão.
A ilustração deste post foi retirada da versão digital do Dicionário de Medicina Popular, (ed. 1890) de Pedro Leão Chernoviz, disponível no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, e exemplifica como seria o tratamento recomendável para alguém acometido de resfriado. O livro é um clássico da História da Medicina Brasileira e foi bastante utilizado entre nós no século 19 , especialmente em lugares distantes, onde não haviam médicos e boticas. Na Amazônia, por exemplo, há notícias de seu uso até no primeiro quarto do século 20 tanto entre famílias da região, quanto no comércio de regatão que atendia os seringueiros nos confins da floresta.
No Dicionário, o termo grippe, de origem francesa e internacionalizado desde 1743, é descrito como termo vulgar para a descrição de bronquite epidêmica, associando-lhe um quadro clínico onde predominam a febre, a tosse, dor de garganta, vermelhidão dos olhos e prostração. O autor, como podemos observar, dá ao quadro gripal uma origem infecciosa (epidêmica), ainda que a limite como doença do aparelho respiratório, quando na verdade, hoje sabemos, ela o é sistêmica, isto é, o vírus circula por todo o organismo. Nos casos de maior gravidade da gripe suína (H1N1), por exemplo, temos lesões pulmonares, renais e hepáticas. Entretanto, no tempo de Chernoviz, os tratamentos de gripe e resfriado (hoje constipação está em desuso) não apresentavam diferenças significativas, demonstrando os limites da ciência.

Caso haja desejo de ampliar a imagem anexa, basta um duplo clique sobre ela.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Moonfire

























A editora alemã Taschen publicou edição monumental para comemorar o quadragésimo aniversário da chegada do homem à Lua. O texto é assinado por Norman Mailer, um dos mais afamados escritores norte-americanos, que tem como ilustrações as melhores fotografias disponíveis sobre o feito, coletadas nos arquivos da NASA e entre colecionadores particulares. Mas o luxo sai caro, é regra. Para ter um dos 1969 exemplares publicados, o leitor terá de deixar no mínimo a conta bancária mais leve em US$ 1 mil dólares. Contudo, por generosidade do editor é possível dar uma folheada eletrônica com a garantia de equilíbrio da balança doméstica de pagamentos. Apreciem sem moderação.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Eládio Cruz Lima

Recebi mensagem sobre Amazonia: Há muito para se lamentar, em que recordei a obra de Eládio Cruz Lima, duplamente rara quer pelo tema enfocado, quer pela raridade de encontrá-la.
Foi com surpresa que, ao ler o comentário, identifiquei como signatária a designer gráfica e ilustradora Graça Cruz Lima. Transcrevo com destaque suas palavras:
Foi com emoção que vi que Eládio Cruz Lima ainda é lembrado... e pensar que estão acabando com a Amazônia e que os macacos ilustrados no primeiro volume de Mamíferos da Amazônia já devem estar em franca extinção!
As pranchas com as aquarelas foram doadas por nós ao Museu Goeldi e lá você pode ver os morcegos (o que seria o 2° volume) e alguns outros mamíferos (3° volume) que não foram publicados devido ao seu falecimento.

Fica então o registro e um pedido à direção do Museu Goeldi para, com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, publiquem na íntegra a obra de Eládio Cruz Lima, reconhecendo-lhe no século XXI o valor intrínseco e o igual reparo ao longo exílio a que está submetida, por incompleta desde que dos prelos saiu há mais de 60 anos.


Foto: Itajaí de Albuquerque. Composição com a folha de rosto e a prancha xxvii de Op. cit.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Stents - Qual a Melhor Evidência Científica?

A Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) lança o oitavo número do Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde - BRATS. O tema é Stents Farmacológicos e Stents Metálicos no Tratamento da Doença Arterial Coronariano. Acesse aqui.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Gripe Suína (H1N1) É Pandêmica

A Organização Mundial da Saúde enfim declarou que o mundo vive uma pandemia de gripe. Decorridos quase três meses de transmissão, embora observemos que o número de casos é extraordinário por todos os continentes, as estatísticas de mortalidade demonstram que a doença possui baixa letalidade. Como em toda virose respiratória, o grupo de maior risco, quando acometidos pelo H1N1, são as crianças, os idosos e os pacientes com insuficiência da resposta imunitária. No HealthMap podemos ter um instantâneo global da doença.

domingo, 31 de maio de 2009

A Necessidade da Ciência

O presidente Obama busca estabelecer um divisor de águas entre o seu governo e os desacertos da política de ciência e tecnologia da administração do antecessor George W. Bush Junior. O discurso aqui reproduzido foi feito na Academia Nacional de Ciências em abril passado.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Cochrane Library e o Descuido do Deja Vu?

A Cochrane Library representa uma das mais importantes instituições do conhecimento em saúde, porque produz estudos de síntese a partir de trabalhos científicos categorizados como portadores de evidência científica robusta. Para realizar seus estudos os pesquisadores da Cochrane Collaboration fundamentam suas atividades sobre trabalhos científicos publicados previamente, conduzidos para esclarecer questões afeitas a um tema comum, em que os resultados publicados serão reunidos para fins de maior peso estatístico, em acordo com as metodologias utilizadas em Medicina (ou Saúde) Baseada em Evidências. Isto, contudo, não é plágio científico, menos ainda duplicação de trabalho, posto que o resultado das metanálises podem concluir que em síntese os trabalhos selecionados não fornecem robustez para responder em definitivo a determinada questão científica. Apesar dessa conclusão óbvia a Cochrane Library foi vítima recente de uma e-iatrogenia, digamos assim*.
Em artigo publicado na Science desta semana, Couzin-Frankel comenta o erro da ferramenta Deja Vu, que listou 2879 documentos da Cochrane Library como suspeitos de plágio científico. O equívoco levou os dirigentes do Deja Vu a rever a classificação dos trabalhos e, por consequência, criou uma nova categoria, a de estudos sancionados. Penso que a emenda soa pior que o soneto, pois ao incluir um trabalho na categoria sancionado a Deja Vu não deixa de informar ao consulente que o conteúdo do trabalho em que tem interesse foi passível da suspeita de fraude. Policial demais para a comunidade científica, que, por tradição, detesta essa palavra tanto quanto aquela que designa a cópia intencional ou não de um objeto, o plágio.

* O sentido original do termo se refere aos efeitos adversos à saúde de seres humanos, relacionados ao uso da tecnologia da informação, como por exemplo sistemas que controlam à distância a administração de medicamentos ou o resultado de exames laboratoriais em idosos.

Brindes e Prescrição Médica

O Archives of Internal Medicine publicou resultados de um estudo randomizado, controlado, com terceiranistas e quartanistas de diferentes escolas médicas norte-americanas, desenhado com o objetivo de esclarecer qual o potencial de influência de brindes farmacêuticos na prescrição médica.
No contexto norte-americano, a pesquisa concluiu que as estratégicas de mercado influenciam sim o ato médico na razão inversa da política das escolas médicas quanto ao controle do marketing farmacêutico, seja ele constituído da simples distribuição de bugigangas, de pagamento despesas para participação em congressos ou do financiamento de pesquisas clínicas.
No Brasil o Código de Ética Médica e resolução do Conselho Federal de Medicina tanto proibem aos médicos prescrever sob influência de terceira parte, quanto a não declarar terem recebido financiamento da indústria dos produtos de saúde para realização de trabalhos científicos.

domingo, 24 de maio de 2009

Cinema, Epidemias e Outra Idéias

























A chamada 7a. arte foi produto da notável espiral de conhecimento acontecida a partir dos últimos vinte cinco anos do século XIX, consolidando-se mais ou menos ao modo como a conhecemos hoje com a sonorização dos filmes no final dos anos 20. Como exemplo de um tempo-manancial de inovações tecnológicas, basta-nos recordar que enquanto os irmãos Meliés maravilhavam os espectadores parisienses com a projeção do L'Arrivée d'un Train en Gare, o pesquisador alemão Röntgen produzia a primeira imagem radiológica de um ser humano. Imagem médica e arte cinematográfica nasceram assim juntas no mês de dezembro de 1895.
Desde então o cinema sofreu um sem número de inovações que o incrementaram com técnicas e tecnologias que permitiram registrar com fidelidade o mundo real ou mesmo recriá-lo em direçao a um futuro imaginado. Ao contrário da pintura, da literatura e da fotografia, o cinema além de se distinguir com seus planos, cortes e ritmos narrativos próprios é produto do trabalho coletivo de pessoas especializadas nessa arte.
Dentre os temas dramáticos que o cinema tem abordado, destacam-se aqueles relacionados às ameaças à saúde humana. Em tempo de gripe suína (H1N1), Pânico nas Ruas (Panic in the Streets), dirigido pelo cineasta greco-americano Elia Kazan em 1950, ilustra essa preocupação. O filme é um clássico do suspense e do chamado filme noir e nos conta a estória de um legista norte-americano (Richard Widmark) com o desafio de encontrar em 48 horas um criminoso (Jack Palance), contaminado com uma doença transmissível e mortal capaz de iniciar uma epidemia sem precedentes em Louisiana.
Com a dialética clássica dos folhetins, da oposição do bem ao mal, mas sem dúvida refletindo o macartismo e um eugenismo latente, Pânico nas Ruas apresenta o embate entre os defensores da cidade contra mazelas sociais e a doença de causalidade biológica. Em domínio público nos EUA, esta obra está disponbilizada na rede mundial de computadores. Cliquem aqui e boa diversão.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Science: Governo Federal Elogiado por Células Tronco

Artigo publicado na revista científica Science divulga o projeto brasileiro de pesquisa com células tronco, onde foram investidos desde 2005 U$ 27 milhões de dólares pelo Ministério da Saúde (Departamento de Ciência e Tecnologia). Assina Marcelo Leite.

domingo, 10 de maio de 2009

O Mapa Mundi da Gripe Suína

A prestigiosa revista The New England Journal of Medicine criou o H1N1 Influenza Center com o objetivo de reunir informações sobre a atual pandemia de gripe suína. Entre os recursos visuais disponíveis, um dos mais interessantes é o mapa que descreve a situação mundial e permite ao leitor assistir a progressão dos casos nos continentes, na unidade de tempo. Aqui.

Um Denorex Chateia Muita Gente, Seis Muito Mais

Um esclarecimento sobre o post Parecia Ciência e Era Propaganda. A edição da revista The Scientist desta semana informa que a editora Elsevier não editou apenas uma revista "científica" para fins de propaganda farmacêutica, sem a obrigatória informação do fato ao leitor. Foram editadas seis em cinco anos!

O Salto Brasileiro em Publicação Científica



O Brasil aumentou seu desempenho em ciência e tecnologia. Conforme anunciado pelo Ministério de Educação nesta semana, o país é o décimo terceiro colocado na classificação mundial de produção científica, integrando um seleto grupo de megaprodutores de ciência como Estados Unidos, Inglaterra, França, Canadá, Austrália, China e Índia. O Brasil ficou a frente da Rússia, outrora poderosa nação de perfil científico-tecnológico, especialmente na área militar, quando disputava como URSS a hegemonia política mundial com os EUA.

Esse impressionante salto olímpico brasileiro na produção científica é marcada por um aumento de 56% no total de artigos publicados, conforme identifica a bibliometria do Web of Science: saltamos de 19.436 artigos científicos publicados em 2007 para 30.415 em 2008. Esse fato inquietou o jornalista científico Marcelo Leite, do jornal Folha de São Paulo, que no artigo Zebras e Cavalos** indaga qual a explicação para esse desempenho. Ainda que não contradiga o fato, nem ofereça uma resposta definitiva que o explique ao leitor , o jornalista paulista argumenta que a inaudita produção está relacionada a que o Web of Science ampliou sua base de dados e incluiu mais revistas científicas brasileiras, sugerindo com esse argumento que o noticiado é passível de ser entendido como o mais do mesmo.

Decerto não será esta a resposta que fará distinguir as zebras dos cavalos, figura a que recorre o jornalista para ilustrar a precedência explicativa do simples sobre a exceção, conforme recomenda a velha máxima dos clínicos avessos ao estilo bombástico de House. Contudo, para que o conselho hipocrático se imponha, é absolutamente necessário que o indagador explore todas as possibilidades simples antes de concluir que raridades estejam implicadas na causa do fenômeno que desafia a explicação. Assim, com respeito a pergunta sobre a causa do Brasil estar publicando mais artigos científicos atualmente, para que a respondamos de modo criterioso, devemos considerar as políticas públicas que certamente estão implicadas no desempenho elogioso da pesquisa no país, e que Leite não considera no artigo publicado no domingueiro caderno Mais.

A exemplo do quanto políticas públicas são importantes para evitar equívocos de análise, nos últimos oito anos ,o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Saúde, Fundações de Amparo à Pesquisa e Secretarias Estaduais de Ciência e Tecnologia iniciaram um movimento de verticalização do financiamento à pesquisa em saúde que derivou em investimentos na ordem de mais de 500 milhões de reais entre 2003-2009 para financiamento de quase 2500 projetos. Comparativamente a 2002 o crescimento é exponencial, se olharmos que naquele ano o total investido pelo Ministério da Saúde arredondava algo em torno de 100 mil reais para o financiamento de meia dúzia de pesquisas.

Compreende o óbvio que esse investimento setorial na pesquisa levou a um conjunto de derivadas em que estão incluídas a produção de dissertações e teses de mestrado, doutorado, pós-doutorado e um conjunto de artigos científicos a elas diretamente referenciados. Tal esforço para fortalecer a pesquisa em saúde também foi organizado em campos até então inéditos no histórico institucional do Ministério da Saúde. Em parceria com a farmacêutica Roche, foram selecionadas e levadas a Lausanne (Suíça) um grupo de pesquisadoras brasileiras para estágio de pós-doutorado, ainda em curso, e, em abril passado, os Ministérios da Educação e da Saúde celebraram convênio para lançamento de edital conjunto para financiamento de mais bolsas de pós-doutorado na área da saúde que, em nove anos, garantirá recursos na ordem de 75 milhões de reais.

Contudo, enquanto o perfil de produção científica ascendente se consolida, por outro lado, não demonstramos a mesma competência em levar o conhecimento científico ao mercado. Conforme demonstra o gráfico acima*, publicamos sempre muito, mas patenteamos muitíssimo menos. Este, hoje, constitui um grande desafio para os gestores de políticas públicas em ciência, tecnologia e inovação no Brasil. E requer remédios cavalares que nos garantam não só a fama de país pesquisador, mas de país inovador pelo impacto que o segundo perfil possui para positivar nossa balança comercial em alguns produtos estratégicos para o setor saúde.

* Duplo clique para ampliar a imagem.

** Acesso on line apenas para assinantes da Folha de São Paulo ou do provedor UOL.